A Igreja, para ela, foi uma autêntica mãe, a quem era necessário submeter-se, prestar reverência e assistência. Ela chegou a dizer « que a Igreja é simplesmente o próprio Cristo » (Lettera 171, ed. P. Misciatelli, III, p. 89).
Calcula-se, portanto, o grande amor reverente e apaixonado que ela nutriu pelo Pontífice Romano. Nós, hoje, o menor servo dos servos de Deus, devemos pessoalmente a Santa Catarina um imenso reconhecimento, não pela honra que, por meio dela, possa advir à Nossa humilde pessoa, mas pela apologia mística que ela fez do múnus apostólico do sucessor de Pedro. Nele, como todos recordam, ela contempla «o doce Cristo na terra» (Lettera 196, ed. cit., III, p. 211), a quem são devidos filial afecto e obediência, porque « quem for desobediente a Cristo na terra, que representa o Cristo que está no céu, não participará do fruto do Sangue do Filho de Deus » (Lettera 207, ed. cit., III, p. 270). (...)
Como não havemos de recordar, depois, a intensa obra realizada pela Santa para a reforma da Igreja? Foi principalmente aos Sagrados Pastores que dirigiu as suas exortações, santamente indignada pela inércia de muitos deles e fremente pelo seu silêncio, quando a grei que lhes fora confiada se ia dispersando e desaparecendo. «Oh, não fique emudecido! Grite, com cem mil línguas — escreveu ela a um alto prelado —. Julgo que, por causa do silêncio, o mundo está corrompido, a Esposa de Cristo empalidecida e sem cores, porque lhe sugaram o sangue, isto é, o sangue de Cristo» (Lettera 16 al Cardinale di Ostia, ed. L. Ferretti, 1, p. 85).
E que significava para ela renovação e reforma da Igreja? Certamente não significava subversão das suas estruturas essenciais, a rebelião aos Pastores, o caminho aberto para os carismas pessoais e as arbitrárias inovações no culto e na disciplina, como algumas pessoas desejariam, nos nossos dias. Pelo contrário, ela afirma repetidamente que será restituída a beleza à Esposa de Cristo e se deverá empreender a reforma «não com a guerra, mas com a paz e a tranquilidade, com orações humildes e contínuas, com o suor e as lágrimas dos servos de Deus» (Dialogo, XV e LXXXVI, ed. cit., pp. 44 e 197). Tratava-se, portanto, para a Santa, de uma reforma primeiro que tudo interior e, depois, externa, mas sempre em comunhão com os legítimos representantes de Cristo e obediência filial aos mesmos.
A nossa piedosíssima virgem também foi política? Sim, sem dúvida, e de um modo excepcional, mas no sentido inteiramente espiritual da palavra. De facto, ela reagiu com desdém contra a acusação de politicante, que lhe fizeram alguns dos seus conterrâneos, escrevendo a um deles: «...E os meus concidadãos crêem que os tratados se fazem para mim ou para aqueles que estão na minha companhia. Dizem a verdade, mas não a conhecem, profetizam. Porque, o que eu pretendo fazer e quero que façam os que estão comigo é unicamente tratar de derrotar o demónio, de lhe tirar o poder que ele tem sobre o homem por causa do pecado mortal, de arrancar o ódio do coração humano e de o pacificar com Cristo Crucificado e com o seu próximo » (Lettera CXXII, ed. cit., II, p. 253).
Portanto, a lição desta mulher política sui generis conserva até agora o seu significado e valor, embora hoje seja mais sentida a necessidade de se fazer a devida distinção entre o que é de César e o que é de Deus, entre Igreja e Estado. O magistério político de Santa Catarina encontra a sua expressão mais genuína e perfeita nesta sua sentença lapidar: « Nenhum Governo se pode conservar na lei civil e na lei divina em estado de graça sem a santa justiça » (Dialogo, CXIC, ed. cit., p. 291).
Papa Paulo VI, 4 de Outubro de 1970
1 comentário:
Boa noite, João!
Muito merecida pois ela foi inspirada pelo Espírito a falar em nome da Igreja (em nome de Deus) aos Papas... que coisa mais linda!
Abraço fraternal
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