sábado, 19 de julho de 2025

S. Vicente de Paulo às religiosas: "Guardar silêncio quando somos injustiçados"

Vejo, minha filha, que considerais que, caso sejamos injustamente repreendidos por alguma falta, será preferível sofrermos a correção sem nada dizer do que justificarmo-nos. Sou inteiramente da vossa opinião, e parece-me que, a não ser que tal silêncio seja pecado, ou afecte os interesses do próximo, é preferível optar por ele: estamos a imitar Nosso Senhor. 

Quantas vezes O acusaram, denegriram a sua vida, criticaram a sua doutrina, vomitaram blasfémias execráveis contra a sua pessoa! E, contudo, ele nunca Se desculpou. Foi levado à presença de Pilatos e de Herodes, mas nada disse para Se desculpar, e acabou por Se deixar crucificar. Nada melhor do que seguir o exemplo que Ele nos deu.
 
Minhas queridas irmãs, dir-vos-ei a este propósito que nunca vi acontecer inconveniente a ninguém por não se ter desculpado - nunca. Não nos compete dar esclarecimentos; se nos imputam alguma coisa que não fizemos, não nos compete defender-nos. Deus quer, minhas filhas, que Lhe entreguemos o discernimento das coisas. 

Ele tratará de, em tempo oportuno, tornar a verdade conhecida. Se soubésseis o bem que faz abandonar nas suas mãos todos estes cuidados, minhas filhas, nunca teríeis a tentação de vos justificar. Deus quer aquilo que nos impõem, e permite-o, sem dúvida para pôr à prova a nossa fidelidade. 

Ele sabe como o recebemos, o fruto que daí retiramos e o mau uso fazemos da situação; e, se permite que continuem a acusar-nos, em breve saberá tornar conhecida a verdade! É máxima verdadeira e infalível, minhas filhas, que Deus justifica todos aqueles que não querem justificar-se.

São Vicente de Paulo in 'Conversas com as Filhas da Caridade' (18/01/1648)


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1 comentário:

Eduardo disse...

Jesus Cristo não tinha que se desculpar e o seu silêncio é a prova disso. Desculpar-se perante o Sinédrio, os filhos de Satanás, a propósito de quê? Justificar-se perante os filhos do mundo porque Ele nos vinha salvar do mundo? Inútil! Tão simples quanto isso, é o chamado silêncio eloquente: "Têm olhos e não vêm, têm ouvidos e não ouvem!"