terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Iniciamos os santos 40 dias da Quaresma

Iniciamos os santos quarenta dias da Quaresma, e convém-nos examinar atentamente por que razão esta abstinência é observada durante quarenta dias. Moisés, para receber a Lei pela segunda vez, jejuou quarenta dias (Gn 34,28). Elias, no deserto, absteve-se de comer durante quarenta dias (1Rs 19,8). O Criador dos homens, ao vir para o meio dos homens, não tomou qualquer alimento durante quarenta dias (Mt 4,2). 

Esforcemo-nos também nós, tanto quanto nos for possível, por refrear o nosso corpo pela abstinência neste tempo anual dos santos quarenta dias, a fim de nos tornarmos, segundo a palavra de Paulo, «uma hóstia viva» (Rom 12,1). O homem é, ao mesmo tempo, uma oferenda viva e imolada (cf Ap 5,6) quando, sem deixar esta vida, faz morrer nele os desejos deste mundo.

Foi a satisfação da carne que nos levou ao pecado (Gn 3,6); que a carne mortificada nos leve ao perdão. O autor da nossa morte, Adão, transgrediu os preceitos de vida comendo o fruto proibido da árvore. É por conseguinte necessário que nós, que fomos privados das alegrias do Paraíso pelo alimento, nos esforcemos por reconquistá-las pela abstinência. 

Mas ninguém suponha que esta abstinência é suficiente. O Senhor disse pela boca do profeta: «O jejum que Eu aprecio é este, [...] repartir o teu pão com o esfomeado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir o nu, e não desprezar o teu irmão» (Is 58,6-7). Eis o jejum que Deus aprova: um jejum realizado no amor ao próximo e impregnado de bondade. Prodigaliza pois aos outros daquilo que retiras a ti próprio; assim, a tua penitência corporal permitir-te-á cuidar do bem-estar físico do teu próximo em necessidade.

São Gregório Magno in 'Homilias sobre os evangelhos' nº16, 5


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Diocese enterra 700 crianças assassinadas

O Padre Joseph Nguyen Van Tich, do Comité Pró-Vida da Diocese de Xuan Loc (Vietname), celebrou o enterro de 700 bebés abortados. Milhares de pessoas estiveram presentes. 

Este grupo pró-vida começou em 2011 e, até agora, enterrou mais de 62 mil crianças assassinadas, segundo LeSalonBeige.fr.

Antes dos enterros, as crianças mortas foram limpas com álcool, embrulhadas em linho branco, receberam um nome e dispostas na igreja com flores.

Os voluntários pró-vida recolhem entre 700 e 1500 crianças assassinadas por mês.

in gloria.tv


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sábado, 25 de fevereiro de 2023

Peregrinação Summorum Pontificum 2022



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Procissão Carmelita




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Rota de São Nuno 2023

Após o sucesso dos últimos anos, este Verão os seminaristas da FSSP vão organizar, mais uma vez, em Portugal, um campo de férias para jovens: a Rota de São Nuno.

Este ano o percurso será feito na Costa Oeste (Aljubarrota-Peniche), faremos 6 dias de caminhada (entre 10 a 20 Km por dia) e dormiremos em tendas e por vezes ao relento.

A 3ª edição da Rota será de 10 de Julho (Segunda-Feira) a 16 de Julho (Domingo) de 2023.

A data-limite de inscrição e pagamento é dia 4 de maio. O campo custa 100€* com tudo incluído. Para as inscrições enviar um email para rotasaonuno@gmail.com a pedir para se inscrever. Os inscritos receberão um email com informações mais detalhadas, por exemplo: lista de material a levar, percurso, catequeses. Se tiver dúvidas não hesite em enviar um email.

Rumo à Santidade!

* A questão financeira não deve ser um impedimento, para nós o mais importante é a participação dos rapazes. Temos também descontos no caso de inscrição de 2 ou mais membros de uma família. Em caso de necessidade, por favor contacte-nos.


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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Cardeal Roche desobedeceu explicitamente ao Papa Bento

O Cardeal Roche "minou deliberadamente " o motu proprio Summorum Pontificum de Bento XVI, escreve James Baresel (CatholicWorldReport.com), e agora insiste na obediência cega ao Traditionis Custodes.

Em 2007, quando era Bispo de Leeds (Inglaterra), Roche publicou uma "interpretação" do Summorum Pontificum, na qual fez o possível para o anular. Pediu grupos estáveis dentro de uma paróquia constituídos apenas pelos fiéis que já assistiam à Missa, excluindo aqueles que assim o desejavam.

Roche insistiu que tinha autoridade para determinar se um Padre estava "qualificado" para celebrar a Missa e proibiu os seus Sacerdotes de celebrarem a Missa num dia da semana se outra Eucaristia estivesse marcada para esse dia.

Devido a desobediências como a de Roche, a Congregação para o culto Divino condenou interpretações que "inexplicavelmente" procuravam limitar o Summorum Pontificum, declarando que tais Bispos se permitiam "ser utilizados como instrumentos do diabo".

Em Abril de 2011, a instrução da Santa Sé 'Universae Ecclesiae' explicou que um grupo estável poderia ser constituído por pessoas de diferentes paróquias ou dioceses e que qualquer Sacerdote Católico, não impedido pelo direito canónico, estava qualificado para celebrar a Missa Tradicional.

Foi o Papa Bento XVI que, em Junho de 2012, escolheu Roche como Secretário da Congregação para o Culto Divino.

in gloria.tv


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Normas para o jejum, abstinência e penitência

Determinações relativas ao jejum e à abstinência 

4. O jejum e a abstinência são obrigatórios em Quarta-Feira de Cinzas e em Sexta-Feira Santa. 

5. A abstinência é obrigatória, no decurso do ano, em todas as sextas-feiras que não coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades. Esta forma de penitência reveste-se, no entanto, de significado especial nas sextas-feiras da Quaresma. 

6. O preceito da abstinência obriga os fiéis a partir dos 14 anos completos. O preceito do jejum obriga os fiéis que tenham feito 18 anos até terem completado os 59. Aos que tiverem menos de 14 anos, deverão os pastores de almas e os pais procurar atentamente formá-los no verdadeiro sentido da penitência, sugerindo-lhes outros modos de a exprimirem. 

