terça-feira, 1 de abril de 2025

O Papa Gregório XIII e o dia das mentiras

Foi graças ao Papa Gregório XIII que o ano civil começou a começar no dia 1 de Janeiro. Em 1582 o Papa reformou o calendário Juliano, instaurando, através da bula "Inter Gravissimas" o calendário Gregoriano, que usamos hoje em dia.

O calendário Juliano tinha originado uma diferença de 10 dias entre o equinócio da Primavera e o dia 21 de Março. Para resolver esse problema a reforma incluiu um salto de 10 dias no calendário: o dia 4 de Outubro de 1582 (Quinta-Feira) foi seguido pelo dia 15 de Outubro (Sexta-Feira).

O início do ano civil passou de dia 1 de Abril, ou últimos dias de Março, para o dia 1 de Janeiro. 

A reforma foi adoptada imediatamente por Portugal, Espanha, Itália e Polónia; e seguidamente por França e os outros países católicos europeus.

Os países protestantes adiaram essa reforma, preferindo "estar em desacordo com o Sol a estar de acordo com o Papa". Os mais apegados à tradição juliana, que continuaram a celebrar a passagem do ano no dia 1 de Abril, foram alvo de chacota e de algumas partidas, e daí surgiu a tradição do Dia das Mentiras (Poisson d'Avril ou April Fool’s).


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segunda-feira, 31 de março de 2025

Que doce é sofrer perdoando

Jesus bendito, que me ensinaram os homens que Tu não me tenhas ensinado na Tua cruz? Ontem vi claramente que só aprendemos acorrendo a Ti e só Tu nos dás forças nas provas e tentações; que somente ao pé da tua cruz, vendo-Te pregado a ela, aprendemos o perdão, a humildade, a caridade, a bondade. 

Não Te esqueças de mim, Senhor; olha para mim, prostrado na tua frente, e concede-me o que Te peço. Depois, que venham os desprezos, que venham as humilhações, que me importa! Contigo a meu lado tudo posso. A lição prodigiosa, admirável, inexprimível que me dás com a tua cruz dá-me forças para tudo. 

Cuspiram-Te, insultaram-Te, flagelaram-Te, pregaram-Te a uma cruz e, sendo Tu Deus, perdoaste, calaste-Te humildemente e ofereceste-Te a Ti próprio. Que posso dizer da tua Paixão? É melhor não dizer nada e que, no fundo do meu coração, medite no que o homem nunca poderá chegar a compreender; que me contente com amar profundamente, apaixonadamente, o mistério da tua Paixão.

Que doce é a cruz de Jesus! Que doce é sofrer perdoando! Como não ficar louco? Ele mostra-me o seu coração aberto aos homens e por eles desprezado. Onde já se viu e quem alguma vez sonhou suportar tamanha dor? Como vivemos bem no coração de Cristo!

São Rafael Arnaiz Baron  in Escritos espirituais, 07/04/1938 


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domingo, 30 de março de 2025

Católico interrompe Missa Negra no Kansas



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Hoje é o Domingo 'Laetare' (Alegra-te)

"Laetare, Ierusalem", assim começa o Introito desta Missa do IV Domingo da Quaresma. 

"Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos todos os que amais; entregai-vos à alegria, vós que estivestes na tristeza para que exulteis e vos sacieis na abundância de vossa consolação. Ps. Alegrei-me com o que me foi dito: iremos à casa do Senhor."

Esta alegria serve para aliviar a penitência quaresmal, sensivelmente a meio da Quaresma, e assim se percebe por que se usam hoje os paramentos cor-de-rosa, substituindo os roxos que são típicos do tempo penitencial.


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sábado, 29 de março de 2025

Bons hábitos




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«Priest holes» (esconderijos de padres)

Padres do Colégio dos Inglesinhos, em Lisboa, acabados de ordenar pelo Núncio Apostólico, no princípio dos anos 60

Chegou a altura de o povo britânico conhecer a sua história, é o que agora pensam os historiadores do Reino Unido. Não basta ler o que há escrito? J. J. Scarnbrick, Christopher Haig, Eamon Duffy, Diarmaid MacCulloch e outros académicos dizem que a história foi distorcida, ao serviço de uma mensagem, e é preciso recuperar as fontes. Tudo muda. Os novos livros fazem lembrar as obras antigas monumentais do Lingard, do Milner, ou a síntese do Cobbett, geralmente desprezadas como «propaganda católica».

O impacto deste novo olhar sobre os últimos quinhentos anos de história é imenso, porque, em certo sentido, é a própria identidade deste Povo que está em causa. Além disso, o movimento «revisionista» não é uma moda extravagante, é a unanimidade dos principais especialistas. Dizia-me um professor da universidade que a história do Reino Unido já não volta atrás, depois do revisionismo. Começa a aparecer um «pós-revisionismo», mas nada que ponha em causa aquela ruptura com a história habitual.

Ao mesmo tempo, é interessante notar que os revisionistas são revisionistas por razões científicas. Em geral, não alteraram as suas convicções religiosas. Alguns já eram católicos ou converteram-se ao catolicismo, mas a maioria continua a achar que o catolicismo é uma religião de pobres e italianos. O surpreendente – reconhecem os historiadores – é que esses marginais tenham realizado coisas tão extraordinárias, apesar de séculos de perseguição. Tiveram um papel determinante na educação e ainda hoje são maioria nas áreas da enfermagem e do apoio social, além de que produziram figuras de primeiro plano no âmbito da cultura.

A nova visão da história tem facetas inesperadas e até divertidas do ponto de vista turístico, como os «priest holes». A maioria já desapareceu, mas ainda se conservam muitas centenas, que se podem visitar. Estes buracos são cavidades no interior das paredes, ou poços por baixo do soalho, para esconder os padres que iam, de casa em casa, celebrar a Missa. A polícia vigiava (numas épocas mais do que noutras) e o jogo era a sério. Os disfarces e os sistemas para alimentar os padres dentro do buraco eram variados e imaginativos. Um passo em falso significava morte. Porque, desde o tempo de Henrique VIII, houve o cuidado de considerar que o catolicismo não era uma religião mas uma traição à pátria. Assim, evitava-se reconhecer a perseguição religiosa e as penas eram mais pesadas e sem apelo.

