quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O compromisso e as teimosias - José Luís Nunes Martins

Somos o que formos capazes de fazer de nós. Há sonhos e tempos para os fazer reais, sofrimentos a passar em função das metas que se querem alcançar. Uma constante luta entre o que somos e o que podemos ser. Mas há, em toda esta dinâmica um erro que é importante erradicar, sob pena de se desperdiçar tempo e esforço no sentido oposto ao que se devia: a teimosia.

Muitas pessoas se afirmam teimosas, como se a teimosia fosse um defeito que se pode e deve assumir, como se se tratasse apenas de uma forma de perseverança que se professa com modéstia... Não. Ser teimoso é perseverar no sentido errado. É saber-se errando e continuar a seguir pelo mesmo caminho. Outras vezes, o teimoso é o que se recusa simplesmente a analisar e avaliar o que anda a fazer, como se isso fosse uma mera perda de tempo.

O compromisso é determinante na plena realização do ser humano enquanto tal. As crenças e convicções devem fazer-se concretas na vida de cada um de nós. A fidelidade à palavra dada é um valor transcultural. Sermos fiéis aos nossos compromissos honra-nos e dignifica-nos. A nossa palavra é um momento que atesta a nossa identidade, ou, pelo menos, que permitirá avaliar depois de forma muito concreta quem afinal somos.

Os atos são mais importantes do que as palavras. Mas serão mais coerentes e belos se estiverem inscritos num programa sonhado, pensado e desejado.

Desistir de um projeto só é errado se se tratar de um plano bom, que vise o bem; caso contrário, é a opção correta. Não se percebe como há gente que afere o carácter de outrem através da forma como se mantem fiel a uma linha de rumo, independentemente de onde ela o leve...

Teimosia é esperar junto a uma parede, para que ali haja uma porta. É estar convencido que todas as evidências são aparências enganosas, e que mesmo que tudo aponte num determinado sentido, desistir da ideia inicial corresponde a uma falta de integridade.

O compromisso será a forma mais elevada que qualquer homem tem de assumir o que é e o que quer ser. Não se desobrigando nunca de, corajosamente, repensar tudo a cada momento. Mantendo o rumo se esse for o caminho certo para o bem; alterando-o, na medida do necessário, se com isso o bem se atingir com mais eficácia; desistindo, se cada passo ou minuto projetados nos afastassem do que é o maior bem: a felicidade.

Ser feliz passa por um compromisso pessoal, uma vontade férrea de não se deter em dificuldades, por maiores que sejam. Mas sempre, sem teimosias, porque isso é insistir no mal, é não perceber que muito pior que estar errado é querer continuar assim.

Ser teimoso é um compromisso sério, muito sério, com a estupidez. Perseverar no mal, sem disso desistir, não é sequer conduta digna da inteligência mais rudimentar.

A fidelidade faz com que o Homem seja maior. A obediência é uma das formas mais belas de ser livre, porque um homem pode escolher ser feliz servindo um projeto que não tem sequer de ser seu... infelizes serão todos quantos julgam que a liberdade é fazer o que apetece, como se fossem escravos dos seus apetites.

Quem luta pelos seus sonhos, sem teimosias, determina-se a ser maior, melhor. E engrandece-se imediatamente, com o primeiro gesto, o momento em que a realidade se lhe submete à vontade. O momento em que os olhos se abrem e os sonhos devem começar a cumprir-se.

Há compromissos, sem nada de teimosia, que envolvem mais do que uma pessoa, importa nesses casos pensar na obediência como uma concessão bela e inteligente, a capacidade que dispomos de trocar a nossa felicidade individual por um sonho sonhado por mais do que uma pessoa, cuja concretização envolve a multiplicação generosa das possibilidades de cada um dos envolvidos ser feliz... Mas isto será algo absolutamente impossível de compreender por qualquer egoísta... como o são sempre os teimosos!


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