7. As presentes determinações sobre o jejum e a abstinência apenas se aplicam em condições normais de saúde, estando os doentes, por conseguinte, dispensados da sua observância. 

Determinações relativas a outras penitências

8. Nas sextas-feiras poderão os fiéis cumprir o preceito penitencial, quer fazendo penitência como acima ficou dito, quer escolhendo formas de penitência reconhecidas pela tradição, tais como a oração e a esmola, ou mesmo optar por outras formas, de escolha pessoal, como, por exemplo, privar-se de fumar, de algum espectáculo, etc. 

 9. No que respeita à oração, poderão cumprir o preceito penitencial através de exercícios de oração mais prolongados e generosos, tais como: o exercício da via-sacra, a recitação do rosário, a recitação de Laudes e Vésperas da Liturgia das Horas, a participação na Santa Eucaristia, uma leitura prolongada da Sagrada Escritura. 

10. No que respeita à esmola, poderão cumprir o preceito penitencial através da partilha de bens materiais. Essa partilha deve ser proporcional às posses de cada um e deve significar uma verdadeira renúncia a algo do que se tem ou a gastos dispensáveis ou supérfluos. 

11. Os cristãos que escolherem como forma de cumprimento do preceito da penitência uma participação pecuniária orientarão o seu contributo penitencial para uma finalidade determinada, a indicar pelo Bispo diocesano. 

12. Os cristãos depositarão o seu contributo penitencial em lugar devidamente identificado em cada igreja ou capela, ou através da Cúria diocesana. Na Quaresma, todavia, em vez desta modalidade ou concomitantemente com ela, o contributo poderá ser entregue no ofertório da Missa dominical, em dia para o efeito fixado. 

As formas de penitência não se excluem mas completam-se mutuamente 

13. É aconselhável que, no cumprimento do preceito penitencial, os cristãos não se limitem a uma só forma de penitência, mas antes as pratiquem todas, pois o jejum, a oração e a esmola completam-se mutuamente, em ordem à caridade. 

Normas publicadas pela Conferência Episcopal com data de 28 de Janeiro de 1985


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Para quê fazer penitência na Quaresma?




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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Doutor da Igreja alertou para as horríveis consequências da Sodomia

São Pedro Damião (1007 e 1072) foi um monge reformador, que escreveu um livro a explicar o grande mal das relações entre pessoas do mesmo sexo, especialmente membros do Clero; e a grande corrupção que vinha daí para a Igreja. Este aviso é mais actual do que nunca:

Este vício não é absolutamente comparável a nenhum outro, porque supera a todos em enormidade. Este vício produz, com efeito, a morte dos corpos e a destruição das almas. Polui a carne, extingue a luz da inteligência, expulsa o Espírito Santo do templo do coração do homem, nele introduzindo o diabo que é o instigador da luxúria. 

Conduz ao erro, subtrai totalmente a verdade da alma enganada, prepara armadilhas para os que nele incorrem, obstrui o poço para que daí não saiam os que nele caem. Abre-lhes o inferno, fecha-lhes a porta do Céu; torna herdeiro da infernal Babilónia aquele que era cidadão da celeste Jerusalém, transformando-o de estrela do céu em palha para o fogo eterno. Arranca o membro da Igreja e lança-o no voraz incêndio da geena ardente.

Tal vício busca destruir as muralhas da pátria celeste e tornar redivivos os muros da Sodoma calcinada. Ele viola a temperança, mata a pureza, jugula a castidade, trucida a virgindade, que é irrecuperável, com a espada da mais infame união. Tudo infecta, tudo macula, tudo polui, e tanto quanto está em si, nada deixa puro, nada alheio à imundície, nada limpo. Para os puros, como diz o Apóstolo, todas as coisas são puras; para os impuros e infiéis, nada é puro, mas estão contaminados o seu espírito e a sua consciência (Tit. I, 15).

Esse vício expulsa do coro da assembleia eclesiástica e obriga a unir-se com os energúmenos e com os que trabalham com o diabo, separa a alma de Deus para ligá-la aos demónios. Essa pestilentíssima rainha dos sodomitas torna os que obedecem às leis de sua tirania torpes aos homens e odiáveis a Deus. 

Impõe nefanda guerra contra Deus e obriga a alistar-se na milícia do espírito perverso, separa do consórcio dos Anjos e, privando-a da sua nobreza, impinge à alma infeliz o jugo do seu próprio domínio. Despoja os seus sequazes das armas das virtudes e expõe-os, para que sejam transpassados, aos dardos de todos os vícios. Humilha na Igreja, condena no fórum, conspurca secretamente, desonra em público, rói a consciência como um verme, queima a carne como o fogo.

Arde a mísera carne com o furor da luxúria, treme a fria inteligência com o rancor da suspeita, e no peito do homem infeliz agita-se um caos como que infernal, sendo ele atormentado por tantos aguilhões da consciência quanto é torturado pelos suplícios das penas. Sim, tão logo a venenosíssima serpente tiver cravado os dentes na alma infeliz, imediatamente fica ela privada de sentidos, desprovida de memória, embota-se o gume da sua inteligência, esquece-se de Deus e até mesmo de si. 

Com efeito, essa peste destrói os fundamentos da fé, desfibra as forças da esperança, dissipa os vínculos da caridade, aniquila a justiça, solapa a fortaleza, elimina a esperança, embota o gume da prudência. E que mais direi, uma vez que ela expulsa do templo do coração humano toda a força das virtudes e aí introduz, como que arrancando as trancas das portas, toda a barbárie dos vícios?

Com efeito, aquele a quem essa atrocíssima besta tenha engolido, entre as suas fauces cruentas, impede-lhe, com o peso das suas correntes, a prática de todas as boas obras, precipitando-a em todos os despenhadeiros da sua péssima maldade. Assim, tão logo alguém tenha caído nesse abismo de extrema perdição, torna-se um desterrado da pátria celeste, separa-se do Corpo de Cristo. É confundido pela autoridade de toda a Igreja, condenado pelo juízo de todos os Santos Padres, desprezado entre os homens na terra, reprovado pela sociedade dos cidadãos do Céu, cria para si uma terra de ferro e um céu de bronze. 

