Mostrar mensagens com a etiqueta Doutrina Católica. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Doutrina Católica. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Maternidade da Santíssima Virgem Maria

Celebra-se hoje a Festa da Maternidade da Santíssima Virgem Maria. Apesar da estranheza de se celebrar a festa tão longe do Natal, há motivações históricas para isso. Foi no dia 11 de Outubro de 431, durante o I Concílio de Éfeso, que foi definido o primeiro dos quatro Dogmas Marianos: o Dogma da Divina Maternidade de Maria. O Papa Pio XI, em 1931, por causa do 15º Centenário do Concílio, instituiu a Festa litúrgica. 

O título de Mãe de Deus, entre todos os que são atribuídos à Virgem, é o mais glorioso. Ser a Mãe de Deus é, para Maria, a sua razão de ser, o motivo de todos os seus privilégios e das suas graças. 

Para nós, esse título encerra todo o Mistério da Encarnação, e nada mais vemos que seja, mais do que este, uma fonte de louvores para Maria e de alegria para nós.  

Santo Efrém pensava justamente que crer e afirmar que a Santíssima Virgem Maria é Mãe de Deus, é dar uma prova segura de nossa Fé. A Igreja, por isso, não celebra nenhuma festa de Maria sem louvá-la por esse privilégio. E, assim, saúda a Beata Mãe de Deus na Imaculada Concepção, na Natividade, na Assunção; e nós, na reza frequentíssima da Avé Maria, fazemos o mesmo.  

A heresia nestoriana 

Theotókos, Mãe de Deus, é o nome com o qual, nos séculos, tem sido designada Maria Santíssima. Fazer a história do Dogma da Maternidade Divina é fazer a história de todo o Cristianismo, porque o Nome havia entrado tão profundamente no coração dos fiéis que, quando Nestório, Patriarca de Constantinopla, ousou afirmar que Maria era apenas a mãe de um homem porque era impossível que Deus nascesse de uma mulher, o povo protestou escandalizado. 

Nestório defendia que Cristo não seria uma pessoa única, mas que Nele haveria uma natureza humana e outra divina, distintas uma da outra, e, por consequência, negava o ensinamento tradicional de que a Virgem Maria pudesse ser a "Mãe de Deus" (em grego, Theotokos), portanto Ela seria somente a "Mãe de Cristo" (em grego Cristokos), para restringir o Seu papel como mãe apenas da natureza humana de Cristo e não da sua natureza divina. 

Era Patriarca de Alexandria, à época, São Cirilo, o homem suscitado por Deus para defender a honra da Mãe do Seu Filho. Cirilo dizia estupefacto: "Espanta-me saber que há pessoas que pensam que a Santa Virgem não deva ser chamada Mãe de Deus. Se Nosso Senhor é Deus, Maria, que o pôs no mundo, não é a Mãe de Deus? Mas esta é a Fé que nos transmitiram os Apóstolos, mesmo que não tenham usado estes termos; e é a Doutrina que aprendemos dos Santos Padres".  

O Concílio de Éfeso 

Nestório, contudo, não mudou o seu pensamento, e o Imperador Teodósio II convocou a pedido dele um Concílio, que foi aberto em Éfeso no dia 24 de Junho de 431, sob a direção de São Cirilo, legado do Papa Celestino I, que já o havia autorizado a depor e excomungar Nestório. Estavam presentes cerca de 200 Bispos. 

O Concílio denunciou logo no começo os ensinamentos Nestório como errados, e decretou que Jesus é uma só Pessoa, e não duas pessoas distintas, Deus completo e homem completo, e declarou como Dogma que a Virgem Maria devia ser chamada de Theotokos, porque Ela concebeu e deu à luz Deus como um homem. Os Bispos proclamaram que "a Pessoa de Cristo é Una e Divina, e que a Santíssima Virgem deve ser reconhecida e venerada por todos na qualidade de Verdadeira Mãe de Deus", condenando o nestorianismo como heresia. E a condenação de suas heresias foi reafirmada novamente no Concílio de Calcedónia em 451 d.C. 

O Cânon 1-5 condenou Nestório e os seus seguidores como hereges: "Quem não confessar que o Emanuel é Deus e que a Santa Virgem é Mãe de Deus por essa razão seja anátema!"

Diante da decisão do Concílio, os cristãos em Éfeso entoaram cantos de triunfo, iluminaram a cidade e reconduziram a suas casas, com tochas acesas, os Bispos "vindos" - gritavam eles - "para nos devolver a Mãe de Deus e ratificar com a sua santa autoridade o que estava escrito em todos os corações".  

Os esforços de Satanás tinham conseguido, como sempre, o único resultado de preparar o Triunfo à Virgem, e os Padres do Concílio, para perpetuar a lembrança do acontecido, acrescentaram ao Ave Maria, segundo nos diz a Tradição, as palavras: "Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte". Milhões de pessoas recitam todos os dias esta oração, e reconhecem a Maria a glória de Mãe de Deus, que um herético pretendera negar.   