Li relatos de católicos ingleses que viajavam ao estrangeiro e ficavam escandalizados pela pressa com que se celebrava a Missa, mesmo em Roma. Imagino que estivessem habituados a Missas pouco frequentes, às escondidas, celebradas por um padre saído do «priest hole», alimentado através da gaveta da cómoda.

Ser padre, naquela época, era complicado. Os rapazes ingleses tinham de fugir do país para ir estudar para um seminário, em Roma, em França, em Espanha, na Bélgica. Até em Lisboa havia um seminário, na Travessa dos Inglesinhos, que funcionou até 1973. Para as famílias não serem perseguidas, os estudantes mudavam de nome, mal desembarcavam no continente. Em Roma, S. Filipe de Neri ajoelhava na rua, quando passava em frente do colégio dos ingleses e honrava-os como se tivessem sido mártires. Terminada a formação no seminário e ordenados, os padres regressavam clandestinamente à sua ilha e, de casa, em casa, dedicavam-se a atender os católicos. Às vezes, a coisa acabava mal. Mas, enquanto durava, era bom.

Os católicos ingleses nunca sabiam quando podiam voltar a confessar-se e assistir à Missa, de modo que queriam saborear esses momentos. No Continente, a Missa era tão rápida! Nem dava tempo para a pessoa se concentrar. Pelo menos, é o que os ingleses achavam.

José Maria C. S. André in 'Correio dos Açores'


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sexta-feira, 28 de março de 2025

Lúcia foi a primeira a cumprir uma promessa de joelhos em Fátima

A uma dada altura a Mãe de Lúcia (Maria Rosa dos Santos) estava gravemente doente. Temendo a morte da Mãe, que se mostrara muito desconfiada em relação às aparições, a pastorinha de Fátima fez uma promessa a Nossa Senhora, que descreveu do seguinte modo:

Eu tinha prometido à Santíssima Virgem, se Ela me concedesse o que eu Lhe pedia, ir aí, durante nove dias seguidos, acompanhada de minhas irmãs, rezar o Rosário e ir, de joelhos, desde o cimo da estrada até ao pé da carrasqueira; e, no último dia, levar 9 crianças pobres e dar-lhes, no fim, um jantar.

Fomos, pois, cumprir a minha promessa, acompanhadas de minha mãe que dizia:

– Que coisa! Nossa Senhora curou-me e eu parece que ainda não acredito! Não sei como isto é!

in Memórias da Irmã Lúcia


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quinta-feira, 27 de março de 2025

O espírito da Quaresma nos anos jubilares

A maior parte das pessoas ignora ou esqueceu o que é a Quaresma. No entanto, o Catecismo Maior, de São Pio X, era muito claro, definindo-a como «um tempo de jejum e de penitência instituído pela Igreja por tradição apostólica». No parágrafo seguinte, São Pio X explica a sua finalidade: «Dar-nos a conhecer a obrigação que temos de fazer penitência ao longo de toda a nossa vida; imitar, de algum modo, o rigoroso jejum de quarenta dias que Jesus Cristo fez no deserto; preparar-nos, por meio da penitência, para celebrar santamente a Páscoa» (n. 36).

Muitas vezes, porém, para os bons católicos que não esquecem a Quaresma, esta reduz-se a algumas práticas ascéticas: jejum, mortificações, esmola, certamente louváveis e sempre recomendadas pela Igreja, mas não suficientes para nos transmitir o espírito da Quaresma, que é, sobretudo, desapegarmo-nos mais profundamente do pecado e abraçarmos com maior generosidade a vontade de Deus.

Bento XVI, na sua Mensagem para a Quaresma de 2009, recorda que, nas primeiras páginas da Sagrada Escritura, o Senhor ordena ao homem que se abstenha de consumir o fruto proibido: «Podes comer o fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas o da árvore da ciência do bem e do mal, porque, no dia em que o comeres, certamente morrerás» (Gn 2, 16-17). Comentando a ordem divina, São Basílio observa que “o jejum foi ordenado no Paraíso” e “o primeiro mandamento neste sentido foi dado a Adão”. Portanto, ele conclui: “O ‘não comas’ e, portanto, a lei do jejum e da abstinência” (cf. Sermo de jejunio: PG 31, 163, 98).» «Portanto, se Adão desobedeceu ao mandamento do Senhor “de não comer o fruto da árvore da ciência do bem e do mal”, com o jejum o crente deseja submeter-se humildemente a Deus, confiando na sua bondade e misericórdia.» (Mensagem de 11 de Dezembro de 2008).

O espírito de penitência manifesta-se, antes de qualquer outra prática, no esforço de nos conformarmos com a vontade de Deus em todos os momentos, mesmo dolorosos e humilhantes da nossa vida. A 26 de Março de 1950, por ocasião da Quaresma do Grande Ano Santo, Pio XII dirigiu-se aos fiéis nos seguintes termos: «Saber suportar a vida! É a primeira penitência de todo o cristão, a primeira condição e o primeiro meio de santidade e de santificação. Com aquela dócil resignação que é própria de quem acredita num Deus justo e bom, e em Jesus Cristo mestre e guia dos corações, abraçai com coragem a cruz quotidiana, muitas vezes dura. Levando-a com Jesus, o seu peso torna-se leve».

O esforço de unir a nossa vontade à vontade de Deus precede toda a prática ascética. É por isso que Jesus sublinha a razão profunda do jejum, estigmatizando a atitude dos fariseus, que observavam escrupulosamente as prescrições rituais impostas pela lei, mas cujo coração estava longe de Deus. O verdadeiro jejum, explica o Divino Mestre, consiste antes em fazer a vontade do Pai celeste, que «vê no segredo e recompensar-te-á» (Mt 6, 18). Ele mesmo dá o exemplo, respondendo a Satanás, no final dos quarenta dias passados no deserto, que «nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus» (Mt 4, 4). «O verdadeiro jejum – conclui Bento XVI – tem, portanto, como finalidade comer o “verdadeiro alimento”, que é fazer a vontade do Pai» (cf. Jo 4, 34).

