quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Afinal por que não podem comungar os divorciados "recasados"?

Algumas considerações genéricas e rápidas sobre o assunto – que está na ordem do dia e sobre o que sempre me indagam – do Sínodo dos Bispos sobre a família e a propalada possibilidade de que seja liberada a comunhão eucarística para casais em segundas núpcias:

1. O Matrimónio sacramental é indissolúvel. Trata-se de ipsissima verba Christi: «Não separe, pois, o homem o que Deus uniu» (Mc 10, 9). Não existe nenhuma possibilidade de reforma ou flexibilização quanto a isso.

2. Sendo indissolúvel o Matrimónio, as ditas “segundas núpcias” – se celebradas durante a vida do primeiro cônjuge ao qual se está ligado por Matrimónio válido – são, na verdade, uma situação de facto que se sobrepõe ao vínculo original (que permanece, a despeito do que digam os notários de César), violando-o.

3. Havendo vínculo conjugal, qualquer consórcio sexual que não seja com o cônjuge ao qual se está vinculado – independente do quão prolongada seja a separação primeira ou a coabitação presente – é, por definição, adúltero.

4. Adultério é matéria grave, propriamente capaz portanto de propiciar a existência de pecado mortal e consequente perda do estado de graça.

5. Uma vez que o estado de graça seja perdido, o Sacramento ao qual se deve recorrer para o recuperar é o da Confissão.

6. A recepção da comunhão eucarística exige o estado de graça. Mais uma vez, não existe a mais mínima possibilidade de flexibilização ou reforma quanto a isso, a respeito do que S. Paulo dirige as seguintes duras palavras: «Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba desse cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação.» (ICor 11, 27-29).

7. A razão pela qual os casais ditos “em segunda união” não podem comungar é simplesmente porque vivem em situação de pecado mortal – geralmente público, continuado e impenitente.

8. Público, porque todo casamento é uma união pública, da qual as pessoas do convívio do casal têm em geral ciência; continuado, porque o segundo casamento, embora tenha se realizado uma única vez no passado, actualiza-se com a coabitação que é mantida; impenitente, porque não existe o animus de fazer cessar a união adúltera.

9. Se o adultério não fosse público, não seria possível falar em proibição eclesiástica (uma vez que ninguém ia saber do pecado e, portanto, não haveria como fazer distinção à Mesa Eucarística) e, por conseguinte, não é sobre isto que se discute. O pecado oculto impede igualmente os pecadores de comungarem, se não no foro externo, indiscutivelmente no interno.

10. Se o adultério não fosse continuado, a comunhão eucarística seria (e aliás sempre foi) absolutamente permitida: cessado o consórcio carnal adúltero, cessaria a matéria do pecado do adultério, o qual se tornaria passível de confissão e absolvição sacramental – sendo assim restaurado o estado de graça e a consequente admissão ao Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo.

11. Se o adultério não fosse impenitente, dirigir-se-ia à descontinuidade (e, assim, recair-se-ia, cedo ou tarde, no ponto anterior). Por sua vez, não é crível que uma pessoa esteja ao mesmo tempo sinceramente arrependida de algo e deliberadamente empenhada em continuá-lo.

12. O problema dos ditos “casais em segunda união” não se resume, assim, a “não poderem comungar”. Estarem privados da comunhão eucarística não é uma pena imposta pelas segundas núpcias passadas, mas uma consequência da situação de pecado na qual eles presentemente vivem. A questão não é, portanto, estes casais comungarem ou deixarem de comungar; a questão é recuperarem o estado de graça do qual têm absoluta necessidade não apenas para comungar, mas também e principalmente para serem salvos.

13. Reduzir o problema dos casais “em segunda união” à proibição de comungarem é falseá-lo, uma vez que pode passar a falsa – falsíssima! – impressão de que estes casais, se cumprirem a “pena” que lhes é imposta (= absterem-se da Eucaristia), estarão já “quites” com a religião católica, sendo filhos obedientes da Igreja e fazendo o que lhes é exigido para serem bons cristãos. Ora, é-lhes negada a Eucaristia como um apelo para que eles abandonem o adultério, e não como um meio para que possam legitimamente viver as núpcias adúlteras!

14. À luz de tudo isso, por fim, carece de qualquer sentido perguntar se a Igreja vai “mudar” a “disciplina” de negar a comunhão eucarística aos casais em segunda união. É evidente que o problema não é esse. Tal pode até ser a preocupação imediata de quem desconhece os rudimentos da Doutrina Católica; para quem tem a missão de salvar as almas, contudo, o problema está posto com todos os seus contornos e desdobramentos. Aquela pergunta não tem lógica absolutamente nenhuma. Ter isso em mente é fundamental para que se possa enfrentar devidamente essa «vera piaga» (Sacramentum Caritatis, 29) dos nossos dias.

in Deus lo Vult


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11 comentários:

Anónimo disse...