Maria, Verdadeira Mãe de Deus

Reconhecer que Maria é Verdadeira Mãe de Deus é coisa fácil. "Se o Filho da Santa Virgem é Deus", escreve Papa Pio XI na Encíclica Lux Veritatis, "Aquela que O gerou merece ser chamada Mãe de Deus; se a Pessoa de Jesus Cristo é Una e Divina, todos, sem dúvida, devem chamar Maria de Mãe de Deus, e não somente de Cristo Homem. Como as outras mulheres são chamadas, e são realmente mães, porque formaram nos seus ventres a nossa substância mortal, e não porque criaram a Alma humana, assim Maria adquiriu a Maternidade Divina por ter gerado a Única Pessoa do Seu Filho".   

Maria e Jesus

A Maternidade Divina une Maria ao Filho com um legame mais forte do que aquele que há entre as outras mães e os seus filhos. Estas não obram por si só a geração, e a Santa Virgem ao contrário, gerou o Filho, o Homem-Deus, com a Sua substância; e Jesus é prémio da Sua virgindade e pertence a Maria pela geração e pelo nascimento no tempo, pela amamentação com a qual O nutriu, pela educação que Lhe deu, pela autoridade materna exercitada sobre Ele. 

Maria e o Pai

A Maternidade Divina une de modo inefável Maria ao Pai. Maria tem por Filho o próprio Filho de Deus. Imita e reproduz no tempo a geração misteriosa com a qual o Pai gerou o Filho na Eternidade, restando assim associada ao Pai na Sua paternidade. "Se o Pai nos manifestou uma afeição tão sincera, dando-nos o Seu FIlho como Mestre e Redentor", dizia Bossuet, "o Amor que tinha por Vós, ó Maria, fez-Lhe conceber bem outros desígnios a Vosso respeito, e estabeleceu que Jesus fosse Vosso como é d'Ele, e para realizar conVosco uma Sociedade Eterna, quis que Vós fósseis a Mãe do Seu único Filho, e quis ser o Pai do Vosso Filho" (Discurso acerca da Devoção à Santa Virgem). 

Maria e o Espírito Santo
  
A Maternidade Divina une Maria ao Espírito Santo, porque, por obra do Espírito Santo, concebeu no Seu ventre o Verbo. Nesse sentido, Papa Leão XIII chama a Maria de Esposa do Espírito Santo (Enc. Divinum Munus, in fine; 9 de Maio de 1897), e Maria é do Espírito  Santo o Santuário Privilegiado, pelas inauditas maravilhas que operou n'Ela:

"Se Deus está com todos os santos", afirma São Bernardo, "está com Maria de um modo todo especial porque entre Deus e Maria o acordo é assim total que Deus não só se  uniu a Sua vontade, mas a Sua Carne, e com a Sua substância e aquela da Virgem fez um só Cristo; e Cristo, se não deriva todo inteiro de Deus e todo inteiro de Maria, todavia é todo inteiro Deus e todo inteiro de Maria, porque não há dois Filhos, mas um só Filho, que é Filho de Deus e da Virgem. O Anjo diz: 'Saúdo-te, o cheia de graça, o Senhor é contigo. É contigo não apenas o Senhor Filho, que revestiste da tua carne, mas o Senhor Espírito Santo do qual concebeste, e o Senhor Pai, que gera Aquele que tu concebeste. Está contigo o Pai que faz com que o Filho seja teu Filho; está contigo o Filho que, para realizar o Adorável Mistério, abre o teu seio miraculosamente e respeita o Sigilo da tua Virgindade; está contigo o Espírito Santo, que, com o Pai e o com o Filho, santifica o teu seio. Sim, o Senhor está contigo"  (3ª Homilia Super Missus Est).  

Maria Nossa Mãe

Saudando-Vos, hoje, com o belo título de Mãe de Deus, não esquecemos que "tendo dado a vida ao Redentor do Género Humano, por isso mesmo Vos tornastes Mãe Nossa Dulcíssima, e que Cristo nos quis por irmãos. Escolhendo-Vos por Mãe do Seu Filho, Deus Vos inculcou sentimentos completamente maternos, que respiram apenas Amor e Perdão" (Pio XI, Enc. Lux Veritatis).  

Desde a Glória do Céu, onde estais, lembrai-Vos de nós que Vos rogamos com tanta alegria e confiança. "O Omnipotente está em Vós, e Vós sois omnipotente com Ele, Omnipotente por causa d'Ele, Omnipotente depois d'Ele", como diz São Boaventura. Vós podeis Vos apresentar diante de Deus, não tanto para rogar, quanto para comandar, Vós sabeis que Deus atende infalivelmente a Vossos desejos. Nós somos, sem dúvida, pecadores, mas Vós Vos tornais Mãe de Deus por nossa causa, e "nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à Vossa protecção, implorado a Vossa assistência e reclamado o Vosso socorro fosse por Vós desamparado. Assim, animados com igual confiança, a Vós ó Virgem entre todas singular, como a Mãe recorremos, de Vós nos valemos, gemendo sob o peso de nossos pecados nos prostramos a Vossos pés. Não desprezeis as nossas súplicas, ó Mãe do Verbo de Deus humanado, mas dignai-vos de ouvi-las propícia e de nos alcançar o que Vos rogamos" (São Bernardo). 

