quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Os últimos anos do Cura d'Ars

No último ano da sua vida, o Cura d'Ars viu passar pela sua igreja, pelo menos, uns 100 mil peregrinos. Diante de tal afluência havia em Ars diversos sacerdotes para auxiliar o santo cura. Mas muitos fiéis não se conformavam e preferiam ficar até seis dias à espera para poder falar-lhe por alguns minutos. O abnegado sacerdote embora reduzisse o seu precário descanso a uma ou duas horas por dia não vencia a avalanche dos que o procuravam. Os catecismos a que se dedicava com extremado amor já não passavam duma série de exclamações que acabavam em lágrimas. Apenas a custo se podia ouvi-lo ou entende-lo. Com sobre-humano esforço, a sua voz debilitada por uma tosse intermitente, já quase não lhe permitia articular palavras inteligíveis.

Eis o relato do jornalista, Jorge Seigneur, em Março de 1859, cinco meses antes da sua morte: O Cura d'Ars estava no confessionário. Ao ajoelhar-me ouvi um soluço que não posso reproduzir: era um gemido de sofrimento? Era um grito de amor? O soluço repetia-se a cada 10 minutos.

Enquanto lhe restou um pouco de energia, o santo cura esteve confessando e abençoando. Conscientemente, deixou-se imolar no altar dos seus sagrados deveres. Deu até a sua última gota de sangue e vida por eles. Não lhe restando força alguma resignou-se humildemente a que por mãos de amigos mais chegados repousassem o seu minguado corpo – pobre cadáver – como gostava de chamá-lo, sobre sua humilde enxerga.

Já sem fala e exangue, vez por outra esboçava um doce sorriso de benevolência e agradecimento ao pequeno conforto que lhe buscavam oferecer. Lúcido e em pleno gozo de todas as suas faculdades até o último instante de vida. Depois de receber o viático ainda pôde reconhecer e esboçar com um sorriso, o seu agradecimento pela visita do seu Vispo Mons. Langalerie a quem logo pôde reconhecer.

O mês de Julho de 1859 foi verdadeiramente abrasador. Fora das casas parecia-se respirar fogo. Prostrado já mortalmente no seu leito, ainda pôde pressentir o seu momento derradeiro e pediu que chamassem o seu confessor, o Cura de Jassans. Chamado também o médico este constatou que o enfermo tinha chegado a uma debilidade extrema. E ainda declarou: se o calor diminuir ainda haverá alguma esperança.

Muitos dos seus queridos paroquianos, movidos de terna compaixão pelo seu santo cura, chegaram a estender sobre o telhado grandes toalhas que, trepados em escadas molhavam de quando em quando para mitigar a penúria do seu querido pároco. Era um testemunho silencioso de devoção pelo amoroso pastor que não vacilou em dar toda a sua vida pelo amado rebanho.

Finalmente, no dia 4 de Agosto de 1859, às duas da madrugada, enquanto nos céus de Ars se desencadeava uma violenta tempestade, João Maria Batista Vianney, sem agonia, entregou a sua alma ao seu Bom Deus. Contava então, 73 anos, 10 meses e 27 dias; há 41 anos, 5 meses e 23 dias que era Cura de Ars.

A 14 de Agosto de 1859 o corpo foi depositado numa sepultura aberta no centro da nave. Sobre ela foi colocada uma lápide de mármore preto em que se gravaram em forma de cruz um cálice e esta simples inscrição: Aqui jaz João Maria Batista Vianney, Cura d'Ars.

A 8 de Janeiro de 1905, o Papa Pio X assinou o decreto de beatificação do Cura d'Ars. No dia 12 de Abril de 1905, Pio X declarou-o Patrono de todos os sacerdotes que têm cura de almas em França e nos territórios do seu domínio. E a 28 de Setembro de 1925, 15 dias depois da canonização de Teresinha do menino Jesus, o humilde pároco de Ars era canonizado pelo Papa Pio XI.

Francis Trochu in 'O Santo Cura d'Ars'


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