sábado, 13 de janeiro de 2024

O diabo não é um deus do mal mas uma criatura limitada

Entrevista ao Padre Pedro Barrajon, exorcista

As possessões demoníacas são comuns?

A acção comum é a tentação, a possessão não é comum. A tentação induz-nos ao mal, todos as sofremos e no Pai Nosso dizemos todos os dias “livrai-nos do Mal”, ou seja, do Maligno. A acção normal do demónio é a tentação. Uma acção extraordinária, mas possível, é a possessão.

Esses fenómenos têm aumentado nos últimos anos?

É difícil dizer se os casos têm aumentado nos últimos anos, porque, infelizmente, destes problemas não se fala muito. Poderíamos dizer que o fenómeno é hoje mais reconhecido, enquanto que houve um tempo em que tudo se explicava com causas psicológicas. É necessário distinguir. É verdade que vivemos em uma sociedade muito secularizada, na qual, mais do que antes, se abre a porta ao ocultismo, ao esoterismo, às práticas mágicas: isso pode ter uma influência real com posteriores casos de possessão. Os casos de possessão não aumentaram de modo exagerado, mas, certamente, há uma tendência a aumentar, por causa da distância de Deus e, especialmente, por causa de práticas mágicas e de superstições neo-pagãs, que são uma porta para a acção diabólica.

Quais podem ser as causas de possessão demoníaca?

Às vezes, as causas não são compreensíveis. O diabo também agiu sobre grandes santos, como no caso do Pe. Pio ou do Cura d'Ars, que tiveram fortes lutas físicas com o diabo, mas a causa mais comum é culturar quem não é Deus: os ídolos, os poderes mágicos, Satanás nas seitas satânicas... Ocultismo e magia são as primeiras causas.

A palavra-chave, no entanto, é sempre 'discernimento', saber discernir, como diz o Papa, tentando falar com a pessoa, tentando avaliar a sua história, as possíveis causas de tipo psiquiátrico e psicológico: se estas forem excluídas e a pessoa se sente assediada pelo demónio, então, é bom que faça uma oração de libertação (que não é um exorcismo), ou um exorcismo mesmo, se se vê uma certa violência no ataque maléfico.

Antes de entrar em contacto com os médicos ou os sacerdotes, como é que uma pessoa nota uma influência maligna? Quais são as manifestações e sintomas?

A pessoa às vezes não percebe de imediato a causa porque experimenta um desconforto forte. Diz que se sente habitada por uma pessoa que não é ela própria. No início não é fácil dar-se conta, nem sequer para aqueles que a rodeiam: comportamentos que não são normais, nem sempre se reduzem à acção maléfica, mas, vendo que o problema persiste e não encontra uma solução nos meios normais a disposição, às vezes a pessoa dirige-se a um sacerdote. 

O sacerdote, muitas vezes, não sabe o que fazer, mas um sacerdote com uma certa formação neste campo pode intuir que possa tratar-se de uma influência maléfica e, neste caso, aconselhar um exorcista. Pela prática de exorcismo, o exorcista percebe rapidamente se a pessoa está à mercê do poder do diabo, por exemplo, se diante de símbolos sagrados existem reacções violentas, compulsivas, não normais: a angústia diante do sagrado não é normal. A Igreja acrescenta depois outros sinais: a pessoa pode falar línguas que não conhece, ou até sentir-se habitada por uma outra realidade pessoal, apesar de não ter problemas de múltipla personalidade.

Qual é a diferença entre o exorcismo e oração de libertação?

Às vezes, é bom que, antes do exorcismo, se façam orações de libertação: são orações não "exorcísticas" na qual se reza para que a pessoa seja libertada do mal e da possível influência do mal. Se isso funciona, o exorcismo é muito mais forte, porque no sacramental se pede pelo poder de Cristo e no nome de Cristo, enviado pelo Pai para derrotar o Maligno, para que a pessoa seja libertada. Alguns exorcistas aplicam directamente o exorcismo, outros preferem fazer antes as orações de libertação. A Igreja pede cautela ao exorcista. Há sempre uma espécie de "intuito espiritual", a graça de estado que o exorcista tem para perceber se a pessoa tem ou não necessidade de um exorcismo.

Por que é que durante muitos anos, até mesmo dentro da própria Igreja, o diabo foi quase esquecido?