A festa do dia 11 de Outubro
  
Em 1931 celebrava-se o 15° Centenário do Concílio de Éfeso, e Papa Pio XI pensou que seria "coisa útil e agradável aos fiéis meditar e reflectir sobre um Dogma tão importante" como o da Maternidade Divina, e, para deixar um testemunho perpétuo de sua devoção à Virgem, escreveu a Encíclica "Lux Veritatis", restaurou a Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, e instituiu uma Festa Litúrgica que "iria contribuir para desenvolver no Clero e nos fiéis a devoção para com a Grande Mãe de Deus, apresentando às famílias, como modelos, Maria e a Sagrada Família de Nazaré", para que sejam sempre mais respeitadas a santidade do matrimónio e a educação da juventude.  

Giulia d'Amore in Pale Ideas


blogger

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Alguém sabe o que é a Fé?

A palavra "Fé" surge muitas vezes no que dizemos, ouvimos e lemos mas nem sempre é simples precisar o que é realmente a "Fé". Deixamos aqui a definição que ensina a Igreja, que é muito conveniente saber de cor para poder explicar às outras pessoas. 

§ 2º - Da Fé  

860)  Que é a Fé?  
A  Fé e uma virtude sobrenatural, infundida por Deus em nossa alma, pela qual nós, apoiados na autoridade do mesmo Deus, acreditamos que é verdade tudo o que Ele revelou e por meio da Santa Igreja nos propõe para crer.  

861)  Como conhecemos as verdades reveladas por Deus?  
Conhecemos as verdades reveladas por Deus, por meio da Santa Igreja que é infalível, isto é, por meio do Papa, sucessor de São Pedro, e por meio dos Bispos que, em união com o Papa, são sucessores dos Apóstolos, os quais foram instruídos pelo próprio Jesus Cristo.  

862)  Temos nós a certeza de que são verdadeiras as doutrinas que a Santa Igreja nos ensina?  
Sim, temos a certeza absoluta de que são verdadeiras as doutrinas que a Santa Igreja nos ensina, porque Jesus Cristo empenhou a sua palavra, que a Igreja nunca se enganaria.  

863)  Com que pecado se perde a Fé?  
A  Fé perde-se negando ou duvidando voluntariamente, ainda que seja de um só artigo que nos é proposto para crer.  

864)  Como recuperamos a Fé?  
Recuperamos a Fé perdida, arrependendo-nos do pecado cometido e crendo de novo tudo o que crê a Santa Igreja.    

§ 3º - Dos mistérios  

865)  Podemos compreender todas as verdades da Fé?  
Não; não podemos compreender  todas as verdades da Fé, porque algumas destas verdades são mistérios. 

866)  Que são os mistérios?  
Os mistérios são verdades superiores à razão, as quais devemos crer, ainda que não as possamos compreender.  

867)  Por que devemos crer os mistérios?  
Devemos crer os mistérios, porque os revelou Deus, que, sendo Verdade e Bondade infinitas, não pode enganar-Se, nem enganar-nos.  

868)  São porventura os mistérios contrários à razão?  
Os mistérios são superiores, porém não contrários à razão; e até a própria razão nos persuade a admiti-los.  

869)  Por que os mistérios não podem ser contrários à razão?  
Os mistérios não podem ser contrários à razão, porque é o mesmo Deus quem nos deu  a luz  da razão, e quem  revelou os mistérios, e Ele não pode contradizer-Se a Si mesmo. 

in Catecismo de São Pio X


blogger

domingo, 18 de agosto de 2024

A santificação do Domingo e a obrigação da Santa Missa

O 3º Mandamento da Lei de Deus consiste em: Santificar os Domingos e festas de guarda. A Santificação do Domingo, o dia em que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos, faz-se dedicando esse dia de modo especial a Deus, agradecendo-Lhe o amor com que nos criou e nos salvou.

Dedicar este dia a Deus implica não trabalhar. Deus descansou depois de ter terminado a criação e abençoou e santificou esse dia (Gn 2, 3). 

Santificar este dia implica ir à Missa, o maior acto de culto que o homem pode oferecer a Deus. A Missa é a renovação incruenta do sacrifício da cruz, através do qual Jesus Cristo nos salvou, nos resgatou do pecado e da submissão ao diabo.

Ir à Missa aos Domingos e dias santos de guarda é um dos 5 preceitos da Igreja; os mínimos necessários para que nos possamos assumir como católicos.

E se não há Missa? Uma das prudentes máximas que a Igreja sempre usou é que ninguém é obrigado ao impossível. A maioria dos canonistas defende que um fiel está obrigado a ir à Missa se existe uma Missa católica a menos de 1 hora de carro do local onde se encontra. Caso exista a 3 horas ou 4 horas é uma coisa óptima e uma grande prova de amor que aquele fiel faça esse sacrifício para ir à Missa. Mas não está obrigado a isso, isto é, não peca se não o fizer.

No entanto, mesmo que não lhe seja possível ir à Missa, continua obrigado a santificar o Domingo: não trabalhando e rezando mais do que nos outros dias; especialmente durante o tempo que tinha guardado para ir à Missa. Ainda que nada possa substituir por inteiro o assistir à Santa Missa, quando o Céu que desce à Terra. É também um dia que deve ser dedicado à família, se possível também com tempos de oração em família.