Aquele que ama a vontade do Pai detesta o pecado, que é a violação da lei divina. E assim, neste tempo de Quaresma do Jubileu de 2025, como não fazer nossas as palavras que Pio XII dirigiu aos fiéis de todo o mundo para os preparar para a Quaresma no Jubileu de 1950: «Medi, se os vossos olhos e o vosso espírito o suportam, com a humildade de quem talvez deva reconhecer-se em parte responsável, o número, a gravidade, a frequência dos pecados no mundo. Obra do próprio homem, o pecado polui a terra e desfigura a obra de Deus como uma mancha impura. Pensemos nos inumeráveis pecados privados e públicos, ocultos e evidentes; pecados contra Deus e a Sua Igreja; contra nós próprios, na alma e no corpo; contra o próximo, especialmente contra as criaturas mais humildes e indefesas; pecados contra a família e a sociedade humana. 

Alguns deles são tão inauditos e hediondos, que são necessárias novas palavras para os indicar. Pese-se a sua gravidade: dos cometidos por mera leviandade e dos premeditados e friamente perpetrados, dos que arruínam uma única vida ou se multiplicam em cadeias de iniquidade até se tornarem a maldade de séculos ou crimes contra nações inteiras. Comparai, à luz penetrante da fé, este imenso amontoado de baixeza e de cobardia com a santidade resplandecente de Deus, com a nobreza do fim para que o homem foi criado, com os ideais cristãos pelos quais o Redentor sofreu a dor e a morte; e depois dizei se a justiça divina pode ainda tolerar tal deformação da Sua imagem e dos Seus desígnios, tal abuso dos Seus dons, tal desprezo da Sua vontade e, sobretudo, tal escárnio do sangue inocente do Seu Filho.

Vigário daquele Jesus que derramou a última gota do Seu sangue para reconciliar o género humano com o Pai celeste, Cabeça visível daquela Igreja que é o Seu Corpo Místico para a salvação e santificação das almas, exortamos-vos a sentimentos e obras de penitência, para que seja dado por vós e por todos os Nossos filhos e filhas do mundo inteiro o primeiro passo para a efectiva reabilitação moral da humanidade. Com todo o ardor do Nosso coração paterno, pedimos-vos o arrependimento sincero dos pecados passados, a plena detestação do pecado e a firme resolução de vos arrependerdes; suplicamos-vos que alcanceis o perdão divino pelo sacramento da confissão e pelo testamento de amor do divino Redentor; suplicamos-vos, enfim, que alivieis a dívida da pena temporal devida aos vossos pecados pelas múltiplas obras de satisfação: orações, esmolas, jejuns, mortificações, de que o próximo Ano Santo oferece fácil oportunidade e convite».

Professor Roberto de Mattei in Corrispondenza Romana (publicado em atrevimentos.pt)


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quarta-feira, 26 de março de 2025

Porque é que Tolkien escolheu o dia 25 de Março para a destruição do Anel?

É pouco provável que muitas pessoas pensem que Frodo Baggins, o diminuto herói d'O Senhor dos Anéis, tenha muito que ver com a época da Quaresma. O que tem um hobbit que ver com o hábito do jejum? O que tem O Senhor dos Anéis que ver com o Senhor que morreu por nós na cruz? O que tem a Terra Média que ver com a razão da época quaresmal?

Estas são boas perguntas às quais J. R. R. Tolkien dá uma pista de resposta quando diz que "O Senhor dos Anéis é, naturalmente, uma obra fundamentalmente religiosa e católica". Como pode isto ser? Como pode uma história sobre hobbits, anões, elfos e feiticeiros ter algo que ver com a vida, morte e ressurreição de Cristo?

A resposta é revelada na data em que o Anel é destruído. O Anel Único para a todos governar e na escuridão aprisioná-los é destruído a 25 de Março. Isto deveria fazer-nos prestar atenção porque 25 de Março é, evidentemente, a festa da Anunciação, a data em que o Anjo do Senhor anunciou a Maria e ela concebeu do Espírito Santo.

É a data em que o Verbo se fez carne e habitou entre nós, a data em que Deus se fez homem. A maioria dos católicos sabe isto, mas poucos sabem que, segundo a tradição, 25 de Março é também a data da Crucificação. É, portanto, não apenas a data em que Deus se fez homem, mas também a data em que Cristo morreu pelos nossos pecados. Tolkien sabia isto. Foi um católico praticante durante toda a sua vida.

Mas o que tem a data da Encarnação e da Crucificação que ver com a destruição do Anel?

O Anel é "o Anel Único para a todos governar e na escuridão aprisioná-los". O Pecado Original é o pecado único para a todos governar e na escuridão aprisioná-los. O Anel Único e o Pecado Único são ambos destruídos na mesma data. Tolkien quer que façamos a ligação. Está a mostrar-nos que o poder do Anel está ligado ao poder do pecado. O Anel é sinónimo de pecado.

Isto significa que colocar o Anel é o acto de pecar. Quando o fazemos, desaparecemos do mundo bom que Deus criou e tornamo-nos visíveis ao demoníaco Senhor das Trevas porque entrámos no seu domínio.

Se usarmos o Anel habitualmente, vivendo em pecado, viciados em estilos de vida destrutivos, a nossa alma começa a encolher e a diminuir. Deixamos de ser o bom hobbit que Deus nos fez ser e tornamo-nos, em vez disso, criaturas miseráveis, como Gollum, que não querem nada senão o pecado que se tornou tão precioso para nós, embora nos torne miseráveis. Por outras palavras, um estilo de vida pecaminoso tem o poder de nos "gollumizar".

Se usar o Anel simboliza viver em pecado, carregar o Anel significa carregar a Cruz. Se somos portadores do Anel e não usamos o Anel, estamos a carregar o peso do pecado sem pecar. Estamos a tomar a nossa cruz e a seguir Cristo.

Frodo Baggins, como o escolhido para ser o portador do Anel, é o portador da Cruz. É, portanto, uma figura de Cristo. É por isso que Tolkien o faz partir de Rivendell a 25 de Dezembro e chegar à Montanha da Perdição (Gólgota) a 25 de Março (Sexta-feira Santa). A jornada de Frodo, ou peregrinação, começa no aniversário de Cristo e termina na data da morte de Cristo.

