segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

São Paulo, o primeiro eremita

São Paulo, eremita, foi um dos primeiros a abraçar a vida monástica (séc. IV). A vida deste santo foi escrita pelo grande sábio São Jerónimo, no ano 400. Nasceu no ano 228, em Tebaida (hoje Egipto), uma região que fica junto ao rio Nilo e que tinha por capital a cidade de Tebas. Foi bem educado pelos seus pais, aprendeu grego e bastante cultura egípcia. Mas aos 14 anos ficou órfão. Era bondoso e muito piedoso. E amava enormemente a sua religião. 

No ano 250 estalou a perseguição do Imperador Décio. Paulo viu-se ante estes dois perigos: ou negar a sua Fé e conservar suas quintas e casas, ou ser atormentado com tão diabólica astúcia que o conseguissem acobardar e o fizessem passar para o paganismo para não perder seus bens e não ter que sofrer mais torturas.

Como via que muitos cristãos negavam a Fé por medo, e ele não se sentia com a suficiente força de vontade para ser capaz de sofrer toda classe de tormentos sem renunciar à sua crença, dispôs-se a esconder-se. Era prudente.  Mas um seu cunhado que desejava ficar com os seus bens denunciou-o às autoridades. Então Paulo fugiu para o deserto. Lá encontrou umas cavernas onde vários séculos antes os escravos da rainha Cleópatra fabricavam moedas. Escolheu por vivenda uma dessas covas, perto da qual havia uma fonte de água e uma palmeira. As folhas da palmeira proporcionavam-lhe vestes. Os seus frutos serviam-lhe de alimento. E a fonte de água acalmava-lhe a sede. 

No princípio o pensamento de Paulo era ficar por ali unicamente o tempo que durasse a perseguição, mas logo se deu conta de que na solidão do deserto podia falar tranquilamente a Deus e escutar tão claramente as mensagens que Ele lhe enviava, que decidiu ficar ali para sempre e não voltar jamais à cidade onde tantos perigos havia de ofender a Nosso Senhor. 

Propôs-se ajudar o mundo não com negócios e palavras, mas com penitências e oração pela conversão dos pecadores. Disse São Jerónimo que quando a palmeira não tinha fruto, cada dia vinha um corvo e lhe trazia meio pão, e com isso vivia o nosso santo ermitão (a Igreja chama ermitão ao que para sua vida numa "ermida", ou seja numa habitação solitária e retirada do mundo e de outras habitações).

Depois de passar ali no deserto orando, jejuando, meditando, por mais de setenta anos seguidos, já acreditava que morreria sem voltar a ver rosto humano algum, e sem ser conhecido por ninguém, quando Deus dispôs cumprir aquela palavra que disse Cristo: "Todo o que se humilha será exaltado" e sucedeu que naquele deserto havia outro ermitão que fazia penitência. Era Santo António Abade. E uma vez a este santo lhe veio a tentação de crer que ele era o ermitão mais antigo que havia no mundo, e uma noite ouviu em sonhos que lhe diziam: "Há outro penitente mais antigo que tu. Empreende a viagem e o lograrás encontrar."

António madrugou para partir de viagem e depois de caminhar horas e horas chegou à porta da cova onde vivia Paulo. Este, ao ouvir ruído lá fora, acreditou que era uma fera que se acercava, e tapou a entrada com uma pedra. António chamou durante muito longo tempo suplicando-lhe que movesse a pedra para poder saudá-lo.  Por fim, Paulo saiu e os dois santos, sem se haverem visto antes, saudaram-se cada um pelo seu respectivo nome. Logo se ajoelharam e deram graças a Deus. E nesse momento chegou o corvo trazendo um pão inteiro. 

Então Paulo exclamou: "Vê como Deus é bom. Cada dia me manda meio pão, mas como hoje vieste tu, o Senhor envia um pão inteiro." Puseram-se a discutir quem devia partir o pão, porque esta honra correspondia ao mais digno. E cada um se cria mais indigno que o outro. Por fim decidiram que o partiriam tirando cada um de um extremo do pão. Depois desceram à fonte e beberam água cristalina. Era todo o alimento que tomavam em 24 horas. Meio pão e um pouco de água. E depois de conversarem de coisas espirituais, passaram toda a noite em oração.  Na manhã seguinte Paulo anunciou a António que sentia que ia a morrer e lhe disse: "Vai ao teu mosteiro e traz-me o manto que Santo Atanásio, o grande bispo, te deu. Quero que me amortalhem com esse manto".

