Apresento-vos aqui uma notícia que saiu há dias no site de uma revista polaca católica. É chocante aquilo ao que já chegámos.
«Uma tarde de sábado, início do ano lectivo. Centro de Varsóvia, loja de três andares da Empik* no centro comercial Zlote Tarasy. No último andar da livraria. Numa das secções, várias estantes, "literatura científica e popular para crianças". Livros sobre o cosmos, sobre experiências científicas, sobre dinossauros e castelos medievais. Capas duras, ilustrações coloridas, paginações modernas. Só falta comprar. Imensos livros. Tantos, que a maioria se encontra com a lombada virada para o cliente. Uma das poucas excepções é... o "Grande livro sobre o aborto".
O director da loja, visivelmente incomodado com a minha pergunta ("O senhor não acha que os livros sobre o aborto deviam não estar nas estantes com livros para crianças?"), prometeu tratar do assunto ("Tem razão, este livro não devia estar aqui"). Porém, uma hora depois, o livro sobre o aborto continuava no mesmo lugar. A gerente da loja, entretanto chamada, explicou que possivelmente o livro estava desnecessariamente destacado ("Por favor, dêem-nos um pouco de tempo"), mas à partida pode estar naquele lugar, pois trata-se de um livro destinado a crianças.
Na contracapa lê-se: "Este livro quebra o tabu do silêncio à volta do aborto, dissipa os mitos que cresceram em redor do tratamento de interrupção da gravidez. [...] Esta publicação tem como objectivo aproximar o pequeno leitor das situações nas quais as mulheres decidem tomar a difícil decisão de interromper a gravidez e das possívieis consequências sociais desta decisão, entre as quais, a exclusão social, rebaixamento, violência (psíquica e física), isolamento."
Síndrome pós-aborto? É uma invenção. Sobre a mutilação do corpo e da alma, sobre as consequências psíquicas (nos pais que não chegaram a sê-lo) e físicas (nas mulheres) que muitas vezes duram a vida toda, nem uma palavra. As autoras (Kazimiera Szczuka i Katarzyna Bratkowska) referem ao de leve a opinião da Igreja sobre a interrupção da gravidez, mas imediatamente a consideram hipócrita, pois as mortes durante as guerras nunca incomodaram a Igreja.
Na segunda-feira, o livro (ainda na secção de literatura infantil) já estava só com a lombada virada. A relações públicas da Empik, Monika Marianowicz, não concordou com a publicação da gravação da nossa conversa (compreendo-a totalmente) e disse que a empresa irá emitir um comunicado oficial (publicá-lo-emos posteriormente). Durante a conversa, afirmou que não se pode esperar que a empresa Empik seja censora. Assinalou também que foi o editor que definiu o livro como sendo para crianças e adolescentes, e a Empik não verifica estas avaliações. Sendo um livro para crianças, acaba nas estantes para crianças. Referiu ainda que se houver protestos de clientes, a empresa fará algo. Protestos houve, mas infrutíferos.
Capa dura, papel brilhante e letras grandes. Para que as crianças possam ler com facilidade, por exemplo, sobre a pílula do dia seguinte. É assim que a Empik educa os seus futuros clientes. Hoje crianças e amanhã cidadãos do mundo moderno abertos ao mundo. Pais, estejam alerta.
PS - A minha revolta provém do facto de esta firma de renome decidir primeiro distribuir e depois colocar na secção das crianças um livro sobre o aborto. Ao contrário do sugerido pela senhora relações públicas, não concordo que a Empik tenha de aceitar tudo o que circula legalmente na Polónia. A Empik deveria preocupar-se não só com o dinheiro, mas também com a boa imagem. Aos meus olhos, a imagem da Empik está minada. E o facto do livro ter sido retirado da secção para crianças não vai alterar isso. Para mim, ele nem sequer devia ter aparecido na Empik.
Tomasz Rożek»
* A Empik é mais ou menos o equivalente à Fnac.
3 comentários:
Que horror!
Tem razão, ao que chegámos, com pessoas como você lol. qual é o mal? pensa que nesta época crianças com 10 anos já não sabem o que é sexo? e estes temas? acho muito bem que desde novos se comece a educá-los, e não a perderem tempo com desenhos animados como o noddy. É um assunto da atualidade que deve ser do conhecimento de toda a gente
Antes perder tempo com o noddy do que com anónimos mal-educados
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