sábado, 26 de setembro de 2020

Prova única de divindade: sentir-se em casa em qualquer altar de qualquer país do mundo

[Neste ponto da história o Padre está num navio a fazer a travessia do Atlântico em direcção à Europa, prestes a oferecer Missa]
Senti-me que nem um bispo ao paramentar-me no pequeno altar - uma violação da lei liturgica que era justificada pela necessidade. Os paramentos de estilo italiano tinham uma sensação um pouco estranha, e o missal e o cálice pareciam muito pequenos. E não havia degraus para subir e descer. Mas eu saí do tapete anterior ao altar, benzi-me e comecei - "Introibo ad altare Dei". Imaginem a minha surpresa quando praticamente toda a congregação respondeu! "Ad Deum qui laetificat juventutem meam". 

Claro, eram italianos, e o Latim é muito parecido com a sua bela língua. Além disto, praticamente todos os homens italianos aprendem a servir à Missa, e em Itália é mais provável ter um homem velho no povo vir a coxear até ao altar para responder às orações do que encontrar um rapazinho em batina e sobrepeliz para servir à nossa Missa.

Então a Missa continuou, com as pessoas a sentarem-se, levantarem-se e ajoelharem-se na altura própria, apesar de o mais pequeno movimento do barco tornarem isto difícil e muitos, com bastante razão se desculparem de se ajoelharem excepto na consagração. Certamente não era uma distracção quando pensei, durante uma pausa nas orações, que bela criatura de Deus é esta nossa Igreja Católica, espalhada por toda a Terra, cobrindo até o mar, trazendo homens e mulheres de todas as terras e línguas a ajoelharem-se perante um altar comum. 

Aqui estava eu, um sacerdote americano, sem o menor conhecimento de qualquer língua estrangeira, a começar uma jornada que me levaria a vários países, e no entanto bastante em casa neste altar no meio do Oceano, tal como estaria em qualquer altar de qualquer dos países que ia visitar. 

Os mesmos arranjos, o mesmo missal, as mesmas orações, as mesmas cerimónias em qualquer lugar, apenas com pequenas e não-essenciais diferenças, o que tornaria o estudo dos costumes eclesiásticos dos vários lugares interessante sem ser distractivo. Certamente, pensei, nenhuma outra religião pode mostrar tamanha prova de divindade como esta. 

Pe. Michael Andrew Chapman, in Open My Heart: Travel Sketches By A Pilgrim Priest (1930)


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1 comentário:

Maria José Martins disse...

Pela 1ª vez na vida senti que a Missa em Latim era tudo aquilo que os seus defensores apregoam, depois de ler este texto.
Como pertenço à Geração Pós Vaticano II e, embora me recorde, ainda, de algumas vivências Litúrgicas em Latim, como era muito criança, sempre pensei que a Língua Vernácula fosse a melhor, dado que todos entendem e, também, porque sempre tive a sorte de viajar com sacerdotes portugueses, que nos resolviam esse problema...Daí, nunca ter refletido em como seria estar num País Estrangeiro, com pessoas totalmente desconhecidas, sem ENTENDER NADA da Missa! Realmente, falando todos a mesma Língua e, pelos vistos, a mais Fiel, "podíamos mesmo sentirmo-nos em casa, em qualquer Altar do mundo."
Nunca é tarde para aprender!
Obrigada