A Deus é devido todo o nosso louvor e todo o arrependimento dos nossos pecados e das nossas misérias. Como disse o profeta David no Salmo 50: "Não desprezareis, Senhor, um coração humilhado e contrito."


blogger

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Foi Assumpta ao Céu a Virgem Santa Maria!

Foi em 1950, que o Papa Pio XII proclamou o dogma da Assunção de Nossa Senhora em corpo e alma aos Céus. Para tal, na sua Bula Munificentissimus Deus, o Santo Padre deixou-nos alguns fundamentos para afirmar a Assunção da nossa Mãe do Céu:

14. Os fiéis, guiados e instruídos pelos pastores, souberam por meio da Sagrada Escritura que a virgem Maria, durante a sua peregrinação terrestre, levou uma vida cheia de cuidados, angústias e sofrimentos; e que, segundo a profecia do santo velho Simeão, uma espada de dor lhe traspassou o coração, junto da cruz do seu divino Filho e nosso Redentor. E do mesmo modo, não tiveram dificuldade em admitir que, à semelhança do seu unigénito Filho, também a excelsa Mãe de Deus morreu. Mas essa persuasão não os impediu de crer expressa e firmemente que o seu sagrado corpo não sofreu a corrupção do sepulcro, nem foi reduzido à podridão e cinzas aquele tabernáculo do Verbo divino. Pelo contrário, os fiéis iluminados pela graça e abrasados de amor para com aquela que é Mãe de Deus e nossa Mãe dulcíssima, compreenderam cada vez com maior clareza a maravilhosa harmonia existente entre os privilégios concedidos por Deus àquela que o mesmo Deus quis associar ao nosso Redentor. Esses privilégios elevaram-na a uma altura tão grande, que não foi atingida por nenhum ser criado, exceptuada somente a natureza humana de Cristo.

16. De modo ainda mais universal e esplendoroso se manifesta esta fé dos pastores e dos fiéis, com a festa litúrgica da assunção celebrada desde tempos antiquíssimos no Oriente e no Ocidente. Nunca os santos padres e doutores da Igreja deixaram de haurir luz nesta solenidade, pois, como todos sabem, a sagrada liturgia, "sendo também profissão das verdades católicas, e estando sujeita ao supremo magistério da Igreja, pode fornecer argumentos e testemunhos de não pequeno valor para determinar algum ponto da doutrina cristã".[1]

20. A Liturgia da Igreja não cria a fé católica, mas supõe-na; e é dessa fé que brotam os ritos sagrados, como da árvore os frutos. Por isso os santos Padres e doutores nas homilias e sermões que nesse dia fizeram ao povo, não foram buscar essa doutrina à liturgia, como a fonte primária; mas falaram dela aos fiéis como de coisa sabida e admitida por todos. Declararam-na melhor, explicaram o seu significado e o fato com razões mais profundas, destacando e amplificando aquilo a que muitas vezes os livros litúrgicos apenas aludiam em poucas palavras, a saber, que com esta festa não se comemora somente a incorrupção do corpo morto da santíssima Virgem, mas principalmente o triunfo por ela alcançado sobre a morte e a sua celeste glorificação à semelhança do seu Filho unigénito, Jesus Cristo.

21. S. João Damasceno, que entre todos se distingue como pregoeiro dessa tradição, ao comparar a assunção gloriosa da Mãe de Deus com as suas outras prerrogativas e privilégios, exclama com veemente eloquência: "Convinha que aquela que no parto manteve ilibada virgindade conservasse o corpo incorrupto mesmo depois da morte. Convinha que aquela que trouxe no seio o Criador encarnado, habitasse entre os divinos tabernáculos. Convinha que morasse no tálamo celestial aquela que o Eterno Pai desposara. Convinha que aquela que viu o seu Filho na cruz, com o coração traspassado por uma espada de dor de que tinha sido imune no parto, contemplasse assentada à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse o que era do Filho, e que fosse venerada por todas as criaturas como Mãe e Serva do mesmo Deus".[2]

29. Entre os escritores sagrados que naquele tempo com vários textos, comparações e analogias tiradas das divinas Letras, ilustraram e confirmaram a doutrina da assunção em que piamente acreditavam, ocupa lugar primordial o doutor evangélico S. António de Pádua. Na festa da assunção, ao comentar aquelas palavras de Isaías: "glorificarei o lugar dos meus pés" (Is 60,13), afirmou com segurança que o divino Redentor glorificou de modo mais perfeito a sua Mãe amantíssima, da qual tomara carne humana. "Daqui, vê-se claramente", diz, "que o corpo da santíssima Virgem foi assunto ao céu, pois era o lugar dos pés do Senhor". Pelo que, escreve o Salmista: "Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca da vossa santificação" (Sl 131, 8). E assim como, acrescenta ainda, Jesus Cristo ressuscitou triunfante da morte e subiu para a direita do Pai, assim também "ressuscitou a Arca da sua santificação, quando neste dia a virgem Mãe foi assunta ao tálamo celestial".[3]

34. [...] Seguindo o comum sentir dos cristãos, recebido dos tempos antigos S. Roberto Belarmino exclamava: "Quem há, pergunto, que possa pensar que a arca da santidade, o domicílio do Verbo, o templo do Espírito Santo tenha caído em ruínas? Horroriza-se o espírito só com pensar que aquela carne que gerou, deu a luz, alimentou e transportou a Deus, se tivesse convertido em cinza ou fosse alimento dos vermes".[4]

