No meio do reboliço das nossas
vidas, dos barulhos e chamadas de atenção que nos empenham o espírito, é
essencial criarmos espaços de silêncio, onde nos possamos escutar e,
mais importante que isso, escutar Aquele que dá sentido ao nosso
existir.
É certo que Deus não se
encontra ausente das multidões, da festa, do mundo agitado em que
vivemos. Mas é igualmente certo que não O conseguiremos nunca perceber
aí, se em nós não existirem momentos de silêncio acolhedor – aquele
silêncio interior e exterior de quem se encontra disponível para escutar
a Palavra de Deus sem pressas, e deixar-se confrontar por ela.
Muitas das nossas igrejas
constituem, é verdade, esses espaços de silêncio – muitas vezes quase
vazias e (pelo menos as mais antigas) a convidar à oração e ao repouso
em Deus.
Não deixa, contudo, de ser
lamentável que apenas as igrejas vazias sejam esse espaço, e que a
comunidade que reza não possa, não seja capaz, não lhe permitam apreciar
esse dom inestimável do silêncio exterior e interior. Mas não. Antes e
depois das celebrações (e mesmo durante elas) as nossas igrejas são
invadidas pelo falar, gritar, cantar de quantos lá estão, bem pouco
preocupados com Deus e com aquilo que Ele tem para nos dizer,
transformando até aquele espaço em casa de encontro de familiares e
amigos que não se viam há muito, ou (pior ainda) de oportunidades para a
“foto do ano”.
Não se trata de esquecer o
mundo, trata-se de poder escutar Deus. Nem se trata de sujeitar o ser
humano a uma qualquer regra sem sentido: trata-se antes de perceber que,
sem o silêncio, é impossível, de facto, vivermos como cristãos.
As igrejas, os espaços
sagrados que elas constituem, não podem ser tratados como lugares iguais
aos outros. Mesmo quando a arquitectura é pobre, ou quando as imagens
são de fraco gosto e, longe de nos convidarem a elevar o espírito, nos
conduzem antes a fechar os olhos, a presença de Deus ultrapassa tudo
isso.
E uma comunidade nunca será
uma “comunidade orante” enquanto não perceber o silêncio em que Deus lhe
fala. Torna-se urgente, em todos e para todos, o início de uma
“pedagogia do silêncio” que nos deixe tomar consciência de que o Senhor
nos quer, verdadeiramente, encontrar. E, se for necessário, tome-se a
sério a regra que há muito nos ensinaram: numa igreja, não se fala!
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