Por um lado, não consegue levantar-se, agravado que está pelo peso do seu crime, por outro, não consegue mais ocultar o seu mal no esconderijo da ignorância, não pode ser feliz enquanto vive, nem ter esperança quando morre, porque, agora, é obrigado a sofrer o opróbrio da derrisão dos homens e, depois, o tormento da condenação eterna. 

São Pedro Damião in 'Liber Gomorrhianus' (c. XVI, in Migne, Patristica Latina 175-177)


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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Quarta-feira de Cinzas: o dia em que tudo muda

O mundo estava ontem ocupado com os seus prazeres, enquanto os verdadeiros filhos de Deus tomavam uma alegre despedida dos regozijos: mas nesta manhã tudo muda. O solene anúncio feito pelo profeta foi proclamado em Sião
: o solene jejum da Quaresma, um tempo de expiação, a aproximação do grande aniversário de Nosso Redentor. Animemo-nos, pois, e nos preparemos para o combate espiritual.

Mas neste combate do espírito contra a carne precisamos de uma boa couraça. A Santa Igreja sabe o quanto precisamos disto; e por isso ela nos convoca a entrar ao templo de Nosso Senhor, para que ela possa nos armar para este santo embate. O que esta couraça é, sabemo-lo de São Paulo, que a descreve: “Estai, pois, firmes, tendo cingido os vossos rins com a verdade, vestindo a couraça da justiça, tendo os pés calçados de zelo para ir anunciar o Evangelho da paz; sobretudo tomai o escudo da Fé, para que possais apagar todos os dardos inflamados do (espirito) maligno; tomai também o elmo da salvação e a espada do espírito, que é a palavra de Deus”. 

O próprio príncipe dos apóstolos também nos endereça estas palavras solenes: “Tendo, pois, Cristo sofrido (por nós) na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento: aquele que sofreu na carne, deixou de pecar”. Entramos hoje numa longa campanha de guerra sobre a qual os apóstolos nos falaram: quarenta dias de batalha, quarenta dias de penitência. Não haveremos de retornar cobardemente, uma vez que as nossas almas sejam impressionadas com a convicção de que a batalha e a penitência haverão de passar. Demos ouvidos à eloquência do rito solene que abre a nossa Quaresma. Deixemo-nos ir para onde nossa Santa Madre Igreja nos guia.

Os inimigos com os quais devemos lutar são de duas espécies: interno e externo. O primeiro são as nossas paixões; o segundo são os demónios. Ambos foram trazidos a nós pelo orgulho, e o orgulho do homem teve início no momento em que se recusou a obedecer a Deus. Deus perdoou os pecados do homem mas puniu-o por eles. A punição era a morte e esta foi a forma da sentença divina: “porque tu és pó e ao pó hás-de tornar”. Que nós nos lembremos disto! A lembrança do que nós somos e do que nos haveremos de tornar teria controlado esta altiva rebelião que tantas vezes nos fez romper com a lei de Deus. 

E se, pelo tempo que ainda nos resta perseverarmos na fidelidade a Nosso Senhor, devemos humilhar-nos, aceitar a sentença e olhar para a vida presente como um caminho para o túmulo. O caminho pode ser longo ou curto; mas haverá de nos levar ao túmulo. Lembrando-nos disto, haveremos de ver todas as coisas na sua verdadeira luz. Haveremos, pois, de amar Deus, que Se dignou de colocar o Seu Coração sobre nós, apesar de sermos criaturas de morte: iremos odiar, com profunda contrição, a insolência e a ingratidão, por meio das quais passamos grande parte de nossos dias, isto é, pecando contra o nosso Pai Eterno: e nós não apenas desejaremos, mas estaremos ansiosos a passar esses dias de penitência, que Nosso Senhor tão misericordiosamente nos dá para repararmos a Sua justiça ultrajada.

Este foi o motivo pelo qual a Igreja teve em enriquecer a sua liturgia com este rito solene, no qual tomamos assistência nesta Quarta. Quando, há mais de mil anos, a Igreja decretou a antecipação do início da Quaresma para os últimos quatro dias da semana da Quinquagésima, instituiu esta cerimônia impressionante onde marca a fronte dos seus filhos com cinzas, enquanto lhes estas terríveis palavras, com as quais Deus nos sentenciou à morte: “Lembra-te, homem, de que és pó e ao pó hás-de voltar”.

Mas o uso de cinzas como um símbolo de humilhação e penitência é de um tempo muito anterior à instituição a qual aludimos. Encontramos referências frequentes disto no Antigo Testamento. Job, apesar de gentio, aspergiu a sua carne com cinzas, que, pois, humilhado, poderia propiciar a misericórdia divina: e isto ocorreu dois mil anos antes da vinda de Nosso Senhor. O profeta real (Sofonias), falando de si mesmo, relata que misturou cinzas com o seu pão, por conta da ira e indignação divina. Muitos exemplos similares se podem encontrar nas Sagradas Escrituras; mas é tão óbvia a analogia entre o pecador que assim demonstra sua contrição e o objeto através do qual ele o demonstra, que lemos tais casos sem surpresa. 

Quando um homem decaído se humilha diante da justiça divina, que sentenciou o seu corpo a retornar ao pó, como poderia ele mais apropriadamente expressar a sua contrita aceitação da sentença do que aspergindo a si próprio ou à sua comida com cinzas de madeira consumida pelo fogo? Este fervoroso reconhecimento de si próprio como pós e cinzas é um acto de humildade e a humildade dá confiança em Deus, que resiste aos orgulhosos e perdoa os humildes.

É provável que, quando a Igreja instituiu a cerimônia da Quarta-feira na semana da Quinquagésima, não a tenha intencionado para todos os fiéis, mas apenas para aqueles que cometeram alguns daqueles crimes que a Igreja infligia penitência pública. Antes da Missa do dia iniciar, eles apresentavam-se na Igreja onde todos os fiéis se encontravam. O sacerdote recebia a confissão dos seus pecados e vestia-os com vestes de saco e colocava a cinza nas suas cabeças. Após esta cerimónia, o clero e os fiéis prostravam-se e recitavam em voz alta os sete Salmos Penitenciais. 

