Dela disse o Papa Leão XIII: "A nenhuma criatura humana, com excepção da Mãe de Deus, foram concedidos tantos dons sobrenaturais". Grande mística, participou dos sofrimentos de Nosso Senhor na Paixão, tendo os cinco estigmas de Cristo sido impressos no seu corpo.
Modelo de obediência e humildade
O noviciado da Irmã Verónica foi muito difícil devido aos esforços do demónio para desencorajá-la. As paredes do convento pareciam-lhe muito austeras, do mesmo modo que os rostos das freiras. Nenhuma delas atraía a sua simpatia. Mas ela venceu todas essas repugnâncias.
Em quase todos os conventos, a noviça era designada para os afazeres mais modestos, a fim de praticar as virtudes da obediência e da humildade. Assim aconteceu com Verónica. Foi sucessivamente faxineira, cozinheira, enfermeira, porteira e sacristã, trabalhando sempre com espírito sobrenatural e unida à Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. De tal maneira conquistou as outras religiosas, que foi depois escolhida para a delicada função de Mestra de Noviças. Durante os 22 anos em que exerceu esse cargo, Verónica formou muitas religiosas que chegaram a altos graus de perfeição. Foi então escolhida como Abadessa, cargo que exerceu durante os últimos 11 anos de sua vida.
Às voltas com o Santo Ofício
"Parecia que o Senhor plantava a Sua cruz no meu coração e que assim me fazia compreender o preço dos sofrimentos". Desde o tempo do noviciado, a união de Verónica à Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo crescia a cada dia. De tal modo começou a participar da Paixão, que a si mesma chamava “Filha da Cruz”. Ela descreve a experiência mística que teve nesse tempo: “Pareceu-me ver Nosso Senhor que levava a Cruz sobre os ombros, e me convidava a partilhar com Ele essa carga preciosa. Experimentei ardente desejo de sofrer, e parecia que o Senhor plantava a Sua cruz no meu coração e que assim me fazia compreender o preço dos sofrimentos.”
Tais sofrimentos foram terríveis. Dolorosas e intermináveis enfermidades, tentações violentas, aridezes e desolações interiores. Santa Verónica afirmou então que a cruz e os instrumentos da Paixão foram impressos de maneira sensível no seu coração. E desenhou num cartão em forma de coração o lugar em que estava cada um. Quando, depois da sua morte - na presença do Bispo, do governador da cidade, de professores de medicina e de sete outras testemunhas dignas de fé - abriram o seu coração, constatou-se com estupor que nele estavam desenhados os símbolos da Paixão tal e qual ela havia descrito.
Um dia, Verónica pediu a Nosso Senhor para participar da sua coroa de espinhos. O Divino Mestre colocou a coroa na sua cabeça. Verónica experimentou uma tão inaudita dor, como jamais tinha sentido. E essa coroa permaneceu na sua cabeça até o fim de sua vida. Ao intervirem, os médicos aumentaram ainda mais os seus padecimentos, aplicando um bastão de fogo na sua cabeça e furando-lhe a pele do pescoço com uma agulha incandescida. Nada conseguindo, foram obrigados a reconhecer que aquela “enfermidade” lhes era desconhecida.
Verônica recebeu também os estigmas, os quais eram visíveis às outras irmãs. O seu confessor ficou assustado. Tantos fenómenos místicos deixaram-no desnorteado. Foi falar com o Bispo. Este consultou então o Santo Ofício, que o encarregou de pôr à prova a obediência, a humildade e a resignação de Verónica, pois estas constituem a base de toda santidade.
Começaram por destituí-la do cargo de Mestra de Noviças. Ela foi também separada da comunidade e encerrada num quarto da enfermaria com a proibição de ir ao coro, excepto nos dias de preceito para ouvir Missa. Não podia ir ao locutório nem escrever cartas, a não ser para as suas irmãs também religiosas. Pior ainda, foi designada uma irmã conversa para dirigi-la, com ordem de tratá-la com toda severidade. E o que mais a fez sofrer: proibiram-na de receber a Sagrada Comunhão.
Pode-se dizer que no caso de Verónica Giuliani todas as precauções inspiradas pela prudência humana para bem conhecer a verdade foram então empregadas pelo bispo de Città di Castello orientado pelo Santo Ofício.
Depois de um período de prova, o Bispo, Mons. Lucas Antonio Eustachi, escreveu ao Santo Ofício uma carta no dia 26 de Setembro de 1697: “A Irmã Verónica pratica ainda uma exacta obediência, profunda humildade e abstinência surpreendente, sem dar o menor sinal de tristeza. Pelo contrário, aparece com uma paz e uma tranquilidade inalteráveis. É objecto da admiração das suas companheiras, as quais, incapazes de ocultar a grata impressão que lhes produz, falam disso a outras pessoas. Apesar de eu impor penitência às que mais falam, para que não alimentem a curiosidade do povo, que nas suas conversações não tratam de outra coisa, custa-me grande trabalho lograr uma moderação.”
Mística dotada de muito senso prático
Santa Verónica tinha uma caridade ardorosa pela conversão dos pecadores e libertação das almas do purgatório. Foi-lhe revelado que, por causa das suas penitências e orações, converteu ao bom caminho inúmeros pecadores e libertou muitas almas das chamas do Purgatório, as quais lhe apareciam para agradecer por essa caridade.
Tendo passado por todas essas provas, Santa Verónica foi eleita Abadessa do mosteiro em 1716, começando então uma época de grande prosperidade. Pois, apesar de acentuadamente mística e espiritual, Santa Verónica possuía um senso prático muito desenvolvido, a exemplo de outra grande mística, Santa Teresa de Ávila. Mandou fazer todo um sistema de encanamentos para que o convento tivesse água própria, construiu um grande dormitório e uma capela interior, e procurou para a comunidade todas as comodidades compatíveis com o espírito da sua Regra.
Plinio Maria Solimeo in catolicismo.com.br
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