Criou-se, talvez, uma espécie de racionalização da teologia: o que não se entendia e o que parecia que não fosse científico, foi deixado de fora: os casos em que se falava no Evangelho de exorcismos de Jesus foram transformados em doenças psicológicas. Tentou-se reduzir os mesmos milagres a causas científicas, a tal ponto que, quando Paulo VI, num famoso discurso em 1972, disse: "Parece que por alguma abertura o demónio entrou no templo de Deus”, foi uma notícia que girou o mundo porque falava do diabo. 

Hoje o Papa Francisco fala muitas vezes e ninguém se assusta, mas em 1972 era diferente, porque tinha-se criado uma espécie de “falta de fé” nesse aspecto, o que correspondeu a uma pastoral que não nomeou exorcistas. Os casos de possessão, no entanto, continuavam e as pessoas não sabiam a quem dirigir-se. Agora voltou-se a fazer exorcismos de uma forma mais natural, a Igreja sempre os fez.

Como é necessário apresentar a acção do demónio para um crente?

Do ponto de vista de um crente, não precisa ter medo do demónio, porque Deus é mais forte. Deus permite que o demónio possa agir também de forma extraordinária, tanto é que todos os dias no Pai Nosso rezamos “livrai-nos do Mal”, ou seja, do Maligno. A Igreja sempre acreditou na acção do demónio, que, porém, sempre foi limitada pela acção de Deus: o demónio não é um Deus do mal, é uma criatura limitada: tem um certo poder, mas não tem significado com relação a Deus.

in Zenit


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3 comentários:

Anónimo disse...

Os casos de possessão estão aumentando, sim. O problema é que o clero ainda tem uma mentalidade racionalista, que tenta explicar as coisas com a psicologia. E há também aqueles que ocultam essa realidade, porque não têm a caridade para com os sofredores.

Maria José Martins disse...

Acho que o comentário que fez--anónimo--tem toda a razão, porque já vivi, há bem pouco tempo, uma situação de Possessão, numa amiga-- com todos os "sinais" definidos no texto, em cima apresentado-- a quem fiz tudo para ajudar e, apesar da medicina nada conseguir resolver, e o afirmar, tivemos muita RESISTÊNCIA por parte do Bispo, que NUNCA PERMITIU, que ela fosse tratada na nossa cidade; precisou ir a LAMEGO, ao Pe. Sousa Lara--bem longe--que, depois de 2 anos, a libertou. Por acaso, tinha posses monetárias, imaginem se não tivesse! É por isso, que MUITA GENTE VAI À BRUXA, porque a IGREJA está como está!
E mesmo que fosse de ordem Psicológica, JESUS É O MÉDICO DOS MÉDICOS e, para quem não acredite ou DETURPE a SUA PALAVRA--como já ouvi, em homilias--LEIAM MARIA VALTORTA e REVEJAM como JESUS FALA SOBRE O PODER QUE DEIXOU à SUA IGREJA, mais propriamente, NOS SEUS MINISTROS, onde afirma:
"Na Minha Igreja haverá SEMPRE Sacerdotes, Doutores, Profetas, EXORCISTAS, Confessores, OPERADORES DE MILAGRES, INSPIRADOS,TUDO o que for necessário para ELA..."
Agora, esses SACERDOTES têm que estar numa linha de MUITA FIDELIDADE a Deus , assim como, EXIGEM ao possesso, O MESMO, e MUITA MUITA ORAÇÂO e VIVÊNCIA DA EUCARISTIA, CONFISSÂO E TERÇO, até diariamente, se for possível!

Anónimo disse...


E, infelizmente, continuam, cada vez piores!
Soube há poucos dias, que numa diocese portuguesa bem famosa, o Vigário Geral, porta voz do Bispo, rejeitou o pedido de ajuda a um casal, cuja casa está assombrada e, por isso, tudo nela rodopia sem a intervenção de ninguém. Respondeu-lhe que não acreditava em nada e que nada transmitiria ao Bispo; e, se quisessem, que contratassem o que bem entendessem, pois era TUDO bruxedo!
Como? Acredita em bruxedo e não acredita na Palavra de Deus?
E falam estes "senhores" em ACOLHIMNTO e MISERICÓRDIA!
Arrogantes até dizer: BASTA! Realmente, não se enxergam!
Só é pena, que Deus não aja, e os faça passar pelo mesmo.
Estamos mesmo, entregues aos BICHOS!!