Seguia, então, uma procissão na qual os penitentes tomavam parte descalços; e, por sua vez, o Bispo endereçava estas palavras aos penitentes: “Olhai! Nós vos banimos das portas da Igreja em razão dos vossos crimes e pecados, assim como Adão, o primeiro homem, foi banido do Paraíso em razão das suas transgressões”. O clero cantava, então, diversos responsórios tirados do livro do Génesis, nas partes em que se menciona a sentença pronunciada por Deus, quando condenou o homem a comer o pão do suor de seu trabalho, pois a Terra estava condenada por causa do pecado. As portas eram, então, fechadas e os penitentes não tinham permissão de ultrapassar os limites até a Quinta-Feira Santa, quando podiam se aproximar e receber a absolvição.

Datando do século XI, a disciplina de penitências públicas caiu em desuso e o sagrado rito de impor as cinzas na cabeça de todos os fiéis se tornou tão comum que, por extensão, foi considerado como uma parte essencial da liturgia Romana. Antigamente era prática aproximar-se descalço para receber este solene ‘memento’ da nossa insignificância. No século XII, até mesmo o Papa, ao passar da Igreja de Santa Anastácia para a Igreja de Santa Sabina, onde se fazia a cerimónia, percorria toda a distância descalço, assim como faziam os cardeais que o acompanhavam. A Igreja já mais exige essa penitência exterior; mas está tão ansiosa como nunca para que esta santa cerimónia, a qual estamos para tomar assistência, produza em nós os sentimentos de penitência e arrependimento.

Dom Prosper Guéranger


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Simbologia e Ritual de Imposição das Cinzas

Da cerimónia das Cinzas tira o nome o primeiro dia da Quaresma. As cinzas são símbolo de penitência, tanto no Antigo Testamento como na Lei Nova (Job XLII, Judite LXXXIV, Ester II, Mt XI e S. Ambrósio I, I ad virginem lapsam).

'Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris'; lembra-te, homem, que és pó, e ao pó hás-de voltar; assim falou Deus ao primeiro homem, na hora da sua desobediência, e assim repete a Igreja a cada qual de nós, por boca dos seus ministros, na cerimónia de hoje. 

Palavras de maldição na boca de Deus, pondera o mais célebre dos oradores cristãos; palavras, porém, de graça e salvação na mente da Igreja, que no-las dirige. Palavras de espanto e terror para o pecador, fulminando a sua sentença irrevogável de morte, mas palavras de suavidade e ânimo para o penitente, a quem, diz São João Crisóstomo, ensinam o caminho da penitência e conversão.

Tomai um punhado de cinzas, disse Deus a Moisés e a Aarão, e atirai-as sobre o povo. Esta cinza foi assim espalhada, diz a Sagrada Escritura, como a semente dos flagelos do Egipto, que em toda essa região causou tão universal desolação.

Mui diverso deve ser o efeito da cinza hoje lançada sobre as nossas cabeças pelos sacerdotes, que será aplacar a cólera do Senhor, e valer-nos as suas graças e favores, excitando em nossos corações sentimentos de verdadeira penitência.

Tal é o sentido das orações da Igreja, na bênção das cinzas, que nos ensinam com que espírito religioso devemos recebê-las.

Rito da Bênção e Imposição das Cinzas

A cerimónia realiza-se antes da missa. Celebrante e ministros dirigem-se ao altar, e começa-se com a seguinte antífona:

ANTÍFONA (Sl 68, 17) – Ouvi-nos, Senhor, porque é cheia de bondade a vossa misericórdia; e olhai para nós com a vossa infinita compaixão. (Sl 68, 2) – Salvai-me, Senhor, porque a tentação invadiu a minha alma como as águas impetuosas de uma inundação. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. — Ouvi-nos, Senhor.

Depois o celebrante benze as cinzas:

Oração – Deus Eterno e Omnipotente tornai-vos propício aos que vos rogam com sinceridade; perdoai aos pecadores arrependidos. Dignai-vos enviar o vosso santo Anjo lá de cima, e benzer e santificar estas cinzas; que sejam remédio salutar para quantos invocam o vosso Santo Nome com humildade e contrição, confessando publicamente que são pecadores, e, possuídos de vivo pesar pelas suas ofensas, se prostram hoje na vossa presença, implorando vossa misericórdia infinita. Concedei a todos os que receberem estas cinzas na cabeça invocando o vosso Nome Santíssimo, além do perdão dos pecados, a saúde do corpo e da alma, por Jesus Cristo Nosso Senhor.

Ó Deus que não quereis a morte dos pecadores, mas a sua conversão, lançai um olhar benigno sobre a fragilidade da natureza humana, e dignai-vos abençoar estas cinzas que vão ser impostas sobre as nossas cabeças, em sinal de humildade de nossos corações e do perdão que esperamos; para que, reconhecendo que somos cinzas, e que em pó nos havemos de tornar, em castigo pelas nossas iniquidades, mereçamos alcançar da vossa misericórdia a remissão de nossos pecados, e a recompensa que prometestes aos que fazem penitência. Por J. C. N. S. Amém.

Deus Omnipotente e Sempiterno, que concedestes a remissão dos seus pecados aos Ninivitas, que fizeram penitência com cinza e cilício, fazei que, imitando-os, alcancemos, como eles, o perdão dos nossos pecados. Por J. C. N. S.

O celebrante asperge e incensa as cinzas. A seguir impõe-nas, primeiramente ao clero, depois aos fiéis, dizendo:

Lembra-te, ó homem, que és pó, e que ao pó hás-de voltar. (Génesis 3, 19)

A Igreja termina esta bênção das Cinzas exortando aos fiéis, com as expressões do profeta Joel (cap. II), a que tornem útil e eficaz esta cerimónia.

Reformemo-nos exteriormente com a modéstia do traje, na cinza, no cilício; jejuemos com o sentimento de sincera contrição, emendemos as culpas da nossa ignorância ou fraqueza, e mormente da nossa malícia, sem mais adiar nem esperar, porque a morte nos pode apanhar desprevenidos.

in Manual do Cristão, Quarta-Feira de Cinzas via Pale Ideas


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terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

9 coisas para saber sobre a Quarta-Feira de Cinzas

1. O que é a Quarta-feira de Cinzas?
É o primeiro dia da Quaresma, ou seja, dos 40 dias nos quais a Igreja chama os fiéis a converter-se e a preparar-se verdadeiramente para viver os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo durante a Semana Santa.

