A Santíssima Virgem Maria vivia a Quaresma? Os Apóstolos viviam a Quaresma? Quão antiga é a Quaresma na tradição Católica?
Uma das referências mais antigas à Quaresma está nos sermões do Papa Leão Magno (m. 461) do século V. O Papa São Leão Magno dizia que os quarenta dias de Quaresma foram instituídos pelos Apóstolos: “ut apostolica institutio quadraginta dierum jejuniis impleatur” (Patrologia Latina 54, 633).
“Que a instituição Apostólica dos quarenta dias seja cumprida pelo jejum.”
S. Jerónimos (m. 420) e o historiador da igreja Sócrates (m. 433) também assumiram a instituição apostólica dos quarenta dias de jejum antes da celebração da ressureição de Cristo. Actualmente, os historiadores modernos têm dúvidas sobre a prática da Quaresma no primeiro século.
Os escritos de Eusébio são citados muitas vezes como prova de que a Igreja inicialmente não conhecia aquilo a que nós chamamos Quaresma. Eusébio, na História da Igreja (5, 24), relacionou a epístola de Santo Ireneu ao Papa São Víctor (reinou de 189 a 199 A.D.) com a controvérisa pascal (da Páscoa) do século II. Não só havia confusão sobre a data da Páscoa (ou o 14º Nisan [nome do mês sírio] ou o Domingo depois do 14º Nisah), mas os Cristãos também debatiam sobre se o jejum antecedente devia ser um dia, dois dias ou quarenta horas. Parece que nem os Cristãos romanos nem os Cristãos orientais conheciam o jejum de "40 dias" antes da Páscoa.
No entanto, por volta dos século IV, os "quarenta dias" de jejum antes da Páscoa pareciam ser universalmente cumpridos. A carta de Páscoa de Sto. Atanásio de 331 A.D. conta que todos os Cristãos de Alexandria, Egipto, mantinham um jejum de "quarenta dias" antes da Páscoa. Na carta pascal de 339 A.D. ele menciona como os "quarenta dias" de jejum antes da Páscoa são universalmente mantidos por todas as igrejas: "até ao fim em que todo o mundo está a jejuar, nós que estamos no Egipto não nos devíamos tornar nuns gozões como as únicas pessoas que não jejuam mas têm prazer nesses dias."
O quinto ponto do Concílio de Niceia em 325 A.D. também confirma que os "quarenta dias" são guardados como dias de penitência antes da Páscoa.
O que eu acho de tudo isto:
Eu acho que a Santíssima Virgem Maria e os Apóstolos cumpriam mesmo os quarenta dias de Quaresma, tal como defendiam São Jerónimo e o Papa São Leão Magno. "Mas então e aquela maldita citação de Eusébio?!"
Primeiro, São Jerónimo e São Leão saberiam dessa citação. O relato histórico de Eusébio era bem conhecido. Isso não os parou de dizer que os primeiros Cristãos viviam um tempo de quarenta dias de jejum antes da Páscoa.
Os Apóstolos instituiram um jejum estrito para ser guardado "no dia em que o Esposo lhes será tirado" (Lc 5, 35) - o dia a que chamamos Sexta-feira Santa. A tradição de "quarenta horas" mencionada por Ireneu provavelmente refere-se ao tempo estimado que Cristo esteve no túmulo (15h de Sexta até à madrugada de Domingo). Consequentemente, o jejum apostólico começou naquilo a que chamamos Sexta-feira Santa e acabou na Páscoa. Eusébio aqui está a falar sobre o "jejum estrito" antes da Páscoa - e não na época de preparação de 40 dias. Não devemos confundir os dois.
É claro, não podemos voltar atrás no tempo com uma câmera de filmar e descobrir com certeza. No entanto, temos o testemunho de grandes santos que estavam perto dos acontecimentos (Atanásio, Jerónimo, Concílio de Niceia, Gregório Magno). Tal como deve acontecer para a maior parte dos Católicos, quando em dúvida, sigam os Padres da Igreja!
Para os interessados, tanto Maria de Agreda como Ana Catarina Emmerich descrevem a Santíssima Virgem Maria a viver um jejum de quarenta dias.
Taylor Marshall
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