Terá um hobbit algo que ver com o hábito do jejum? Reflectirá a jornada de Frodo a nossa própria jornada quaresmal até ao pé da Cruz? Será O Senhor dos Anéis uma obra fundamentalmente religiosa e católica? Podem crer que sim!

Joseph Pearce in National Catholic Register


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O que é o 'Angelus' e como rezar?

Angelus (1857-1859) de Jean-François Millet, Musée d’Orsay

Angelus é uma oração em honra da Encarnação de Deus, no dia da Anunciação. Tradicionalmente é rezada três vezes durante o dia: de manhã, ao meio dia e ao entardecer. A oração é constituída de três textos que descrevem o mistério da Encarnação, respondidos com uma Avé Maria e uma oração final. A invocação "Angelus Domini nuntiavit Mariæ", foi retirada do Hino a Nossa Senhora: "Alma Redemptoris".

Não se sabe ao certo a origem do Angelus, mas no séc. XIV já era comum em toda a Europa rezar, ao anoitecer, em louvor da Virgem Maria. Nessa época, os versículos não eram os actuais. Eram assim (só encontrei em latim e inglês):

Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum (Hail Mary, full of grace, the Lord is with thee)
Dulcis instar mellis campana vocor Gabrielis (I am sweet as honey, and am called Gabriel's bell)
Ecce Gabrielis sonat hæc campana fidelis (Behold this bell of faithful Gabriel sounds)
Missi de coelis nomen habeo Gabrielis (I bear the name of Gabriel sent from heaven)
Missus vero pie Gabriel fert læta Mariæ (Gabriel the messenger bears joyous tidings to holy Mary)
O Rex Gloriæ Veni Cum Pace (O King of Glory, Come with Peace)

O som dos sinos associado ao Angelus vem de São Boaventura, que determinou à Ordem dos Frades Menores, em 1269, que se tocassem os sinos no lusco-fusco, enquanto se rezava a Avé Maria. 

A prática de rezar também ao meio-dia, por sua vez, é posterior (séc. XV) e foi estimulada por Louis XI (1475), como uma oração pela paz, na medida em que a cristandade se encontrava ameaçada pelo domínio dos turcos. 

Em 1318, o Papa João XXII oficializou o Angelus ao conceder indulgências para quem a praticasse. Em 1724, o Papa Bento XIII, determinou cem dias de indulgência para cada oração do Angelus, com uma plenária uma vez por mês. Era necessário que o Angelus fosse dito de joelhos, (excepto aos Domingos e aos Sábados, quando se devia permanecer de pé) ao som do sino. Essas circunstâncias foram modificadas pelo Papa Leão XIII em 1884. 

Actualmente, é necessário apenas que a oração seja feita nas horas apropriadas, de manhã, ao meio-dia e à noite. A indulgência é concedida mesmo para aqueles que não sabem recitá-la, bastando para isso que digam 5 Avé-Marias em seu lugar.

V. O Anjo do Senhor anunciou a Maria
R. E Ela concebeu pelo Espírito Santo
Avé Maria...

V. Eis a escrava do Senhor.
R. Faça-se em mim, segundo a Vossa palavra.
Avé Maria...

V. E o Verbo Divino encarnou.
R. E habitou entre nós.
Avé Maria...

V. Rogai por nós, santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

Oremos:
Infundi, Senhor, a vossa graça, em nossas almas, para que nós, que, pela anunciação do Anjo, conhecemos a encarnação de Cristo, vosso Filho, pela Sua paixão e morte na cruz, sejamos conduzidos à glória da Ressurreição. Pelo mesmo Cristo Senhor nosso. Ámen.


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A importância de fazer cerimónia

O hábito moderno de fazer as coisas sem cerimónia não é uma prova de humildade; antes prova que o sujeito não consegue esquecer-se de si mesmo no rito, preferindo estragar o prazer que os outros teriam com o rito.

C.S. Lewis 


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segunda-feira, 24 de março de 2025

Festa de São Gabriel Arcanjo

O grande Mensageiro da Encarnação do Verbo Divino foi quem designou ao Profeta Daniel o tempo, a Zacarias o nascimento, e a Maria Santíssima a sua escolha para Mãe do Redentor do mundo. Eis por que na véspera da Anunciação celebramos a festa deste Arcanjo.

Nos primeiros séculos do Cristianismo, o Arcanjo Gabriel não era honrado com um culto especial. No século IX aparece o seu nome na lista dos santos, unido à festa da Anunciação, mais precisamente, na véspera desta, 24 de Março. A sua festa, por particular concessão da Santa Sé, era celebrada nos Reinos da Espanha antes que esta celebração fosse estendida a toda a Igreja, por Bento XV, em princípios do séc. XX. 

São Gabriel pode ser considerado como o Anjo da Redenção, pois aparece a cada instante para preparar o caminho da vinda do Redentor. Assim, foi ele que anunciou a Daniel o tempo que faltava para a vinda do Messias e a Sua morte na Cruz (Dan 9, 24-26). Depois, anunciou a São Zacarias o nascimento daquele que seria o Precursor do Salvador, como foi dito. Recebeu a insigne missão de participar a Maria Santíssima ter sido Ela escolhida para Mãe do Verbo de Deus encarnado, anunciando-Lhe o mistério da Encarnação. 

Segundo muitos, foi ele que apareceu aos pastores comunicando-lhes o nascimento do Salvador, e em sonhos a São José recomendando-lhe que fugisse para proteger o Menino do ódio de Herodes. Segundo outros, foi ele também que confortou a humanidade santíssima de Cristo na Sua agonia. 

Anjo da Encarnação e da Consolação, na tradição cristã, Gabriel é sempre o Anjo da clemência enquanto Miguel é antes o Anjo do julgamento. Ao mesmo tempo, na Bíblia, Gabriel é, de acordo com o seu nome, o Anjo do Poder de Deus, e é de se notar a frequência com que palavras como grande, poderoso, e forte, aparecem nas passagens a ele referidas...