35. De igual forma S. Francisco de Sales afirma que não se pode duvidar que Jesus Cristo cumpriu do modo mais perfeito o divino mandamento que obriga os filhos a honrar os pais. E a seguir faz esta pergunta: "Que filho haveria, que, se pudesse, não ressuscitava a sua mãe e não a levava para o céu?"[5] E S. Afonso escreve por sua vez: "Jesus não quis que o corpo de Maria se corrompesse depois da morte, pois redundaria em seu desdouro que se transformasse em podridão aquela carne virginal de que ele mesmo tomara a própria carne".[6]

38. Todos esses argumentos e razões dos santos Padres e teólogos apoiam-se, em último fundamento, na Sagrada Escritura. Esta nos apresenta a Mãe de Deus extremamente unida ao seu Filho, e sempre participante da sua sorte. Pelo que parece quase que impossível contemplar aquela que concebeu, deu à luz, alimentou com o seu leite, a Cristo, e o teve nos braços e apertou contra o peito, estivesse agora, depois da vida terrestre, separada dele, se não quanto à alma, ao menos quanto ao corpo.

40. Deste modo, a augustíssima Mãe de Deus, associada a Jesus Cristo de modo insondável desde toda a eternidade "com um único decreto" [7] de predestinação, imaculada na sua concepção, sempre virgem, na sua maternidade divina, generosa companheira do divino Redentor que obteve triunfo completo sobre o pecado e suas consequências, alcançou por fim, como suprema coroa dos seus privilégios, que fosse preservada da corrupção do sepulcro, e que, à semelhança do seu divino Filho, vencida a morte, fosse levada em corpo e alma ao céu, onde refulge como Rainha à direita do seu Filho, Rei imortal dos séculos (cf. 1Tm 1,17).


44. "Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus omnipotente que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos s. Pedro e s. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial".

45. Pelo que, se alguém, o que Deus não permita, ousar, voluntariamente, negar ou pôr em dúvida esta nossa definição, saiba que naufraga na fé divina e católica.

47. A ninguém, pois, seja lícito infringir esta nossa declaração, proclamação e definição, ou temerariamente opor-se-lhe e contrariá-la. Se alguém presumir intentá-lo, saiba que incorre na indignação de Deus omnipotente e dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo.

Dado em Roma, junto de São Pedro, no ano do jubileu maior, de 1950, no dia 1° de Novembro, festa de todos os santos, no ano XII do nosso pontificado.

Neste dia tão especial, recorramos à nossa Mãe, ela que é a Medianeira de todas as graças, com confiança, sabendo as palavras do Papa Leão XIII, no ponto 12 da sua Carta Encíclica Octobri Mense:

Por consequência, pode-se com toda a verdade e rigor afirmar que, por divina disposição, nada nos pode ser comunicado, do imenso tesouro da graça de Cristo - sabe-se que "a glória e a verdade vieram de Jesus Cristo" (Jo 1, 17), - senão por meio de Maria. De modo que, assim como ninguém pode achegar-se ao Pai Supremo senão por meio do Filho, assim também, ordinariamente, ninguém pode achegar-se a Cristo senão por meio de sua Mãe.

Honremos, então, a Santíssima Virgem, cantando-lhe o que ela mesma cantou:

Em Latim:

Magnificat anima mea Dominum
Et exultavit spiritus meus in Deo salutari meo.
Quia respexit humilitatem ancillæ suæ: ecce enim ex hoc beatam me dicent omnes generationes.
Quia fecit mihi magna qui potens est, et sanctum nomen eius.
Et misericordia eius a progenie in progenies timentibus eum.
Fecit potentiam in brachio suo, dispersit superbos mente cordis sui.
Deposuit potentes de sede et exaltavit humiles.
Esurientes implevit bonis et divites dimisit inanes,
Suscepit Israel puerum suum recordatus misericordiæ suæ,
Sicut locutus est ad patres nostros, Abraham et semini eius in sæcula.

Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto
Sicut erat in principio, et nunc, et semper, et in saecula saeculorum.
Amen.

Em Português:

A minha alma glorifica o Senhor
E o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
Porque pôs os olhos na humildade da sua Serva: de hoje em diante me chamarão bem aventurada todas as gerações.
O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas: santo é o seu nome.
A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem.
Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos.
Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes.
Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias.
Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia,
Como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo
Como era no princípio, agora e sempre.

Amén.

Regina in caelum assumpta, ora pro nobis!

PF

Notas:

[1] Pio XII, Carta Enc. Mediator Dei
[2] S. João Damasceno, Encomium in Dormitionem Dei Genetricis semperque Virginis Mariae, hom. II, 14
[3] S. António de Padua, Sermones dominicales et in solemnitatibus. In Assumptione S. Mariae Virginis Sermo
[4] S. Roberto Belarmino, Conciones habitae Lovanii, concio 40: De Assumptione B. Mariae Virginis
[5] S. Francisco de Sales, Sermon autographe pour la fête de l'Assomption
[6] S. Afonso Maria de Ligório, As glórias de Maria, parte II, disc. 1
[7] Pio IX, Bula Ineffabilis Deus


blogger

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Cânones de Trento sobre o Sacrifício da Missa

Cân. I - Se alguém disser que não se oferece a Deus na Missa um verdadeiro e apropriado sacrifício ou que este oferecimento não é outra coisa senão recebermos a Cristo para que o possamos engolir, seja excomungado.

