Ainda não li o documento do Senhor Cardeal Patriarca sobre a recepção do capítulo VIII da exortação apostólica 'Amoris Laetitia'. Consultei e ouvi somente algumas referências dispersas na comunicação social; e pareceu-me verificar que se levantou um grande sururu porque o Senhor Patriarca teria escrito que os impropriamente chamados divorciados “recasados”, caso tivesse existido um matrimónio válido antes do divórcio, se, por razões graves, houvesse conveniência de continuarem vivendo na mesma habitação, deviam, caso quisessem permanecer na verdade do amor de Deus participando da Sua vida, em Jesus Cristo, abster-se dos actos próprios do matrimónio, vivendo como se foram irmãos. Que isto seja possível e verdadeiramente libertador foi e continua a ser testemunhado por numerosas pessoas.
Será possível que de entre vários outros factores tenham influído na explosão deste motim a frequentíssima ambiguidade e distorções de tantas vozes da parte de altos responsáveis da Igreja e dos meios de comunicação da mesma. Por exemplo, é inevitável que o recurso habitual à frase “divorciados recasados” incuta uma manipulação mental que criará a percepção de que existe um matrimónio e não uma situação de permanente de adultério. Sucede também que se prega uma misericórdia, babosa, delambida, rastejante, sedutora astuciosa, que nada tem a ver com a Misericórdia Divina incarnada, manifestada, Revelada e Realizada em e por Jesus Cristo – aquela que pela loucura da Cruz nos transforma, converte e transfigura, em virtude do Sacrifício Redentor, e do poder da Ressurreição.
Deixou-se pregar sobre a Vida Eterna, sobre o Juízo de Deus, sobre o Inferno, o Purgatório e o Paraíso. A necessidade da renúncia total ao que se tem, e de algum modo ao que se é, para seguir Jesus Cristo, preferindo-O a tudo e a todos, para ser Seu discípulo, participar da Sua Vida, viver na Sua amizade, entrar no Seu Reino, foi e contínua a ser censurada, envergonhada e cobardemente silenciada.
A prioridade absoluta dada a Deus sobre tudo e sobre todos, o assentimento incondicional à bondade infinita da Sua vontade, a certeza de que tudo aquilo que nos pede é para nosso bem e que os Seus Mandamentos são, em primeiro lugar, um dom, a codificação da substância da nossa identidade que é partilha da Sua, que indicam a possibilidade de ser verdadeiramente humanos, isto é, não só imagem como semelhança Sua, tudo isto como que é calado, ou referido en passant, como quem relativiza a verdade essencial para nossa Salvação, não só aqui mas Lá, aquele Lá que dá sentido ao aqui.
Deus, e só Ele, é a Verdade, o Amor, a Misericórdia e a Justiça. Aquele que não Se engana nem nos engana. O único que merece credibilidade absoluta. O Princípio e o Fim.
Este Deus, o único e verdadeiro, ao criar-nos fez-nos participantes da Sua razão Divina imprimindo em nossos corações a Sua Sabedoria. Como pelo pecado original, os pecados actuais e o pecado do mundo nos é obscurecido o entendimento dessas verdades e enfraquecida a nossa vontade para as cumprir, Deus Nosso Senhor veio em nosso auxílio Revelando Sobrenaturalmente aquilo que fazia parte da revelação natural, de modo a saná-la e aperfeiçoa-la. Moisés, em virtude da dureza dos corações de seus contemporâneos tolerou o divórcio.
Mas Jesus Cristo que pela Sua Redenção e expiração do Espírito Santo abriu-nos os olhos para vermos claramente o que nos faz bem e nos realiza enquanto pessoas, ordenando-nos assim ao fim último (a comunhão com Deus e, portanto, a Felicidade) para o qual fomos criados, e capacitou-nos para viver o matrimónio, como Deus o quis desde o Princípo, confirmando, com a Sua autoridade Divina, a união-comunhão indissolúvel como imagem, significação-realização, do amor indissolúvel e incondicional, de Cristo pela Sua Igreja.
Podemos acreditar, com aquela Fé de Abrão que S. Paulo afirma que não engana, ou não, na Palavra de Deus em Cristo. Mas importa ter a consciência de que recusar acreditá-Lo é renunciar à Fé na existência de Deus, Uno e Trino.
Infelizmente, em nome de delirantes hermenêuticas e fantasiosas interpretações quer fazer-se crer, repudiando a Tradição, o Magistério e a própria Escritura, exactamente o contrário da Verdade Revelada.
Padre Nuno Serras Pereira
1 comentário:
Revmo. Padre Nuno Serras Pereira!
Concordo, com o senhor, em toda a profundidade da sua intervenção Quanto a Igreja necessita de pessoas e, sobretudo Sacerdotes tão lúcidos e corajosos que ensinem a única Verdade, sem falsas misericórdias! Apenas lhe queria dizer que tenho dificuldade em encontrar um Confessor, de algum tempo para cá! Sempre que me aproximo do confessionário já vou ansiosa do que vou encontrar, devido a toda a confusão! Considero esta situação muito grave! Será possível encontrar o Sr. Padre, onde, a confessar?!
Obrigada
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