terça-feira, 10 de maio de 2022

Balaustrada para a comunhão: restaurar o sentido do Sagrado

Ok, mudei de ideias! É tempo de trazer de volta a balaustrada! Estou tão surpreendido por esta esta mudança como qualquer outra pessoa. Há alguns anos expliquei a teologia da comunhão de pé e defendi-a. E por que não? Sempre recebi assim durante a maior parte da minha vida adulta; até me lembro da experiência da Igreja latina com a intinção nos anos 70. De pé e na mão sempre me pareceu sensível, prático e - com a catequese própria - apropriado.

Mas agora, depois de alguns anos de pé do outro lado da píxide - e a ver o que se passa - já vi o suficiente. Vi uma mãe, com o bébé ao colo, receber a Sagrada Comunhão, levá-la de volta para o banco e partilhá-la com o bébé como se fosse uma bolacha.

Pelo menos quatro ou cinco vezes por ano tive de parar alguém que pega na hóstia e vai-se embora com ela e pedir-lhe que a consumisse ali. Uma ou duas vezes por mês vejo pessoas que a deixam cair. Normalmente são pessoas que não o fazem de propósito, mas desliza-lhes das mãos e Jesus cai violentamente ao chão. Algumas vezes por ano apanho as multidões das encomendas. Recebem a hóstia de modo próprio e depois tiram um lencinho e perguntam se podem levar outra para casa para um familiar doente.

Para além disso, sou lembrado semana após semana que as pessoas não têm uma maneira uniforme de receber na mão. Existe a aproximação "mãos-como-um-trono"; há o "dá cá mais cinco", estilo uma mão estendida; há os notórios "ladrões de corpo" que levantam a mão e pegam na hóstia para a pôr na boca como um chocolate depois de jantar; e há os indecisos vacilantes que se aproximam com as mãos em concha e os lábios entreabertos. Onde é que a querem e como??

Depois de experimentar isto demasiadas vezes, em demasiados sítios, sob uma variedade de circunstâncias, decidi: isto tem que parar! A catequese não tem frutos. Nós tentámos. Podem mostrar às pessoas como se faz; podem instruí-las; podem pôr lembretes no boletim e falar do púlpito. Não adianta. Uma e outra vez, há uma parte considerável de fiéis que simplesmente não têm noção ou, pior, é-lhes indiferente.

O facto é que nós, homens desastrados, precisamos de lembretes externos - sejam cheiros e sinos ou posturas e gestos - para reforçar o que estamos a fazer, direcionar a nossa atenção e fazer-nos estar acima de nós mesmos. Receber a comunhão é algo acima de nós e para além de nós. Deveria transcender o que fazemos normalmente. Mas o que é que diz do nosso estado de devoção e da nossa recepção da Eucaristia o facto de que se começou a parecer como uma ida ao supermercado?
 
A nossa liturgia moderna tornou-se tão vazia de reverência e temor, de maravilha e mistério. Os sinais e símbolos que sublinham o mistério - os vitrais, os cânticos em Latim, as espirais de incenso no altar - desapareceram e foram substituídos por... quê? Cada vez mais agora as igrejas parecem armazéns e o Corpo de Cristo é só mais uma comodidade que armazenamos e deitamos fora.

Ajoelhar para receber na língua pode ajudar a aliviar alguma coisa disto? Bem, mal não faz. E por esta razão: subir à balaustrada da comunhão e ajoelhar e receber na língua é um acto de total e descarada humildade. Nessa postura para receber o Corpo de Cristo, tornamo-nos menos para que depois nos termos mais. Requer uma submissão da vontade e conhecimento claro do que estamos a fazer, porque é que o fazemos e do que está prestes a acontecer-nos.

Francamente, não deveríamos apenas ser humilhados, mas deveríamos ser-nos intimidados o suficiente para perguntarmos a nós mesmos se estamos mesmo preparados espiritualmente para participar deste sacramento. Ajoelhar significa que não posso subir e receber sem saber como se faz propriamente. Exige não só um sentido de concentração e propósito mas também algo mais, algo que tem iludido a nossa devoção nas últimas duas gerações.

Exige um sentido do sagrado. Desafia-nos ajoelhar-nos diante do milagre e curvar-nos diante da graça. Implica que não só percebamos completamente o que se está a passar, mas que apreciemos a generosidade de cortar a respiração por trás dela. Pede-nos que nos lembremos o que significa realmente "Eucaristia": acção de graças.

Eu hoje não vejo muito isso. Desapareceu. Temos que recuperá-lo. Temos de deixar de estar de pé e passarmos a estar de joelhos. Tragam de volta a balaustrada para a comunhão. É hora!

Padre Greg Kandra


blogger

3 comentários:

NCB disse...

Muito bom!!!

João Silveira disse...

Tambem acho!!!

Pedro de Salter Cid disse...

Bom dia e obrigado pelo post. Confeço que estava ansioso pelo fim do texto, esperançado que fosse mais longo, só porque gostei muito do que li. E posso adiantar que na minha Paróquia temos balaustrada e comunhão na boca e de joelhos, para os que querem.
Chega de desculpas pela Covid-19 e da inacção da CEP para este tema.
Obrigado.
Pedro de Salter Cid.