sábado, 10 de junho de 2023

Mulheres torturadas em casa? - G.K. Chesterton

Em sua casa, uma mulher pode ser decoradora, contadora-de-histórias, desenhadora de moda, expert em cozinha, professora... Mais que uma profissão, o que ela desenvolve são vinte passatempos e todos os seus talentos. Por isso não se faz estagnada e estreita mentalmente, mas sim criativa e livre. 

Esta é a substância do que foi o papel histórico da mulher. Não nego que muitas foram maltratadas e inclusive torturadas, mas duvido que tenham sido torturadas tanto como agora, quando se pretende que levem as rédeas da família e ao mesmo tempo triunfem profissionalmente. Não nego que antes a vida era mais dura para as mulheres que para os homens. Por isso nos vemos ante elas.

É a mesma Natureza que rodeia a mulher de filhos muito pequenos que requerem que se lhes ensine não qualquer coisa, mas sim todas as coisas. Os bebés não necessitam aprender um ofício, mas sim que se lhes introduza a um mundo inteiro. A criança é um ser humano capaz de fazer todas as perguntas possíveis, e muitas das impossíveis. Se alguém diz que responder a essa criança insaciável é uma tarefa exaustiva, tem razão. Se diz que é uma tarefa desagradável, admito que pode ser tão desagradável como a de um cirurgião ou bombeiro. 

Em contrapartida, quando alguém diz que essa tarefa feminina não é apenas cansativa, mas também trivial e odiosa, é-me impossível entender o que querem dizer. Se odioso quer dizer insignificante, descolorido e intranscedente, confesso que não o entendo. Porque decidir e organizar quase tudo; ser ministra da economia que investe e compra roupas, livros, materiais e comidas; ser Aristóteles que ensina lógica, ética, bons costumes e higiene... Tudo isto pode deixar a uma pessoa exausta, mas o que não posso imaginar é como poderia fazê-la estreita e limitada.

A maneira mais breve de resumir a minha postura é afirmar que a mulher representa a ideia de saúde mental, é o lar intelectual à que a mente regressará depois de cada excursão pela extravagância. Corrigir cada aventura e extravagância com o seu antídoto de senso comum não é - como parecem pensar muitos - ter a posição de um escravo. É estar na posição de um Aristóteles ou de um Spencer, isto é, possuir uma moral universal, um sistema completo de pensamento. 

Uma mulher assim tem que saber equilibrar muito para consertar e resolver quase tudo, para adaptar-se ao que faz falta. E equilibrar pode ser próprio de pessoas cobardes, que se aconchegam ao mais forte. Mas também define as pessoas de carácter nobre, que se colocam sempre ao lado do mais fraco, como o marinheiro que equilibra um barco sentando-se onde há necessidade do seu peso. Assim é a mulher, o seu trabalho é generoso, perigoso e romântico. A sua carga é pesada, mas a humanidade pensou que valia a pena colocar esse peso nas mulheres para manter o senso comum no mundo.

in “La mujer y la familia”, Editorial Styria


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7 comentários:

A disse...

Será que o autor se sente/sentiu torturado por lhe ter sido alguma vez exigido que tomasse as rédeas da família ao mesmo tempo que triunfe profissionalmente? Não creio, parece-me que o autor fala do que nem conhece, ou os conservadores sem que tenhamos percebido chegam ao ridículo de ainda defenderem ou acreditarem que as mulheres estariam melhor como nos primórdios em casa a tratar dos filhos? Transparece essa ideia e se assim é, então trata-se de um caso, quase de saúde mental.
Nem todos têm vocação para ser cirurgiões ou bombeiros, e sem vocação tudo pode ser desagradável, por exemplo mudar a fraldinhas, limpar o pó, apagar fogos… é também certo que embora todos tenham vocação sexual, nem todos têm vocação parental.
(…) esta não é, nem nunca devera ser vista como uma “tarefa feminina”. Debatem-se há anos os homens para que os meninos também brinque com bonecas e agora falamos de “tarefas femininas”? Isso está em extinção há seculorum. Só não se extinguirá o que não for possível contornar, o que é pouco (força etc por enquanto…)
Se alguém definiu a tarefa ao autor como “trivial e odiosa”, deveria ter satisfeito todas as dúvidas qto às designações apresentadas, mas não é difícil perceber… Organizar, gerir, comprar, ensinar, tudo isto já quando eu nasci era tarefa de pai e de mãe,(hetero!!) no mundo em que vivo. No do autor não sei, no autor do blog ignoro.…
É natural que se for apenas a mulher a fazer tarefas obrigatórias que, apesar de úteis e relevantes a impeçam de desenvolver outros projetos do seu interesse essenciais para a sua realização como mulher, é claro que qualquer tarefa boa e salutar se torna odiosa, porque somos livres e não escravos!!! Somos livres das nossas vontades e não da dos outros. O reduzido contacto interpessoal de quem se dedica quase a 100% aos filhos ou netos acaba por ser insuportável, roubando o tempo e o espaço que todos temos e precisamos de ter para nós, para “sermos nós mesmos”. Sermos nós não é nem sermos escravos nem senhores, nem Aristóteles nem Spencer, é ser Maria, é ser Ana é ser Marta, Josefina e Miquelina…. Não é representar ideias (de quem? E para quem? Muito menos ser antídoto de correção de extravagâncias! Não é assumir papeis em que se não enquadra, nem equilibrar barcos furados!!! Não há mulheres assim! Há circunstâncias e necessidades assim… e dela, sempre gritou e gritará o desejo de ser Pessoa coerente, com os seus desejos, vontades, aspirações, ambições. Equilibrando ou desequilibrando suportando ou não suportando o barco, ficar ou abandonar…
Dizer que o trabalho da mulher é generoso, perigoso e romântico, é tão naïf quanto chocante e de outro século. Parece-me na linha da Ophelia de John Everett Millais… Não sei onde vão buscar estes textos escolhidos a dedo realmente, dentro da mesma mentalidade híper conservadora quase a roçar, sem ofensa, o “insuportável”.

Antônimo disse...

Miiquelina? Isso nem no século vinte.
Organizar, gerir, comprar e ensinar: eis a extrema esquerda no poder.

Anónimo disse...

Sim,claro, que tinha de usar os nomes correspondentes ao estilo... mas está enganado antónimo... quer dizer antônimo, é que em Portugal ainda existem Miquelinas, raras é verdade, eu só conheci uma, a costureira que vivia na praceta ao pé da casa, que fazia umas bainhas para ganhar uns trocos... Sou dextra graças a Deus... Olhe passemos a assuntos mais importantes... como é que vai o Brasil?

Marta Saraiva disse...

É que só podem estar a gozar!E a gozar com muitas mulheres. A começar por todas aquelas que trabalham porque precisam, continuando nas que trabalham porque querem, porque gostam, e que assim são úteis ao mundo. Também estão a gozar com as mulheres que se mataram (literalmente) pela sua independência económica, para não dependerem de maridos tantas vezes abusivos, nem de filhos.

Parece que na vossa cabeça, devíamos continuar no modelo de sociedade da Palestina sec I ou qualquer coisa parecida. Não, obrigada.

Aos homens, percebo que seja complicado adaptarem-se a um mundo em que as mulheres são, pelo menos na teoria - na prática falta tanta, mas tanta coisa-, vossas IGUAIS!Habituem-se, adaptem-se, arranjem um psicólogo, falem com o Padre, vão para o seminário, ganhem mundo, o que melhor vos servir. Às mulheres que acreditam nisto, nem devem perceber o quão humilhante isto é.

São porcariazinhas como este artigo que afastam tanta, mas tanta tanta gente da Igreja. E ainda bem, porque desta igreja só se pode querer é distância, não vá a coisa pegar-se. Mas reconheço a eficácia.