Cân. II - Se alguém disser que naquelas palavras: "Fazei isto em memória de Mim", Cristo não instituiu como sacerdotes os Apóstolos, ou que não lhes ordenou e aos demais sacerdotes que oferecessem Seu Corpo e Sangue, seja excomungado.

Cân. III - Se alguém disser que o sacrifício da Missa é apenas um sacrifício de elogio e de ação de graças, ou mera recordação do sacrifício consumado na cruz, mas que não é próprio, ou que apenas é aproveitável àquele que o recebe, e que não se deve oferecer pelos vivos nem pelos mortos, pelos pecados, penas, satisfações nem outras necessidades, seja excomungado.

Cân. IV - Se alguém disser que se comete blasfêmia contra o Santíssimo Sacrifício que Cristo consumou na cruz ao se realizar o sacrifício da Missa, ou que por este se anula aquele, seja excomungado.

Cân. V - Se alguém disser que é uma impostura celebrar Missas em honra dos Santos e com a finalidade de obter sua intercessão junto a Deus como ensina a Igreja, seja excomungado.

Cân. VI - Se alguém disser que o Cânon da Missa contém erros, e que por esta razão ela deve ser anulada, seja excomungado.

Cân. VII - Se alguém disser que as cerimônias, vestimentas, e sinais externos que usa a Igreja Católica na celebração das Missas, são muito mais incentivos de impiedade que obséquios piedosos, seja excomungado.

Cân. VIII - Se alguém disser que as missas nas quais apenas o sacerdote comunga sacramentalmente são ilícitas, e que por este motivo devem ser abolidas, seja excomungado.

Cân. IX - Se alguém disser que deve ser condenado o ritual da Igreja Romana devido ao fato que algumas palavras do Cânon, e as palavras da consagração são ditas em voz baixa, ou que a Missa deve ser dita sempre em língua vulgar, ou que não se deve misturar água ao vinho do cálice que será oferecido, porque isto é contra a instituição de Cristo, seja excomungado.


blogger

domingo, 30 de junho de 2024

Tu es Petrus

Tu es Petrus, et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam


blogger

domingo, 26 de maio de 2024

Símbolo Atanasiano: um resumo da Fé Católica na Santíssima Trindade

Quem quiser salvar-se deve antes de tudo professar a Fé Católica. Porque aquele que não a professar, integral e inviolavelmente, perecerá sem dúvida por toda a eternidade.

A Fé Católica consiste em adorar um só Deus em três Pessoas e três Pessoas em um só Deus. Sem confundir as Pessoas nem separar a substância. Porque uma só é a Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo. Mas uma só é a divindade do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, igual a glória, coeterna a majestade. Tal como é o Pai, tal é o Filho, tal é o Espírito Santo.

O Pai é incriado, o Filho é incriado, o Espírito Santo é incriado. O Pai é imenso, o Filho é imenso, o Espírito Santo é imenso. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno. E contudo não são três eternos, mas um só eterno. Assim como não são três incriados, nem três imensos, mas um só incriado e um só imenso. Da mesma maneira, o Pai é omnipotente, o Filho é omnipotente, o Espírito Santo é omnipotente. E contudo não são três omnipotentes, mas um só omnipotente.

Assim o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. E contudo não são três deuses, mas um só Deus. Do mesmo modo, o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor. E contudo não são três senhores, mas um só Senhor. Porque, assim como a verdade crista nos manda confessar que cada uma das Pessoas é Deus e Senhor, do mesmo modo a religião católica nos proíbe dizer que são três deuses ou senhores.

O Pai não foi feito, nem gerado, nem criado por ninguém. O Filho procede do Pai; não foi feito, nem criado, mas gerado. O Espírito Santo não foi feito, nem criado, nem gerado, mas procede do Pai e do Filho. Não há, pois, senão um só Pai, e não três Pais; um só Filho, e não três Filhos; um só Espírito Santo, e não três Espíritos Santos. E nesta Trindade não há nem mais antigo nem menos antigo, nem maior nem menor, mas as três Pessoas são coeternas e iguais entre si. Em tudo se deve adorar a unidade na Trindade e a Trindade na unidade. Quem, pois, quiser salvar-se, deve pensar assim a respeito da Trindade. 

Mas, para alcançar a salvação, é necessário ainda crer firmemente na Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo. A pureza da nossa fé consiste, pois, em crer ainda e confessar que Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem.

É Deus, gerado na substancia do Pai desde toda a eternidade; é homem porque nasceu, no tempo, da substância da sua Mãe. Deus perfeito e homem perfeito, com alma racional e carne humana. Igual ao Pai segundo a divindade; menor que o Pai segundo a humanidade. E embora seja Deus e homem, contudo não são dois, mas um só Cristo. É um, não porque a divindade se tenha convertido em humanidade, mas porque Deus assumiu a humanidade. Um, finalmente, não por confusão de substâncias, mas pela unidade da Pessoa.