Plinio Maria Solimeo in 'O Livro dos Três Arcanjos'

Oração a São Gabriel Arcanjo

Vós, Anjo da encarnação, mensageiro fiel de Deus, abri os nossos ouvidos para que possam captar até as mais suaves sugestões e apelos de graça emanados do coração amabilíssimo de Nosso Senhor. Nós vos pedimos que fiqueis sempre junto de nós para que, compreendendo bem a Palavra de Deus e as Suas inspirações, saibamos obedecer-lhe, cumprindo docilmente aquilo que Deus quer de nós. Fazei que estejamos sempre disponíveis e vigilantes. Que o Senhor, quando vier, não nos encontre a dormir! Amém.


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domingo, 23 de março de 2025

Acto de contrição muito útil para a Quaresma

Meu Deus do meu coração, da minha alma, da minha vida, das minhas entranhas, a quem tanto ofendi: tanto meu Deus, e Senhor, que não tem o mar areias, o céu estrelas, o campo flores, as plantas folhas, cujo numero não exceda a multidão sem numero de meus pecados, a variedade sem conto de meus delitos. 

Pequei, Senhor, ofendi-vos, fiz mal na face dos Céus e da terra; afastei-me de vossa Lei, dei as costas à vossa graça, adorei a vossa ofensa, fiz ídolo da minha culpa, corri sem temor nem pejo pelos caminhos do engano, da vaidade, da perdição. Ah meu Deus! quanto me pesa do muito que vos ofendi! Pesa-me do pouco que me pesa, do muito que vos agravei: mais me pesa pela muita ingratidão com que vos tenho agravado, que pelo grande inferno, que tenho merecido. 

Mas que digo, Senhor? nada me pesa, meu Deus : um pesar que me não tira a vida, não é pesar; uma pena que me não arranca esta alma, não é pena; uma dor que me não me parte o coração, ainda não é dor. Quisera ter uma pena das culpas que cometi, tamanha como as minhas culpas. Quisera ter uma mágoa da ofensa. Quisera ter uma dor igual à vossa misericórdia. Quisera com lágrimas de sangue chorar meus grandes pecados, mais pelo que tem de culpa e agravo contra vós, que pelo que tem de dano e perdição contra mim. Quisera, Senhor, que assim como no agravo foi infinita a culpa, fosse no arrependimento infinita a pena. 

Mas onde achei esta ânsia, senão na fonte de vossa graça? Onde acharei esta dor, senão no conhecimento de vossa bondade imensa e de minha maldade infinita? De onde hão-de de vir estas lágrimas, senão do mar de Vossa misericórdia? 

Aqui venho a vossos pés; não olheis o como; não estranheis o quando, não repareis no tarde, olhai somente que venho. Oh que miserável que venho, Senhor! Oh que torpe, oh que abominável! vestido das fealdades de meus pecados, coberto das torpezas de minhas culpas, cheio de abominações e vícios de minha vida! Mas como venho a vossos pés, confiado venho, meu Deus, de achar em vossa misericórdia porto, em vossa piedade amparo, em vossa clemência refúgio, em vossa bondade remédio. 

Por isso, tremendo de vossa justiça, não me valho de outro seguro, mais que do de vossa clemência : não solicito outro abrigo, senão vossa misericórdia : nesta me fio, meu Deus; porque ainda que eu por minha culpa perdi o ser de filho, vós, Senhor, infinitamente bom não perdestes o ser e condição que tendes de Pai. 

Acabe pois, Senhor, em mim vossa graça infinita esta obra, que começou em mim vossa piedade infinita : acuda vossa clemência a esta miserável criatura : tende dó e compaixão desta pobre alma. Proponho com vossa graça emendar a vida, confessar as culpas, perseverar na emenda, perdoar agravos, esquecer-me de injúrias, aborrecer meus vícios, restituir como posso, satisfazer como devo a vossos Mandamentos. 

Espero, Senhor, em vossa bondade infinita me haveis de perdoar todos meus pecados, pela morte e paixão de meu Senhor Jesus Cristo: porque, se nas suas chagas tendes a justiça para me castigar, também tendes a misericórdia para me favorecer. Misericórdia. Misericórdia. Misericórdia.

Composto pelo Padre Frei António das Chagas, Religioso do Seráfico Padre São Francisco da Província dos Algarves, e Pregador Apostólico


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sábado, 22 de março de 2025

Oração para a Quaresma

Senhor,
nesta Quaresma,
tempo de mergulhar no meu interior,
de revisão e de conversão,
ensina-me a descer sempre mais
até onde Tu te encontras: o meu coração.

Como “descer” até aí?
Pelo silêncio, encontrando tempo para rezar,
pela leitura da Tua Palavra que tanto me quer dizer,
pelos Sacramentos,
especialmente a Confissão e a Santa Missa.

Também pela aceitação das contrariedades,
o peso das circunstâncias e da monotonia da vida…
com os olhos postos em Ti.

Senhor, Tu que estás no meu íntimo,
ajuda-me nesta Quaresma,
a fazer uma viagem ao meu interior,
para aí me encontrar conTigo!


Beato Francisco Palau, carmelita


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sexta-feira, 21 de março de 2025

Querida Mãe, um vídeo sobre Síndrome de Down

Uma Mãe de esperanças descobriu que o seu filho sofria de Síndrome de Down. Perturbada, escreveu uma carta para a associação CoorDown, que lida com pessoas que sofrem desta doença. Na carta diz que está assustada com a doença do filho, que está para nascer, e que não sabe o que fazer. A resposta da associação italiana foi esta:



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terça-feira, 18 de março de 2025

Da consideração de si mesmo

1. Não podemos confiar muito em nós, porque frequentemente nos faltam a graça e o critério. Pouca luz temos em nós e esta facilmente a perdemos por negligência. De ordinário também não avaliamos quanta é a nossa cegueira interior. A miúde procedemos mal e desculpamo-nos, o que é pior. Às vezes move-nos a paixão, e pensamos que é zelo.
 
Repreendemos nos outros as faltas leves, e descuidamo-nos das nossas maiores. Bem depressa sentimos e ponderamos o que dos outros sofremos, mas não se nos dá do que os outros sofrem de nós. Quem bem e retamente avaliasse as suas obras não seria capaz de julgar os outros com rigor.

