quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Nada se pode fazer de melhor do que ouvir com piedade a Santa Missa

"Fica sabendo, ó cristão, que a Missa é o acto mais santo da Religião: tu não poderias fazer nada de mais glorioso em honra de Deus, e nada de mais vantajoso para a tua alma do que ouvir piedosamente a Santa Missa, e quanto mais vezes te for possível."

São Pedro Julião Eymard


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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

4 anos depois: o adeus de Bento XVI



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Dia de São Gabriel de Nossa Senhora das Dores

Gabriel de Nossa Senhora das Dores, a quem Leão XIII chamava o “São Luiz Gonzaga dos nossos dias”, nasceu em Assis (Itália), a 1 de Março de 1838, filho de Sante Possenti de Terni e Inês Frisciotti. No mesmo dia em que viu a luz do mundo, recebeu a graça do Baptismo, na mesma pia em que foi baptizado o grande Patriarca S. Francisco, na igreja de São Rufino.

O pai, já aos vinte e dois anos, era Governador da cidade de Urbânia, cargo que sucessivamente veio a ocupar em S. Ginésio, Corinaldo, Cingoli e Assis. Como um dos magistrados dos Estados Pontifícios, gozava de grande estima por parte de Papa Pio IX, e Leão XIII honrava-o com a sua sincera amizade. A mãe era de uma nobre família de Civitanova d’Ancona. Estes dois cônjuges eram modelos de esposos cristãos, vivendo no santo temor de Deus, unidos no vínculo de respeito e amor fidelíssimo, que só a morte era capaz de solver. Deus abençoou esta santa união com treze filhos, dos quais Gabriel era o undécimo. Este, no Baptismo recebeu nome de Francisco, em homenagem ao seu avô e ao Seráfico de Assis.

Dando testemunho da educação que recebiam na família, no Processo da beatificação do Servo de Deus, os seus irmãos declararam: “Nós fomos educados com o máximo cuidado no que diz respeito à piedade e à instrução. A nossa mãe era piedosíssima e educou-nos segundo as máximas da nossa santa Religião”.

Nos braços, sobre os joelhos de uma mãe profundamente religiosa, o pequeno Francisco aprendeu os rudimentos da vida cristã e a pronunciar os santos nomes de Jesus Maria.

A grande felicidade que na infância reinava experimentou um grande abalo quando, inesperadamente, o Anjo da Morte veio visitar aquele lar e arrebatar-lhes a mãe. D. Inês, sentindo que se aproximava a última, na compreensão do seu dever de mãe cristã, reuniu todos os filhos à cabeceira do leito mortal, estreitou-os, um por um, ao seu coração, selou a sua fronte com o último beijo, deu-lhes a bênção, distinguindo com mais carinho os de tenra idade, entre estes, Francisco; munida de todos os Sacramentos, confortada pela graça de Deus, aos 38 anos de idade deixou este mundo, para, na Eternidade, perto de Deus, receber o prémio das suas raras virtudes.

Do pai, o próprio Francisco deu o seguinte testemunho ao seu director espiritual:  

“Meu pai”, declarou, “tinha por costume levantar-se bem cedo. Dedicava uma hora à oração e meditação; se neste tempo alguém desejava falar-lhe, havia de esperar pelo fim das práticas religiosas. Terminadas estas, ia à igreja assistir a Santa Missa e costumava levar consigo dos filhos os que não fossem impedidos. Finda a Santa Missa metia-se ao trabalho. À noite, reunia os seus filhos e dava-lhes sábios conselhos e úteis exortações. Falava-lhes dos deveres para com Deus, do respeito devido à autoridade paternal e do perigo das más companhias”. “Os maus companheiros”, dizia ele, “são os assassinos da juventude, os satélites de Lúcifer, traidores escondidos e, por isso, era para temê-los e deles ter cuidado”.

