quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Não manipularás São Francisco

Na 1º Regra escrita por S. Francisco, não aprovada pelo Papa, constam várias coisas que parecem, mas não são dissonantes entre si. Por ex., no capítulo 12 diz-se “Todos os irmãos onde quer que estejam ou vão, guardem-se de maus olhares e da conversação com mulheres. E nenhum se entretenha ou viaje a sós com elas ou partilhe à mesa do mesmo prato.”; no 13º: “Se algum dos irmãos por instigação do demónio, cair em fornicação, dispa-se-lhe o hábito, de que se tornou indigno pelo seu torpe pecado. E, deposto o hábito, seja expulso da nossa Religião (da Ordem Franciscana). Etc.

 

No capítulo 16, 6 consta uma frase citada, hoje em dia, a propósito da relação com os muçulmanos, a saber: mostrem-se “submissos a toda a humana criatura por amor de Deus”. Aqui, claramente, a palavra submisso significa serviço e humildade, no sentido Cristológico[1]. Este sentido, consta imediatamente, no mesmo capítulo, a seguir ao nº 6: “ ... anunciem a palavra de Deus, para que creiam no Deus omnipotente, Pai, Filho e Espírito Santo, Criador de todas as coisas, no Filho Redentor e Salvador, e sejam baptizados e se façam cristãos, porque, quem não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no Reino de Deus.”

 

Isto é, aliás, confirmado por São Boaventura, que testemunha: “Não se considerava amigo de Cristo, se não se preocupava com almas que Ele resgatara. ‘Nada se devia antepor à salvação das almas’, dizia. E apresentava como prova o facto de o Filho Unigénito de Deus se ter dignado morrer na Cruz por amor das almas.”

 

São Francisco de Assis, não foi, como hoje se diz, dialogar com o sultão. Foi sim anunciar-lhe o Evangelho para que se convertesse.

 

Padre Nuno Serras Pereira

 

[1] “E, realmente, eram menores porque a todos submetidos, buscando sempre o último lugar e os serviços a que estivesse ligada alguma humilhação a fim de merecerem, fundamentados na verdadeira humildade, sobre ela erguer o edifício espiritual de todas a s virtudes” in Tomás de Celano, Vida Primeira, nº38.



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1 comentário:

Maria José Martins disse...

Também já li a mesma explicação por D. Viganò. E se assim foi--pois não poderia ter sido de outra forma--é muito grave, meter S. Francisco nesta embrulhada toda e, muito mais grave ainda, se a intenção for a da manipulação!