2. O homem interior antepõe o cuidado de si a todos os outros cuidados, e quem se ocupa de si com diligência facilmente deixa de falar dos outros. Nunca serás homem espiritual e devoto, se não calares dos outros, atendendo a ti próprio com especial cuidado.
 
Se de ti só e de Deus cuidares, pouco te moverá o que se passa por fora. Onde estás, quando não estás contigo? E, depois de tudo percorrido, que ganhaste se esqueceste a ti mesmo? Se queres ter paz e verdadeiro sossego, é preciso que tudo mais dispenses, e a ti só tenhas diante dos olhos.

3. Portanto, grandes progressos farás, se te conservares livre de todo cuidado temporal; muito te atrasará o apego a alguma coisa temporal. Nada te seja grande, nobre, aceito ou agradável, a não ser Deus mesmo ou o que for de Deus. Considera vã toda a consolação que te vier das criaturas.
 
Imitação de Cristo


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segunda-feira, 17 de março de 2025

Coisas para fazer em tempo de Quaresma

Concedamos àqueles que pecaram contra nós o que a bondade de Deus nos concedeu a nós. Esqueçamos as injustiças, deixemos as culpas sem castigo, e que nenhum daqueles que nos ofenderam receie ser pago na mesma moeda.

Todos sabemos que somos pecadores; ora, a fim de recebermos o perdão pelos nossos pecados, deve alegrar-nos o facto de termos a quem perdoar. Deste modo, quando dissermos, seguindo o ensinamento do Senhor: «Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido» (Mt 6, 11), podemos estar seguros de obter a misericórdia de Deus.

São Leão Magno, Papa e doutor da Igreja - 10.ª Homilia para a Quaresma


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sábado, 15 de março de 2025

Bispo chinês foi detido pelo “grave crime” de celebrar uma Missa

A polícia de segurança da China prendeu o Bispo Peter Shao Zhumin, da diocese de Wenzhou, Zhejiang, pelo “grave crime” de celebrar uma Missa “ilegal”. O prelado foi detido a 7 de Março, informa o site AsiaNews.it.

A Missa foi celebrada a 27 de Dezembro para inaugurar o Ano Jubilar e contou com a presença de 200 pessoas.

A China impôs uma multa de 200 mil yuan (25 mil euros), que Monsenhor Shao contestou. Insistiu que as actividades da igreja não violam a lei. Como resultado, o prelado foi preso para sua própria “segurança”.

Desconhece-se seu paradeiro e não se sabe quanto tempo ficará detido. Os fiéis estão preocupados com a sua segurança e saúde.

O Bispo Shao recusou-se a aderir a organizações “católicas” controladas pelo Partido Comunista Chinês.

Além disso, as autoridades chinesas impediram várias centenas de pessoas de participar numa peregrinação organizada pela paróquia de Cangnan, que faz parte da igreja clandestina de Wenzhou.

Nos últimos anos, agentes à paisana entraram também nas igrejas clandestinas de Wenzhou, para impedir que crianças e adolescentes participassem nas Missas.

O Cardeal Pietro Parolin não tem pressa em comentar a perseguição.

in gloria.tv


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quinta-feira, 13 de março de 2025

Mais uma igreja que deixa de o ser

A Igreja Católica Holy Trinity, no South End, em Boston (Estados Unidos), foi convertida em condomínio com 35 apartamentos: com um preço médio de 13 mil euros por metro quadrado. Mantendo a estrutura original da igreja, conta ginásio, estacionamento em garagem e pátio.


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Jejum na Quaresma

Queres que te mostre que jejum deves praticar? Jejua do pecado, não tomes qualquer alimento de maldade, não aceites refeições de volúpia, não te aqueças com o vinho da luxúria. 

Jejua das más acções, abstém-te de palavras invejosas, guarda-te de maus pensamentos. Não toques em pães roubados de uma doutrina perversa. Não desejes os alimentos enganadores da filosofia, que te afastam da verdade. É esse o jejum que agrada a Deus. 

Ao dizer isto, não quero aconselhar-te a relaxares as rédeas da abstinência cristã, visto que temos os dias da quaresma que são consagrados aos jejuns, para além do quarto e do sexto dias da semana, em que jejuamos, de acordo com o costume estabelecido; e o cristão é livre de jejuar em qualquer momento, não por escrúpulo de observância, mas por virtude de continência.

Pois como havemos de guardar a castidade, se ela não estiver sustentada no rigoroso apoio da abstinência? Como havemos de nos entregar às Escrituras, como havemos de nos aplicar à ciência e à sabedoria? Não será pela continência do ventre e da garganta? 

Eis um bom motivo para os cristãos jejuarem. Mas há outro, também ele religioso, cujo elogio é feito nos escritos dos apóstolos. Com efeito, encontramos a seguinte afirmação numa carta: «Feliz o que jejua também para alimentar o pobre»: o seu jejum é muito agradável a Deus e, na verdade, é extremamente digno, pois imita Aquele que deu a vida pelos seus irmãos.

Orígenes (185-253) in Homilia sobre o Levítico



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quarta-feira, 12 de março de 2025

Gregório Magno, a peste e São Miguel com a espada ensanguentada

No ano de 590, Gregório, da família senatorial da gens Anicia, foi eleito Papa com o nome de Gregório I (540-604).

A Itália estava a ser esmagada por doenças, fome, agitação social e a onda devastadora dos lombardos. Entre 589 e 590, uma violenta epidemia de peste, a terrível luesinguinaria, depois de devastar o território bizantino no leste e o dos francos no Oeste, semeou a morte e o terror na península e atingiu a cidade de Roma. Os cidadãos romanos interpretaram essa epidemia como um castigo divino pela corrupção da cidade.
 
A primeira vítima colhida em Roma pela peste foi o Papa Pelágio II, que morreu a 5 de Fevereiro de 590 e foi enterrado em São Pedro. O clero e o senado romanos elegeram Gregório como seu sucessor, que, depois de ser o praefectus urbis, morava na sua cela monástica no monte Célio. Depois de ser consagrado a 3 de Outubro de 590, o novo Papa imediatamente enfrentou o flagelo da peste.

