terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Vida contemplativa: É possível? - Beato Álvaro del Portillo

Há muita gente que, quando ouve falar da vida contemplativa, se imagina como umas boas monjinhas ou uns bons frades que passam o dia a fazer oração com as mãos juntas, esquecidos de todos os afazeres materiais. Não, não é assim! Também eles têm que trabalhar. Vejam como se cansava Santa Teresa de Jesus, uma alma profundamente contemplativa, a quem o nosso Fundador [São Josemaria] tinha tanto carinho. Ia de um lado ao outro, com os meios daquele tempo, preocupada em obter o necessário para fundar novos mosteiros e, depois, ocupada em pôr ordem em cada um. Custou-lhe muito trabalho, muitas penas, muitos sacrifícios. Mas isso não a afastava de Deus, porque agia com rectidão de intenção, porque todo esse trabalho externo - viajar, comprar casas, formar as novas religiosas que chegavam -, fazia-o por amor ao Senhor.

Os cristãos comuns e correntes compreendiam que não tinham a vocação de Maria, entendida no sentido de procurar a união com Deus fugindo do mundo. Mas também não tinham a vocação de Marta, tal como a viam aplicada na Igreja, com matizes religiosas: frades e monjas que trabalhavam - muitas vezes heroicamente - em hospitais e obras de beneficiência. E fora dessas margens a vida de um cristão reduzia-se com demasiada frequência a trabalhar e a cansar-se, por motivos nobres mas humanos, sem se lembrar da finalidade de todo o trabalho, que é a glória de Deus. A grande maioria das pessoas - todos os que tinham vocação de fiéis cristãos correntes - não se viam reflectidos em nenhum desses dois modelos. Isso da santidade - pensavam - era para frades e monjas; eu, se me salvar, já me posso dar por satisfeito.

‹‹Uma só coisa é necessária›› (Lc 10, 42): a união com Deus, a santidade pessoal, que é inseparável do afã apostólico, do desejo eficaz de cooperar com Deus para a salvação do mundo.

Meditação em San Felice d'Ocre (Aquila, Italia), 20-VII-1986
in Orar como sal y como luz, Álvaro del Portillo (2013)


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