2. Como apareceu a tradição da imposição das cinzas?
A tradição de impor as cinzas vem da Igreja primitiva. Naquela época, as pessoas colocavam as cinzas na cabeça e apresentavam-se diante da comunidade com um “hábito penitencial” para receber o Sacramento da Reconciliação na Quinta-feira Santa.
A Quaresma adquiriu um sentido penitencial para todos os cristãos a partir do séc.V, e a partir do século XI começou a impor-se as cinzas no início desse tempo litúrgico.

3. Por que se impõem as cinzas?
A cinza é um símbolo. A sua função está descrita em um importante documento da Igreja, mais precisamente no artigo 125 do Directório sobre a piedade popular e a liturgia:

“O começo dos quarenta dias de penitência, no Rito romano, caracteriza-se pelo austero símbolo das Cinzas, que caracteriza a Liturgia da Quarta-feira de Cinzas. Próprio dos antigos ritos nos quais os pecadores convertidos se submetiam à penitência canónica, o gesto de cobrir-se com cinza tem o sentido de reconhecer a própria fragilidade e mortalidade, que precisa ser redimida pela misericórdia de Deus. Este não era um gesto puramente exterior, a Igreja o conservou como sinal da atitude do coração penitente que cada baptizado é chamado a assumir no itinerário quaresmal. Devem ajudar aos fiéis, que vão receber as Cinzas, para que aprendam o significado interior que este gesto tem, que abre a cada pessoa a conversão e ao esforço da renovação pascal."

4. O que simbolizam as cinzas?
A palavra cinza, que provém do latim "cinis", representa o produto da combustão de algo pelo fogo. Sempre teve um sentido simbólico de morte, expiração, mas também de humildade e penitência.
A cinza, como sinal de humildade, recorda ao cristão a sua origem e o seu fim: “O Senhor Deus formou o homem do pó da terra” (Gn 2, 7); “até que voltes à terra de onde foste tirado; porque tu és pó e ao pó voltarás” (Gn 3, 19). 

5. Onde se encontram as cinzas?
Para a cerimónia devem ser queimados os restos dos ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior. Estes são benzidos com água benta e aromatizados com incenso.

6. Como se impõem as cinzas?
A imposição acontece durante a Missa, depois da homilia. As cinzas são impostas na testa, em forma de cruz, enquanto o ministro pronuncia as palavras bíblicas: “lembra-te, homem, que és pó e ao pó hás-de voltar” ou “converte-te e acredita no Evangelho”.

7. A imposição das cinzas é obrigatória?
A Quarta-feira de Cinzas não é dia de preceito e, portanto, não é obrigatória. Não obstante, nesse dia muitas pessoas costumam participar da Santa Missa, o que sempre é recomendável.

8. Quanto tempo é necessário permanecer com a cinza na fronte?
Quanto tempo a pessoa quiser. Não existe um tempo determinado.

9. O jejum e a abstinência são necessários?
O jejum é obrigatório na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa, para as pessoas maiores de 18 (inclusive) e menores de 60 anos. Fora desses limites, é opcional. Em dia de jejum, os fiéis podem apenas tomar ter uma refeição “principal” (almoço ou jantar) e no máximo duas refeições "menores" (que juntas não cheguem a uma refeição principal).
A abstinência (não comer carne) é obrigatória também na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa, para os maiores de 14 anos (inclusive). Todas as Sextas-Feiras da Quaresma também são também de abstinência obrigatória, não se pode comer carne. As outras Sextas-Feiras do ano também, embora hoje em dia poucos conheçam este preceito.

adaptado de acidigital


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11 novos subdiáconos para a Fraternidade de São Pedro na Alemanha, entre eles um português

















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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Ad Deum qui laetificat juventutem meam



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Santa Jacinta Marto

Há 103 anos, no dia 20 de Fevereiro de 1920, foi para o Céu Jacinta Marto, a mais nova dos Pastorinhos de Fátima:

“Gosto tanto de dizer a Jesus que O amo. Quando Lho digo muitas vezes, parece que tenho um lume no peito, mas não me queimo.

Se eu pudesse meter no coração de toda a gente o lume que tenho cá dentro no peito a queimar-me e a fazer-me gostar tanto do Coração de Jesus e do Coração de Maria.”

Santa Jacinta Marto (Memórias da Irmã Lúcia)


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Um programa para quem quiser aproveitar esta Quaresma para ser mais amigo de Jesus




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domingo, 19 de fevereiro de 2023

Septuagésima: um tempo perdido pela maior parte dos Católicos

O tempo de Septuagésima inclui os Domingos (e as semanas) da Septuagésima, Sexagésima e Quinquagésima, e é um tempo de preparação para a Quaresma. Durante este tempo, embora as regras Quaresma não se apliquem, a cor litúrgica é o roxo (penitência), e não é rezado nem Aleluia nem o Glória in Excelsis, que são sinais de alegria (1). Além disso, os textos deste tempo expressam o seu carácter penitencial.

Já no tempo de São Gregório Magno (+604) existia um período de preparação anterior à Quaresma, que, no séc. VI, começava no Domingo da Septuagésima, e, mais tarde, foi estendido para toda a semana da Septuagésima (2). As Leituras do Evangelho são, especialmente, destinadas a preparar os fiéis para a Quaresma e Tempo de Páscoa (3). 

A importância dos três Domingos percebe-se pelas igrejas escolhidas para a Missa Papal naqueles dias, os três basílicas localizadas fora das antigas muralhas de Roma: São Lourenço, São Paulo e São Pedro, respectivamente. O Ofício [Divino], na Septuagesima, começa com a leitura do livro de Génesis, que, por sua vez, continuará nos Domingos da Quaresma. 

O nome destes três Domingos indicam o tempo que decorre até ao primeiro Domingo da Quaresma, dito Quadragésimo. “Septuagésima” lembra os anos 70 anos de exílio na Babilónia, como sublinhou Amalário de Metz, comentador litúrgico medieval (4). 