Porque, assim como a alma racional e o corpo formam um só homem, assim também a divindade e a humanidade formam um só Cristo. Ele sofreu a morte por nossa salvação, desceu aos infernos e ao terceiro dia ressuscitou dos mortos. Subiu aos Céus e está sentado a direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos. E quando vier, todos os homens ressuscitarão com os seus corpos, para prestar conta dos seus actos.

E os que tiverem praticado o bem irão para a vida eterna, e os maus para o fogo eterno. Esta é a fé católica, e quem não a professar fiel e firmemente não se poderá salvar.


blogger

segunda-feira, 29 de abril de 2024

A heresia é o pecado dos pecados

A suprema deslealdade para com Deus é a heresia. É o pecado dos pecados, a mais repugnante das coisas que Deus desdenha neste mundo enfermo. No entanto, quão pouco entendemos da sua enorme odiosidade! É a poluição da verdade de Deus, que é a pior de todas as impurezas.

Porém, quão pouca importância damos à heresia! Fitamo-la e permanecemos calmos... Tocamo-la e não trememos. Misturamos-nos com ela e não temos medo. Vemo-la tocar nas coisas sagradas e não temos nenhum sentido do sacrilégio. Inalamos o seu odor e não mostramos qualquer sinal de abominação ou de nojo. De entre nós, alguns simpatizam com ela e alguns até atenuam a sua culpa. Não amamos a Deus o suficiente para nos enraivecermos por causa da Sua glória. Não amamos os homens o suficiente para sermos caridosamente verdadeiros por causa das suas almas.

Tendo perdido o tacto, o paladar, a visão e todos os sentidos das coisas celestiais, somos capazes de morar no meio desta praga odiosa, imperturbavelmente tranquilos, reconciliados com a sua repulsividade, e não sem proferirmos declarações em que nos gabamos de uma admiração liberal, talvez até com uma demonstração solícita de simpatia tolerante.

Por que estamos tão abaixo dos antigos santos, e até dos modernos apóstolos destes últimos tempos, na abundância das nossas conversões? Porque não temos a antiga firmeza! Falta-nos o velho espírito da Igreja, o velho génio eclesiástico. A nossa caridade não é sincera porque não é severa, e não é persuasiva porque não é sincera. 

Falta-nos a devoção à verdade enquanto verdade, enquanto verdade de Deus. O nosso zelo pelas almas é fraco, porque não temos zelo pela honra de Deus. Agimos como se Deus ficasse lisonjeado pelas conversões, e não pelas almas trémulas, salvas por uma abundância de misericórdia. 

Dizemos aos homens a metade da verdade, a metade que melhor convém à nossa própria pusilanimidade e aos seus próprios preconceitos. E, então, admiramo-nos que tão poucos se convertam e que, desses tão poucos, tantos apostatem. 

Somos tão fracos a ponto de nos surpreendermos que a nossa meia-verdade não tenha tanto sucesso como a verdade completa de Deus. 

Onde não há ódio à heresia, não há santidade. Um homem, que poderia ser um apóstolo, torna-se uma úlcera na Igreja por falta de recta indignação.

Pe. Frederick William Faber in 'The Precious Blood' (Tan Books and Publishers - 2009)


blogger

sábado, 2 de março de 2024

22 documentos da Igreja que todos os católicos deveriam ler

Os católicos, em geral, ignoram a grande maioria dos textos do Magistério que foram escritos antes do Concílio Vaticano II. Como a verdade é perene, e por isso não muda, estes textos mantêm-se actuais em tudo o que se relaciona com a Fé e Moral. Deixamos aqui uma lista, não exaustiva, de textos que nos podem ajudar a amar mais a Deus e aos outros. Para abrir o texto, em português, basta clicar no nome de cada um dos documentos:

1. Unam sanctam - Bula do Papa Bonifácio VIII;

2. Mirari vos - Carta encíclica do Papa Gregório XVI;

3. Quanta cura - Carta encíclica do Papa Pio IX;

4. Syllabus errorum - Apêndice da encíclica Quanta cura do Papa Pio IX; 

5. Dei Filius - Constituição Dogmática do Concílio Vaticano I;

6. Pastor aeternus - Constituição Dogmática do Concílio Vaticano I;

7. Satis cognitum - Carta encíclica do Papa Leão XIII; 

8. Testem benevolentiae nostrae - Carta do Papa Leão XIII; 

9. Humanum genus - Carta encíclica do Papa Leão XIII;

10. Libertas praestantissimum - Carta encíclica do Papa Leão XIII;

11. Aeterni patris - Carta encíclica do Papa Leão XIII; 

12. Pascendi Dominici gregis - Carta encíclica do Papa Pio X; 

13. Lamentabili - Decreto do Papa Pio X; 

14. Juramento contra o modernismo - Incluído no Motu proprio Sacrorum antistitum do Papa Pio X;

15. Haerent animo - Exortação ao clero do Papa Pio X; 

16. Doctoris angelici - Motu proprio do Papa Pio X; 

17. Quas primas - Carta encíclica do Papa Pio XI; 

18. Casti connubii - Carta encíclica do Papa Pio XI;

19. Sacra virginitas - Carta encíclica do Papa Pio XII; 

20. Humani generis - Carta encíclica do Papa Pio XII;

21. Mediator Dei - Carta encíclica do Papa Pio XII; 

22. Veritatis splendor - Carta encíclica do Papa João Paulo II.


blogger

sexta-feira, 1 de março de 2024

Como lucrar Indulgências Plenárias na Quaresma

A doutrina Católica das indulgências do século XVI, durante a revolta de Lutero, é exactamente igual à doutrina das indulgências do século XXI. Ensina o Catecismo da Igreja Católica (n. 1471) que:

