Se se permite, tão facilmente e totalmente grátis, a mudança de género, por que não também a de espécie?
Quem viveu conscientemente o 25 de Abril, talvez ainda conserve, entre outras recordações, a lembrança de uma canção revolucionária em que, a páginas tantas, se badalava: "Uma gaivota, voava, voava, asas de vento, coração de mar. Como ela, somos livres, somos livres de voar".
Como nunca mais ouvi aquela melodiosa voz, temi que, embalada por um tão sugestivo texto, a dita cançonetista tivesse mesmo voado para parte incerta. Ou que, tendo desafiado as leis da gravidade, a experiência lhe tivesse sido fatal. Felizmente nenhuma destas aziagas hipóteses se confirmou, pelo que é de supor que ainda esteja disponível para ser de novo a voz do PREC, ou seja, do processo revolucionário em curso. A sua histórica balada é, com efeito, um magnífico hino à nova e subversiva política da identidade de género em que o anterior Governo, à falta de mais urgente e necessária reforma social, tão entusiasticamente se empenhou, depois de ter empenhado, com indiscutível êxito, o país.
Entende-se modernamente que a identidade pessoal não deve ser aferida por circunstâncias objectivas, como eram antigamente o sexo, a idade, a altura e o peso, mas sim por um acto libérrimo da vontade de cada qual. Assim, se um macho quer ser oficialmente fêmea, o Estado obedece ao capricho do cidadão e falsifica, a seu bel-prazer, o respectivo registo de identidade. Portanto, pela mesma razão, se uma septuagenária, de um metro de estatura e pesando cinco arrobas, quiser ser oficialmente uma menina de vinte anos, de um metro e setenta e quarenta quilos, também deveria poder sê-lo, se de facto se sente tão jovem, alta e leve quanto o dito sujeito se acha feminino. Ou será que o faz-de-conta é válido para o sexo, mas já não para a idade, a altura e o peso?
Mas, se se permite, tão facilmente e totalmente grátis, a mudança de género, por que não também a de espécie?! Se o sexo já não é algo objectivo e predeterminado geneticamente, por que o há-de ser a natureza? Se a mulher pode "virar" homem e vice-versa, por uma simples declaração de vontade, por que não pode ser alguém, como Fernão Capelo, gaivota?!
Quem não gostaria de obter, oficialmente, o estatuto jurídico de ave protegida?! Não passarinho, que releva alguma inferioridade, nem passarão, que sugere algum governante ou administrador de empresa pública, mas pássaro, como a gaivota da canção, para ser livre, livre de voar! Para além da isenção de impostos e a inimputabilidade penal, a condição aviária tem grandes vantagens também ao nível da viação que, neste caso, passa a ser, muito propriamente, aviação.
A estas e outras razões gerais tenho a acrescentar uma gratificante experiência pessoal quase-aviária. No ano passado, ao sofrer um acidente, tive que esperar pela ambulância, no lugar do sinistro, cerca de uma hora. Porém, quando na urgência do hospital me colocaram uma pulseira colorida, fui logo objecto dos mais extremosos e diligentes cuidados médicos. Enquanto ser humano, mereci pouca atenção, mas assim que, graças à bendita anilha, me confundiram com uma ave, beneficiei de imediato da principesca protecção dispensada às espécies em vias de extinção. Uma pessoa pode ser negligenciada e até impunemente morta antes de nascer, mas um animal protegido não pode ser maltratado. Moral da história: humano nunca mais! Ser ave é que está a dar!
Um slogan revolucionário exigia: 25 de Abril sempre! Não chegámos a tanto, mas, de certo modo, pode-se dizer que agora, graças à famigerada igualdade de género, todos os dias são dias de 1 de Abril, porque são dias de mentiras. Talvez não fosse despropositado criar um dia anual da verdade, em que cada qual, mais por via de excepção do que por regra, seja, muito originalmente, o que de facto é.
7 comentários:
Não tem humor quem quer nem qualquer. Este senhor padre muito ganhava se fosse mais humilde. Um texto horrível, este.
mesmo assim consegue ser melhor do que o seu comentário
Anónimo, onde é que viu falta de humildade no texto?
Leiam o artigo que vem, neste dia, no mesmo jornal. O dr. José Soeiro e o Doutor Vale de Almeida nem sequer se detêm no conteúdo, mas no respeito. Tenho pena, como católico praticante, que um sacerdote seja confrontado com o «ódio». Todas as discussões são admissíveis, mas o respeito é sagrado. Se conhecem esse senhor padre, convidem-no um pouco ao silêncio. Deixe essa questão para os leigos. Se quiser intervir, que o faça com humildade. Nota-se bem o estilo OD.
Caro Anónimo, já li o artigo, e é mais do mesmo: lugares-comuns sobre supostas discriminações, como se todos os comportamentos fossem louváveis.
Também concordo que se nota o estilo "OD", a partir do momento em que defende a doutrina da Igreja, e não uma qualquer doutrina estranha a um padre.
Não tenho pena nenhuma que este padre seja vítima de ódio, tenho é pena dos que não são vítimas desse ódio que crucificou Jesus, dos que querem ser politicamente correctos. Esses, para mim, não são um exemplo a seguir, ao contrário do Pe.Gonçalo.
"Bem-aventurados sereis quando vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem toda a espécie de calúnias contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus."
Não quero alimentar polémicas, mas se alguém alimenta preconceitos e ódios é o senhor padre. E por aqui me fico. Não é edificante.
ahah o artigo está mt bom. consegue dizer com as palavras certas as nossas reacções às imbecilidades que acontecem por aí.
alimentar ódios?!
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