quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Breves sobre alguns aspectos da Confissão e da Comunhão

Quem tem acompanhado os meus escritos, nestas duas últimas décadas, saberá bem quanta amargura me traz escrever estes textos (como aliás já vos tenho confessado). Como todos sabeis não sou naturalmente um escritor. Para escrevinhar estes artigos tenho de violentar-me a mim mesmo; preciso, como dizer?, sentir-me e verificar que o essencial está entre a espada e a parede. 

É verdade que muitos, desconhecendo ou esquecendo expressões dos textos evangélicos, das pregações dos apóstolos, dos Padres da Igreja, dos seus Doutores e dos pregadores franciscanos, através dos séculos, me acoimam de injurioso, violento, psicopata(?), vazio de Caridade. 

E, por isso, concluem que estes escritos são indignos de um Sacerdote, rejeitando-os com veemência, recusando-se sequer a lê-los e a dar a conhecê-los. Não contesto as suas conclusões. Afinal quem sou eu para o fazer? Mas agradeço toda essa fúria e indignação colérica que brotando de corações tão benignos e misericordiosos seguramente se transformarão em preces, súplicas, penitências e mortificações por esta alma desgraçada.
 
(Procuro, aqui, tão só, tentar responder a questões que me foram postas)
 
1 - Sobre o Sacramento da Confissão:

a) Por parte do penitente: A Confissão, para ser válida, tem que, juntamente com a contrição[1], o propósito firme de emenda, a confissão integral de todos e cada um dos pecados graves, desde a última confissão, - o seu número, tipo, circunstância. 

Caso, depois de um exame atento e profundo da sua consciência, se tenha esquecido de confessar algum pecado mortal, não precisa de se voltar logo a confessar, bastando que na próxima confissão o faça. Se assim não for terá de fazer uma confissão geral, para seu grande alívio e verdadeira Comunhão com Deus, à qual trará também os pecados das confissões mal feitas. Tudo isto deveria ser ensinado nos Seminários, antes da Ordenação Sacerdotal. E mais deveria ser ensinado ao povo de Deus.

b) Por parte do Sacerdote: Quando um penitente, de boa-fé, se vai confessar e não “preenche” as condições requeridas o Padre poderá supôr que ele estará num estado de ignorância inculpável ou mesmo, de momento, invencível[2], pelo que, segundo a circunstância, lhe poderá dar a absolvição na esperança que volte e venha a reconhecer o que lhe falta; ou, sendo possível, poderá convidá-lo a adiar a absolvição até estar melhor preparado. 

Mas o que não será conveniente ou mesmo desaconselhável dizer (para não transformar um pecador material num pecador formal), em determinadas circunstâncias, deverá ser dito em homilias, sermões, retiros, conferências, palestras, escritos, etc.

c) Não raro sucede que muitos não contando coisas em confissão acabam por fazê-lo com todos os detalhes no psicanalista com frequentes resultados lastimáveis.

d) É bom e salutar que os cristãos se envergonhem de pecar. Mas não é bom nem salutar que se envergonhem de os confessar. Quem assim o faz com coragem e humildade ficará engrandecido aos olhos de Deus e do confessor.
 
2 - Sobre a Sagrada Comunhão:

a) Segundo percebi circula por aí uma ‘polémica’ sobre receber a Sagrada Comunhão na boca ou na mão. Alguns afirmam que outros disseram que para receber dignamente a Comunhão teria de se estar em comunhão eclesial com os nossos legítimos Pastores, a saber, os Bispos portugueses, alinhando com a recomendação de receber a Comunhão na mão. Ora, isto é, evidentemente, um dislate colossal senão mesmo uma chantagem altamente manipuladora - como se alguém dissesse: se queres Comungar terás que receber Nosso Senhor na mão.
 
i) A Lei Universal da Igreja que somente pode ser excepcionada por indulto determina que se Comungue na boca e de joelhos. O indulto, porém, não pode obrigar ninguém a receber a Comunhão na mão e/ou em pé. O Santo Padre é o único que poderá derrogar esta Lei Universal, pelo que estar em Comunhão eclesial significa está-lo com o legítimo Papa. Nenhum Bispo, Episcopado ou Conferência Episcopal poderá determinar algo que a ela se oponha. 

De resto, foi isso o que os nossos Bispos decidiram, a saber, não contradizer o Papa, mas tão só recomendar, em virtude dos conhecimentos (falíveis) que lhes foram transmitidos, que a Comunhão fosse recebida na mão. De contrário, para estar em comunhão eclesial com os Bispos teria de se romper a comunhão eclesial com o Santo Padre. Fazer desta recomendação um critério de comunhão eclesial ultrapassa a mais delirante das ficções. Como se o católico só pudesse Comungar se estivesse em comunhão com a DGS[3]! Espantoso.

b) Alguns Sacerdotes, cientes da adoração devida ao Sacramento do Corpo de Deus humanado, muito louvavelmente não se recusam, pelo contrário, a dar a Comunhão a quem a quer receber na boca e de joelhos. Porém, tomados de um zelo pouco esclarecido, não têm consciência de se entregarem a um sério risco de profanação em virtude de desinfectarem os dedos, imediatamente após a Comunhão, com receio de poder contagiar os outros fiéis. 

Ora está por provar, mesmo quando há contacto com a saliva dos fiéis, que daí resulte algum contágio. Não deixa, no entanto, de ser prudente fazê-lo, mas não do modo que acabo de referir. O Sacerdote adorador, fiel e prudente deverá em primeiro lugar purificar os dedos em água, preparada para o efeito, e somente depois proceder à desinfecção.
 
À Honra e Glória de CRISTO. Ámen.

Padre Nuno Serras Pereira
 
[1]“Na realidade, reconciliar-se com Deus supõe e inclui o apartar-se com lucidez e determinação do pecado, no qual se caiu. Supõe e inclui, portanto, o fazer penitência no sentido mais pleno do termo: arrepender-se, manifestar o arrependimento, assumir a atitude concreta do arrependido, que é a de quem se coloca no caminho do regresso ao Pai. Isto é uma lei geral, que cada um deve seguir na situação particular em que se encontra.” - Papa João Paulo II - Reconciliação e Penitência, nº 13 c
[2]Durante a confissão sacramental há que ter o cuidado de não contribuir para que um pecador material se transforme num pecador formal. Embora aqui haja também limites ou excepções como, por exemplo, no caso do aborto provocado.
[3] Direcção Geral de Saúde


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2 comentários:

Maria José Martins disse...

Como seria BOM se os nossos Bispos lessem e aplicassem o que diz este Senhor Padre!
Aconselhada por alguém, que também não concorda com esta imposição, de receber a Comunhão na mão, apesar de todos os argumentos sanitários... acabei por me RENDER, pois, ficar sem Comungar, mesmo fazendo-o Espiritualmente, é muito mais grave. E visto a CULPA não ser minha,
fui aconselhada a fazer um acto de humildade, acabando por CEDER!
Contudo, sei que muitos Crentes sofrem com tudo isto e se recusam a fazê-lo!
Só espero que Deus faça JUSTIÇA a todos os que se deliciam a BRINCAR de DITADORES, indo CONTRA a LEI DA IGREJA! Eles nem imaginam, quanto SOFRIMENTO, CONSTRANGIMENTO, CONFUSÃO, para não dizer CONTRATESTEMUNHO, pela falta de FÉ demonstrada, estão a causar!
E ainda nos acusam, alguns, de CISMÁTICOS e ORGULHOSOS!!

Anónimo disse...

A nota 3 é genial.