Eu
dou beijos a muitas pessoas. Tenho uma mulher. Tenho sete filhos. Todos
recebem beijos meus. Dou beijos aos membros da minha família. Beijo as
mãos dos padres. Beijo a Bíblia. Beijo a cruz e as imagens de Cristo, de
Maria e dos santos. Beijar é bíblico. Em
tempos, os Cristãos falavam-se sempre com um beijo. De facto, a Bíblia
ordena-o: "Saudai-vos uns aos outros com um beijo santo." (Rm 16, 16).
Mas o vosso amigo ateu provavelmente tem dificuldades em perceber o sentido
de um beijo. De acordo com os evolucionistas [materialistas], o beijo
evoluiu desta maneira como o conhecemos... Os
antropologistas seculares concluíram que o beijo apareceu quando as
mães proto-humanas mastigavam a comida e cuspiam-na para a boca dos seus
filhos - boca a boca. Não havia processadores de comida, apenas dentes.
De acordo com os evolucionistas, a ligação boca a boca começou como uma forma de sobrevivência. A
criança associava a experiência de boca a boca com o prazer de comer.
Durante milhares de anos, o "beijo" tornou-se parte de uma sobrevivência
biológica. Tornou-se, dizem eles, uma característica do prazer, alegria
e ligação da cultura humana.
Hmmm. A mamã a cuspir comida para a boca do filho de dois anos. Isto é muito feio. Será realmente essa a razão pela qual eu beijo a minha mulher quando regresso a casa do trabalho? Será que vomitar comida é verdadeiramente a origem do beijo? Penso que não.
O primeiro beijo registado na Bíblia é, na verdade, entre pai e filho. Entre Isaac e Jacob.
“Isaac disse-lhe: Chega-te para mim, e dá-me um ósculo, filho meu. Chegou-se, e
deu-lhe um ósculo. E logo que sentiu a fragrância dos seus vestidos,
abençoando-o, disse: eis o cheiro do meu filho bem como o cheiro do
campo que o Senhor abençoou.” (Gn 27, 26-27)
O beijo, pelos vistos, não surge de largar comida para a boca dos filhos. O
beijo pode ser um sinal romântico entre apaixonados. Pode ser para os
filhos ou netos. Pode ser religioso. Os monges beijam-se uns aos outros.
Os padres beijam o altar. Nós beijamos o anel de um bispo ou a mão de
um padre. Beijamos ícones. Beijamos a avó. Felizmente, nenhuma comida é
trocada em nenhum destes encontros!
Então
o que é que está num beijo? Porque é que pomos a nossa boca em pessoas e
coisas? Como é que isso mostra amor e/ou reverência?
Para descobrir a teologia do beijo, temos que descobrir a teologia da cara e da boca, em particular. Isto daria um livro inteiro, mas vou resumir. Na Sagrada Escritura, a boca é a porta da alma. A boca, mais do que os olhos, revela a natureza da alma. Por exemplo:
“Aquele que guarda a sua boca, guarda a sua alma; mas o que é inconsiderado no falar sofrerá males.” (Pv 13, 3)
“O coração do sábio instruirá a sua boca, e acrescentará graça aos seus lábios.” (Pv 16, 23)
“Ela abriu a sua boca à sabedoria, e a Lei da clemência está na sua língua.” (Pv 31, 26)
“Mas as coisas que saem da boca vêm do coração, e estas são as que fazem o homem imundo.” (Mt 15, 18)
"do que está cheio o coração, disso é que fala a boca." (Lc 6, 45)
Os
homens são criaturas racionais e intelectuais e a nossa racionalidade
expressa-se principalmente através da boca. Deus-Pai revela-se a Si
mesmo através da Sua Palavra, a Segunda Pessoa da Trindade. Também
nós nos revelamos através das nossas palavras, pela boca. É por isso que
São Bernardo disse que a Encarnação de Cristo foi o "beijo" entre Deus e
o mundo.
Eu
diria que colocar a boca em alguma coisa (um beijo!) é um acto humano
que comunica esta realidade: "Eu submeto a minha natureza intelectual a
ti e em serviço a ti." Ao beijar damos a nossa boca à outra pessoa. Damos-lhe a nossa alma, o nosso coração e os nossos pensamentos.
Não podemos remover a nossa alma intelectual e dá-la a alguém. Em vez disso damos-lhe a nossa boca. É como Cristo diz, "do que está cheio o coração, disso é que fala a boca." Como todos sabemos, um beijo diz mais do que palavras. É
por isto que os seres humanos se beijam e é por isso que beijar tem
sido romântico, filial e especialmente religioso ao longo da história
humana.
Taylor Marshall
PS:
É interessante notar que os hereges no passado criticaram o beijar
estátuas, Bíblias e ícones pela razão de que isso significa uma alma
racional a colocar-se a si mesma sob um objecto inanimado, não-racional. Os
teólogos Católicos têm respondido sempre que o beijo passa para uma
realidade mais elevada. Assim como quando beijamos a foto de uma pessoa
amada que está ausente, esse afecto deve-se à pessoa e não ao papel. Da
mesma forma, um beijo à Bíblia passa para o Espírito Santo e um beijo a
uma estátua de Jesus passa para Jesus.
Pps: também é por isso que as pessoas gostam imenso de ter os seus bébés beijados por Papas e pessoas famosas. É a maior honra. Muito melhor do que um aperto de mão!
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