quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Da escravidão à conversão, a fabulosa história de Santa Bakhita

Nascida em 1869 numa pequena aldeia do Sudão, Bakhita foi sequestrada aos 7 anos de idade por mercadores de escravos árabes. O nome "Bakhita", aliás, que em árabe significa "Afortunada", foi-lhe dado pelos captores, porque a futura santa, devido ao trauma sofrido com o rapto, esqueceu o próprio nome e o dos pais.

A pequena Bakhita passou anos de inferno, vendida várias vezes, maltratada, agredida e humilhada por seus "patrões". No manuscrito que contém a autobiografia da santa, guardado pelas Irmãs Canossianas de Roma, são narrados todos os sofrimentos físicos e morais que ela enfrentou durante o longo período de cativeiro, tais como as cruentas tatuagens infligidas por um general turco, que gravou mais de uma centena de símbolos no seu peito, abdómen e braço direito com uma navalha e depois os cobriu com sal, de modo que ficasse marcada para o resto da vida.

Depois de muitas vicissitudes e muitas torturas, ela acabou comprada, no mercado de Cartum, pelo cônsul italiano Calisto Legnani, que a levou consigo para a Itália em 1885 e a entregou à família Michieli, no Veneto, em cujo lar Bakhita se tornou a ama-seca da filha do casal.

Como precisava viajar para a África a família hospedou Bakhita e a filha no convento das Irmãs Canossianas de Veneza, até ao seu retorno. Bakhita teve assim a oportunidade de conhecer a doutrina católica. Nove meses depois, a família Michieli retornou para buscar a filha, mas Bakhita recusou-se a ir embora com eles e decidiu ficar no convento. D. Domenico Agostini, Patriarca de Veneza, interveio na questão, ressaltando que em Itália "não se comercializam escravos". 

Em 1890, Bakhita recebeu o baptismo, a confirmação e a comunhão, bem como o nome de Giuseppina Margherita Fortunata. Em 1893, depois de conhecer e experimentar o amor de Deus, ela entrou para o noviciado das Irmãs Canossianas e, três anos mais tarde, fez os votos perpétuos na presença do Patriarca Giuseppe Sarto, futuro Papa Pio X. No mesmo ano, foi declarada legalmente livre.

É oportuno reconhecer a importância que a Igreja Católica teve na história para a abolição da escravatura no mundo, desde os tempos antigos, quando já combatia os abusos e corajosamente lutava pela liberdade dos homens, e até hoje continua a fazê-lo.

A figura da Irmã Bakhita, recordada pelo Papa Bento XVI na sua segunda encíclica, Spe Salvi, é essencial para a vida de todos os cristãos. Cozinheira, auxiliar de enfermagem durante a Primeira Guerra Mundial, sacristã e porteira do convento, ela desempenhou essas tarefas com amor, zelo e humildade, vendo sempre no próximo a figura de Cristo.

A Irmã Bakhita encarnou ao longo de toda a sua vida o lema de não ceder ao mal, e a quem quer que lhe perguntasse o que ela diria aos seus captores respondia: "Se eu encontrasse aqueles traficantes de escravos que me sequestraram e aqueles que me torturaram, ajoelhar-me-ia para beijar as suas mãos, porque se aquilo não tivesse me acontecido, eu não seria agora uma cristã e uma religiosa".

Palavras eloquentes sobre a espessura moral desta santa, um exemplo que deve permanecer constante na vida de todos nós, especialmente nos tempos mais difíceis da vida, diante do sofrimento, dos abusos e das injustiças.

in Zenit


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