E depois o artigo é uma risada! Se comparam uma dona de casa a uma ministra da economia, então apetece dizer que as mulheres é que deviam ser sempre ministras da economia! Porque investem o que é de todos, o que é comum, administram, tomam decisões para a família... enquanto o marido anda a curti-las na empresa (onde há sempre a boazona da contabilidade para se distrair) e a ganhar porreiramente. Um modelo possível de sociedade seria... 5 anos desta vida de protótipo de Ministra para ganhar rodagem e depois ter um Governo só de mães de família. Aos homens fica reservada a tarefa de fazer o que as mulheres decidam que eles façam. Eu compro o modelo.

"Tudo isto pode deixar a uma pessoa exausta, mas o que não posso imaginar é como poderia fazê-la estreita e limitada." Eu também não (a teoria parece o céu na terra,*) mas já vi tanta jovem mãezinha voluntariamente burra que só tem conversa de leite azedo - para além do cheiro- ou conversa CC (criadas e cozinha) que a minha imaginação capitulou...

OBVIAMENTE que em todas as festas, jantares, cafés etc em que me cruzei com esta espécie, a minha cabeça de "produto acabado dos anos 90 espiritualmente deformado pelo igualitarismo* marxista e os dramas do libertarianismo pós moderno, e (coitadinha) filha de pais separados" não aguentou tanta largura intelectual... lá tive de largar este grupo de deusas Aristotélicas e ir ter a conversa possível com o grupinho dos maridos delas e deleitar-me a ver a supervisão conjugal das senhoras.

Só mais duas coisas... Nunca consegui perceber como é de que um Livro - a Bíblia - cheio de mulheres fortíssimas, inteligentes e audazes, se concluem indigências como a do artigo. Nem quero. A ideia que nos tentam fazer passar de Nossa Senhora como uma doméstica tótó e submissa não tem a mínima correspondência no texto Bíblico. E se há coisa que também não se retira do txt dos Evangelhos é que Jesus fosse de alguma forma machista ou sobranceiro. Então porque é que vocês o são?


* Tal e qual como aquelas coisas que o fofinho do Marx dizia, go figure...
**Igualitarismo e não igualdade



Anónimo disse...

Meu Deus, como o mundo está mesmo na reta final, indo de cabeça para o abismo.
Como a mulher se desvirtuou e continua a levar consigo o homem, tal qual Eva fez ao Adão!
Mesmo tendo Maria, como a Nova Eva, despreza o Seu Exemplo e nem perante as evidências de tanta desgraça e confusão nas famílias, enxerga, onde está o mal.
Se homem e mulher se amassem como Jesus Ama a Igreja, dariam a vida um pelo outro e nas famílias reinaria a concórdia.
Logo, consequentemente, também, na Sociedade.
Assim, que Deus venha depressa e ponha tudo no seu lugar: Maranata!
Já não há pachorra para tanta cegueira.

Maria José Martins disse...


