sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

A Aldina conseguiu libertar-se do demónio

Aldina tinha uma vida de luxo e uma carreira sólida, mas sentia-se vazia. Durante 10 anos, procurou respostas e um sentido para a vida em médiuns, terreiros e astrólogos – o que, acredita, abriu as portas ao demónio. Aos 33 anos, viveu um autêntico filme de terror e foi diagnosticada com esquizofrenia, mas só os exorcismos a curaram.

Aldina ficou assustada. Da terceira vez que foi ao terreiro e a seguir a um ritual, os médiuns começaram a incorporar espíritos. Naquele dia, os homens estavam vestidos de dráculas e as mulheres de prostitutas. Fumava-se e bebia-se muito. Tudo diferente da primeira vez, em que os mesmos médiuns apareceram vestidos de branco e o ambiente “parecia encantador”. No momento em que quis ir embora para não voltar mais, uma força sobrenatural empurrou-a contra uma parede. “Voei, não sei como aconteceu.” 

Aldina nunca teve razões para se queixar da vida. Construiu uma carreira sólida como designer de moda e chegou a gerir equipas de design em empresas de renome. Ia a festas, viajava pelo mundo inteiro, tinha amigos em toda a parte, frequentava os melhores ginásios e os melhores restaurantes. Gastava toneladas de dinheiro em roupa e maquilhagem. “Vivia a vida intensamente.” Mas, ao final do dia, depois das festas e dos copos, era o vazio. “Achava ter tudo e, afinal, não tinha nada.” 

Durante 10 anos tentou encontrar-se em todo o tipo de espiritualidades para fugir ao vazio. Fez ioga e reiki e, pelo meio, passou pelo consultório de dezenas de médiuns, astrólogos e cartomantes. Entrou em centros espíritas e terreiros. Era baptizada, dizia-se “católica não praticante”, mas não sabia que a Igreja proíbe essas práticas. Tinha fé e acreditava em Deus. Talvez por isso, e no meio da procura pelo sentido da vida, rejeitou sempre tudo o que estivesse ligado ao satanismo. “Nunca me meti em magia negra porque isso chocava com a minha ideia de bem e de fé, mas o resto achava inofensivo e até considerava que era divino e compatível com o meu catolicismo. Não via mal nenhum nas coisas.” 

A certa altura, frequentou um centro espírita durante meses – um pavilhão onde, uma vez por semana, se reuniam centenas de pessoas e trabalhavam dezenas de médiuns, entre eles médicos, professores e enfermeiros. Gente instruída e de classes sociais elevadas. Ali, misturavam-se imagens católicas, de Jesus e de santos, e elementos “estranhos e supersticiosos”. E não se pagava nada. “A maioria das pessoas considerava-se católica, como eu”, recorda Aldina. 

Com o tempo, foi acumulando livros nas estantes. “Como gosto de ler e de estudar, comprava tudo sobre ocultismo e espiritualidade.” Chegou a ter mais de 70 obras em casa, a maioria sobre filosofias ligadas ao movimento Nova Era – criado nos anos 1960 e que funde teologia, metafísica oriental e crenças espiritualistas. Muitas das videntes que consultou eram charlatãs e isso tornou-se evidente logo na primeira consulta. Outras, porém, conseguiram seduzi-la: “Tocavam em pontos chave da minha vida ou descreviam acontecimentos passados que só eu sabia.” 

A procura pelo sobrenatural acentuou-se com a morte do pai. Queria saber se ele estava em paz. Uma das videntes dizia falar por ele e imitava características da voz e gestos na perfeição. 

Sinais do demónio Em Agosto de 2010, poucos dias depois de fazer 33 anos e a seguir a um curso ligado à Nova Era, Aldina teve a primeira perturbação diabólica: sentiu uma presença constante e forte. De noite, não dormia com medo e, de dia, era perseguida por um peso “extraordinário, como se carregasse o mundo às costas”. Por esses dias, começaram os pesadelos. “Tão fortes, que acordava aos gritos.” 

