Princesa da casa real aragonesa, Dona Isabel nasce em 1270. Casa por
procuração com o rei D. Dinis na cidade de Barcelona, em Fevereiro de 1281, mas
Coimbra só recebe o casal régio em Outubro do mesmo ano. De pronto se
estabelece uma profunda empatia com aquela que viria a ser a sua futura
padroeira.
Desde cedo, o carácter filantrópico e de pacificadora da rainha é posto em
evidência. Destacam-se alguns dos seus actos miraculosos e as intervenções de
mediadora na discórdia entre D. Dinis e o seu meio-irmão, o Infante D. Afonso.
Nos anos de 1319 e 1324, intervém para pôr fim aos incidentes do marido com o
filho D. Afonso. Mais tarde, ao ter conhecimento da desavença entre o futuro
rei D. Afonso IV, e o seu neto, D. Afonso XI de Castela, desloca-se a Estremoz
para a sua última tentativa de reconciliação. Adoecendo nessa localidade
alentejana, acaba por falecer a 4 de Julho de 1336, sem ter conseguido levar a
bom termo a sua missão pacificadora.
Este pequeno
retábulo, considerado o primeiro ex-voto português, foi encomendado por um
professor universitário, como forma de agradecer o auxílio da Rainha Santa na
cura da paralisia de que padecia uma sua sobrinha, freira da comunidade
monástica de Celas. Nele se representa Santa Isabel com as rosas e o milagre propriamente
dito, bem como a sua acção de amparo aos mais desprotegidos. Em plano de fundo,
descobre-se uma vista geral de Coimbra renascentista, com destaque para o Paço
Real e o Mosteiro de Santa Clara.
A rainha é
sepultada em Coimbra, no Convento de Santa Clara, conforme vontade expressa em
testamento, repousando inicialmente num belíssimo túmulo de pedra esculpido no
séc. XIV por Mestre Pero para, mais tarde, já no século XVII, ser trasladada
para novo túmulo em prata, exposto na capela-mor do novo Mosteiro de Santa
Clara.
Hoje, o monumento
funerário encontra-se próximo do retábulo-mor da nova Igreja de Santa Clara de
Coimbra, na companhia da venerada imagem da Rainha Santa, executada por
Teixeira Lopes em 1896.Após a sua canonização ser oficializada pela Igreja de
Roma, os restos mortais da Rainha Santa foram trasladados para uma nova morada
final. O novo túmulo em prata foi mandado fazer em 1614 pelo Bispo-Conde de
Coimbra, D. Afonso de Castelo Branco.
A sua figura de Rainha Santa ficou indissociavelmente ligada ao auxílio e
fundação de mosteiros e à protecção dos mais desfavorecidos, sendo por isso
querida em vida e venerada como santa, logo após a sua morte. Oficialmente, a
consagração dá-se com a beatificação, a 15 de Abril de 1516, por Leão X, vindo
a ser canonizada por Urbano VIII, em 25 de Maio de 1625.
Após a morte de D. Dinis, em 1325, e antes de fixar residência no paço
anexo ao Mosteiro de Santa Clara de Coimbra, a rainha efectuou uma peregrinação
a Santiago de Compostela. Segundo a tradição, Dona Isabel oferece ao Apóstolo
Santiago alfaias litúrgicas, jóias e paramentos religiosos, recebendo das mãos
do arcebispo compostelano o bordão de peregrina, em forma de tau, que se
encontra à guarda da Irmandade de Santa Clara.
Durante a abertura do túmulo da Rainha Santa, ocorrida em 1612, com o
objectivo de proceder à recolha de provas para a sua canonização, repousava
junto do seu corpo o báculo e o bordão de peregrina a Santiago de Compostela,
oferecido em 1325 pelo arcebispo compostelano. A peça foi colocada, no século
XVII, num receptáculo de prata, em forma de balaústre, encontrando-se à guarda
da Irmandade da Rainha Santa Isabel.
Uma vez viúva, a rainha passa a envergar o hábito de clarissa sem tomar os
votos, desfazendo-se dos seus adornos. De alguns mandou fazer ornamentos e
alfaias religiosas, enviando-as a várias igrejas, enquanto às rainhas de
Portugal, Castela e Aragão ofereceu diversas jóias.
O legado de Dona Isabel de Aragão constitui um pequeno tesouro no panorama
da ourivesaria sacra medieval, embora integre uma peça de uso pessoal, o colar
de ouro e pedras preciosas ( inv. 6037). De acordo com a lenda, as freiras
clarissas emprestavam-no aos doentes para ajudar à cura, sendo usado, em
particular, pelas parturientes.
O acervo compreende também um relicário de coral
(inv. 6036) que combina a excelência das formas irregulares e naturais do coral
com as várias técnicas de trabalhar a prata, associando também a douradura à
utilização repetida dos esmaltes. Ostentando os símbolos heráldicos de Portugal
e de Aragão, o relicário repousa sobre dois leões de vulto pleno. Esta peça
tinha o seu culminar na desaparecida representação do Calvário, plasmado nas
figuras de Cristo, da Virgem e de S. João. A eleição da forma tripartida surge
como alusão ao Mistério da Santíssima Trindade.
Do denominado “tesouro” consta ainda uma rara escultura da Virgem com o
Menino (inv. 6034), singular quer pelas dimensões, quer pelos ornamentos e
gemas aplicadas. É uma escultura isenta, assente sobre três leões, que recorre
mais uma vez à utilização do símbolo heráldico real no cinto, em esmalte, como
forma de afirmação de poder.O acervo compreende também um relicário de coral
(inv. 6036) que combina a excelência das formas irregulares e naturais do coral
com as várias técnicas de trabalhar a prata, associando também a douradura à
utilização repetida dos esmaltes. Ostentando os símbolos heráldicos de Portugal
e de Aragão, o relicário repousa sobre dois leões de vulto pleno. Esta peça
tinha o seu culminar na desaparecida representação do Calvário, plasmado nas
figuras de Cristo, da Virgem e de S. João. A eleição da forma tripartida surge
como alusão ao Mistério da Santíssima Trindade.
Pertencente também ao legado da Rainha Santa é a cruz de jaspe sanguíneo e
prata ( inv. 6035). Desta cruz processional destaca-se o magnífico nó
hexagonal, onde, mais uma vez, estão inscritas as armas da Rainha. A temática
escolhida enquadra-se no catecismo Cristológico — de um lado o Calvário, do
outro Cristo rodeado pelo Tetramorfo, representação simbólica dos quatro
evangelistas.
Provenientes do antigo Mosteiro de Santa Clara são igualmente duas cruzes
de cristal de rocha ( inv. 6040 e 6075), a primeira destas filiada nas oficinas
venezianas. Recorrendo a uma iconografia de influência bizantina, os temas
escolhidos aludem, num dos lados, ao episódio da Dormição da Virgem e, no
outro, ao Calvário.
A outra cruz é, no talhe do cristal, muito semelhante a esta. Apresenta nas
suas placas, em prata dourada, uma galeria de figuras bíblicas, contribuindo
para exaltar o valor espiritual desta peça singular. Embora não possuam as
armas de Aragão, pensamos que estas peças poderão filiar-se na acção mecenática
da Rainha Santa Isabel, figura ímpar da história portuguesa.
in museumachadocastro.pt
1 comentário:
Verdade seja que o tesouro da Rainha Santa é do mais bonito que vi cá e lá fora em arte medieval.
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