Somos o que formos capazes de fazer de nós. Há sonhos e tempos para os
fazer reais, sofrimentos a passar em função das metas que se querem
alcançar. Uma constante luta entre o que somos e o que podemos ser. Mas
há, em toda esta dinâmica um erro que é importante erradicar, sob pena
de se desperdiçar tempo e esforço no sentido oposto ao que se devia: a
teimosia.
Muitas pessoas se afirmam teimosas, como se a teimosia fosse um defeito
que se pode e deve assumir, como se se tratasse apenas de uma forma de
perseverança que se professa com modéstia... Não. Ser teimoso é
perseverar no sentido errado. É saber-se errando e continuar a seguir
pelo mesmo caminho. Outras vezes, o teimoso é o que se recusa
simplesmente a analisar e avaliar o que anda a fazer, como se isso fosse
uma mera perda de tempo.
O compromisso é determinante na plena realização do ser humano enquanto
tal. As crenças e convicções devem fazer-se concretas na vida de cada
um de nós. A fidelidade à palavra dada é um valor transcultural. Sermos
fiéis aos nossos compromissos honra-nos e dignifica-nos. A nossa palavra
é um momento que atesta a nossa identidade, ou, pelo menos, que
permitirá avaliar depois de forma muito concreta quem afinal somos.
Os atos são mais importantes do que as palavras. Mas serão mais
coerentes e belos se estiverem inscritos num programa sonhado, pensado e
desejado.
Desistir de um projeto só é errado se se tratar de um plano bom, que
vise o bem; caso contrário, é a opção correta. Não se percebe como há
gente que afere o carácter de outrem através da forma como se mantem
fiel a uma linha de rumo, independentemente de onde ela o leve...
Teimosia é esperar junto a uma parede, para que ali haja uma porta. É
estar convencido que todas as evidências são aparências enganosas, e que
mesmo que tudo aponte num determinado sentido, desistir da ideia
inicial corresponde a uma falta de integridade.
O compromisso será a forma mais elevada que qualquer homem tem de
assumir o que é e o que quer ser. Não se desobrigando nunca de,
corajosamente, repensar tudo a cada momento. Mantendo o rumo se esse for
o caminho certo para o bem; alterando-o, na medida do necessário, se
com isso o bem se atingir com mais eficácia; desistindo, se cada passo
ou minuto projetados nos afastassem do que é o maior bem: a felicidade.
Ser feliz passa por um compromisso pessoal, uma vontade férrea de não
se deter em dificuldades, por maiores que sejam. Mas sempre, sem
teimosias, porque isso é insistir no mal, é não perceber que muito pior
que estar errado é querer continuar assim.
Ser teimoso é um compromisso sério, muito sério, com a estupidez.
Perseverar no mal, sem disso desistir, não é sequer conduta digna da
inteligência mais rudimentar.
A fidelidade faz com que o Homem seja maior. A obediência é uma das
formas mais belas de ser livre, porque um homem pode escolher ser feliz
servindo um projeto que não tem sequer de ser seu... infelizes serão
todos quantos julgam que a liberdade é fazer o que apetece, como se
fossem escravos dos seus apetites.
Quem luta pelos seus sonhos, sem teimosias, determina-se a ser maior,
melhor. E engrandece-se imediatamente, com o primeiro gesto, o momento
em que a realidade se lhe submete à vontade. O momento em que os olhos
se abrem e os sonhos devem começar a cumprir-se.
Há compromissos, sem nada de teimosia, que envolvem mais do que uma
pessoa, importa nesses casos pensar na obediência como uma concessão
bela e inteligente, a capacidade que dispomos de trocar a nossa
felicidade individual por um sonho sonhado por mais do que uma pessoa,
cuja concretização envolve a multiplicação generosa das possibilidades
de cada um dos envolvidos ser feliz... Mas isto será algo absolutamente
impossível de compreender por qualquer egoísta... como o são sempre os
teimosos!
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