Gregório de Tours (538-594), que foi contemporâneo e cronista desses eventos, diz que num sermão memorável proferido na igreja de Santa Sabina, o Papa Gregório convidou os romanos a seguir, contritos e penitentes, o exemplo dos habitantes de Nínive: «Olhai em volta: aqui está a espada da ira de Deus brandindo sobre todo o povo. A morte súbita arrebata-nos do mundo, quase sem nos dar um minuto de tempo. Neste exacto momento, oh quantos são levados pelo mal, aqui à nossa volta, sem sequer pensar em penitência.»

O Papa, portanto, pediu que se olhasse para Deus, que permite tais tremendos castigos para corrigir os seus filhos e, para apaziguar a ira divina, ordenou uma "ladainha septiforme", ou seja, uma procissão de toda a população romana, dividida em sete cortejos, de acordo com sexo, idade e condição. A procissão movida desde várias igrejas de Roma até à Basílica do Vaticano, foi acompanhada com o canto das ladainhas. Essa é a origem das chamadas "ladainhas maiores" da Igreja, ou rogações, com as quais oramos a Deus que nos defenda das adversidades.

Os sete cortejos movimentaram-se pelos edifícios da Roma antiga, num ritmo lento, com os pés descalços e a cabeça coberta de cinzas. Enquanto a multidão viajava pela cidade, imersa em silêncio sepulcral, a praga chegou ao ponto de raiva que, no curto espaço de uma hora, oitenta pessoas caíram no chão mortas. Porém, Gregório não parou nem por um instante de instar o povo a continuar orando e queria que a imagem da Virgem preservada em Santa Maria Maior e pintada pelo evangelista São Lucas fosse levada antes da procissão (Gregório de Tours, Historiae Francorum, liber X, 1, em Opera omnia, ed. JP Migne, Paris 1849, p. 528).

A lenda dourada, de Jacopo da Varazze, que é um compêndio das tradições transmitidas desde os primeiros séculos da era cristã, conta que, à medida que a imagem sagrada progredia, o ar tornava-se mais saudável e claro e os miasmas da praga se dissolviam, como se não pudessem suportar a sua presença. Quando chegaram à ponte que liga a cidade ao mausoléu de Adriano, conhecida na Idade Média como Castellum Crescentii, de repente um coro de anjos cantava: «Regina Coeli, laetare, Alleluja - Quia quem meruisti portare, Alleluja - Resurrexit sicut dixit, Aleluia.» O Papa Gregório respondeu em voz alta: "Ora pro nobis rogamus, Aleluja!" Assim nasceu a Regina Coeli, a antífona com a qual na Páscoa a Igreja saúda Maria Rainha pela ressurreição do Salvador.

Depois da música, os Anjos organizaram-se em círculo ao redor da imagem de Nossa Senhora e o Papa, olhando para cima, viu no topo do Castelo um Anjo que, depois de secar a espada que pingava sangue, colocou-a na bainha, como um sinal da cessação da punição: «Tunc Gregorius vid super Castrum Crescentii angelum Domini gludium cruentatum detergens in vagina revocabat: intellexit que Gregorius quod pestisilla cessasset et sic factum est. Unde et castrum illud castrum Angels deinceps vocatum est." Gregório entendeu que a praga havia terminado e assim aconteceu: e esse castelo passou a ser chamado de Castelo do Santo Anjo (Iacopo da Varazze, lenda dourada, ed. crítica editada por Giovanni Paolo Maggioni, Sismel-Edizioni del Galluzzo, Florença 1998, p. 90).

O Papa Gregório I foi canonizado e proclamado Doutor da Igreja, e entrou na história com o apelido de "Magno". Após a sua morte, os romanos começaram a chamar ao edifício de Adriano "Castel Sant'Angelo" e, em memória do prodígio, colocaram no alto do castelo a estátua de São Miguel, chefe das milícias celestes, no processo de embainhar a espada. Ainda hoje, no Museu Capitolino, há uma pedra circular com as pegadas que, segundo a tradição, teriam sido deixadas pelo Arcanjo quando ali se deteve para anunciar o fim da praga. Também o cardeal Cesare Baronio (1538-1697), considerado por o rigor de sua pesquisa, um dos maiores historiadores da Igreja, confirma a aparição do Anjo no topo do castelo (Odorico Ranaldi, anais eclesiásticos retirados do cardeal Baronio, ano 590, Appresso Vitale Mascardi, Roma 1643, pp. 175 -176).

Observamos apenas que, se o Anjo, graças ao apelo de São Gregório, embainhou a espada, significa que antes a havia desembainhado para punir os pecados do povo romano. Os Anjos são de facto os executores dos castigos divinos dos povos, como nos lembra a visão dramática do Terceiro Segredo de Fátima, exortando-nos ao arrependimento: «Um Anjo com uma espada de fogo na mão esquerda. Ao cintilar despedia chamas que pareciam incendiar o mundo. Mas, apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro. O anjo, apontando com a mão direita para a Terra, com voz forte dizia: - Penitência, penitência, penitência!»

Professor Roberto de Mattei


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terça-feira, 11 de março de 2025

Assim seria o som da Hagia Sofia há mais de 500 anos

A Hagia Sophia (Santa Sofia), que se encontra em Istambul (Constantinopla), foi a maior igreja do Mundo durante mil anos. Um estudo, analisando o rebentamento de um balão dentro do edifício, demonstrou a magnífica acústica com que a igreja foi construída. Isto permite ter uma ideia do que seria estar lá dentro enquanto decorria a Divina Liturgia, com os belíssimos hinos Bizantinos.




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segunda-feira, 10 de março de 2025

Quaresma

O Dilúvio durou 40 dias e 40 noites...
foi a preparação para uma nova humanidade.

Durante 40 anos esteve Israel no deserto...
a caminho da Terra Prometida.

Durante 40 dias fizeram penitência os Ninivitas...
antes de receberem o perdão de Deus.

Durante 40 dias e 40 noites caminhou Elias...
até chegar à Montanha de Deus.

Durante 40 dias e 40 noites Moisés e Jesus jejuaram...
no início da Missão.

Assim os 40 dia da Quaresma,
são também um tempo especial
de conversão e renovação,
de preparação para a Páscoa.


