A
pessoa humana é constituída por corpo e alma. Mais concretamente por uma alma
racional, espiritual, que dá forma a um corpo, material. Corpo e alma formam
uma unidade. Graças à má filosofia esta unidade tem sido negada. Nos nossos
dias isso acontece de duas maneiras.
O
corpo como objecto
Segundo
esta visão, eu tenho um corpo. Não sou corpo e alma, sou uma alma (algo
espiritual ou pelo menos não-corporal) que possui um corpo. O meu corpo é um
objecto como outro qualquer, do qual posso pôr e dispor à minha vontade. O
corpo não diz nada sobre mim. O corpo pode dizer que sou um um homem, mas se eu
me sentir uma mulher então sou uma mulher porque sou eu que defino o que sou.
Apenas tenho a certeza do que sinto, e tenho plena liberdade para conformar o
meu corpo a como acho que deveria ser, de modo a que me sinta bem, em paz
comigo próprio. O corpo enquanto elemento constituinte da pessoa, tão real como
o "eu" (entendido pela alma) é negado.
Esta
corrente vem directamente de Descartes. O pai do dualismo moderno põe em causa
toda a realidade exterior, toda a matéria (incluindo o corpo) e apenas tem a
certeza da existência do "eu" enquanto ser pensante. O que acontece à
volta do "eu" pode ser apenas uma ilusão, como acontece durante um sono.
Na tese cartesiana o corpo não faz parte do "eu", é exterior à
pessoa.
A
pessoa reduzida ao corpo
Segundo
esta visão, eu sou um corpo. Não sou corpo e alma, sou apenas um corpo. O
"eu" está todo contido no meu cérebro, que através de reacções
químicas me faz ser quem sou e dá-me a ilusão da liberdade de escolha. De
facto, se tudo se resume ao material, e o espírito não existe, tudo está
pré-determinado e todas ninguém escolhe nada, a matéria limita-se a tomar o
caminho que deve tomar, tal como uma bola numa descida.
A
corrente materialista dá uma prioridade total ao cuidado do corpo e despreza o
cuidado do espírito, associado a superstições antigas. A boa alimentação e o
exercício físico, ainda que nem sempre seguidos, são louvados; mas a oração é
enjeitada porque não tem efeitos visíveis.
Esta
corrente é normalmente hedonista, associada ao utilitarismo, dá uma grande
importância ao prazer e a "aproveitar a vida" porque depois da morte
não existe nada. É uma consequência também do materialismo marxista, que busca
a todo o justo a igualdade terrena, quase sempre à conta de injustiças, porque
nega a recompensa eterna.
João Silveira
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