segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Porque é que as pessoas dão beijos? Teologia ou evolução?

Eu dou beijos a muitas pessoas. Tenho uma mulher. Tenho sete filhos. Todos recebem beijos meus. Dou beijos aos membros da minha família. Beijo as mãos dos padres. Beijo a Bíblia. Beijo a cruz e as imagens de Cristo, de Maria e dos santos. Beijar é bíblico. Em tempos, os Cristãos falavam-se sempre com um beijo. De facto, a Bíblia ordena-o: "Saudai-vos uns aos outros com um beijo santo." (Rm 16, 16).

Mas o vosso amigo ateu provavelmente tem dificuldades em perceber o sentido de um beijo. De acordo com os evolucionistas [materialistas], o beijo evoluiu desta maneira como o conhecemos... Os antropologistas seculares concluíram que o beijo apareceu quando as mães proto-humanas mastigavam a comida e cuspiam-na para a boca dos seus filhos - boca a boca. Não havia processadores de comida, apenas dentes.

De acordo com os evolucionistas, a ligação boca a boca começou como uma forma de sobrevivência. A criança associava a experiência de boca a boca com o prazer de comer. Durante milhares de anos, o "beijo" tornou-se parte de uma sobrevivência biológica. Tornou-se, dizem eles, uma característica do prazer, alegria e ligação da cultura humana.

Hmmm. A mamã a cuspir comida para a boca do filho de dois anos. Isto é muito feio. Será realmente essa a razão pela qual eu beijo a minha mulher quando regresso a casa do trabalho? Será que vomitar comida é verdadeiramente a origem do beijo? Penso que não.

O primeiro beijo registado na Bíblia é, na verdade, entre pai e filho. Entre Isaac e Jacob.

Isaac disse-lhe: Chega-te para mim, e dá-me um ósculo, filho meu. Chegou-se, e deu-lhe um ósculo. E logo que sentiu a fragrância dos seus vestidos, abençoando-o, disse: eis o cheiro do meu filho bem como o cheiro do campo que o Senhor abençoou.” (Gn 27, 26-27)

O beijo, pelos vistos, não surge de largar comida para a boca dos filhos. O beijo pode ser um sinal romântico entre apaixonados. Pode ser para os filhos ou netos. Pode ser religioso. Os monges beijam-se uns aos outros. Os padres beijam o altar. Nós beijamos o anel de um bispo ou a mão de um padre. Beijamos ícones. Beijamos a avó. Felizmente, nenhuma comida é trocada em nenhum destes encontros!

Então o que é que está num beijo? Porque é que pomos a nossa boca em pessoas e coisas? Como é que isso mostra amor e/ou reverência?

Para descobrir a teologia do beijo, temos que descobrir a teologia da cara e da boca, em particular. Isto daria um livro inteiro, mas vou resumir. Na Sagrada Escritura, a boca é a porta da alma. A boca, mais do que os olhos, revela a natureza da alma. Por exemplo:

Aquele que guarda a sua boca, guarda a sua alma; mas o que é inconsiderado no falar sofrerá males.” (Pv 13, 3)
O coração do sábio instruirá a sua boca, e acrescentará graça aos seus lábios.” (Pv 16, 23)
Ela abriu a sua boca à sabedoria, e a Lei da clemência está na sua língua.” (Pv 31, 26)
Mas as coisas que saem da boca vêm do coração, e estas são as que fazem o homem imundo.” (Mt 15, 18)
"do que está cheio o coração, disso é que fala a boca." (Lc 6, 45)

Os homens são criaturas racionais e intelectuais e a nossa racionalidade expressa-se principalmente através da boca. Deus-Pai revela-se a Si mesmo através da Sua Palavra, a Segunda Pessoa da Trindade. Também nós nos revelamos através das nossas palavras, pela boca. É por isso que São Bernardo disse que a Encarnação de Cristo foi o "beijo" entre Deus e o mundo.

Eu diria que colocar a boca em alguma coisa (um beijo!) é um acto humano que comunica esta realidade: "Eu submeto a minha natureza intelectual a ti e em serviço a ti." Ao beijar damos a nossa boca à outra pessoa. Damos-lhe a nossa alma, o nosso coração e os nossos pensamentos.

Não podemos remover a nossa alma intelectual e dá-la a alguém. Em vez disso damos-lhe a nossa boca. É como Cristo diz, "do que está cheio o coração, disso é que fala a boca." Como todos sabemos, um beijo diz mais do que palavras. É por isto que os seres humanos se beijam e é por isso que beijar tem sido romântico, filial e especialmente religioso ao longo da história humana. 

Taylor Marshall

PS: É interessante notar que os hereges no passado criticaram o beijar estátuas, Bíblias e ícones pela razão de que isso significa uma alma racional a colocar-se a si mesma sob um objecto inanimado, não-racional. Os teólogos Católicos têm respondido sempre que o beijo passa para uma realidade mais elevada. Assim como quando beijamos a foto de uma pessoa amada que está ausente, esse afecto deve-se à pessoa e não ao papel. Da mesma forma, um beijo à Bíblia passa para o Espírito Santo e um beijo a uma estátua de Jesus passa para Jesus.

Pps: também é por isso que as pessoas gostam imenso de ter os seus bébés beijados por Papas e pessoas famosas. É a maior honra. Muito melhor do que um aperto de mão!


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