Um dos temas prementes na época de Chesterton era o “controlo de natalidade”. Ele não fazia apenas objecção à ideia, mas ao próprio termo, porque significava o oposto do que queria dizer. Não significava nem natalidade, nem controlo. Posso supor que teria as mesmas objecções contra o “casamento gay”. Não só a ideia, como também o nome está errado: o “casamento gay” não é gay, no sentido original do termo, nem é casamento.
Chesterton era sempre sensato nos seus pronunciamentos e profecias porque entendia que qualquer coisa que atacasse a família seria nociva para a sociedade. Foi por isso que ele falou contra a eugenia e a contracepção, contra o divórcio e o “amor livre” (outro termo que ele rejeitava pela sua falsidade), mas também contra a escravidão assalariada e a educação estatal compulsória, com mães que contratavam outras pessoas para fazer o que elas tinham sido designadas para fazer.
É seguro dizer que Chesterton se levantou contra todas as modas e tendências que hoje nos afligem porque cada uma dessas modas e tendências minava a família. Um Estado intervencionista (Big Government) tenta substituir a autoridade da família, e um Mercado dominador (Big Business) tenta substituir a sua autonomia. Há uma constante pressão comercial e cultural sobre o pai, a mãe e os filhos. Eles são minimizados, marginalizados e, sim, ridicularizados. Mas, como diz Chesterton, “esse triângulo de truísmos — pai, mãe e filho — não pode ser destruído; só se destroem as civilizações que o desprezam”.
A legalização das uniões homossexuais não é nem o último nem o pior ataque à família, mas tem um valor impressivo, apesar do processo de dessensibilização em que nos colocaram as indústrias de informação e entretenimento ao longo dos últimos anos. Quem tenta protestar contra a normalização do anormal é recebido “com ataques ou com o silêncio” — assim como Chesterton, quando ele tentou argumentar contra as novas filosofias promovidas pela maior parte dos jornais da sua época.
Em 1926, alertou: “A próxima grande heresia será um ataque à moralidade, especialmente à moral sexual”. O seu aviso passou desapercebido, enquanto a moral sexual decaía progressivamente. Mas vamo-nos lembrar que tudo começou com o controle da natalidade, que é uma tentativa de viver o sexo por ele mesmo, transformando um acto de amor num acto de egoísmo. A promoção e a aceitação do sexo sem vida, estéril e egoísta evoluiu, logicamente, para a homossexualidade.
Chesterton mostra que o problema da homossexualidade como inimiga da civilização é bem antigo. Em 'O Homem Eterno', ele descreve que o culto à natureza e à “simples mitologia” produziram uma perversão entre os gregos. “Da mesma forma que se tornaram inaturais adorando a natureza, também se tornaram efeminados adorando o homem”. Qualquer jovem, diz Chesterton, “que teve a sorte de crescer de modo sensato e simples” sente um repúdio natural pela homossexualidade porque “ela não é verdadeira nem para a natureza humana, nem para o senso comum”. Ele argumenta que, se tentarmos agir indiferentemente em relação a ela, estaremos a enganar-nos a nós mesmos. É “a ilusão da familiaridade” quando “uma perversão se torna uma convenção”.
Em 'Hereges', Chesterton quase faz uma profecia sobre o abuso da palavra “gay”. Ele escreve sobre a “poderosa e infeliz filosofia de Oscar Wilde”, “a religião do carpe diem“. Carpe diem significa “aproveita o dia”, faz o que quiseres, sem pensar nas consequências, vive apenas o momento. “No entanto, a religião do carpe diem não é a religião das pessoas felizes, mas a das absolutamente infelizes”. Há um desespero bem como um infortúnio ligado a isso.
Quando o sexo é apenas um prazer momentâneo, quando não oferece nada além de si mesmo, não traz nenhuma satisfação. É literalmente sem vida. E, como Chesterton escreve no seu livro 'São Francisco de Assis',“no momento em que o sexo deixa de ser um servo, torna-se um tirano”. Essa é talvez a mais profunda análise do problema dos homossexuais: eles são escravos do sexo. Estão tentando “perverter o futuro e desfazer o passado”. Eles precisam de ser libertados.
O pecado tem consequências. Ainda assim, Chesterton sustenta que devemos condenar o pecado, não o pecador. E ninguém mostra mais compaixão pelos decaídos do que ele. Sobre Oscar Wilde, que ele chamava “o chefe dos decadentes”, Chesterton diz que ele cometeu um “erro monstruoso”, mas também sofreu monstruosamente por isso, indo para uma terrível prisão, onde foi esquecido por todas as pessoas que antes tinham brindado a sua rebeldia impulsiva.
Chesterton se referia-se ao comportamento homossexual de Wilde como um pecado “altamente civilizado”, por ser uma das piores aflições entre as classes ricas e ilustradas. Era um pecado ao qual Chesterton nunca havia sido tentado, e ele diz que não é uma grande virtude nunca termos cometido um pecado para o qual não fomos tentados.
Outra razão pela qual devemos tratar nossos irmãos e irmãs homossexuais com compaixão: Nós conhecemos os nossos próprios pecados e fraquezas o suficiente. Fílon de Alexandria dizia: “Seja gentil, pois todos à sua volta estão a lutar uma batalha terrível”.
Compaixão, contudo, não significa compromisso com o mal. Chesterton ressalta aquele equilíbrio pelo qual a nossa verdade não deve ser desprovida de piedade, nem a nossa compaixão deve ser separada da verdade. A homossexualidade é uma desordem. É contrária à ordem. Os actos homossexuais são pecaminosos, ou seja, são contrários à ordem de Deus. Jamais poderão ser normais. Pior ainda, jamais sequer poderão ser vividos normalmente. Como diz o grande detective Padre Brown: “Os homens até podem manter-se num nível razoável de bondade, mas ninguém jamais foi capaz de permanecer num nível de maldade. Essa estrada conduz ao fundo do abismo”.
O matrimónio é entre um homem e uma mulher. Essa é a ordem. E a Igreja Católica ensina que essa é uma ordem sacramental, com implicações divinas. O mundo tem feito uma sátira do casamento que agora culminou com as uniões homossexuais. Mas foram os homens e as mulheres heterossexuais que pavimentaram o caminho para essa decadência.
O divórcio, que é algo anormal, é agora tratado como normal. A contracepção, outra coisa anormal, é agora tratada como normal. O aborto ainda não é normal, ainda que seja legal. Legalizar o “casamento” homossexual não o tornará normal, só vai aumentar ainda mais a confusão dos tempos e a decadência da nossa civilização. Mas a profecia de Chesterton permanece: não seremos capazes de destruir a família. Ao desprezá-la, o que vamos fazer é simplesmente destruir-nos a nós mesmos.
Dale Ahlquist in Crisis Magazine
1 comentário:
Grande REFLEXÃO!
Que pena, que nem TODOS tenham acesso a ela, porque, apesar do Tema ser a homossexualidade, a sua crítica à situação atual da família, como consequência do longo percurso decadente que, infelizmente, a conduziu ao estado degradante em que hoje se encontra, para mim, ainda é mais interessante e digna de ser analisada!
E sempre, em nome da Modernidade...
Mas como o Ser Humano, sem Deus, só consegue desequilibrar TUDO!!
Enviar um comentário