sábado, 12 de novembro de 2022

Diálogo entre D. Quixote e Sancho Pança sobre a Morte

Em Novembro, a morte é lembrada, de maneira especial, pela Igreja. Memento mori. Este diálogo entre D. Quixote e Sancho Pança ajuda a relativizar muitas vaidades, quezílias e ódios de estimação que temos no dia-a-dia:
 
(D. Quixote pergunta): Não viste representar alguma peça onde entrem reis, imperadores e pontífices, cavaleiros, damas e outras personagens? Uma faz de rufião, outra de embusteiro, este de mercador, aquele de soldado, outro de simples discreto, outro de namorado simples, e, acabada a comédia, e despindo-se os seus trajes, ficam todos os representantes iguais?
 
— Tenho visto, sim — respondeu Sancho.
 
— Pois o mesmo — disse D. Quixote — acontece no trato deste mundo, onde uns fazem de imperadores, outros de pontífices, e, finalmente, todos os papéis que podem aparecer numa comédia; mas, em chegando ao fim, que é quando se acaba a vida, a todos lhe tira a morte as roupas que os diferençam, e ficam iguais na sepultura.
 
— Óptima comparação! — disse Sancho. — Apesar de não ser tão nova que eu não a ouvisse já muitas e diversas vezes, como a do jogo de xadrez, no qual, enquanto dura, cada peça desempenha o seu papel especial, e, quando acaba, todas se misturam, se juntam e se baralham , e se metem num saco, que é o mesmo que dar com a vida no sepulcro.»


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2 comentários:

Eduardo disse...

"Uma piedosa compaixão pelos defuntos é um dos primeiros sentimentos do coração do homem. Não pode este despertar no Éden, onde não tinha acesso a morte, mas, quando os nossos primeiros pais foram exilados para esta terra de misérias, tiveram de chorar o assassínio de Abel, e essa fonte de lágrimas, que brotou então pela primeira vez, não mais se estancou, antes correu com mais abundância à medida que se estenderam os estragos da morte..." (in prefácio " Mês das almas do Purgatório" de Francisco Vitali editada em português no ano de 1900)

maria José Martins disse...



Mas que profundo lembrete este, que nos obriga a refletir sobre o quão efêmera é a nossa vida terrena.
Por isso, convém refletir que, depois desta "comédia" terminar e todos sermos misturados, de forma igual, no mesmo saco...nada termina para nós humanos! E tal como sabemos pela Palavra de Deus, é aí que TUDO, verdadeiramente, começa, e onde a única garantia de sucesso é o "tal tesouro" acumulado de boas Obras, cuja traça não corrói.
Que, num mundo cada vez mais hedonista e prevertido, agarrado aos bens e títulos terrenos, nós, Cristãos, consigamos marcar a diferença e, remando contra a maré, mostremos que é VERDADE o que Jesus Proclama: "De que vale ao Homem ganhar o mundo inteiro, se vem a perder a alma..."