A passagem do evangelho de S.Marcos, Mc 10, 17-39, tem como tema principal a
riqueza. Jesus ensina que para um rico é muito difícil entrar no Reino de Deus,
mas não impossível; de facto, Deus pode conquistar o coração de uma pessoa que
possui muitos bens e levá-la à solidariedade e à partilha com quem está em
necessidade, com os pobres, isto é, a entrar na lógica da doação. Deste modo ela
põe-se no caminho de Jesus Cristo, o qual — como escreve o apóstolo Paulo —
«sendo rico, fez-se pobre por vós, para que vos tornásseis ricos por meio da sua
pobreza» (2 Cor 8, 9).
Como acontece com frequência nos Evangelhos, tudo se inspira num encontro: o
de Jesus com um tal que «possuía muitos bens» (Mc 10, 22). Ele era uma
pessoa que desde a sua juventude observava fielmente todos os mandamentos da Lei
de Deus, mas ainda não tinha encontrado a verdadeira felicidade; e por isso
pergunta a Jesus como fazer para «ter em herança a vida eterna» (v. 17). Por um
lado ele sente-se atraído, como todos, pela plenitude da vida; por outro,
estando habituado a contar com as suas riquezas, pensa que também a vida eterna
se possa de alguma forma «comprar», talvez cumprindo um mandamento especial.
Jesus capta o desejo profundo que há naquela pessoa, e — escreve o evangelista —
fixa nele um olhar cheio de amor: o olhar de Deus (cf. v. 21). Mas Jesus
compreende também qual é o ponto frágil daquele homem: precisamente o seu apego
aos muitos bens que possui; e por isso propõe-lhe que dê tudo aos pobres, de
modo que o seu tesouro — e por conseguinte o seu coração — já não esteja na
terra, mas no céu, e acrescenta: «Vem e segue-Me!» (v. 22). Mas aquele homem, em
vez de aceitar com alegria o convite de Jesus, vai-se embora entristecido (cf.
v. 23), porque não consegue desapegar-se das suas riquezas, que nunca lhe
poderão dar a felicidade e a vida eterna.
E a este ponto Jesus dá aos discípulos — e também a nós hoje — o seu
ensinamento: «Como é difícil, para aqueles que possuem riquezas, entrar no reino
de Deus!» (v. 23). Ouvindo estas palavras, os discípulos ficaram desapontados; e
ainda mais quando Jesus acrescentou: «É mais fácil passar um camelo pelo fundo
de uma agulha, do que um rico entrar no reino de Deus». Mas, vendo-os admirados,
disse: «Aos homens é impossível, mas a Deus não; pois a Deus tudo é possível»
(cf. vv. 24-27). Assim comenta são Clemente de Alexandria: «A parábola ensina
aos ricos que não devem descuidar a sua salvação como se fossem já condenados,
nem devem abandonar a riqueza nem condená-la como insidiosa e hostil à vida, mas
devem aprender de que modo usar a riqueza e conquistar a vida» (Os ricos
poderão salvar-se?, 27, 1-2). A história da Igreja está cheia de exemplos de
pessoas ricas, que usaram os próprios bens de modo evangélico, alcançando também
a santidade. Pensemos apenas em são Francisco, em santa Isabel da Hungria ou em
são Carlos Borromeu. A Virgem Maria, Sede da Sabedoria, nos ajude a acolher com
alegria o convite de Jesus, para entrar na plenitude da vida. in Angelus 14/X/2012
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