domingo, 17 de maio de 2020

A esquizofrenia corporal dos nossos dias


A pessoa humana é constituída por corpo e alma. Mais concretamente por uma alma racional, espiritual, que dá forma a um corpo, material. Corpo e alma formam uma unidade. Graças à má filosofia esta unidade tem sido negada. Nos nossos dias isso acontece de duas maneiras.

O corpo como objecto

Segundo esta visão, eu tenho um corpo. Não sou corpo e alma, sou uma alma (algo espiritual ou pelo menos não-corporal) que possui um corpo. O meu corpo é um objecto como outro qualquer, do qual posso pôr e dispor à minha vontade. O corpo não diz nada sobre mim. O corpo pode dizer que sou um um homem, mas se eu me sentir uma mulher então sou uma mulher porque sou eu que defino o que sou. Apenas tenho a certeza do que sinto, e tenho plena liberdade para conformar o meu corpo a como acho que deveria ser, de modo a que me sinta bem, em paz comigo próprio. O corpo enquanto elemento constituinte da pessoa, tão real como o "eu" (entendido pela alma) é negado. 

Esta corrente vem directamente de Descartes. O pai do dualismo moderno põe em causa toda a realidade exterior, toda a matéria (incluindo o corpo) e apenas tem a certeza da existência do "eu" enquanto ser pensante. O que acontece à volta do "eu" pode ser apenas uma ilusão, como acontece durante um sono. Na tese cartesiana o corpo não faz parte do "eu", é exterior à pessoa. 

A pessoa reduzida ao corpo

Segundo esta visão, eu sou um corpo. Não sou corpo e alma, sou apenas um corpo. O "eu" está todo contido no meu cérebro, que através de reacções químicas me faz ser quem sou e dá-me a ilusão da liberdade de escolha. De facto, se tudo se resume ao material, e o espírito não existe, tudo está pré-determinado e todas ninguém escolhe nada, a matéria limita-se a tomar o caminho que deve tomar, tal como uma bola numa descida.

A corrente materialista dá uma prioridade total ao cuidado do corpo e despreza o cuidado do espírito, associado a superstições antigas. A boa alimentação e o exercício físico, ainda que nem sempre seguidos, são louvados; mas a oração é enjeitada porque não tem efeitos visíveis.

Esta corrente é normalmente hedonista, associada ao utilitarismo, dá uma grande importância ao prazer e a "aproveitar a vida" porque depois da morte não existe nada. É uma consequência também do materialismo marxista, que busca a todo o justo a igualdade terrena, quase sempre à conta de injustiças, porque nega a recompensa eterna.

João Silveira


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