domingo, 3 de junho de 2018

Deveria ser rejeitada a Comunhão na mão

Dietrich von Hildebrand, apelidado pelo Papa Pio XII "O Doutor da Igeja do século XX" foi um dos filósofos cristãos mais eminentes do mundo. Nenhum outro escritor católico repetiu tão completamente a mensagem de Nossa Senhora das Rosas como Dietrich von Hildebrand. O artigo que se segue, escrito por Dietrich von Hildebrand, com o título "Deveria rejeitar-se a comunhão na mão", foi publicado dia 8 de Novembro de 1973.

Não pode haver dúvida que a comunhão na mão é uma expressão da tendência à dessacralização na Igreja em geral, e especificamente da irreverência ao aproximar-se da Eucaristia. O mistério inefável da presença corporal de Cristo na hóstia consagrada pede uma atitude profundamente reverente. (Receber o Corpo de Cristo nas nossas mãos não consagradas - como se fosse um simples pedaço de pão, é algo que é em si profundamente irreverente e prejudicial à nossa fé). 

Tratar assim este mistério insondável é como se estivéssemos a receber simplesmente e nada mais que outro pedaço de pão, algo que fazemos naturalmente todos os dias com um simples pão, e faz com que seja mais difícil o acto de fé na verdadeira presença corporal de Cristo. Dito comportamento face à hóstia consagrada corrói lentamente a nossa fé na presença corporal e alimenta a ideia que é unicamente um símbolo de Cristo. Dizer que receber o pão em nossas mãos aumenta o sentido da realidade do pão é um argumento absurdo. A realidade do pão não é o que importa - também é visível para qualquer ateu. Mas o facto de a hóstia ser realmente o Corpo de Cristo - o facto de que a transubstanciação aconteceu - é o tema que deve enfatizar-se.

Não são realmente válidos os argumentos sobre a Comunhão na mão baseando-se que esta prática existia entre os primeiros cristãos. Ignoram os perigos e o inadequado de voltar a introduzir a prática nos dias de hoje. O Papa Pio XII falou de forma muito clara e inequívoca contra a ideia de que alguém pode voltar a introduzir nos dias de hoje os costumes da época das catacumbas. Certamente, deveríamos tentar renovar nas almas dos católicos de hoje o espírito, o fervor e a devoção heróica que se encontram na fé dos primeiros cristãos e nos muitos mártires das suas fileiras. Mas adoptar simplesmente os seus costumes é, de novo, algo diferente; os costumes podem hoje em dia assumir uma função completamente nova e não podemos nem devemos, simplesmente, voltar a introduzi-los.

Na época das catacumbas não estavam presentes o perigo da dessascralização e a irreverência que ameaçam hoje. O contraste entre o saeculum (secular) e a Santa Igreja estava constantemente na mente dos cristãos. Assim, um costume que nesses tempos já não estava em perigo pode constituir um grave perigo pastoral no nossos dias.

Atendei agora como considerava São Francisco a extraordinária dignidade do sacerdote, a qual consiste exactamente no facto de se lhe permitir tocar o Corpo de Cristo com as suas mãos consagradas. Dizia São Francisco: «Se chegasse a encontrar-me ao mesmo tempo com um santo do céu e um pobre sacerdote, primeiro daria os meus respeitos ao sacerdote e rapidamente lhe beijaria as mãos e diria depois: "Esperai, São Lourenço, porque as mãos deste homem tocam a Palavra da Vida e ultrapassam em muito tudo o que é humano"».

Alguém poderia dizer: mas não distribuiu São Tarcísio a Comunhão, apesar de não ser sacerdote? Certamente ninguém se escandalizava por tocar a hóstia consagrada com as suas mãos. E numa emergência é permitido a um leigo, hoje em dia, distribuir a comunhão. Mas esta excepção para os casos de emergência não é algo que implique uma falta de respeito ao santo Corpo de Cristo. É um privilégio que está justificado pela emergência - que deveria aceitar-se com um coração a tremer (e deveria permanecer como privilégio, reservado unicamente para emergências).

Mas existe uma grande diferença entre este caso de tocar na hóstia consagrada com as nossas mãos não consagradas e aquele de receber a comunhão nas mãos, como modo de agir - em todas as ocasiões. Que se permita tocar na hóstia consagrada com mãos não consagradas apresenta-se aos fiéis como um privilégio inspirador. Converte-se na forma normal de receber a Comunhão. E isto alimenta uma atitude irreverente e, portanto, corrói a fé na real presença corporal de Cristo.

Dá-se por feito que todos recebem a hóstia consagrada nas mãos. O leigo a quem se outorga o grande privilégio por razões especiais tem que tocar na hóstia, claro está. Mas não existe razão nenhuma para receber a Comunhão na mão: unicamente um espírito inerente de familiaridade mesquinha com Nosso Senhor.

É incompreensível o porquê de alguns que insistem numa maneira de receber a Comunhão que abre a porta a toda a espécie de abusos acidentais e ainda aos intencionais.

Primeiro, existe uma possibilidade muito maior de que algumas partículas da hóstia consagrada caiam. Em tempos passados, o sacerdote observava com grande atenção se algumas partículas da hóstia tinham caído, sendo que nesse caso imediatamente levantava as partículas sagradas reverentemente e as consumia ele. E agora, sem razão aparente, muitos desejam expôr a hóstia consagrada a este perigo, num grau muito maior que antes - estamos na época em que a hóstia se faz cada vez mais parecida ao pão, sendo mais facilmente desfeita. 

Segundo, e este é um problema incomparavelmente pior, existe o perigo que um comungante, em vez de pôr a hóstia consagrada na boca, a ponha no bolso, ou a esconda de outra maneira e não a consuma. Isto, infelizmente, aconteceu nestes dias de satanismo revivido. Sabe-se que já se venderam hóstias consagradas para usos blasfemos. Em Londres, diz-se que o preço de uma é de 30 libras, o que nos recorda as 30 peças de prata pelas quais Judas vendeu Nosso Senhor.

Acredita-se que, em vez de aplicar o cuidado mais escrupuloso para proteger a hóstia consagrada mais sagrada, a qual é realmente o Corpo de Cristo, o Deus-homem, de todos os referidos abusos possíveis, haja os que desejam expô-lo a esta possibilidade? Será que esquecemos a existência do Demónio, que "vagueia em busca de quem possa devorar"? É o seu trabalho no mundo e na Igreja tão invisível hoje em dia? O que nos leva a assumir que não se levarão a cabo abusos contra a hóstia consagrada?

Quanto maior seja o nosso respeito e maior seja o nosso amor, quanto maior seja a nossa percepção da santidade inefável da Eucaristia - maior será o nosso horror de que seja abusada; e a nossa vontade de a proteger de todos os abusos blasfemos.

Porque é que - por amor de Deus - se deveria introduzir a Comunhão na mão nas nossas igrejas quando é, evidentemente, prejudicial de um ponto de vista pastoral, quando certamente não aumenta a nossa reverência, e quando se expõe a Eucaristia aos mais terríveis abusos diabólicos? Realmente, não existem argumentos sérios para a Comunhão nas mãos, Mas existem classes de argumentos gravemente sérios contra isto.

in Adelante la Fe
(Tradução: Senza Pagare)


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