Resumindo e concluindo, pelos comentários expostos, verificamos que, apesar de toda a desgraça, que assola, hoje, a Sociedade em geral, onde, a destruição da família pode ser vista como uma das causas ou, até, a principal, continua a defender-se o "modelo" de família, vigente-
Claro que a mulher em nada é inferior ao homem! E, por isso, DEVE SER RESPEITADA EM TUDO, mas como um SER "complementar" e vice versa!
E se foi criada por Deus--e aqui falo para CRENTES-- diferente, tanto anatomicamente como psicologicamente, por algum motivo foi.
Assim, ao querer sobrepor-se à Sua Vontade, como em quase todas as áreas, o Ser Humano, desequilibrou TUDO, ao ponto de os VALORES estarem como estão e, consequentemente, a grande CONFUSÃO INSTALADA: violência gratuita, corrupção ao mais alto nível, egoísmo
institucionalizado--apesar de nunca se falar tanto em solidariedade-- traição, desrespeito pelas opiniões alheias, se não estiverem de acordo com as da CARNEIRADA, ganância de uns, para a miséria de outros...enfim, e o que AINDA MAIS está para vir!
E tudo isto porquê?
Acredito, que muitos acharão que a minha resposta é demasiado redutora; talvez! Mas, de onde nos vem TUDO? Até geneticamente?
--DA FAMÍLIA!
Assim, não foi por acaso que DEUS tanto A abençoou e CRIOU como criou, onde, A mãe--MULHER--seria, desde sempre, o Polo da SENSIBILIDAE, do AMOR, da CONCÓRDIA, da UNIÃO...e, como tal, a sua ÂNCORA, permitindo ao homem, pai--cabeça de casal-- a paz , a estabilidade emocional e o equilíbrio...necessários, para poder sustentá-la, e AJUDAR a que seja gerida com RESPEITO e com o tão necessário AMOR, fonte de toda a estabilidade!
Agora, se, com o seu FEMINISMO EXACERBADO, a mulher se impôs e se emancipou, ao ponto de TUDO desvirtuar, o que resta, hoje, da família, VERDADEIRA, até já denominada como TRADICIONAL?!-- e acredito com um certo sentido depreciativo.
Será que estamos melhor?
Crianças educadas por estranhos, que por muito COLINHO que lhes deem, NUNCA, substitui o da mãe...Jovens, que apesar de terem tudo materialmente, se tornam violentos, instáveis, agressivos e cada vez mais perdidos, depressivos ou viciados seja lá no que for!
Jovens que se revoltam e agridem os pais, os professores, os mais VELHOS, sem qualquer empatia pelo sofrimento--bulling-- até, dos colegas e amigos!
Para mim, são seres em sofrimento, que tentam ESCONDER toda a sua fragilidade, motivada pela falta de apoio e afeto, NA FAMÍLIA, com atitudes estúpidas, disfarçadas em superioridade.
Mas, apesar dos estudos Científicos, responsabilizarem toda esta "BAGUNÇA"-- como falam os nossos irmãos brasileiros--toda esta TRAGÉDIA, A FALTA DE TEMPO, de AFETO E de DEDICAÇÃO, que provém das FAMÍLIAS, cada vez mais desestruturadas, continuamos a ACHAR, que os MODERNISTAS e as FEMINISTAS é que têm razão.

Que Deus tenha Misericórdia e ABRA os olhos, até mesmo, na ATUAL IGREJA, tão assediada, também, pelo mesmo tipo de feminismo!
Que ILUMINE os nossos Superiores e os faça reconhecer que somente da TOTAL DISPONIBILIDADE INTERIOR e do TOTAL ESVAZIAMENTO de tudo o que é efémero e egoísta-- porque não se alicerça em Deus--podem resultar SOLUÇÕES que AINDA nos consigam SALVAR de todo o sofrimento em curso.

Anónimo disse...

A educação da virgem Maria foi santa como o seu nascimento. Filha bem querida, ela não foi adulada por sua mãe, encomiada nas sociedades, e iniciada em seus vãos prazeres. No retiro da vida doméstica nunca ouviu falar de outra senão de Deus, e de seus próprios deveres, e infante miraculosa, para ela não houve infância, assim que se por vezes abria um sorriso, era no momento em que pensava nas celestes moradas, ou nas ocasiões em que deitava no regaço da indigência o óbolo do pobre; Maria começou a encher a missão que lhe fora destinada de consoladora dos aflitos, suavizando as humanas misérias...o motivo por que elas cedem com tanta facilidade aos prestígios enganadores do mundo, é o não lhes haverem embebido nos corações a religião; encheram-lhes somente a cabeça de palavras. Tem grande poder sobre nossa alma o exemplo; se a mãe é muito metida nas coisas do mundo, como é que há de dar as suas filhas princípios sólidos? (in "Mês de Maria ou nova imitação da Santíssima" de Mme des Sablons- Meditação do primeiro dia)