sábado, 9 de dezembro de 2017

Costumes, liturgia e igreja doméstica

O genuíno movimento litúrgico deve dar-se não só nas discussões teológicas e históricas acerca dos ritos e cerimónias, mas quando a liturgia começa a "falar" connosco e nos ajuda, mesmo nos pequenos actos da igreja doméstica, a caminhar rumo à santidade.

É por isso que muitas famílias como que transportam os tempos litúrgicos, as festas, as vigílias, para o dia-a-dia em casa, criando ou desenvolvendo costumes piedosos relacionados com a liturgia. Não se tratam, é verdade, de liturgias, mas de devoções pessoais ou tradições pessoais (de enfeites da casa, culinária, etc) que derivam daquelas.

Em nossa casa, a Aline e eu gostamos de fazer isso. Ajuda-nos a viver melhor o ritmo cristão da nossa existência, a andar no compasso do calendário da Igreja, a tornar a liturgia mais “nossa”. Desta forma é mais fácil participar da Missa e do Ofício.

Por exemplo, a partir do V Domingo da Quaresma, antigo I Domingo da Paixão, cobrimos as imagens e quadros com santos de nossa casa, como a Igreja recomenda que se faça nos templos e capelas. É um modo de nos associarmos ao que a Igreja Universal faz, e tornar nossa família realmente uma Igreja doméstica.

Outro costume que tenho, e agora já é algo mais meu do que de minha esposa, é recitar algumas ladainhas e orações conforme o dia. Recito, v.g., o Símbolo Atanasiano no Domingo da Santíssima Trindade, a Sequência do Espírito Santo na novena em preparação à Solenidade de Pentecostes, a Ladainha do Espírito Santo na sua oitava, o Stabat Mater na memória de Nossa Senhora das Dores, o Acto de Consagração do Género Humano ao Sagrado Coração de Jesus na Solenidade de Cristo Rei, o Acto de Reparação ao Sagrado Coração de Jesus na festa própria, a Ladainha do Sangue de Cristo no dia 1 de Julho, a Ladainha de São José nas festas josefinas etc.

Procuramos também acender uma vela à imagem de Nossa Senhora que temos na sala de visitas de nossa casa quando das festividades marianas, e duas velas no altar do nosso quarto nas solenidades principais. Quando algum dos santos de que temos quadros ou imagens é comemorado, incensamo-lo nesse dia e colocamos flores por perto. Se a festa, entretanto, é do Sagrado Coração de Jesus ou de Cristo Rei, honramos a imagem do Coração do Senhor num lugar de destaque, e colocamos flores.

Para a festa de Nossa Senhora de Guadalupe, é nosso costume também fazer um “jantar mexicano”, com receitas especiais da terra onde a Mãe de Deus apareceu a São João Diego.

Durante a Quaresma, outro costume é rezar, às sextas-feiras, a Ladainha dos Santos seguida dos Sete Salmos Penitenciais.

Após as I Vésperas do Domingo do Advento é a hora de montar a nossa árvore de Natal, colocar a guirlanda na porta, armar o presépio, e mudar o capacho da frente de casa por um tapete com decoração natalícia. Só removeremos os adereços na Solenidade da Epifania.

Um santo especialmente comemorado por nós é São Patrício. Além de padroeiro da Irlanda – de onde veio parte da família de minha esposa, Aline –, ele é o titular da paróquia itaquiense e patrono da cidade. No seu dia, fazemos um banquete especial, com velas, uma toalha mais solene, e bebemos cerveja irlandesa para acompanhar a comida.

Nas principais festas do calendário litúrgico, costumo assar um churrasco ou uma parrillada especiais também, abrindo um bom vinho ou uma cerveja melhor.

Em 2011, iniciamos uma outra actividade aqui em casa: o jantar especial de "enterro do aleluia", na Terça-Feira de Carnaval. A Aline prepara uma bela receita, tomamos um vinho bem escolhido e harmonizado, colocamos pratos, copos e talheres especiais (não os que usamos no dia-a-dia, mas alguns "de festa"), escolhemos uma toalha mais elegante, e enfeitamos a mesa com flores, velas, uma imagem da Sagrada Família e alguns ícones.

Há uma série de costumes familiares, gastronómicos, devocionais, que estão relacionados à liturgia. 

Rafael Vitola Brodbeck


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