Os Ritos Orientais contemplam também um tempo antes da Quaresma, que é de grande antiguidade. O "Domingo da Carne" introduz a abstinência da carne. O "Domingo do Queijo" inaugura a abstinência de ovos e lacticínios.

O tempo de Septuagésima está também indicado no 'Book of Common Prayer' anglicano e faz parte da prática histórica em muitas "igrejas" luteranas.

A Constituição Sacrosanctum Concilium, do Concílio Vaticano II, comenta o ano eclesiástico deste modo: “Reveja-se o ano litúrgico de tal modo que, conservando-se ou reintegrando-se os costumes tradicionais dos tempos litúrgicos, segundo o permitirem as circunstâncias de hoje, mantenha o seu carácter original para, com a celebração dos mistérios da Redenção cristã, sobretudo do mistério pascal.” (5)

É surpreendente, por tanto, que o Consilium (NT: comissão encarregue pela Reforma Litúrgica), após o Concílio, tenha decidido abolir o tempo de Septuagésima, ainda para mais fazendo este parte da preparação para a Páscoa. O Arcebispo Bugnini recorda a discussão sobre este tema: 

"Houve desacordo sobre a supressão do tempo da Septuagésima. Alguns viam essas semanas como uma preparação para a Páscoa. Em dada ocasião, Paulo VI comparou o conjunto composto pela Septuagésima, Quaresma, Semana Santa e Tríduo com os sinos que chamam os fiéis para a Missa de Domingo: esses assinalam quando falta uma hora, depois meia-hora, depois um quarto de hora e por fim cinco minutos para a Missa, o que tem um importante efeito psicológico e prepara os fiéis, material e espiritualmente, para a celebração da liturgia. Naquela época, no entanto, a opinião predominante era que deveria haver uma simplificação: a Quaresma não poderia ser restaurada na sua plenitude importância sem sacrificar a Septuagésima, que é uma extensão da Quaresma." (6)

Fœderatio Internationalis Una Voce - Positio nº 20

(1) O Aleluia é substituído, como na Quaresma, por um Tracto.

(2) Lauren Pristas, “Parachuted into Lent”, em Usus Antiquior, vol. 1, n. 2, 2010, pp. 95-109, onde cita Camille Callewaert e São Gregório Magno (p. 96). Cfr. Homiliae in evangelia XIX.1, e Callewaert L'oeuvre liturgique de Saint Grégoire: la septuagésime et l’allelluia (Louvain, Université Catholique de Louvain, 1937), p. 648 e n. 46.

(3) As leituras do Evangelho dos três Domingos são, respectivamente, a parábola do
trabalhadores da vinha (Mt 20, 1-16), a parábola do semeador (Mt 13, 1-23) e Jesus a caminho de
Jerusalém, com a cura de Bartimeu (Lc 18, 31-43).

(4) Amalarius, De ecclesiasticis officiis, I.1, PL 105.993 ss.

(5) Concílio Vaticano II, Constituição Sacrosanctum Concilium (1963), n. 107.

(6) Bugnini, A., A Reforma do Liturgia. 1948-1975 (trad. Inglês, Collegeville MN, The Liturgical
Imprensa, 1990), p. 307, n. 6. No texto principal, falando sobre o decisões do Consilium em 1965, escreve que “na sua maioria os textos presentes permanecerão inalterados". No entanto, embora isso tenha sido apoiado por consultores cuja opinião havia sido solicitada, revelou-se impossível. O plano de uma série contínua dos Domingos do “tempo comum” antes e depois da Quaresma e do tempo Pascal, significava que um Domingo cai, em determinado ano, imediatamente antes da Quaresma, enquanto noutro ano cai depois do Pentecostes, ou várias semanas antes da Quaresma. Tendo decidido suprimir a Septuagésima como tempo litúrgico separado, os formulários da Missa já não puderam ser retidos no lugar apropriado e, assim, perderam-se. O processo de discussão e o seu resultado são analisados
em detalhes por Pristas, “Parachuted into Lente”, cit.


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sábado, 18 de fevereiro de 2023

Pontifical




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São Teotónio, o primeiro santo português

18 de Fevereiro é dia de São Teotónio, o primeiro santo português que ajudou a fundar Portugal. São Teotónio nasceu em Valença, em 1082, tendo sido criado pelo seu tio-avô e Bispo de Coimbra, D. Crescónio. Formado em Teologia e Filosofia em Coimbra e Viseu, tornar-se-ia Prior da Sé desta cidade em 1112.

Peregrinou por duas vezes à Terra Santa. Quando regressou da primeira, foi-lhe oferecido o Bispado de Viseu, que recusou. Ao voltar da segunda, em 1131, fundou com outros dez homens de grande virtude o Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, tornando-se o seu primeiro prior, revelando-se um membro eminente e muito admirado, nomeadamente por S. Bernardo de Claraval.

Em 1153 o Papa Adriano IV quis fazer de São Teotónio Bispo de Coimbra, seguindo o legado do seu tio-avô, mas o santo recusou.

São Teotónio assumir-se-ia desde cedo como um fervoroso apoiante da independência portuguesa, sendo inclusive conselheiro de D. Afonso Henriques. Tido como homem muito respeitado e de grande valor, terá sido ele a convencer o Rei a libertar milhares de moçárabes que tinham sido feitos cativos na sequência da guerra de Reconquista realizada pelas tropas portuguesas.

São Teotónio foi um importante participante no processo político-religioso que culminaria com o reconhecimento da independência de Portugal pelo Papa Alexandre III em 1179, com a bula “Manifestis Probatum”.

Falecido a 18 de Fevereiro de 1162, não chegaria a assistir a tal momento marcante da História portuguesa, tendo sido sepultado numa capela do Mosteiro de Santa Cruz, mesmo ao lado do local onde se encontra o túmulo de D. Afonso Henriques.

Em 1163, um ano após a sua morte, o Papa Alexandre III canonizou-o, tornando-se deste modo São Teotónio o primeiro santo português reconhecido pela Santa Sé. O seu culto foi espalhado pelos agostinianos um pouco por todo o mundo, sendo até aos dias de hoje o santo padroeiro da cidade de Viseu e da respetiva diocese. É ainda padroeiro da sua terra natal, Valença.

