quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Padre Pio: dizia Missa humildemente, confessava de manhã à noite

Hoje a Igreja celebra a memória do Santo Capuchinho que marcou o século passado e continua do Céu, mais do que nunca, a sua obra de evangelização: Padre Pio de Pietrelcina.

Onze dias antes da sua morte, o Padre Pio de Pietrelcina escreveu uma carta ao Papa Paulo VI. Nessa missiva dizia o santo: “Sei bem das profundas aflições que angustiam o vosso coração nestes dias relativamente aos novos rumos da Igreja, à paz do mundo e as múltiplas necessidades dos povos. Mas sobretudo pela falta de obediência de alguns católicos a respeito dos esclarecedores ensinamentos que Sua Santidade, com o auxílio do Espírito Santo, nos tem dado em nome de Deus”, e agradece ao Pontífice, “em nome de meus filhos espirituais e dos grupos de oração” pela “posição clara e decisiva que nos transmitistes, especialmente na última encíclica Humanae Vitae, e reafirmo a minha fé e a minha obediência incondicional às vossas iluminadas diretrizes”.

Hoje a Igreja comemora o 45° aniversário da entrada ao paraíso do Santo Estigmatizado, canonizado por João Paulo II no dia 16 de Junho de 2002.

“Qual é o segredo de tanta admiração e amor a este novo Santo?”- perguntava João Paulo II no discurso da cerimônia de canonização – “Ele é, em primeiro lugar, um ‘frade do povo’, característica tradicional dos Capuchinhos. Além disso, ele é um santo taumaturgo, como testemunham os extraordinários acontecimentos que adornam a sua vida. Mas, sobretudo, Padre Pio é um religioso sinceramente apaixonado de Cristo crucificado. Ele participou no mistério da Cruz também de maneira física ao longo da sua vida”.

Vida e vocação

Nascido no dia 25 de Maio de 1887, às cinco horas duma tarde chuvosa, Francisco Forgione, o futuro capuchinho santo, é da cidade de Pietrelcina (Província de Benevento), na época uma pacata região onde a população era sã e crente. O casamento de Grazio Forgione e Maria Giusappa De Nunzio foi abençoado com o fruto de oito nascimentos, sendo o Padre Pio, o quinto filho.

Já como criança mostrou ter uma grande sensibilidade para o sobrenatural; desde a idade de onze anos, consagrou-se espontaneamente ao Senhor e a S. Francisco.

Depois de terminados os estudos preparatórios como postulante, quando as primeiras dificuldades que ameaçavam o desabrochar da sua vocação foram vencidas, foi permitido a Francisco começar o seu noviciado nos Padre Capuchinhos no convento de Morcone, na província de Benevento, no dia 22 de Janeiro de 1903. A 10 de Agosto de 1910 foi ordenado sacerdote na catedral de Benevento por Monsenhor Shinosi. Entre a numerosa assistência notava-se sua mãe. Chorava comovida: um filho padre!

Sofrimento, oferecimento e estigmas

“Sinto dores violentas. Tenho a impressão que as minhas mãos, os meus pés e o meu lado são trespassados por uma lâmina, enquanto eu medito na Paixão de Cristo”, escrevia o santo ao seu confessor por volta de 1912, quando tinha apenas 23 anos.

“A missa do Padre Pio era um mistério incompreensível”, declara Don Giuseppe Orlando, um santo padre, também ele nascido em Pietrelcina: “A missa por vezes durava mais de quatro horas. Via-se que estava de tal forma abrasado em Deus que ficava mais de uma hora imóvel em êxtase. Por vezes, ficava como que petrificado como o altar. A expressão do seu rosto transfigurava-se; por momentos irradiava felicidade, depois exprimia de novo sofrimento e dores físicas”.

Na Sexta-Feira, 20 de Setembro de 1918 recebeu, tal como o seu bem-aventurado patrono S. Francisco de Assis, a marca sangrenta das chagas de Cristo, nas mãos, nos pés e no lado esquerdo. O Padre Pio estava só no convento. Recebeu os estigmas durante uma visão. Enquanto o jovem capuchinho estava em oração no coro da pequena igreja, meditando na Paixão de Cristo diante do grande crucifixo que aí se encontrava e ainda se encontra, Cristo apareceu-lhe com as chagas sangrentas. Ele mesmo narra em uma das suas cartas:

“Encontrava-me no coro – conta ele – depois da celebração da missa, quando fui surpreendido por uma calma que se assemelhava a um doce sono. Todos os meus sentidos, internos e externos e a faculdade do meu espírito, também se encontravam numa tranquilidade indescritível...” E continua “E todo o resto se passou num relâmpago, e enquanto isto se passava, eu vi diante de mim um personagem misterioso, o mesmo que tinha aparecido a cinco de Agosto, com a única diferença que desta vez as suas mãos e os seus pés e o seu peito escorriam sangue. Esta visão apavorou-me; o que senti nesse instante, nunca lho saberei contar. Sentia-me morre e decerto teria morrido se o Senhor não interviesse, para suster o meu coração que me parecia querer saltar do meu peito. Essa personagem desapareceu e então reparei que as minhas mãos, os meus pés e o meu peito, estavam trespassados e escorriam sangue! Imagine a tortura que senti então e que sinto continuamente cada dia...”

Zelo apostólico

Entre as pessoas ilustres que o procuraram encontra-se o então bispo de Cracóvia, Karol Wojtyla, futuro Papa João Paulo II. Testemunham isso também duas cartas enviadas ao santo no ano de 1962, quando Karol se encontrava em Roma durante o Concílio Vaticano II. Nessa carta agradece a oração do Padre Pio pela cura de uma médica com cancro e pelo filho de um advogado de Cracóvia que trazia uma doença de nascença. Na carta pedia também a intercessão por mais duas intenções: uma senhora paralisada e as enormes necessidades pastorais da sua diocese.

O Padre Pio não pensava senão nas almas. Numa carta dirigia ao seu confessor, escrevia: “Nada mais vos quero dizer senão isto: Jesus concede-me uma íntima alegria quando posso sofrer e trabalhar pelos meus irmãos. Trabalhei e continuarei a trabalhar. Rezei e quero continuar a rezar pelos meus irmãos. Velei e quero continuar a velar ainda mais. Chorei e quero chorar sempre pelos meus irmãos no exílio”.

“Segui o exemplo do vosso santo confrade falecido há pouco – dizia Paulo VI em um discurso aos membros do Capítulo Geral da Ordem dos Capuchinhos – “Vede a fama que ele teve! Que clientela mundial ele não conseguiu à sua volta! Mas, porquê? – Seria ele um filósofo, um sábio, dispondo de meios? – Apenas porque dizia missa humildemente, confessava de manhã à noite, e era, é difícil de o dizer, o representante de Nosso Senhor, marcado com as chagas da nossa Redenção”. Peçamos hoje a intercessão de tão poderoso amigo de Deus. 

in Zenit


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