De regresso de umas férias e à chegada ao Porto, entrou numa igreja. Pediu ajuda a Deus. E o que se seguiu, garante Aldina, foi “uma batalha contra o mal”. As manifestações passaram a ser quase diárias: “Ficava com uma força sobrenatural, falava em línguas estranhas, dava arrotos fortíssimos, o cabelo ficava em pé e todo embaraçado, a barriga inchava ao ponto de parecer grávida de meses, não suportava olhar para a cruz de Cristo.”

Com os primeiros sintomas, chegaram acidentes constantes e problemas no trabalho. Os pesadelos pioraram e, de noite, via vultos no quarto: “Os primeiros meses foram terríveis.” Nessa altura, trabalhava como freelancer e já não conseguia segurar as encomendas. Tentava disfarçar, dizia que estava doente. Se contasse o que sentia, o mais certo era as pessoas “não entenderem”. Tudo o que pensava era em recorrer a um exorcista, mas a família insistia que fosse a um psiquiatra, convencida de que poderia ser um caso de esquizofrenia. Tinha a certeza de que não era isso: “Já viu alguém enlouquecer de um dia para o outro? Ainda assim, fui.” O médico receitou-lhe medicação para a doença, mas Aldina diz que nunca a tomou. Ainda a tem, intacta, em casa. “Tomei só algumas vitaminas.” 

Preferiu a ajuda de um padre, mas o primeiro a que recorreu não a “entendeu”, apesar de até ter tido uma “reacção” diabólica mesmo à frente dele. Até que outro padre lhe falou do exorcista de Lamego.  Nessa altura, em 2011, o padre Sousa Lara atendia sem marcação, um dia por semana. Fez-se à estrada e, assim que encarou com ele, teve uma crise. O caso foi imediatamente considerado grave: “Nesse dia, necessitei de várias pessoas a segurarem em mim.” 

A libertação Foram precisos quatro exorcismos iniciais e, passados alguns meses, mais dois. Seis sessões para convencer o demónio a ir-se embora. O exorcista receitou-lhe trabalho de casa: ir à missa, rezar o terço e a oração de libertação todos os dias e confessar-se no mínimo uma vez por mês. “Deveria viver em estado de graça para que Deus pudesse agir totalmente. E se deixarmos brechas, como confissões mal feitas, dificilmente ficamos curados”, explica Aldina. 

Há casos, como contou nas páginas anteriores o padre Sousa Lara, em que os exorcizados ficam completamente inconscientes durante as sessões. Mas os exorcismos de Aldina não foram assim: “Estava consciente, mas não conseguia controlar os meus movimentos e o que dizia.” No fim de cada sessão, experimentava sempre o mesmo: “Sentia-me temporariamente aliviada, mas com o corpo muito dorido, como se tivesse feito exercício físico intenso.”

Para conseguir libertar-se, teve de mudar de vida. Deixou de viver com o namorado, com quem já partilhava casa há anos: “Caso contrário, não me poderia confessar.” Para a Igreja, a coabitação antes do casamento é pecado. “Passei a querer ser obediente e fiel ao meu baptismo e hoje entendo perfeitamente o motivo deste pedido da Igreja. Os planos de Deus são perfeitos, mas nós, infelizmente, nas últimas gerações, achamos que vale tudo. Há cada vez menos casamentos que duram toda a vida porque estamos a viver uma geração egoísta”, diz. Se no início estranhou ser católica praticante, agora a Igreja entranhou-se: “Vivo tudo mais intensamente.

Compreendo a graça de um casamento católico, do que é ser-se um sacerdote ou consagrado, do que são os sacramentos da Igreja na nossa vida. Tem sido uma longa e maravilhosa caminhada. Há males que vêm por bem.”

E, afinal, porque razão o demónio a perseguiu? Aldina está convencida de que “muitas portas espirituais” se abriram ao longo de uma década entre videntes, terreiros, espiritismos e adivinhações. Já passaram mais de três anos desde o fim dos exorcismos e não voltou a ter ataques. “Tive a graça de ser resgatada, mas quantos não se salvarão?”

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