quinta-feira, 6 de outubro de 2022

São Bruno, fundador da Cartuxa

São Bruno, filho de nobre família de Colónia (Renânia), nasceu no ano de 1035. Desde a infância trazia Bruno o cunho de uma alma eleita, o que se lhe manifestava na aversão a tudo que era leviano, na prudência, modéstia e predilecção para tudo que era de Deus e do seu santo serviço.

Tendo a idade própria, frequentou a escola de São Cuniberto, na qual fez tão brilhantes progressos que o Arcebispo de Colónia, Santo Hano, não hesitou em recebê-lo entre os clérigos e mais tarde lhe oferecer um canonicato. Morto o Arcebispo, Bruno aceitou um canonicato em Rheims, e é provável que tenha lá ocupado o lugar de instrutor do clero.

Vendo-se perseguido pelo arcebispo simoníaco Manassés, e profundamente aborrecido das vaidades e prazeres do mundo, resolveu abandonar tudo que ao mundo o ligava e procurar a solidão.

Seis amigos acompanharam-no: Landuíno, Estêvam de Lonry, Estêvam de Die, cónegos de São Rufo do Dauphiné, Hugo (sacerdote já idoso) e mais dois leigos, André e Gerin. Bruno, entretanto, fez-lhes ver que pouco adiantaria meterem-se na solidão, se não tivessem um guia ilustrado, competente, mestre da oração e da santidade.

Formaram conselho e resolveram dirigir-se a Hugo, Bispo de Grenoble, homem reconhecidamente santo, em cuja vasta diocese também existiam muitos lugares próprios para se fundar uma ermida.

Hugo recebeu os sete homens, que lhe eram desconhecidos, e, vendo-os, lembrou-se de um curioso sonho que tivera na noite antecedente. Parecia-lhe ver Deus em pessoa, num lugar deserto da Diocese, erigir um templo, chamado Cartuxo; e da terra se elevarem sete estrelas que, formando um círculo, tomaram a dianteira, para lhe indicar o caminho para aquele lugar.

Bastou Bruno e os companheiros falaram-lhe do plano e neles reconheceu os mensageiros divinos, preconizados pelas sete estrelas vistas em sonho. Animou-os a executar o projecto heróico; mais: indicou-lhes o lugar da futura residência e prometeu-lhes todo o apoio. Para que não se embalassem em vãs esperanças e os pusesse ao abrigo contra duras decepções, fez-lhes uma descrição minuciosa daquele lugar, que, além de deserto, era inóspito e pavoroso. Era precisamente o que procuravam: um lugar de acesso difícil, para ficarem livres de relações com o mundo.

Hugo, encantado com o espírito de sacrifício daqueles homens, hospedou-os em casa, até que os raios do sol da primavera tornassem mais viajáveis os caminhos. Ele mesmo queria acompanhá-los e entregar-lhes o sítio da futura residência. Chegados ao lugar escolhido, Bruno e os companheiros começaram a construir uma casa, de oração e pequenas celas, uma regularmente distanciada da outra. Foi esta a origem dos Cartuxos, no ano de 1084.

Difícil tarefa é dar uma descrição minuciosa da vida daqueles santos homens naquela solidão. Obrigaram-se a observar absoluto e permanente silêncio, para tanto mais poder estar em oração com Deus. Grande parte do dia dedicavam à recitação dos salmos. O corpo parecia não ter outro destino que não sofrer mortificação. A ocupação principal e predilecta era copiar bons e piedosos livros, para assim ganhar o sustento.

Em Bruno, iniciador da obra, viam o Superior. Não só era o mais ilustrado, como também na prática das virtudes era o primeiro. Foram estes os motivos também porque Hugo o escolheu para conselheiro particular, a quem visitava diversas vezes por ano, desprezando as fadigas e sacrifícios inerentes à penosíssima viagem.

Inesperadamente recebeu Bruno ordem do Papa Urbano II para se apresentar em Roma. Bruno não era um desconhecido da Santa Sé, pois Urbano tinha sido seu discípulo, e era a veneração ao mestre, a admiração do seu saber e das suas virtudes, que inspiraram ao Papa mostrar-se grato ao benfeitor e, ao mesmo tempo lhe pedir conselhos de que necessitava.

A ordem do Papa causou tanta tristeza na pequena comunidade, que chegou ao completo desânimo. Não podiam os companheiros de Bruno conformar-se com a ida do mestre, e assim resolveram acompanhá-lo na viagem a Roma, para a qual Hugo lhe deu a bênção.

A recepção em Roma não podia ser mais cordial e fidalga. Bruno teve que ficar ao lado do Papa, e os companheiros foram hospedados na cidade, onde continuaram a sua vida de religiosos. Breve, porém, experimentaram a grande diferença entre a cidade e a solidão na Cartuxa. Não foi possível obter do Papa o regresso de Bruno. Para a obra não correr perigo de dissolver-se, nomeou Prior a Landuíno, o qual com os demais companheiros voltou para a França.

Embora separado do rebanho, conservou-se Bruno sempre em contacto com os filhos espirituais, por meio de uma correspondência ininterrupta, ficando assim sempre a par dos acontecimentos, não faltando o conselho e a assistência espiritual aos religiosos, sempre que assim o reclamavam.

A obra de Bruno e dos companheiros era muito santa, para não experimentar as ciladas do inimigo, que servindo-se de homens maus e invejosos, tudo fez para esmorecer o espírito dos santos homens, insinuando-lhes a inutilidade e contraproducência de uma vida tão austera, a inutilidade e desvantagem de tantos sacrifícios acima das forças da natureza e outras coisas mais. Não pequena foi a perplexidade dos religiosos que não cedeu enquanto Deus não lhes mostrasse numa celeste revelação, a futilidade das objecções diabólicas. Assim ficaram consolados e reanimaram-se a seguir fielmente a Regra até a morte.

