O dogma da Fé não pode falhar, mas as inovações podem falhar-nos. Os homens podem falhar; os leigos podem falhar; os Sacerdotes podem falhar; os Bispos podem falhar; os Cardeais podem falhar; e até o Papa pode falhar em assuntos que não envolvam o Seu carisma de infalibilidade - tal como a História nos demonstra com mais do que um Papa que ensinou, ou pareceu ensinar, alguma inovação.
Por exemplo, o Papa Honório foi postumamente condenado pelo Terceiro Concílio de Constantinopla, no ano 680, por ser auxiliar e cúmplice de heresia, condenação essa que foi aprovada pelo Papa Leão II e reiterada por Papas subsequentes. No Século XIV (1333), o Papa João XXII proferiu homilias - não definições solenes - em que insistia que as bem-aventuradas almas dos defuntos não gozam da Visão Beatífica antes do dia do Juízo Final. Por causa disto foi denunciado e corrigido por teólogos até que, por fim, retratou a sua opinião herética já no leito de morte.
Neste último caso, os Católicos bem informados dessa época (que eram os teólogos) sabiam que João XXII estava enganado no seu ensino sobre o Juízo Particular. Sabiam que havia algo de errado no ensinamento de João XXII, por contradizer aquilo em que a Igreja tinha sempre acreditado - mesmo que, a essa altura, ainda não fosse uma definição infalível. Então, os Católicos que no século XIV conheciam a sua Fé, não se ficaram a dizer simplesmente: 'Ora bem, o Papa fez esta homilia a dizer isto…portanto, nós devemos mudar aquilo em que acreditamos'. Olhando ao ensino constante da Igreja de que os defuntos, falecidos na bem-aventurança, gozam da Visão Beatífica imediatamente a seguir ao Purgatório, os teólogos sabiam que João XXII estava enganado - e disseram-Lho.
E aconteceu que, com o passar do tempo, o carácter imediato da Visão Beatífica foi solene e infalivelmente definido em 1336, pelo sucessor de João XXII, o que arrumou o assunto e o pôs acima de todo e qualquer debate ulterior - ora é precisamente para isso que uma definição infalível foi necessária. O mesmo se pode dizer em relação a todos os outros assuntos infalivelmente definidos pela Igreja. Podemos, e devemos, confiar nestas definições infalíveis com absoluta certeza, e rejeitar todas as opiniões em contrário - mesmo se as opiniões contrárias vierem de um Cardeal ou até de um Papa. (...)
Outro exemplo é o do Papa Libério que, em 357, errou ao assinar um Credo que lhe fora proposto pelos Arianos e que omitia qualquer referência ao facto de o Filho ser consubstancial ao Pai. Resta esclarecer que o Papa Libério consentiu nisto depois de sofrer dois anos no exílio, e sob ameaça de morte. Falhou também (sob prisão e no exílio) ao condenar e excomungar erradamente - na realidade, dando só a aparência de excomungar - Santo Atanásio, que defendia a Fé neste assunto.
Libério, o primeiro Papa a não ser proclamado santo pela Igreja, errou, porque Atanásio ensinava a Doutrina Católica - a verdadeira e infalível doutrina - ensinada infalivelmente pelo Concílio de Niceia no ano de 325 d.C. E era essa definição infalível - não o ensino errôneo do Papa Libério - que tinha de ser seguido naquele caso.
Pe. Paul Kramer in 'O Derradeiro Combate do Demónio' - Associação Missionária, pp. 223-224, Coimbra (Portugal), 2003
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