segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Cardeal Sarah: Fátima, um Evangelho sem compromissos com o espírito mundano

A editora francesa 'Traditions Monastiques' publicou um belo livro ilustrado para crianças, chamado “Fátima, Maria confia-te o segredo do seu Coração”. Por autorização especial da editora, aqui fica o prefácio escrito pelo Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino:

 “Se ao menos pudesse por no coração de alguém o fogo que tenho no meu coração e que me faz amar tanto o Coração de Maria!”. Assim exclamava a beata Jacinta.

2017 é o ano do centenário das aparições da Virgem Maria em Fátima. Por esta ocasião fazemos o ponto de situação sobre como acolhemos a mensagem que Deus nos entregou, no meio da tempestade que abalava a Europa no início do século XX: uma guerra mundial cujas atrocidades superam a nossa capacidade de compreensão (de tal modo que, apenas no dia 22 de Agosto de 1914, contaram-se 27 mil mortos entre os soldados franceses, tornando-se o dia mais sangrento na história de França!), a revolução comunista na Rússia com o seu ornamento de massacres… de 1914 a 1918 a Europa estava coberta de cadáveres de milhões de soldados e de civis inocentes: homens, mulheres e crianças…

Falemos precisamente de crianças: é a três pequenos que Nossa Senhora decidiu falar, entre Maio e Outubro de 1917. Três crianças pobres de uma zona perdida num país num extremo do continente europeu, à margem dos eventos sanguinários que ocorriam: Fátima, em Portugal.

O que disse Nossa Senhora aos Beatos Francisco e Jacinta Marto e à sua prima Lúcia dos Santos, futura irmã carmelita em Coimbra? O livro que tenho a alegria de apresentar explica-o às crianças deste novo milénio, mostrando uma notável capacidade pedagógica: cada capítolo apresenta um aspeto da mensagem de Fátima (“o ouvir”) seguido da sua atualização para as crianças (“o perceber”) e de resoluções pessoais daí derivadas (“também eu…”).

A leitura deste magnífico e bem ilustrado livro faz-nos perceber que os nossos contemporâneos, cuja mentalidade está imbuída de relativismo e hedonismo, têm necessidade de converter o seu coração se quiserem perceber o significado mais profundo da mensagem de Fátima. Os autores apostam que as crianças são capazes de aderir espontaneamente aos aspectos que nos podem parecer mais duros ou austeros na mensagem de Fátima – sem dúvida mais que os adultos – e têm razão em assim crer. A nossa Mãe do Céu, tanto em Fátima como em Lourdes, Pontmain ou em La Salette – isto para citar apenas as aparições mais conhecidas –não terá escolhido crianças, e crianças pobres, para nos revelar o segredo do seu Coração Imaculado? E qual é este segredo? 

Nada mais que o Evangelho, mas o Evangelho sem adornos, sem acomodamentos ou compromissos com o espírito de um mundo que quer abrir-se para todos os lados, tolerante, a-religioso e amoral, pois esta Boa Nova do Evangelho é o anúncio da salvação! Nós sabemos que os beatos Francisco e Jacinta levaram com tal seriedade a salvação das almas que todos os dias ofereciam sacrifícios que muitas vezes eram difíceis para pequenas crianças “pela conversão dos pecadores”, até ao oferecimento total da sua vida jovem, que a doença levou quando tinham dez anos de idade.

Não é verdade que o beato Francisco, que percebia o sentido das palavras “sacrifício” e “oferecimento”, dizia: “A Virgem Maria e o próprio Deus estão infinitamente tristes. Temos de os consolar”? Também este mundo, aparentemente invejoso, inundado por luzes de todas as cores e bêbado de felicidade é um mundo infinitamente triste, porque está contaminado pelo pecado e da violência cega. Só resta a pureza e os sacrifícios das crianças que podem voltar a dar ao mundo a verdadeira alegria, aquela que vem do Céu. Quanto a Lúcia, assim como Bernadette de Soubirous retira-se em silêncio e em oração na sombra de um claustro até à sua morte, que acontece em 2005. Efectivamente, a Virgem Maria tinha-lhe dito que viveria muitos anos para difundir a devoção ao seu Imaculado Coração, através de uma vida oferecida em holocausto de amor.

Sacrifício, penitência, reparação pelas ofensas, consagração de si mesmo: estaremos portanto prontos a acolher estas palavras, que quase proibimos ou rejeitámos do nosso vocabulário? Na verdade estas palavras correspondem a realidades espirituais que são essenciais, porque estão presentes e assumidas na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sou muito sensível à preocupação de todos os pais que desejam que a educação cristã dos seus filhos seja embebida destas realidades inalienáveis, favorecedoras de alegria nesta terra e de felicidade eterna na pátria definitiva, para a qual todos estamos a caminho.

Estas são as vias de santificação que as autoras Tollet e Storez nos oferecem com este livro, são os meios do cristão que é consciente do facto de que, como disse o Senhor à beata Ângela de Foligno (uma grande mística italiana do século XIII): “Não é para te fazer rir que te amei”. Sim, aquilo que pode salvar os pecadores do desespero e logo do inferno – que os três pastorinhos de Fátima puderam ver – é unicamente Jesus, e Jesus crucificado.  

Assim como os pastorinhos de Fátima nos mostraram com a sua vida, trata-se de deixarmo-nos transformar pelo Amor de Deus, pela sua Misericórdia que nos é totalmente revelada na Cruz de Cristo. Contemplando as chagas do Senhor Jesus, em particular o seu coração trespassado, que está intimamente unido ao Coração Imaculado e doloroso de Maria, também nós somos chamados a deixar-nos formar por Aquele que é o Cordeiro sem mancha, para que nos tornemos uma só coisa com Ele.

in lanuovabq.it


blogger

Sem comentários: