Os portugueses sempre souberam viver bem. Neste tempo de crise é bom recordar isto. Temos um clima excepcional, paisagens deslumbrantes, a melhor culinária, fruta, queijos e vinhos únicos, bons divertimentos, fé sólida, hábitos afáveis e forte camaradagem, um povo sereno e esperançoso.
Mesmo quando éramos um país pobre e atrasado sabíamos viver bem e hoje que somos ricos e preocupados continuamos a saber viver. Por isso é tão triste que quase desapareça por cá um dos maiores prazeres da vida.
Há poucas coisas nesta Terra que sejam melhores do que ter um rancho de filhos à volta da mesa a rir. Quando vêem isso, um homem e uma mulher sentem algo indefinível, único, incomparável. Esta é uma das principais razões por que os portugueses vivem tão bem, pois até na choupana mais pobre se pode sentir este prazer sublime.
Hoje cada vez menos. Não se diga que a causa disso é a maldita austeridade, que apaga o riso ou força a ausência. A verdadeira razão veio da prosperidade balofa, que nos trouxe à crise, e desfez os casais, reduziu a prole, gerou a esterilidade e o aborto.
Quando a fartura regressar e nós voltarmos a viver, bem como sempre, mas de novo com facilidade, esse prazer particular não regressa. A mesa passará a ser farta, mas as cadeiras permanecem vazias.
A questão é importante, não apenas em si mesma, mas também pelos efeitos. É que as cadeiras vazias de filhos põem em risco a dimensão das futuras gerações e até a sobrevivência dos portugueses. O que seria uma pena para o mundo, porque eles sempre souberam viver bem.
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