À minha frente, duas estagiárias envergam os calções da moda.
Curtos e de ganga. Acham que as vou mandar ao Palácio de Belém,
à Assembleia da República, a um ministério, seja onde for? Não.
Uma delas responde: "Tá-se?", "na boa" e despede-se com um "vou bazar!"
Tremo só de pensar que fale assim com as pessoas que deve contactar.
É o nome do jornal que põe em causa.
Um colega que a ouve comenta: "A geração Morangos com Açúcar
chegou às redacções!"
Chegou com 20/21 anos, graças à Declaração de Bolonha,
com três anos de formação superior e sem a mínima noção
do saber estar num local de trabalho.
Mas a culpa não é delas.
- É dos pais
Eu devo ter sido a última rapariga do planeta a usar combinações e saiotes,
obrigada pela minha avó e pela minha mãe, a vesti-los por debaixo das
saias mais transparentes. Gozada à grande pelas colegas que nunca
tinham visto aquelas peças de roupa interior. Obrigada a despi-las
mal saía a porta de casa e a guardá-las na mochila.
Não peço que as usem (já nem devem existir), mas peço que os pais
as ensinem a vestir, tenham uma palavra a dizer quando as meninas
vão às compras. "O umbigo é bonito para se ver na praia, não na escola,
muito menos no local de trabalho."
- É da escola
As meninas/os meninos não têm de estar na sala de aula com o
rabo de fora, com a barriga à mostra, com o boné na cabeça,
com os chinelos nos pés.
Custa perder um bocadinho da aula a mandá-los vestir a bata de Ciências?
Custa, mas pode ser que aprendam... Quem sabe, a funcionária da
portaria pode fazer essa triagem antes que os alunos entrem na escola.
- É da faculdade
O ensino superior espera que os meninos cheguem lá bem formados
e acredita que estes têm autonomia e são responsáveis, que são adultos.
Mas não são. São uns miúdos de calções, literalmente.
Alguém - pode ser o professor responsável pelo estágio, se faz favor -
tem de explicar como se deve estar num local de trabalho
já que os pais e os professores do básico e do secundário não ensinaram.
Vá lá, alguém faça o seu trabalho para não ser eu, aqui e agora a explicar
que estão numa empresa onde não vão servir umas cervejas,
mas exercer funções de jornalistas estagiárias.
Ainda bem que chegou o Outono! (jornalista e editora do Público)
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