Santo António admirou-se de que Paulo soubesse que Santo Atanásio lhe havia dado esse manto, e foi buscá-lo. Mas temia que ao voltar o pudesse encontrar já morto. Quando já vinha de volta, contemplou numa visão que a alma de Paulo subia ao céu rodeado de apóstolos e de anjos. E exclamou: "Paulo, Paulo, por que te foste sem me dizer adeus?". (Depois António dirá aos seus monges: "Eu sou um pobre pecador, mas no deserto conheci a um que era tão santo como um João Baptista: era Paulo, o ermitão"). Quando chegou à cova encontrou o cadáver do santo, ajoelhado, com os olhos dirigidos para o Céu e os braços em cruz. Parecia que estivesse rezando, mas ao não ouvi-lo nem sequer respirar, acercou-se e viu que estava morto.

Morreu na ocupação à qual havia dedicado a maior parte das horas da sua vida: orar ao Senhor. António perguntava-se como faria para cavar uma sepultura ali, se não tinha ferramentas. Mas logo ouviu que se acercavam dois leões, como com mostras de tristeza e respeito, e eles, com as suas garras cavaram um túmulo entre a areia e foram embora. E ali depositou Santo António o cadáver do seu amigo Paulo. São Paulo morreu no ano 342 quando tinha 113 anos de idade e quando levava 90 anos orando e fazendo penitência no deserto pela salvação do mundo. É chamado o primeiro ermitão, por haver sido o primeiro que foi para um deserto a viver totalmente retirado do mundo, dedicado à oração e à meditação.

Santo António conservou sempre com enorme respeito a vestidura de São Paulo feita de folhas de palmeira, e ele mesmo se revestia com ela nas grandes festividades. São Jerónimo dizia: "Se o Senhor me pusesse a escolher, eu preferiria a pobre túnica de folhas de palmeira com a qual se cobria Paulo o ermitão, porque ele era um santo, e não o luxuoso manto com o qual se vestem os reis tão cheios de orgulho". São Paulo com a sua vida de silêncio, oração e meditação no meio do deserto, motivou muitos a afastar-se do mundo e a dedicar-se com mais seriedade na solidão a buscar a satisfação e a eterna salvação.

in Pale Ideas


blogger

1 comentário:

Maria José Martins disse...

Ao meditar sobre estes textos, só posso concluir que a nossa vida é "tíbia" e fútil, perante a EXIGÊNCIA de FIDELIDADE daqueles que, depois de terem SENTIDO Deus, TUDO desprezaram, em função d/ELE, conseguindo viver apenas do Essencial e, SOMENTE, para ELE!
E, como é triste constatar também, que a Igreja, em vez de PROGREDIR NO TEMPO, em Santidade, Se foi ACOMODANDO AO MUNDO, ao ponto de nos fazer convencer de que todos os Seus Santos são meras EXCEÇÔES, enquanto Jesus nos ORDENA a TODOS: "Vós deveis ser SANTOS! Não somente no sentido relativo, mas no ABSOLUTO, tal como quando vos propus a SANTIDADE DO SENHOR, como Exemplo e limite para vós: a SANTIDADE PERFEITA!"
"...Agora, Deus não pousa somente sobre vós, como pousava no Propiciatório, que estava no Templo, mas ELE, agora, MORA EM VÓS!"

E da maneira que o mundo está, e dada a conjuntura atual, que nos faz pensar que vamos sentir o MESMO medo, que "Paulo" sentiu, ao temer ser fraco, quando posto à Prova, ao ponto de Renegar a sua Fé, eu já muitas vezes pensei, que, certamente, não nos resta outra alternativa, que não seja UNIRMO-NOS e refugiarmo-nos em algum lugar, onde "os carrascos" não cheguem! E acreditem, que já tenho desabafado muitas vezes, sobre isto, com amigas.
Que a ÚLTIMA PERSEGUIÇÃO vai ser HORRENDA, vai! São palavras de Jesus que nos avisa, quando refere o Final dos Tempos, dizendo-nos que ESSA LUTA não é entre homens, mas entre o "filho de Satanás e seus sequazes"...relembrando-nos que REZEMOS, para que o PAI ABREVIE o tempo, porque se não, NINGUEM SE SALVARÁ..."--Em:"O Evangelho como me foi revelado--Maria Valtorta.