quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Sete lições da Peregrinação Summorum Pontificum 2025

No dia 24 de Outubro de 2025 realizou-se, nas instalações do Augustinianum em Roma, o 10.º Encontro Pax Liturgica, promovido no âmbito da XIV.ª peregrinação Summorum Pontificum “ad Petri Sedem”. Estes eventos reúnem, desde 2011, fiéis provenientes de todo o mundo que desejam prestar homenagem ao Papa Bento XVI, que, após tantos conflitos, iniciou a Paz Litúrgica pela publicação do seu motu proprio Summorum Pontificum. Apresentamos hoje sete lições a retirar deste acontecimento.

Lição n.º 1: A juventude e o número - «As praças da cidade encher-se-ão de rapazes e raparigas.» Zacarias 8, 5

De todas as edições da jornada Pax Liturgica e da peregrinação Summorum Pontificum, jamais os organizadores tiveram de enfrentar tamanha afluência. Da basílica de San Lorenzo in Lucina à basílica de São Pedro, muitos fiéis tiveram dificuldade em encontrar caminho e foram obrigados a sentar-se no chão. Na procissão de sábado, 25 de Outubro, as fotografias mostram, na via della conciliazione, a juventude dos presentes. O enviado especial permanente de La Croix em Roma, Mikael Corre, fala de cerca de mil fiéis (a polícia italiana estimou por sua vez a coluna de peregrinos em três mil pessoas), mas não nega a juventude que sobressai daquela multidão. 

Andrea Mattana, 27 anos, Hélène Frelon e Pauline Phelippeau, na casa dos vinte, uma família de Lyon, todos entrevistados pela imprensa francesa, permitem avaliar correctamente a média de idades. Acresce que o acontecimento coincidiu com o jubileu das equipas sinodais, que reuniu, com dificuldade, no mesmo fim-de-semana, dois mil participantes supostamente vindos dos diversos dioceses do mundo. Notando-se ainda, ao observar as fotografias do jubileu das equipas sinodais, uma média de idades já grisalha e marcada pela calvície. A pastoral dos números tem os seus limites, reconhecemo-lo de boa vontade, mas importa desfazer a ideia que alguns ainda não conseguem abandonar: não, o universo tradicional não é simples resíduo de nostálgicos. Olhando verdadeiramente, o que transparece é a juventude e o seu dinamismo.

Lição n.º 2: A dimensão internacional - «Vindos de todas as nações, tribos, povos e línguas, estavam diante do trono e diante do Cordeiro.» Apocalipse 7, 9

As vinte e sete associações dedicadas à defesa da liturgia tradicional mostram que o amor pelo usus antiquior não conhece fronteiras. Nada há de mais falso que restringir o amor pela Missa de São Pio V a preocupações exclusivamente franco-americanas. Neste XIV.º peregrinação Summorum Pontificum, viu-se costa-marfinenses, filipinos e brasileiros cruzarem-se com espanhóis, nigerianos e alemães. Da Serra Leoa ou da Polónia, do outro lado do Pacífico ou dos confins do golfo de Bengala, todos os continentes estavam representados, formando uma catolicidade em estado puro e oferecendo uma fotografia de família autêntica da Tradição, sem retoques nem recurso à inteligência artificial. Como dizia um participante: «O latim, esse une!»

Lição n.º 3: O clero de novo presente -  «Dei os levitas como dom a Aarão e aos seus filhos, para que cumpram o serviço da tenda do encontro em nome dos filhos de Israel.» Números 8, 19

É forçoso reconhecer: um pontificado sucede ao outro. Não se trata aqui de afirmar que Leão XIV sepulta o que Francisco tenha iniciado em tal ou qual registo ou domínio. A prudência é necessária e o vaticanista Jean-Marie Guénois não se poupa a avisar os seus leitores para não tirarem conclusões precipitadas acerca da autorização desta Missa tradicional na basílica maior do Vaticano, no altar da Cátedra de São Pedro. No entanto, a referência feita pelo respeitado Washington Post sugere um espírito de distensão. 

Com efeito, o diário americano cita palavras de um dos mestres de cerimónias papais, don Marco Agostini: «O Cardeal Burke teve, sem dúvida, luz verde do topo: claramente, porque o Papa disse: “Deixai-os fazê-lo.”» Esta saudável permissão desinibiu, legitimamente e com felicidade, muitos clérigos para se juntarem ao cardeal Burke e participar na cerimónia. Se nos últimos anos os clérigos se tornavam raros para evitar críticas ou denúncias caluniosas, no sábado passado foram várias centenas a comparecer.

Lição n.º 4: A missa tradicional, ponte entre diversidades eclesiais - «Há diversidade de dons, mas é o mesmo Espírito; diversidade de ministérios, mas é o mesmo Senhor; diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera em todos.» I Coríntios 12, 4-6

Enquanto a polarização é precisamente o mal a combater, esta Missa tradicional concedeu um grande impulso de caridade a todas as partes envolvidas na celebração. Entre as comunidades que celebram na liturgia antiga, desde logo. Tal como nos pontificais celebrados no peregrinação de Cristandade a Chartres, a Fraternidade de São Pedro, o Instituto de Cristo Rei, o Instituto do Bom Pastor, só para citar estas congregações tradicionais, uniram-se de coração para acompanhar o Cardeal Burke ao altar. 

