O casal sueco Birgitta e Ulf Ekman: ele era o pastor pentecostal mais influente da Suécia e agora são católicos |
Pesquisei no «Google» a frase «the world is changing» e recebi 700 milhões de endereços para consultar. Parafraseando um político célebre, informo que ainda não os consultei todos pela segunda vez, mas já tenho uma opinião sobre o assunto. O mundo está mesmo a mudar.
Nesta Páscoa, há poucos dias, baptizaram-se cerca de 3800 adultos em França e 2500 adultos no Reino Unido. Um número maior de adultos já cristãos, anteriormente baptizados em comunidades protestantes, foi recebido na Igreja Católica. Até na Europa, as estatísticas começam a mudar.
Anda a correr pela Net o vídeo da mensagem de Páscoa do Primeiro-Ministro britânico, David Cameron (som original e legendas em português em: A 'incrível' mensagem de Páscoa do primeiro ministro britânico). Não é costume um Primeiro-ministro ter alguma coisa para dizer na Páscoa, mas o mundo está a mudar. Cameron veio declarar, rotundamente, que o Reino Unido é um país cristão: feliz por acolher todos e conviver com todas as convicções religiosas mas, apesar de tudo, um país de matriz claramente cristã. Sublinhou com força o papel do cristianismo na vida nacional: «a igreja não é apenas um património de lindíssimos edifícios antigos, é uma força vital e actuante». Onde há desalojados, ou droga, ou sofrimento, onde a integração social é difícil, ou é preciso promover a educação ou a saúde, aí aparece a Igreja. O seu papel na arte e na cultura é imenso. Cameron chegou a falar, num registo mais pessoal, do apoio que ele próprio recebeu, «nos momentos mais difíceis da minha vida». Ninguém estava à espera de uma mensagem assim! Imagino que Cameron não entrou numa fase mística, a questão é outra: o mundo está a mudar e os políticos são os primeiros a perceber os novos ventos.
Outro dado solto. O sueco Ulf Ekman e a mulher Birgitta – ele, o pastor pentecostal mais influente da Suécia e líder de uma enorme comunidade – anunciaram há um ano, no sermão de Domingo, que se iam fazer católicos. Os suecos aborreceram-se? Nem por isso. Nem sequer acharam surpreendente. Stefan Gustavsson, Secretário-geral da Aliança Evangélica Sueca, emitiu um comunicado a reconhecer que Ekman tinha sido o líder protestante de maior relevo dos últimos 50 anos, com grande impacto também no estrangeiro, e considera que o anúncio da sua conversão «foi um gesto rico de calor humano e de humildade». Desejou a Ulf Ekman e à mulher as maiores felicidades e as bênçãos do Senhor e explicou que a Aliança Evangélica está muito satisfeita com as relações, cada vez mais estreitas, com a Igreja Católica, apesar das diferenças teológicas que subsistem.
Quase ao mesmo tempo, outro sueco, Lars Ekblad, também se converteu, depois de ser sido pastor luterano durante quase 40 anos: «Quem escuta a voz do Senhor e quer segui-Lo, acaba por se fazer católico».
Olho para outro lado, para o Patriarcado Ortodoxo de Constantinopla, afastado da Igreja desde o século XI. No dia 4 de Abril, numa entrevista à «La Civiltà Cattolica», o Patriarca Bartolomeu I afirmou que «a sinodalidade [a união da Igreja] precisa de um “primeiro”: não se entende sem ele, que é quem tem o carisma do serviço da comunhão. O “primeiro” é aquele que procura o consenso de todos. E justamente esse é o ponto em que verdadeiramente sentimos que o nosso irmão Francisco revelou uma liderança extraordinária». Continua Bartolomeu I: «desde a eleição do Papa Francisco sentimos que havia algo de especial nele: a sua integridade, a sua espontaneidade, o seu calor. Este é o motivo pelo qual decidi participar da Missa inaugural do Pontificado, em 2013». Foi a primeira vez que um Arcebispo de Constantinopla esteve presente naquela ocasião na Igreja de Roma. Esta aproximação, cada vez mais desejada por todos, poderá demorar, mas intensificou-se muito com Bento XVI e está agora a tornar-se mais expressiva e calorosa.
Observo as estatísticas de vários países. Por exemplo, em Itália o número de Confissões praticamente duplicou, com a pregação que o Papa Francisco está a fazer sobre este Sacramento.
O mundo está a mudar? Talvez não mude na mesma direcção em todas as partes do mundo. Estão a chegar às dioceses de Portugal padres enviados por dioceses recônditas da Índia (que chegam sem falar uma palavra de português) e padres de Angola e da Polónia e de outros países. Por exemplo, os padres brasileiros que estão a dinamizar com o seu ardor missionário várias paróquias dos Açores.
Será que os cristãos do resto do mundo conseguem que Portugal também mude?
José Maria C.S. André in «Correio dos Açores»
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