À instância de muitos pedidos, obteve Bruno licença para voltar e retomar o lugar na comunidade; mas, nova complicação impossibilitou-lhe o regresso. Os habitantes de Régio, na Calábria, tendo perdido o Arcebispo, ofereceram a Bruno a Mitra, e o Papa deu-lhe a entender que seria muito de seu gosto, se a aceitasse. Bruno, porém, opôs-se às proposições do episcopado, para poder voltar à Ordem. Nesse tempo, resolveu o Papa fazer uma viagem à França e Bruno, receando ficar novamente preso com negócios da Santa Sé, desistiu do seu plano primitivo e, com outros companheiros que ganhou em Roma, fundou uma nova casa da Ordem no deserto de La Torre, na Diocese de Squillace.

Deus deu-lhe um grande amigo e benfeitor na pessoa do Duque Rogério, da Sicília e Calábria, o qual lhe doou terreno e meios para fazer um convento e uma igreja dupla, dedicada à Santíssima Virgem e a Santo Estêvão. Tendo assim garantida a subsistência da Ordem, trabalhou para sua maior organização e solidificação espiritual.

Em 1101, Bruno adoeceu gravemente. Na presença da morte, por assim dizer, diante dos Irmãos da Ordem, fez uma confissão pública de toda a vida. À confissão seguiu-se a profissão de fé, na qual frisou bem o dogma da Santíssima Eucaristia, contra as ideias erradas de Berengário de Tours e acrescentou: “Eu creio nos Santos Sacramentos da Igreja Católica; em particular creio que o pão e o vinho consagrados na santa Missa são o Corpo verdadeiro de Jesus Cristo e o Seu verdadeiro Sangue”.

No dia 6 de Outubro entregou o espírito a Deus. O corpo, enterrado no cemitério de La Torre, em 1515 foi encontrado intacto.

A Ordem dos Cartuchos, além de ser a mais austera de todas as Ordens da Igreja, tem a fama de nunca se ter afastado do espírito primitivo das suas Constituições e nunca precisou de uma reforma. Leão X aprovou, para uso da Ordem, o Ofício do Fundador, e Gregório XV estendeu-o para o uso da Igreja toda.

Reflexões 

A vida de São Bruno recomenda-nos à prática de uma virtude raras vezes encontrada no mundo, e no entanto tão necessária aos que querem salvar a alma: o amor à solidão. Bem poucos poderão, como Bruno, procurar o ermo e lá passar grande parte da vida, em completo retiro do mundo. Mas o que todos podem e devem fazer é, de vez em quando, recolher-se espiritualmente, procurar a solidão do coração, exercer uma vigilância mais rigorosa sobre os sentidos e os movimentos do espírito, “Vigiai e orai” – é a ordem que Nosso Senhor deu, não só aos Apóstolos, como a todos os fiéis. Onde não há vigilância, há dissipação; faltando a oração, seca a fonte das graças. 

Numa vida, como a nossa, tão cheia de perigos e abrolhos, a vigilância e a oração são indispensáveis. Se não conseguirmos domar as nossas paixões, elas nos escravizarão; se não fugirmos do mundo, ele nos absorverá; se não resistirmos ao demónio, ele chegará a nos subjugar. Demónio, mundo e nossa carne, estes três terríveis inimigos são reduzidos à impotência, pelo retiro espiritual, pela vigilância e pela oração.

in filhosdapaixao.org.br


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1 comentário:

maria José Martins disse...


Acredito na necessidade da solidão--naquela que nos permite recarregar baterias--porque nos ajuda a refletir sobre as coisas, a parar... para contemplar o que nos rodeia e existe de bom à nossa volta, quando tudo parece não ter sentido; aquela que nos leva a encontrar Deus nas pequeninas coisas... e a dar valor, àquilo que relmente tem valor.
Enim, e não é isso que hoje muitos, que deixaram de acreditar no nosso Deus Criador, procuram nas "filosofias orientais", recolhendo-se, até, no Tibete?
Mas, aí, ninguém critica, e acham muito bem! Porém, quando se trata da Igreja Católica, dos Carmelos...ui! Quase são rotulados de inúteis, o que através destes textos, mais uma vez, podemos comprovar o contrário!
E sem conhecientos Teológicos, vou referir o que SEMPRE me ensinaram com simplicidade: Dado que a IGREJA é um TODO--Corpo Místico de Cristo-- e que, por isso, tudo o que cada um faz repercute, direta ou indiretamente, sobre o outro, assim Deus permite e quer a diversidade de Vocações e Carismas, nos Seus filhos.
Ora, sendo as Comunidades mais ativas, no mundo, tantas vezes traídas pela falta de tempo, pela tal falta de solidão, que as obriga a recompor-se espiritualmente, as Comunidades "mais retiradas", e neste caso, os Carmelos, a Cartuxa... existem para COMPENSAR essa enorme falha, com o seu recolhimento interior mais intenso, através da oração CONTEMPLATIVA, de mais AUSTERIDADE e ADORAÇÃO, tão necessárias à REPARAÇÃO DO MUNDO!

E, agora um à parte, não é assim nas famílias?
Se um filho falha mais, há sempre outro que compensa e até ajuda a que o outro seja desculpado!
Por tudo isto, aprendamos a ACEITAR, de vez, que TUDO o que foi feito desde o Início da Igreja é bem feito!