sábado, 10 de outubro de 2015

O Cardeal que conheceu 7 Papas fala sobre o Papa Francisco

 

 Corriere della Sera a 4 de Outubro.
"É verdade que as diferenças não são apenas uma questão de estilo. Mas não tocam na missão principal e na fundação visível de unidade de fé e de comunhão com toda a Igreja ... o Papa Francisco já comentou ele próprio uma série de vezes que o que ele está a fazer é simplesmente ser fiel ao Evangelho e não a uma posição ideológica."
O Cardeal Ruini é vigário geral emérito da Diocese de Roma - serviu nessa posição de 1991 a 2008. Ele falou ao Corriere pouco depois de um sacerdote polaco a trabalhar na Cúria Romana admitir que era gay e foi demitido depois de pedir uma mudança no ensinamento da Igreja sobre os actos homossexuais.
O sacerdote, Msgr. Charamsa, disse que o chamamento da Igreja aos homossexuais para viver uma vida de abstinência é "inhumano".
O Cardeal Ruini respondeu que "como sacerdote eu também tenho a obrigação de abstinência e, em mais de 60 anos [de sacerdócio], nunca me senti deshumanizado, ou proibido de uma vida de amor, que é algo muito maior do que o exercício da sexualidade."
Ele reflectiu que enquanto "se ouve imensas conversas" sobre um susposto "lobby gay" no Vaticano, "pessoalmente eu não tenho forma de falar sobre este lobby gay e não gostaria de caluniar pessoas inocentes," acrescentando que "se for verdade, é uma coisa triste que precisa de ser resolvida."
O cardeal reflectiu depois sobre o voo do Papa Francisco do Rio de Janeiro para Roma a 28 de Julho de 2013, onde ele distinguiu entre pessoas com tendências homossexuais e aqueles que conspiram para o reconhecimento dos actos homossexuais e das relações e disse que "Se alguém é gay e está a procurar o Senhor e tem boa vontade, então quem sou eu para o julgar?"
"Estas são talvez as palavras mais mal compreendidas do Papa Francisco", comentou o Cardeal Ruini. "É um preceito do Evangelho - não julgar se não quereis ser julgados - que temos que aplicar a todos, obviamente incluindo os homossexuais, e isso requer que nós respeitemos e amemos a todos. Mas o Papa Francisco já se expressou claramente numa série de ocasiões em oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo."
Assim o cardeal afirmou que o Papa Francisco é frequentemente explorado nos media para ganhos ideológicos. "Que certas posições do Papa sejam enfatizadas e outras passem virtualmente sem serem reconhecidas é mais do que um risco, é um facto."
O Cardeal Ruini manifestou a sua oposição à legalização de uniões do mesmo sexo, dizendo que elas "ignoram a diferença e a complementaridade entre homem e mulher, que é fundamentel não só do ponto de vista física, mas também psicológico e antropológico. A humanidade desde há milénios que conhece a poligamia e a poliandra, mas este caso de casamento entre pessoas do mesmo sexo é uma absoluta novidade: uma verdadeira ruptura que constrasta com a experiência e a realidade. A homossexualidade tem sempre existido, mas nunca ninguém pensou em fazer um casamento a partir disso."
A entrevista virou-se então para a discussão à volta do cuidado pastoral dos divorciados-recasados, com Aldo Cazzullo do Corriere a perguntar-lhe se é possível admiti-los à Comunhão.
"Não. Os divorciados-recasados não podem ser readmitidos à Comunhão. Não é por causa da sua culpa pessoal particularmente grave, mas por causa do estato em que objectivamente estão," respondeu o Cardeal. "O casamento anterior de facto continua a existe, porque o matrimónio sacramental é indissolúvel, como disse o Papa Francisco no seu voo de regresso dos Estados Unidos. Portanto, ter relações sexuais com outra pessoa seria objectivamente um adultério."
Quando se lhe perguntou sobre as novas normas sobre o processo de averiguação da possível nulidade de um casamento, introduzido pelo Papa Francisco em Agosto, o Cardeal Ruini disse que a única forma de isso enfraquecer a ligação ou introduzir uma espécie de "divórcio Católico" é "se as novas provisões não forem aplicadas de uma maneira responsável. O que é necessário primeiro de tudo é melhorar a preparação dos juízes."
"Introduzir surrepticiamente uma espécie de divórcio Católico seria realmente hipocrisia e prejudicaria muito a Igreja e a sua credibilidade. Mas a decisão do Papa Francisco, tal como muitos de nós - eu incluído - esperam, não tem nada a ver com uma espécie de hipocrisia."
No que toca à questão da relação entre a fé daqueles que se casam o sacramento do matrimónio, o Cardeal Ruini comentou que "o Papa Bento, estando convencido de que a fé é necessária para o sacramento do matrimónio, tal como para qualquer outro sacramento, foi muito prudente ao delinear consequências práticas deste princípio. Mesmo o Papa Francisco limitou-se a indicar que uma falta de fé é uma das circunstâncias que pode permitir um processo mais breve diante do bispo, quando esta falta de fé gera uma simulação de consentimento ou um erro que determina a vontade."
in Catholic News Agency


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1 comentário:

joaquim disse...

Pelo excerto da entrevista, gostaria com toda a franqueza de a ler toda! Destaco esta frase: «O Cardeal Ruini respondeu que "como sacerdote eu também tenho a obrigação de abstinência e, em mais de 60 anos [de sacerdócio], nunca me senti deshumanizado, ou proibido de uma vida de amor, que é algo muito maior do que o exercício da sexualidade."»