terça-feira, 29 de setembro de 2015

Papa fecha definitivamente a porta ao "divórcio católico"

Excertos da conferência de imprensa do Santo Padre aos jornalistas, durante o voo de Filadélfia para Roma.

(Jean-Marie Guénois, do Figaro, francês):

O Santo Padre não pode obviamente antecipar os debates dos Padres Sinodais. Sabemos isso perfeitamente. Mas é precisamente deste tempo antes do Sínodo que queremos saber se, no seu coração de pastor, quer verdadeiramente uma solução para os divorciados novamente casados. Também queremos saber se o seu Motu Proprio sobre a facilitação da nulidade fechou – na sua opinião – este debate. E, finalmente, que responde àqueles que temem, com esta reforma, a efectiva criação do chamado «divórcio católico». Obrigado.

(Papa Francisco):

Começo pela última. Na reforma dos processos, da modalidade, fechei a porta à via administrativa que era aquela por onde podia entrar o divórcio. Pode-se dizer que estão errados quantos pensam no «divórcio católico», porque este último documento fechou a porta ao divórcio que podia entrar – teria sido mais fácil – por via administrativa. A estrada existente será sempre a via judicial. Depois passamos à terceira questão – não me lembro se era a terceira, mas corrija-me...

(Jean-Marie Guénois):

Sim, a pergunta era sobre a noção de «divórcio católico» e se o Motu Proprio encerrou um possível debate no Sínodo sobre este tema.

(Papa Francisco):

Isto foi pedido pela maioria dos Padres Sinodais no Sínodo do ano passado: agilizar os processos, porque havia processos que duravam de 10 a 15 anos. Uma sentença, e outra sentença; depois se houvesse apelação, tínhamos a apelação e depois havia outra apelação... Nunca mais termina. A dupla sentença, quando era válida [a primeira] e não havia apelação, foi introduzida pelo Papa Lambertini, Bento XIV, porque na Europa Central – não digo o país - existiram alguns abusos e, para os impedir, ele introduziu isto. Mas não é uma coisa essencial para o processo. Os processos mudam; a jurisprudência muda para melhor, melhora-se sempre.

Naquele tempo, era urgente fazer aquilo. Depois Pio X quis agilizar e fez qualquer coisa, mas não teve tempo ou possibilidade de o fazer. Os Padres Sinodais pediram isto: a agilização dos processos de nulidade matrimonial. E fico por aqui.

Este documento, este Motu Proprio facilita os processos no tempo, mas não é um divórcio, porque o matrimónio é indissolúvel quando é sacramento; e isto, a Igreja não o pode mudar. É doutrina. É um sacramento indissolúvel.

O procedimento legal é para provar que aquilo que parecia sacramento não foi um sacramento: por falta de liberdade, por exemplo, ou por falta de maturidade, ou por doença mental... Muitos são os motivos que levam, depois dum estudo, duma investigação, a dizer: «Não, ali não houve sacramento; porque, por exemplo, aquela pessoa não era livre». Um exemplo (agora não é tão comum, mas em alguns sectores da sociedade é comum – pelo menos era-o em Buenos Aires): os matrimónios, quando a namorada ficava grávida. «Tendes de vos casar».

Em Buenos Aires, eu aconselhava fortemente os sacerdotes, quase os proibia de fazerem o matrimónio nestas condições. Chamamos-lhe «os matrimónios à pressa», para salvar todas as aparências. E o bebé nasce, e alguns matrimónios correm bem, mas não há a liberdade! E depois correm mal, separam-se... «Eu fui forçado a fazer o matrimónio, porque devia encobrir esta situação». Esta é uma causa de nulidade. Existem muitas causas de nulidade; podeis procurá-las na Internet, estão lá todas.
Papa Francisco com a Sagrada Família, no World Meeting of Families
Depois, temos o problema das segundas núpcias, dos divorciados que fazem uma nova união. Vós lede o que está no Instrumentum laboris, aquilo que se apresenta para discussão. Parece-me um pouco simplista dizer que o Sínodo... que a solução para estas pessoas é que possam fazer a comunhão. Esta não é a única solução. Não. Aquilo que o Instrumentum laboris propõe é muito mais. O problema das novas uniões dos divorciados não é o único problema. No Instrumentum laboris, há tantos. Por exemplo: os jovens não se casam, não querem casar-se. É um problema pastoral para a Igreja. Outro problema: a maturidade afectiva para o matrimónio. Outro problema: a fé. Creio eu que isto é «para sempre»? «Sim, sim, eu creio...». Mas creio verdadeiramente? A preparação para o matrimónio... Muitas vezes ponho-me a pensar: para se tornar sacerdote, há uma preparação de oito anos; e depois, como não é definitivo, a Igreja pode tirar-te o estado clerical. Para te casares, que é para toda a vida, fazem-se quatro cursos, quatro vezes... Aqui há algo errado. O Sínodo deve pensar bem como se há-de fazer a preparação para o matrimónio; é uma das coisas mais difíceis. E há tantos problemas... Mas estão todos enumerados no Instrumentum laboris.

Gostei que o senhor me tivesse feito a pergunta sobre o «divórcio católico»: não, isto não existe. Ou não houve matrimónio – e isto é nulidade, não existiu – ou, se existiu, é indissolúvel. Isto é claro. Obrigado!

(...)

(Sagrario Ruiz, de Apodaca, Mexico):

Obrigado. Boa noite, Santo Padre. Pela primeira vez, visitou os Estados Unidos, nunca lá tinha estado antes; falou ao Congresso, falou às Nações Unidas, recebeu autênticos banhos de multidão... (...) E quereria perguntar-lhe também, depois de o ouvirmos realçar o papel das religiosas e das mulheres na Igreja dos Estados Unidos: algum dia veremos mulheres sacerdotes na Igreja Católica, como pedem alguns grupos nos Estados Unidos e como acontece noutras Igrejas cristãs? Obrigado.

(Papa Francisco):

(...)

A terceira pergunta: as mulheres sacerdotes, isto não se pode fazer. O Papa São João Paulo II, em tempos de debate, depois de uma longa, longa reflexão, disse-o claramente. E não é porque as mulheres não tenham a capacidade. Senão veja: na Igreja são mais importantes as mulheres do que os homens, porque a Igreja é mulher; é a Igreja, não o Igreja; a Igreja é a esposa de Cristo, e Nossa Senhora é mais importante do que Papas, bispos e sacerdotes. Há uma coisa que tenho de reconhecer: estamos um pouco atrasados na elaboração duma teologia da mulher. Temos de avançar mais nesta teologia. Isto sim, é verdade! Obrigado.

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