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sábado, 8 de março de 2025

Síria: Cristãos obrigados a ler o Corão em funeral de jovem assassinado

A situação na Síria é caótica depois de jihadistas estrangeiros, apoiados por Israel e pelos regimes homossexuais ocidentais, terem invadido o país.

Os cristãos, que tinham plena liberdade durante o governo de Assad, estão agora a ser alvo de ataques.

O OraProSiria.Blogspot.com recorda o assassinato do jovem ortodoxo Lucian Haddad em Latakia, em Janeiro.

Para permitir a realização do seu funeral, o regime jihadista do país ordenou a leitura de passagens do Corão durante a liturgia fúnebre.

O regime está também a impor a islamização com a imposição do véu nos transportes públicos em Alepo e noutras cidades.

in gloria.tv


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Dia da Mulher




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sexta-feira, 7 de março de 2025

Oração de S. Tomás de Aquino para rezar antes da Missa

Deus omnipotente e eterno, eis que me vou aproximar do Sacramento de Vosso Filho Unigénito, Nosso Senhor Jesus Cristo. E eis que venho como enfermo, ao médico da vida, como manchado, à fonte de misericórdia; como um cego à luz da eterna claridade; e como pobre indigente, ao Senhor do Céu e da Terra. 

Invoco, pois, a abundância de Vossas generosidades, que são sem limites, a fim de que Vos digneis curar a minha enfermidade, lavar as minhas máculas, iluminar a minha cegueira, enriquecer a minha pobreza, e vestir a minha nudez, de forma que receba o Pão dos Anjos, o Rei dos reis e o Senhor dos senhores, com tanto respeito e humildade, com uma contrição e uma devoção tão vivas, com uma pureza e uma fé tão grandes, com um bom propósito e uma intenção tais, como o exige a salvação da minha alma.

Concedei-me, Vos suplico, a graça de receber, não somente o Sacramento do Corpo e do Sangue do Senhor, como também o efeito e a virtude deste Sacramento.

Ó Deus clementíssimo, visto que me é dado receber o Corpo de vosso Filho único, N. S. Jesus Cristo, esse Corpo que Ele assumiu no seio da Virgem Maria, fazei que O receba com disposições tão perfeitas que mereça ser incorporado no seu Corpo Místico e contado entre Seus membros.

Ó Pai amantíssimo, concedei-me, enfim, a graça de contemplar face a face, durante toda a eternidade, o Vosso Filho amantíssimo, que me proponho receber hoje, nesta viagem terrestre, debaixo dos véus do Sacramento.

Ele que, sendo Deus, convosco vive e reina, em união com o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amem.


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quinta-feira, 6 de março de 2025

Ainda sobre o dia de ontem





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Santa Perpétua e Santa Felicidade, Mártires

Origens

Uma nobre e uma escrava. O que sabemos sobre as origens das duas é pouco, porém digno de nota. Perpétua era uma senhora nobre da cidade de Car­tago, no Norte da África. Felicida­de era escrava de Perpétua, também de Cartago. As duas tinham cerca de 20 anos e eram cristãs numa região dominada pelo Império Romano, em tempos de perseguição contra os cristãos.

Senhora e escrava unidas pela Fé

Perpétua era rica, de família tradicional e nobre. O seu pai era pagão. Quando da prisão, ela tinha apenas vinte e dois anos e era mãe de um bebé recém-nascido. Felicidade estava com oito meses de gravidez.

Prisão

As duas foram presas no ano 203, por ordem do imperador romano Severo, pelo simples facto de serem cristãs. Severo, cujas origens familiares também estavam na África, tinha emitido um decreto de pena de morte aos cristãos. As duas sofreram as atrocidades da prisão unidas pela Fé, em oração e encorajando uma a outra.

O diário da prisão

Estando na prisão, Perpétua escreveu um diário que está entre os mais comoventes e realistas da História da Igreja. Nesse diário ela narra todo o sofrimento pelo qual passaram e descreve esperança cristã na vida eterna de maneira maravilhosa. No diário conta que o seu pai foi visitá-la à prisão para pedir que ela renunciasse à Fé e, assim, salvasse a sua vida. Ela, porém, preferiu a morte em vez de negar o Senhor da sua vida, Jesus Cristo.

Um parto na prisão

Temendo a pena de morte, Felicidade pedia diariamente a Deus que o seu filho nascesse antes que ela fosse executada. Assim aconteceu. Embora tivesse um parto muito sofrido, o seu filho nasceu livre. O filho de Santa Felicidade nasceu apenas dois dias antes que a sua mãe fosse martirizada na arena.

Baptismo na prisão

As Santas Perpétua e Felicidade, senhora e escrava, mantinham-se firmes na oração e no sustento da fé, apoiadas por outros 6 cristãos também presos. Estes tornaram-se seus companheiros de vida, de morte e de testemunho para o mundo. Perpétua e Felicidade, mesmo demonstrando tanta fé, ainda não tinham sido baptizadas. Por isso, receberam o baptismo na prisão. Isto fortaleceu ainda mais a fé dessas duas santas.

Torturas e martírio

Segundo os relatos oficiais da época, presentes no diário de Santa Perpétua, os cristãos homens foram martirizados primeiro, tendo sido lançados aos leopardos famintos. Foram despedaçados por esses animais. Perpétua e Felicidade foram lançadas aos touros selvagens. Perpétua viu a sua amiga e irmã ser atingida pelos animais e ainda conseguiu ampará-la nos seus braços e recompor a sua roupa estraçalhada, numa demonstração de respeito, dignidade e amor. 

Os pagãos que assistiam ao “espectáculo” emocionaram-se durante um curto espaço de tempo. Porém, logo começaram a gritar pedindo a morte de Perpétua. Então, os touros atingiram as duas e, logo em seguida, elas foram degoladas. Aconteceu no dia 7 de Março do ano 203. 

Oração a Santas Perpétua e Felicidade

Deus Todo-Poderoso, que destes às mártires Santas Perpétua e Felicidade a graça de sofrer por Cristo, ajudai também a nossa fraqueza, para que possamos viver firmes na Fé, como elas que não hesitaram em morrer por vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém. 

Santas Perpétua e Felicidade, rogai por nós.

in Cruz Terra Santa


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