domingo, 18 de fevereiro de 2024

As tentações de Jesus no deserto

A) O texto do evangelho deste primeiro Domingo relata-nos que depois do baptismo de Jesus no rio Jordão o Espírito Santo desceu sobre a Sua humanidade preenchendo-a totalmente, e logo O conduziu ao deserto, onde permaneceu durante 40 dias para, mergulhando na intimidade com o Pai, combater o diabo.
 
Ao fim de 40 dias de jejum, naturalmente sentiu fome. Aproveitando-se da Sua fraqueza e da necessidade humana o diabo insinua-se dizendo-lhe que se é quem é, o Messias, o Filho de Deus, transforme as pedras em pão. Ao que Jesus responde citando a Sagrada Escritura: “Está escrito: Nem só de pão vive o homem”. Convirá notar que nesta tentativa de sedução do diabo se topam claramente duas tentações.
 
1 - A primeira, se assim podemos falar, consiste na concupiscência da carne, precisamente aquela a que Eva e Adão não resistiram comendo do fruto proibido; trata-se do prazer sensual, daquilo que satisfaz, desordenadamente, os nossos apetites. Curiosamente a queda nesta tentação, num certo sentido, ocorre também no Êxodo do povo israelita quando na sua jornada submetido a um jejum de pão se revolta contra Deus, representado por Moisés. Desconfiaram de Deus, não acreditando que lhes pudesse dar o pão do céu - o maná.
 
2 - A segunda está subtilmente implícita na primeira. Podemos dizer que ela só se descobre pela resposta pronta de Jesus: Nem só de pão vive o homem. Jesus Cristo desmascara o diabo revelando a essência da sua proposta, a saber que o pão, a fartura, os bens materiais seriam suficientes para salvar o mundo - o homem seria reduzido ao seu estômago, quem garantisse somente a alimentação material salvaria o mundo. Pelo contrário Jesus afirma que a Palavra de Deus, que é Ele próprio, é fundamental, é essencial. De facto, é esta Palavra feita carne e feita Eucaristia, que se multiplica continuamente e Ela só é capaz de quebrar os grilhões do nosso egoísmo, que salvará o mundo.
 
B) A segunda tentação está assim descrita: Levando-o a um lugar alto, o diabo mostrou-lhe, num instante, todos os reinos do universo e disse-lhe: «Dar-te-ei todo este poderio e a sua glória, porque me foi entregue e dou-o a quem me aprouver. *Se te prostrares diante de mim, tudo será teu.» Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.»
 
O diabo mostra a Jesus, numa visão, todos os reinos, que lhe foram entregues por Adão, rei de toda a Terra - sendo Eva a rainha -, ao cair na sua diabólica tentação.
 
Enquanto na primeira tentação a gula e os prazeres sensuais são sublinhados, nesta segunda acentua-se o ter e o poder, o “sereis como Deus” se comerdes do fruto proibido, tudo vos estará sujeito, dominareis todo o universo, não precisais de Deus para nada, Ele é vosso inimigo, tem-vos inveja. A cruz é uma tolice, uma ignomínia incompatível com o ter e o poder.
 
A isto Jesus replica que não Se deixa vender, afirmando a Verdade absoluta: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto. Podia-se porventura acrescentar, para nosso proveito: “Que importa ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma?”.
 
C) Em seguida, conduziu-o a Jerusalém, colocou-o sobre o pináculo do templo e disse-lhe: «Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo, pois está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, a fim de que eles te guardem; 11e também: Hão-de levar-te nas suas mãos, com receio de que firas o teu pé em alguma pedra.» 
Disse-lhe Jesus: «Não tentarás ao Senhor, teu Deus.»
 
Nesta tentação é de notar que tanto o diabo como Jesus citam passagens da Sagrada Escritura. O sentido mais profundo desta contraposição significa que o Antigo Testamento lido sem Cristo torna-se um instrumento do Maligno, enquanto que lido em Cristo e com Cristo é, de facto, Palavra de Deus.
 
O diabo aqui tenta persuadir Jesus que alcançará o Seu propósito, o Seu destino através do sucesso, da honra, da vaidade, como que obrigando Deus (Pai) a fazer um Milagre extraordinário para provar que Jesus É quem É. Mas o Senhor conhece melhor do que ninguém os caminhos do Pai. E a Sua relação de Amor infinito com Ele sabe muito bem que não se põe Deus à prova com um espectáculo imbecil.
 
Importará notar que cada uma destas tentações tem como objectivo o desviar Jesus da Cruz. O Evangelho termina dizendo que o diabo depois de esgotar toda a espécie de tentação retirou-se de Jesus durante um certo tempo. Quando voltou então o diabo? O Maligno regressou, principalmente, quando Jesus estava crucificado e movia os outros a dizer desce da Cruz e então acreditaremos em ti...

Padre Nuno Serras Pereira


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1 comentário:

Anónimo disse...

Senhor Jesus, fica connosco e dá- nos a Tua força, persistência, coragem e, sobretudo, Amor e Fidelidade à Vontade do Pai, porque, sozinhos, nada podemos!