segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Sínodo da Amazónia vs São Francisco Xavier

A propósito do Sínodo da Amazónia, a Rádio Renascença entrevistou o Padre Joaquim Fonseca, que "passou mais de 40 anos em missão em várias regiões do Brasil, incluindo a Amazónia". Transcrevo aqui uma parte da entrevista:


«Sem padres suficientes para chegar a todo o lado, a Igreja tem de contar mais com a ajuda dos leigos, defende o padre Joaquim. Se há comunidades indígenas onde a figura mais importante é a mulher “isso deve ser tido em conta”. 

Quanto à possibilidade de ordenação de homens casados, que vai ser discutida no sínodo, prefere falar na criação de novos ministérios. “Para fazer uma evangelização nova é necessário encontrar também novos ministérios, novos serviços na Igreja, provavelmente até uma nova maneira de ser sacerdote nessas comunidades. 

E se a Amazónia é uma realidade muito diferente da Europa, ou até de São Paulo ou do Rio de Janeiro, isso significa que o padre, os ministros da Palavra, os ministros das comunidades, também têm de ser diferentes”.»

Depois de 50 anos de Missas mal celebradas, abusos litúrgicos, leigos a fazerem o papel de padres e padres a fazerem o papel de leigos; 50 anos a dizer que isto de ser padre ou ser leigo é tudo a mesma coisa, da debandada de milhares e milhares de sacerdotes e seminaristas, do encerramento de seminários; 50 anos a dizer que não é preciso evangelizar porque Deus é amor e vão todos para o Céu, quer queiram quer não; 50 anos depois de tudo isto, e muito mais, aparecem as queixas que não há padres nem missionários suficientes. E a solução seria criar "novos ministérios" e uma "nova maneira de ser sacerdote".

Não foi essa a abordagem dos grandes missionários. Missionários como São Francisco Xavier, que não precisou de deixar de ser sacerdote como sempre tinha sido nem teve de inventar "ministérios" para evangelizar populações inteiras. Esta passagem da carta que São Francisco escreveu a Santo Inácio no dia 15 de Janeiro de 1544 mostra bem a diferença entre as duas abordagens:

«É tão grande a multidão dos que se convertem à fé de Cristo, nesta terra onde ando, que, muitas vezes, me acontece sentir cansados os braços de baptizar; e não poder falar, de tantas vezes dizer o Credo e os Mandamentos, na sua língua, deles, e as outras orações, com uma exortação que sei na sua língua, na qual lhes declaro o que quer dizer cristão, e que coisa é paraíso, e que coisa inferno, dizendo-lhes quais são os que vão a um e quais a outro. 

Mais que todas as outras orações, digo-lhes muitas vezes o Credo e os Mandamentos. Há dia em que baptizo toda uma povoação e, nesta Costa onde ando, há trinta povoações de cristãos.»


João Silveira


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2 comentários:

Jorge disse...

"Para fazer uma evangelização nova é necessário encontrar também novos ministérios, novos serviços na Igreja, provavelmente até uma nova maneira de ser sacerdote nessas comunidades."

Já agora, não querem encontrar uma nova doutrina, uma nova teologia, um novo culto e uma nova igreja? Mas não se esqueçam de mudar de nome! Era o que faltava mudar tudo e manter o nome de Igreja Católica...

Maria Ribeiro disse...

Caro Jorge, concordo, em absoluto com o seu comentário.
De uma forma simples e, com alguma ironia, revelou com clareza, a forma como alguns "iluminados" querem actuar na Nossa Igreja, os quais, evidentemente, já não lhe pertencem, embora se dizendo "católicos".

Como refere um Sacerdote que admiro muito, "quem entra na Igreja com outro objectivo que não seja a sua santificação, dá licença, vaza, pois vai atrapalhar a santificação dos outros". É duro, é forte, mas é a verdade.