Concordo com o 1º ponto. Todos os outros são decorrentes de uma errada interpretação do 1º. Deus é misericordioso, nunca duvidarei disso. Duvido, sim, das ovelhas tresmalhadas que o seguem.

Anónimo disse...

P.S - felizmente, e talvez para incómodo de muitos, Francisco trará uma lufada de ar fresco. Conheço bem algumas pessoas que com o Santo Padre privaram, e nada parará a nova Mensagem que traz. Os céus rejubilam de alegria, estou certo.

Anónimo disse...

Pois se o Santo Padre alterar a doutrina de tal maneira que o Sacrilégio passe a ser permitido, ele se tornará um herege e por isso um anti-papa. A Igreja foi fundada por Cristo Deus Nosso Senhor e não por Francisco. Esperemos que isto não aconteça pois a Ira de Deus cairá sobre todos nós.

Anónimo disse...

Anónimo das 16h35, considera então que Deus tem ira e nos castiga? Uma visão extremamente enviesada.

Anónimo disse...

Que o Santo Padre Francisco tenha forças para prosseguir o seu caminho da verdade, na direcção da liberdade de pensamento e de valores no seio da Santa Igreja. Olho com grande esperança para as mudanças que se avizinham. Muitas ovelhas do rebanho de Deus não conseguirão fazê-lo, infelizmente, por se terem fixado a valores ultrapassados.

Anónimo disse...

Caramba"Ira de Deus"!?!?
Alguém não leu o Novo Testamento; alguém não se transformou em pedra viva...
O Papa Francisco, atento à realidade, quer a Igreja Viva e os divorciados recasados merecem fazer parte dela.
Aconselho vivamente a que alguém leia de novo a parábola da mulher adúltera.

Anónimo disse...

"Se um futuro Papa ensinar algo contrário à fé católica, não o sigam" Papa Pio IX

Anónimo disse...

O termo "ira de Deus" não se refere a uma falta de controlo de emoções e atitudes do Ser Transcendente, mas às consequências negativas que advêm do afastamento por parte daqueles que d`Ele se afastam - chamemos-lhe Inferno|Condenação Eterna|Perdição...o que quiserem! E claro que Deus é misericordioso, mas castigo e responsabilização pelos actos também é justiça! Em lado nenhum o sinónimo de Justiça é cada um fazer o que quiser porque a seguir vai ser perdoado!

Anónimo disse...

Um homem ou mulher tomam como opção consagrarem-se a Deus e assumem o sacramento da Ordem, tal como o Matrimónio é um sacramento.
Encaro o Sacramento da Ordem como um "casamento com Deus". Estes homens e mulheres assumem também eles perante a sociedade o seu vínculo.

Ora, estes sacerdotes e freiras podem renunciar aos votos que fizeram, sob os mais variados pretextos e situações, e, caso o entendam, podem voltar a casar com a benção da Igreja.

Um homem e uma mulher casam pela Igreja, pelos mais diversos motivos - e não estou a falar de leviandades, pois também não sou a favor do casa/descasa - divorciam-se, renunciam aos votos que fizeram e são condenados para o resto das suas vidas.

Por vezes, as segundas relações são muito mais conscientes, sinceras, verdadeiras e até - pasmem-se! - de uma nova Caminhada na Fé, do que as primeiras. Estas podem ser fruto de uma imaturidade e de falta de caminhada.

Confiemos na Misericórdia de Deus e que os nossos corações não se fechem ao Amor de Deus e dentro das nossas limitações vivamos o mais possível dignamente.

Francisco disse...

Como podem dizer com tanta certeza qual a Vontade Divina?

Será que é o que vocês fazem que é a vontade divina?

Deixem-se de teatros, a que chamam simbolismos!

Trabalhem, trabalhem e deixem-se de teatros!

Façam o bem!

Se trabalhassem para o bem, não teriam tempo para julgar!

Anónimo disse...

«Não separe, pois, o homem o que Deus uniu» (Mc 10, 9)
Se o Papa mudar a doutrina, automaticamente é um herege ou e, excomungado. Hà muita coisa que podem ler dos abusos a partir do CVII. Quando Paulo VI abriu as portas aos protestantes, ateus, judeus, maçónicos e satánicos, etc. reconheceu que a fumaça de satanás tinha penetrado no Vaticano. Portanto as profecias terão de ser cumpridas. Nosso Senhor nunca prometeu à Sua Igreja um mar de paz, alegria e felicidade. Os Seus Apóstolos foram martires.
Não me admira mas, S.S. Papa Francisco fará das suas antes de deixar a Cadeira de S. Pedro.