"A indulgência é a remissão, perante Deus, da pena temporal devida aos pecados cuja culpa já foi apagada; remissão que o fiel devidamente disposto obtém em certas e determinadas condições pela acção da Igreja que, enquanto dispensadora da redenção, distribui e aplica, por sua autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos"

Ou seja, toda a ofensa cometida por alguém tem duas componentes que devem ser tidas em conta:

1. É preciso pedir desculpa à pessoa ofendida e
2. É preciso saldar a dívida com essa mesma pessoa, isto é, reparar o mal que se fez.

Basta pensar no caso simples em que se rouba dinheiro a alguém: não basta pedir desculpa, é preciso também devolver o dinheiro roubado, especialmente se for uma quantia bem grande.

Ora, nesta vida, todo o mal que se faz é, em última análise, uma ofensa a Deus - e, como em todas as ofensas, para voltar a estar em perfeita relação com Deus, tem que se cumprir os dois pontos acima.

O problema, claro, é que Deus é um ser simples, não tem partes, logo uma ofensa a Deus ofende-o em toda a sua medida, que é uma medida infinita. O homem, sendo finito, nunca consegue reparar os seus pecados. A verdade é que devolver 1 milhão de euros a alguém já é complicado, mas infinitos euros é impossível.

Felizmente a história que o Cristianismo nos ensina nos Evangelhos é uma história que acaba bem. Surgiu um Homem que conseguiu reparar na medida infinita de Deus, precisamente por também ser Deus. Com a Sua Paixão, Jesus permitiu a cada homem saldar a dívida que tem para com Deus, por muito grande que ela fosse!

Como em tudo na vida, a vontade pessoal tem um papel preponderante e, portanto, é preciso dizer a Deus que sim, que queremos usar mesmo essas graças conquistadas por Cristo.

A maneira de fazer isto é, claro, indo aos sacramentos, mas também ganhando méritos com obras - obras de caridade, de piedade, ... - que permitem ganhar indulgências. Rezar uma Ave Maria, por exemplo, dá-nos uma indulgência parcial.

As indulgências podem ser parciais ou plenárias e, como o próprio nome indica, as parciais reparam parte da dívida que temos para com Deus e as plenárias reparam totalmente essa dívida.

A Igreja Católica, no seu poder e função de santificar o povo de Deus, permite-nos ganhar indulgências plenárias com determinados actos de piedade. Alguns deles estão descritos aqui.

A Quaresma, culminando no Tríduo Pascal, é também um tempo rico para se ganhar indulgências plenárias e ficarmos Santos. Aqui ficam as indulgências plenárias que se podem ganhar só na Quaresma:
  • Todas as 6ªs-feiras:  Rezar a oração En ego, o bone et dulcissime Iesu (Ó bom e dulcíssimo Jesus) depois de receber a Sagrada Comunhão, diante de uma imagem de Jesus crucificado.
  • Via-Sacra: Rezar as 14 estações da Via Sacra diante de estações legitimamente erigidas, meditando na Paixão de Jesus em cada uma delas;
  • 5ª-feira Santa: Rezar o Tantum Ergo (Veneremos Adoremos) depois da Santa Missa da Ceia do Senhor;
  • 6ª-feira Santa: Participar na celebração da Paixão, com a veneração da Cruz do Senhor;
  • Sábado Santo: Renovar os votos do Baptismo na Santa Missa da Vigília Pascal (também há indulgência plenária a quem o faz no aniversário do próprio Baptismo);
  • Domingo de Páscoa: Receber a benção que o Papa dá na Basílica de S. Pedro às 12h00m (GMT+1), ao vivo ou pelos meios de comunicação social, desde que seja em directo.
É importante lembrar que a indulgência não é o perdão dos pecados, mas apenas a reparação das penas que vêm dos pecados. Aliás, isso mesmo está explícito nas condições para se receber uma indulgência plenária. Para se a indulgência plenária ter efeito é preciso:

1. Ter uma disposição interior de afastamento total de todo o pecado, mesmo do pecado venial;
2. Estar confessado;
3. Receber a Sagrada Comunhão;
4. Rezar pelas orações do Santo Padre (pode ser qualquer uma, mas a Santa Sé recomenda um "Pai Nosso" e uma "Ave Maria).

A Santa Sé também diz que é preferível que a Confissão e a Comunhão relativas à indulgência aconteçam no dia em que se pede a indulgência, mas pode ser antes ou depois (num intervalo máximo de 20 dias).

As indulgências plenárias só se podem receber uma vez por dia e só se podem aplicar ou à própria pessoa ou a alguém que já tenha morrido mas que ainda tenha penas para reparar, ou seja, que ainda esteja no Purgatório. Mais informações detalhadas pela Santa Sé podem ser encontradas aqui.

É importante reforçar que a Confissão é necessária para se receber a indulgência!

Nuno CB


blogger