Em Ensaios Escolhidos, podemos encontrar um texto muito atual de T.S. Eliot: "A ideia de uma sociedade cristã". Este ensaio de 1939 é um ótimo buraco da fechadura para observarmos os dilemas do cristão na sociedade de 2011.
Eliot dizia que o cristão tem de tentar influenciar a sociedade do seu país a um nível pré-político. Ou seja, não estamos perante a defesa de um Estado cristão, mas ante a defesa de uma sociedade cristã, uma sociedade com o seu centro vital amarrado a valores cristãos. Eliot, aliás, afirmava que é mais importante a existência de uma sociedade cristã do que a existência de governantes cristãos. Porquê? Numa sociedade cristã, um político pagão não consegue impor leis anti-cristãs, porque o tecido social não o permite. Ao invés, numa sociedade pós-cristã e pagã, um governo de políticos cristãos já não tem hipótese, pois está rodeado por uma sociedade que despreza o moral cristã.
Portanto, Eliot afirmava que um cristão deve actuar na sua sociedade, porque o cristianismo é a última linha de resistência contra o mau governo, contra o "governo totalitário pagão". Tudo bem? Tudo mal. Eliot já tinha o problema que aflige os cristãos europeus de hoje: a sua sociedade já era pagã. Eliot queixava-se da ausência de fé nas massas, e, como se sabe, esta queixa é recorrente na atualidade. Em 2011, tal como em 1939, a sociedade já não é cristã, logo, o Estado projecta-se através de leis que ferem a ética cristã. Sim, tal como no tempo de Eliot, ainda existe uma "Comunidade de Cristãos", mas já não existe uma "Comunidade Cristã". O processo de descristianização das sociedade europeias, que estava a atingir a maturidade no tempo de Eliot, é hoje uma realidade mais do que madura. Maduríssima. Há muito que não existe um ethos cristão a limitar a ação do Estado e dos governantes.
Ora, quer em 1939, quer neste século XXI, o afastamento das sociedades em relação ao ethos cristão não se deveu apenas às investidas das hordas pagãs. A preguiça, digamos assim, dos cristãos também deve ser considerada enquanto causa da decadência da fé. Em Portugal, por exemplo, há muito católico de sofá e de teclado. Julgo mesmo que os católicos portugueses esqueceram o conselho de Eliot, isto é, pensaram que as leis do Estado protegeriam para sempre o ethos católico. Como todos os portugueses, os católicos portugueses encostaram-se ao Estado, e negligenciaram um ponto fundamental: é preciso fazer catolicismo todos os dias, na rua, nas paróquias, nos bairros, nas associações, no voluntariado, junto das pessoas. A lei não chega.
PS: uma nova geração de católicos portugueses (ainda mais nova do que a minha) está a desbravar caminho neste sentido. Ainda bem.
1 comentário:
E eu estou com eles.
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