No concelho de Odemira, uma extensa freguesia foi também batizada com o nome do santo, que evidentemente é também seu padroeiro. A Igreja Católica celebra-o no dia da sua morte, 18 de fevereiro.

Miguel Louro in 'Nova Portugalidade'


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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Ladainha dos Santos durante ordenação de Subdiáconos



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Estranhos números no estudo sobre abusos na Igreja em Portugal: 4800 vítimas ou apenas 34 depoimentos?

A 7 meses da chegada a Lisboa de centenas de milhares de jovens para as JMJ, incluindo menores de idade, na imprensa de todo o mundo multiplicaram-se manchetes que dizem: “Mais de 4800 menores sofreram abusos sexuais desde 1950 na parte da Igreja portuguesa”.
Mas alguém encontrou essas 4800 vítimas? De onde vem esse número?

A fonte é o relatório de 500 páginas “Dar voz ao silêncio”, conduzido por uma equipa “independente” (mas nomeada pela Igreja). Lendo-o, descobrimos que os investigadores não "encontraram" 4800 vítimas neste país católico de 10 milhões de habitantes.

Esse número é um cálculo que fazem por extrapolação, com matemáticas mais ou menos criativas e mais ou menos duvidosas. Depoimentos de vítimas cara a cara encontraram 34. E cerca de 500 formulários anónimos, não verificáveis, recebidos pela Internet.

A investigação começou a 10 de Janeiro de 2022 e reuniu dados e testemunhos até 31 de Outubro de 2022. A equipa contactou todas as dioceses, visitou bispos, arquivos, congregações e a própria Igreja, através dos seus canais, divulgou o site, telefone (fácil de memorizar, não gravava chamadas), morada e e-mail da comissão. A imprensa portuguesa também divulgou os seus contactos pedindo depoimentos e garantindo o anonimato.

O que os pesquisadores realmente encontraram, pessoalmente, foram 34 pessoas (23 homens e 11 mulheres) com quem conversaram cara a cara ou via Zoom, que lhes contaram os abusos sexuais que sofreram quando jovens, nas mãos de clérigos ou pessoas a eles associadas, a entidades católicas (monitores dos escuteiros, professores, pessoal escolar). Outras 14 pessoas vieram contar-lhes, em pessoa, casos dos quais foram testemunhas, mas não vítimas. Depois, 9 pessoas escreveram cartas partilhando os seus testemunhos (de abusos sofridos).

A equipa de investigação incumbiu ainda um jornalista a procurar, durante 6 meses, casos de abusos eclesiásticos contra menores nos arquivos dos jornais portugueses dos últimos 70 anos. O jornalista analisou detalhadamente 27 jornais online. Em seguida, consultou os arquivos de papel de 4 grandes jornais. Entrou em contacto por telefone com os arquivistas de outros jornais. Este jornalista encontrou, no total, 19 casos de abuso. Vários foram recebidos pela equipa de pesquisa por outros meios.

É verdade que antes de 1974 a imprensa portuguesa não publicava histórias de abusos do clero. Mas também é verdade que em Fevereiro de 2019 toda uma equipa de jornalistas do jornal online “Observador” passou 3 meses à procura de casos de abuso de menores em ambientes católicos, para a sua reportagem “Em Silêncio”.

Insistimos: em 50 anos de democracia em Portugal, toda a imprensa do país, mesmo pesquisando muito, encontrou apenas 19 casos de abuso de crianças (quase sempre os que chegaram aos tribunais).

O resto do relatório depende dos 512 formulários longos e detalhados preenchidos anonimamente na Internet. Não há como garantir que esses formulários sejam verdadeiros. Uma única pessoa poderia ter preenchido vários formulários. Muitas delas poderiam ter sido preenchidas por inimigos da Igreja, militantes feministas, militantes de género, de outras religiões ou seitas, anticlericais em geral, etc... Não faltam inimigos à Igreja Católica!

O mesmo relatório, na página 138, admite-o: “Pode-se sempre discutir genericamente se o inquirido está ou não a dizer a verdade, ou se o que diz corresponde exatamente ao que viveu, sem construir o que se chama de ‘falsas memórias’. "

É quase certo que os 34 depoimentos ouvidos ao vivo são reais e sinceros. O trauma é perceptível nos olhos, na voz, nas mãos... Pode haver casos de falsas memórias, uma vítima pode enganar-se sobre quem foi o seu agressor (um terço das vítimas no relatório fala de uma única agressão), é possível confundir um clérigo com outro. Mas, em geral, a testemunha que relata uma experiência traumática como essa, a menos que seja um actor incrivelmente bom, não pode mentir sobre os sentimentos que vive, as suas memórias, as feridas que se abrem. Nessas 34 entrevistas pessoais, as histórias quase certamente refletem o que foi vivido.

Mas os 512 formulários na Internet podem perfeitamente ser falsos. Nem todos, mas indivíduos com motivações anticlericais, bem organizados, poderiam preencher 20, 30, 60, 80 formulários com histórias falsas. Para torná-los credíveis, poderiam adequá-los ao que já foi publicado no Relatório Sauvé, em França, ou ao que foi publicado noutros países.

A equipa de pesquisa diz que de 563 formulários preenchidos, 51 foram rejeitados, não por estratégias elaboradas para verificar a verdade, mas por casos muito óbvios:

- depoimentos em que admitiram ter sofrido abuso quando tinham 18 anos ou mais (não eram menores de idade, não fazem parte deste estudo);
- depoimentos com números extremamente exageradas ("eles abusaram de pelo menos mil crianças naquele seminário naquele ano", num seminário que acomodava 200, diz o relatório);
- os factos não ocorreram em Portugal (caso de uma vítima portuguesa agredida numa escola católica de Madrid);
- as datas e locais têm muitas inconsistências, claramente falsas.

Detectar esses casos tão óbvios não implica que a equipa tenha capacidade de detectar depoimentos inventados melhor trabalhados e elaborados.

O relatório também admite um viés ideológico de género alheio à ciência e aos ambientes católicos e que talvez tenha distanciado valiosos testemunhos. Por exemplo, na página 129, diz que os formulários e questionários usam palavras como "género" para evitar a associação "directa a categorias binárias". Quantas pessoas preencheram o formulário online alegando ser de outro "género"? Exatamente duas.

