Maria tinha dito a São José que naquela noite, à meia-noite, iria nascer a criança, pois os nove meses desde a Anunciação estariam completos. Pediu-lhe para fazer todo o possível de sua parte de modo que pudessem mostrar, à criança prometida por Deus e concebida sobrenaturalmente, tanta honra quanto estava ao seu alcance. Pediu-lhe também que se juntasse a ela em orações pelas pessoas de coração endurecido que lhes tinham recusado abrigo.
José sugeriu à Santa Virgem que poderia chamar algumas mulheres piedosas que conhecia em Belém, para que viessem auxiliá-la. Ela recusou, dizendo que não precisava de ajuda humana. Pouco antes do fim do Sabbath, José foi a Belém, e tão logo o Sol se pôs comprou rapidamente algumas coisas necessárias — um banco, uma mesinha baixa, algumas vasilhas pequenas e algumas frutas secas e uvas passas. Munido de tais coisas, apressou-se a voltar à gruta e então ao túmulo de Maraha, e levou a Santa Virgem de volta à Gruta de Natal, onde se deitou no seu leito, no canto leste.
José preparou mais comida e eles comeram e rezaram juntos. Depois separou completamente o seu local de dormir do resto da caverna, cercando-o com estacas e pendurando nelas tapetes que encontrara na gruta. Alimentou o burro, que estava à esquerda da entrada da Gruta, perto da parede; encheu a manjedoura com juncos e relva ou limo e estendeu por cima uma coberta, que pendia das bordas.
Ao ter-lhe a Santa Virgem dito que a hora se aproximava e que devia ir para seu quarto e rezar, José pendurou mais algumas lâmpadas incandescentes na Gruta e foi para fora, já que tinha ouvido um barulho. Lá, encontrou a jumenta, que até então tinha estado andando livremente pelo vale dos pastores. Ele amarrou-a sob a cobertura em frente à Gruta e lhe serviu forragem.
Quando José voltou para dentro e se deteve à entrada do seu local de dormir olhando para a Santa Virgem, viu-a com o rosto voltado para leste, ajoelhada no leito, de costas para ele. Viu-a como que rodeada por chamas — toda a gruta estava como que cheia de luz sobrenatural. José contemplou-a como Moisés fizera com a Sarça Ardente; e entrou na sua pequena cela cheio de santo temor e prostrou-se, o rosto na terra, em oração.
Eu vi a luz em torno de Nossa Senhora tornar-se cada vez maior. A luz das lâmpadas que José acendera já não era visível. Nossa Senhora ajoelhou-se no seu tapete, num amplo manto ali estendido, o rosto voltado para leste. À meia-noite, estava tomada num êxtase de oração. As suas mãos estavam cruzadas sobre o peito. A luz à sua volta aumentou; tudo, mesmo coisas sem vida, estavam num alegre movimento interior — as rochas do tecto, das paredes e do solo da gruta tornaram-se como vivas com aquela luz.
Então já não se via o tecto da gruta; um caminho de luz abriu-se acima de Maria, subindo com glória sempre maior em direcção às alturas do céu. Nesse caminho de luz, havia um maravilhoso movimento de glórias interpenetrando-se umas às outras, e, conforme se aproximaram, pareciam mais claramente sob a forma de coros de espíritos celestes.
Enquanto isso, a Santa Virgem, tomada em êxtase, olhando para baixo, adorando o seu Deus. Vi o nosso Redentor como uma criança pequenina, brilhando com uma luz que superava toda a radiação circundante, e jazendo no tapete, junto aos joelhos da Santa Virgem. A Santa Virgem permaneceu por algum tempo envolta em êxtase. Vi-a cobrir o Menino com um pano, mas a princípio ela não Lhe tocou ou pegou nos braços. Após algum tempo vi o Menino Jesus mover-Se e depois chorar.
Então pareceu que Maria voltava a si: pegou no Menino envolvendo-O no pano que O cobria, e com Ele nos braços trouxe-O para si. Ficou ali, sentada, completamente envolvida, ela e o Menino, com o seu véu e penso que amamentou o Redentor. Vi anjos à sua volta em forma humana, prostrando-se e adorando o Menino.
Talvez fosse uma hora após o nascimento quando Maria chamou São José, que ainda estava prostrado em oração. Quando se aproximou, lançou-se com o rosto ao chão, em devota alegria e humildade. Foi só quando Maria lhe pediu que carregasse, junto ao coração, em alegria e gratidão, o santo presente de Deus Altíssimo, que ele se ergueu, pegou nos braços o Menino Jesus, e louvou a Deus com lágrimas de felicidade.”
Anna Catharina Emmerich - Visões da vida da Virgem Maria
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