Mas sobretudo, ao alto da hierarquia, cinco cardeais testemunharam com a sua presença apoio entusiástico à promoção da Missa de São Pio V. O cardeal Burke, como celebrante, claro está, mas igualmente o Cardeal Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana, que pontificou as vésperas na sexta-feira, 24 de Outubro. Jean-Marie Guénois salientava que os abraços públicos e amistosos do cardeal italiano com o seu homólogo americano indicavam mudança de clima. Gestos de amizade do arcebispo de Bolonha que nada ficariam a dever aos que partilharia, quatro dias mais tarde, com Leão XIV, aos pés do Coliseu, na conclusão da Reunião Internacional de Oração pela Paz. Outro prelado presente na peregrinação, o cardeal Brandmüller, sempre sorridente e atento, que fez questão, apesar dos seus problemas de saúde, de assistir à Missa em São Pedro de Roma. 

O Cardeal Sarah esteve na véspera no colóquio Pax Liturgica para ouvir, em especial, a conferência sobre o peregrinação Feiz e Breizh. A sua presença demonstrava o interesse em todo o trabalho de valorização do desenvolvimento da liturgia tradicional no mundo. Por fim, o cardeal Simoni, albanês de 97 anos, que recebeu a púrpura cardinalícia das mãos do Papa Francisco em 2016, condenado à morte sob o regime soviético em 1963, pena depois comutada em trabalhos forçados durante quase 20 anos, impressionou vivamente a assembleia ao recitar a oração de libertação a São Miguel no coração de São Pedro de Roma. Um momento forte, como tantos que só acontecimentos destes sabem proporcionar!

Lição n.º 5: Uma investigação encoberta - «Não espalharás falso rumor. Não te juntarás ao ímpio para dar falso testemunho. Não seguirás a multidão para fazer o mal; no teu testemunho, não torcerás a justiça.» Êxodo 23, 1-3

Nas reuniões Pax Liturgica, era impossível não abordar o estrondo ocorrido em Roma no primeiro trimestre de 2025: a fuga de informação que muitos já previam como muito provável, de que a investigação junto dos bispos de todo o mundo sobre a Summorum Pontificum, cujos resultados deveriam justificar a publicação da Traditionis Custodes em 2021, teria sido falseada. Longe de teoria conspiratória, Diane Montagna detalhou, com provas, as ambiguidades das conclusões dessa investigação. Dos três mil bispos do mundo, dois mil responderam e a maioria expressou claramente o reconhecimento de uma pacificação litúrgica consequente às reformas empreendidas por Bento XVI.

Lição n.º 6: O culminar da Missa na Basílica de São Pedro - «Quando vestia os seus paramentos de glória e se cingia de seu esplendor perfeito, subindo ao santo altar, enchia de glória o recinto do santuário.» Eclesiástico 50, 11

O Céu na Terra! São muitos os testemunhos dos participantes nesta Missa pontifical celebrada no rito secular da Igreja. Todos ficaram admirados, impressionados, comovidos ou tocados. Os curiosos e turistas baixaram instintivamente a voz e muitos deles uniram-se ao recolhimento da cerimónia. As vozes do coro da basílica romana de Santa Maria aos Mártires, a mestria do cerimoniário, o canto gregoriano e a interioridade do rito foram marcantes. O serviço de ordem da basílica, embora inicialmente surpreendido pelo excesso de assistência inesperada, mostrou dedicação exemplar. O cardeal arcipreste da basílica de São Pedro, Mauro Gambetti, evidenciou especial solicitude na organização da peregrinação e alegrou-se por, novamente, se realizar a liturgia antiga na catedral. Sem dúvida, as graças divinas derramadas nessa cerimónia serão contabilizadas para o futuro.

Lição n.º 7: Summorum Pontificum, referência de concórdia - «Orai pela paz de Jerusalém: “paz aos que te amam!” Que haja paz nos teus muros, segurança nos teus palácios!» Salmo 122, 6-7

No sermão pronunciado pelo Cardeal Burke, publicado na nossa carta n.º 1293, a sua voz calma deixava perceber a suave determinação de fazer justiça aos benefícios espirituais da liturgia tridentina. Sem reivindicações nem ataques amargos, apenas o testemunho de uma missa secular que faz bem às almas. Um parágrafo, entre outros, chamou a atenção dos observadores: 

«Tendo o privilégio de participar hoje no Santo Sacrifício da Missa, não podemos deixar de pensar nos fiéis que, ao longo dos séculos cristãos, encontraram Nosso Senhor e aprofundaram n'Ele a sua vida, graças a esta forma venerável do rito romano. Muitos foram inspirados a praticar uma santidade heróica, levando até ao martírio. Aqueles de nós que têm idade suficiente para terem crescido adorando Deus segundo o Usus Antiquior, não podem evitar considerar como isso nos inspirou a manter o olhar fixo em Jesus, especialmente na resposta à nossa vocação na vida. Finalmente, não podemos deixar de agradecer a Deus pela maneira como essa forma venerável do rito romano levou à fé e aprofundou a vida de fé de tantas pessoas que pela primeira vez descobriram a sua incomparável beleza, graças à disciplina estabelecida em Summorum Pontificum. 

Agradecemos a Deus porque, graças ao Summorum Pontificum, toda a Igreja chega a compreender e a amar cada vez mais o grande dom da liturgia sagrada tal como foi transmitida numa linha ininterrupta pela sagrada Tradição, pelos Apóstolos e seus sucessores. Por meio da liturgia sagrada, a nossa adoração de Deus “em espírito e verdade”, Nosso Senhor está connosco da forma mais perfeita que pode haver nesta terra. É a expressão mais excelente da nossa vida n’Ele. Hoje, testemunhando a grande beleza do rito da missa, sejamos inspirados e fortificados para reflectir essa beleza na bondade da nossa vida quotidiana, sob a protecção materna de Nossa Senhora.» 

Sim, deixar-se transformar pela rectidão doutrinal e pelo oceano de sagrado que oferece a liturgia tridentina, eis aquilo que, em caridade, podemos desejar ao nosso próximo.

in Paix Liturgique


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