quinta-feira, 7 de abril de 2022

Clericalização de leigos e pecados não pregados

De há, talvez, umas décadas a esta parte tem-se verificado, pelo menos nas Dioceses em que estive, uma clara clericalização dos leigos. Muitos, para os considerar empenhados na Igreja, cuidam que teem de assumir tarefas nas paróquias. Esta mentalidade, infelizmente, tem ocupado de uma maneira exagerada os fiéis leigos, chegando ao ponto de desviá-los da missão fundamental a que Deus os chama, a saber, ser fermento no mundo, na família, no trabalho, na vida social, cultural e política, ou seja, em todos os âmbitos da vida temporal. 

Para isso é da maior importância ter uma formação séria e adequada na Doutrina Social da Igreja, tal como é exposta, no compêndio da Doutrina Social da Igreja e na Encíclica O Evangelho da vida.
 
Acresce que há lacunas verdadeiramente graves na formação dos fiéis. De facto, de nada adianta pregar que os fiéis não deverão receber a Sagrada Comunhão em pecado grave, se eles ignoram quais são. Como poderão, aliás, fazer uma boa Confissão Sacramental, se ignoram aquilo que, por amor e justiça verdadeira, lhes devia ter sido ensinado?
 
Há, evidentemente, muitos casos em que poderia exemplificar o que digo; peço licença para vos apresentar somente um que se passou há mais de vinte anos. Sucedeu que um fidelíssimo fiel leigo, membro de há várias décadas de uma eminente associação católica, perguntou-me, aquando de uma consulta popular, se era pecado (grave ou mortal) votar a favor da legalização/liberalização do aborto provocado. Respondi-lhe de imediato que se alguém votasse assim tornar-se-ia moralmente responsável por todos os abortos provocados realizados ao abrigo dessa “lei”. 

Espantou-me, no entanto, a ignorância crassa em matéria de tanta importância. Que importa advertir do púlpito que ninguém deverá comungar se estiver objectivamente em pecado grave, ou mortal, se ninguém sabe ao certo quais eles são?
 
Importa muito pregar sobre os Mandamentos, as virtudes naturais, e as Teologais, bem como os Dons do Espírito Santo. É absolutamente incompreensível essa ausência nas homilias, em particular em relação à virtude da Castidade. De facto, provavelmente, como nos tempos da pastorinha Sta. Jacinta - assim lho revelou Nossa Senhora -, os pecados contra esta virtude serão os que mais almas levam ao Inferno.

Padre Nuno Serras Pereira


blogger

4 comentários:

Eduardo disse...

Para os de agora já é tarde, mas volte-se ao eterno catecismo, às verdades básicas da doutrina da criação porque com a mentalidade evolucionista que se instalou pouco se pode fazer. É como pregar no deserto, perdoe-se-me a expressão. Evolucionismo e modernismo são as duas faces da mesma moeda.

Emanoel Truta disse...

Sua benção Padre Nuno.

O senhor descreveu, em poucas linhas, a situação atual.

Como uma frase de São Bernardo que li um dia e nunca esqueci: que o santo reze por nós, que o sábio nós ensine e que o prudente nós governe. Ou seja, cada um deve cumprir seu dever de estado para que as coisas estejam conforme a vontade de Deus.

Que o Bom Deus continue lhe abençoando.

Viva Cristo Rei

Maria José Martins disse...

Realmente, é constrangedor verificar a Formação de base da maioria, até, dos nossos catequistas atuais! Pessoas de Boa Vontade, acredito que se doem por Amor à Causa, mas depois...acontecem "aberrações" como as que o senhor Padre menciona, mas aqui, ainda mais escandalosas, porque um Catequista deve ser um testemunho vivo, daquilo que transmite ou diz Acreditar, independentemente, das suas falhas humanas. E falo com conhecimento de causa, porque os exemplos que vou mencionar passaram-se comigo, em grupos dos quais fiz parte: desde viverem em União de Facto, solteiros, dizendo que Deus não se mete "nisso"... e com filhos, não sabendo que estavam em pecado; desde consultarem Centros Espíritas e videntes, sem saberem que a Bíblia condena e que tudo isso é diabólico; desde confundirem Ressurreição com Reencarnação, pensando que é o mesmo; desde negarem o Sacramento da Reconciliação, afirmando de que se confessam a Deus, porque a Confissão foi inventada pelos "padres"; desde aprovarem, categoricamente, a Comunhão Sacramental, para recadados, muito antes do FACILITISMO da "nova Igreja"; desde ficarem felizes com a União de facto dos filhos solteiros, afirmando que acreditam que Deus não os condena... e muitos, muitos outros, que acabariam por ser difíceis expôr aqui...
Por tudo isto, acredito que, se a Igreja Atual não investir na EXIGÊNCIA duma NOVA EVANGELIZAÇÃO FIEL às Suas ORIGENS, em vez de CONSULTAR A VONTADE DA MAIORIA DOS LEIGOS, que como podemos constatar, está como está, caminha para a DERROCADA FINAL!!

A. Costa Gomes disse...

Na realidade é triste o que se passa, de um modo muito comum, com a vivência (?) do Cristianismo na actualidade e com a permissividade tão generalizada de usos e costumes que nada têm a ver com o espírito Cristão. Inúmeras pessoas frequentam a comunhão e nunca se confessam. Muitos sacerdotes não promovem as confissões nem a preparação interior para o conceito de pecado. Nas homilias não preparam a essência das mesmas passando o tempo a divagar por assuntos nada condizentes com as leituras. Já não se reza pelos doentes de uma paróquia, não se faz apelo, sobretudo aos mais idosos, para que se confessem e se preparem para o encontro definitivo com o Pai. Há muito descuido dos pastores. Não gostaria de estar na pele deles quando lhes for perguntado sobre o modo como cuidaram das suas ovelhas. Não acredito num Cristianismo de muito adornado de flores nos cemitérios, de presença assídua nos funerais, de ausência permanente na guarda dos domingos e dias santos, na promoção constante de outro tipo de actividades nas horas habituais do culto, na preponderância de qualquer outra actividade em detrimento do louvor devido a Deus alegando a falta de tempo, etc. Não me admiro que Deus esteja "zangado" com a humanidade egoista, edonista, materialista e indiferente. Fico muito triste.