Ao, supostamente, "acolher" esses dois depoimentos, muitas outras pessoas contrárias à ideologia de género podem ter decidido, ao ver o vocabulário ideológico, não preencher o relatório, suspeitando que haveria militantes hostis à Igreja por trás dele, não interessados genuinamente em melhorar a protecção das crianças. O relatório estabelece que 1 em cada 4 é actualmente um católico praticante.

Justamente, o sexo declarado nos questionários (não há como verificar se é real, pois não se sabe quem realmente está por trás desses questionários online anónimos), contrasta com o que encontramos em estudos sobre abusos eclesiásticos noutros países.

O que outros estudos mostram há décadas é que o abuso de menores em ambientes católicos tende a ser maioritariamente homossexual: geralmente são homens adultos que procuram adolescentes muito vulneráveis, pré-adolescentes, manipuláveis, entre 10 e 12 anos, ou já adolescentes (meninos, 15 e 16 anos).

Quando se analisam abusos mais recentes, depois dos anos 90, há mais alguns casos de meninas agredidas em acampamentos, jornadas e convívios. Mas o abuso dentro da igreja é principalmente algo que homens que procuram sexo homossexual fazem a jovens rapazes.

Assim, o estudo português cita que estudos dos Estados Unidos (2008), Holanda (2011), Alemanha (2014), Áustria (2015), Austrália (2017) e França (2021) detectam que os agredidos são homens em 64 a 82% dos casos (dois em três, ou quatro em cinco), enquanto as vítimas femininas, em ambientes eclesiais, variam entre 17 e 34%.

Por outro lado, nesta investigação portuguesa, dos 512 testemunhos aceites, apenas 57% são homens e 42% mulheres. O relatório espanta-se com esta taxa feminina extraordinariamente alta e tenta justificar dizendo que a mulher portuguesa é muito emancipada e fala com muita liberdade mas... mais do que a francesa ou a norte-americana?

Outras teorias poderiam ser apresentadas. Por exemplo, se activistas feministas anticlericais quisessem denegrir a Igreja para enfraquecê-la, podiam preencher questionários online anónimos com falsos testemunhos, mas com histórias de mulheres, em parte porque é mais fácil para elas e em parte para apresentar a Igreja como opressora das mulheres. Alguns questionários como estes seriam suficientes para distorcer os dados. Assim que as falsificadoras analisassem o Relatório Sauvé (França, 2021), poderiam fabricar factos que se adequassem a esse relatório (como mais abuso de meninas nas últimas décadas, por exemplo).

O pico de vítimas ocorre no sexo masculino entre 11 e 15 anos; os abusadores são homens adultos que atacam adolescentes e meninos que estão a entrar na adolescência.

O mesmo estudo português aponta que a profissão que quem preenche estes formulários mais declara é a de "especialistas em áreas científicas e intelectuais", e que no próprio estudo é admitido "o carácter desequilibrado da amostra".

Quanto à regularidade do abuso, os questionários online mostram que 32% sofreram abuso "regularmente" enquanto um terço (33%) sofreu abuso apenas uma vez (39% das meninas afirmaram que foi apenas uma vez; também 29% dos meninos declaram ter sido vítimas de um ataque único).

Quanto ao tipo de abuso, teriam ocorrido 30 casos de "cópula consumada", 50 de "sexo anal" e 100 de "sexo oral".

É horrível, mas temos que contextualizar os números: estamos a falar de um país de 10 milhões de habitantes, quase todos católicos e de cultura católica, incluindo anos de governo autoritário, porque o estudo reuniu dados ao longo de 70 anos (desde 1950).

Os abusos, como em França e em outros países, eram mais frequentes quando se combinavam duas épocas: uma de tradicional confiança no clero e na instituição dos seminários e internatos e, ao mesmo tempo, a difusão da mentalidade da Revolução Sexual marcada por 1968 e o caos dos anos 70.

Os números elevados do clero também têm a sua importância, embora seja um tanto difícil de medir, como aponta o relatório. De qualquer forma, o número de clérigos caiu rapidamente: em 1975 havia quase 5000 padres diocesanos em Portugal; em 2015 eram metade.

Sacerdotes diocesanos por ano:

1975: 4954;
1986: 4099;
1991: 3431;
2001: 3267;
2015: 2502.

Sacerdotes religiosos por ano:

1994: 1.024;
2002: 931;
2016: 848.

Vale destacar que, entre os que enviaram os seus questionários anónimos online, quase 26% se declararam católicos praticantes, 27% católicos não praticantes e 35% dizem não ser católicos. 12% não responderam à questão.

Ainda há muito trabalho a ser feito em matéria de investigação dos arquivos das congregações, associações e dioceses, porque o Relatório diz que eles foram abertos muito tarde, em Outubro, quando faltava pouco para concluir o trabalho. Pode haver alguns dados interessantes, mas dificilmente números muito grandes.

Por exemplo, ao investigar congregações religiosas masculinas por conta própria, a Comissão Independente encontrou 62 vítimas e 60 agressores (muito longe dos 4800 relatados nas manchetes). Mas revendo os arquivos das congregações, encontraram 8 clérigos considerados culpados... e não são eles que a Comissão Independente encontrou por outros meios.

Sem sombra de dúvidas, o abuso em contexto eclesial é um flagelo que deve ser debelado e há muitas maneiras de preveni-lo, melhorar a detecção de agressores e proteger os menores.

Neste momento, a Comissão Independente anunciou que enviou às autoridades os nomes de 25 suspeitos de abuso que podem ser julgados porque o seu caso não prescreveu. Embora não forneçam o número total de suspeitos “detectados” (ou mencionados), somando os que constam nas listas por dioceses e congregações, são quase 500 suspeitos ao longo de 7 décadas, dos quais 414 são sacerdotes. Muitos, ou a maioria, já podem estar mortos.

Mas não parece equilibrado espalhar manchetes que falam de cerca de 4.800 supostos abusos (extrapolados, não detectados) quando o que eles encontraram são basicamente 34 depoimentos presenciais, 9 por carta, 19 na imprensa ao longo de 70 anos e 8 casos nos arquivos de 20 congregações missionárias e educativas, num país católico de 10 milhões de habitantes.

Por Pablo J. Ginés in Religion en Libertad


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