Os biógrafos de Francisco fazem ressaltar, em primeiro lugar, a extraordinária bondade de coração do menino, principalmente para com os pobres. Muitas vezes ficou ele sem a merenda, por tê-la dado aos pobres. Entre os seus irmãos, era ele o anjo da paz, sempre pronto para desculpar e para defendê-los, quando acusados injustamente. Não suportava a injúria, fosse ela atirada a si ou a um dos seus. Com a maior facilidade, se desfazia de objectos de certo valor, com que tinha sido homenageado. Assim, presenteou a um de seus irmãos uma bela corrente de prata que tinha recebido de um parente. Estes bons traços no caráter de Francisco não afastam certas sombras que nele subsistiam também. Os que o conheciam meigo, bondoso, compassivo, sabiam-no também ser nervoso, impaciente, irascível.

Por felicidade sua, o senhor Sante, seu pai, não era daqueles que desculpam os caprichos dos seus filhos, sob o pretexto de “serem crianças”, sem pensar que mais tarde terão de pagar bem caro esta condescendência e fraqueza. O verdadeiro amor cristão fê-lo combater sem tréguas todos os defeitos. Francisco era obediente e tinha grande respeito ao pai, o que, aliás, não impedia que diante de uma severa repreensão desse largas ao seu génio impulsivo, com palavras e gestos demonstrando o seu descontentamento, a sua raiva. Mas tudo isto era fogo fátuo. Logo, voltava às boas; a sua boa índole não permitia que estas revoltas interiores durassem muito tempo. Era encantador ver, momentos depois, o menino desfeito em pranto, procurar o pai e, por seus modos ingénuos e infantis, assegurar-se do perdão e do amor do Sr. Sante. Este, fingindo não dar crédito a estas demonstrações, retrucava bruscamente: “Nada de carícias; quero ver factos”. Então, o menino atirava-se ao colo do pai, beijava-o e sentia-se feliz, em ter voltado à paz, com o perdão paterno. Nesta escola de sábia pedagogia, Francisco cedo aprendeu combater e vencer os seus defeitos.

Durante algum tempo, Francisco ficou entregue aos cuidados de um mestre; depois frequentou o colégio dos “Irmãos das Escolas Cristãs”, onde fez rápidos progressos, figurando sempre entre os melhores alunos. Com sete anos fez a sua primeira confissão. Um ano depois, em Junho de 1846, recebeu o sacramento da confirmação. Tudo isto prova que o menino já se achava bem instruído nas Verdades da nossa Fé, graças ao sólido ensino que lhe dispensavam os beneméritos “Irmãos Sallistas”.

Nesse mesmo tempo, caiu também a data da sua primeira comunhão, para a qual se preparou com todo o esmero. Testemunha de vista desse grandioso acto diz:  

“O fervor com que o vi chegar-se da sagrada mesa, o espírito de fé que se estampava no seu semblante, o vigor dos seus afectos foram tais que se chegava a crer ser ele levado por um Serafim”.  
 
Esses sentimentos de fé e de piedade, aquelas chamas de amor ao SS. Sacramento não mais se separaram do coração de Francisco nos anos de sua mocidade, nem no meio de uma vida dissipada, de certo modo mundana. Não menos certo é que a frequente recepção da santa comunhão preservou-o de graves desvios no meio das tentações do mundo.

Terminados os estudos elementares, o pai pensou em procurar para Francisco uma educação mais elevada, de acordo com a sua posição social, e confiou o seu filho aos “Padres Jesuítas” que, na cidade de Spoleto, dirigiram um colégio. Neste educandário, passou Francisco os anos todos de sua mocidade no mundo e chegou a cursar os quatro semestres de estudos filosóficos. Estudante inteligente e cumpridor exacto do seu dever, deixou boa memória naquele colégio e formavam-se as mais belas esperanças a seu respeito. Ano não passava que não ganhasse um prémio; e no fim dos seus estudos foi distinguido com uma medalha de ouro. Mestres e colegas também o estimavam. 

Tudo nele encantava: os seus modos delicados e gentis, a modéstia no falar, o sorriso benévolo que lhe aflorava os lábios, o garbo com que se sabia ver em circunstâncias mais solenes, os sentimentos nobres que dominam em todo o seu proceder. Aos seus mestres devotava sempre a máxima estima e profunda gratidão. Das práticas de piedade era rígido observador e com regularidade frequentava os santos Sacramentos. Não há dúvida que, dada a ocasião, o seu génio impetuoso e quente o levava a transportes de veemência e de cólera. Mas estes excessos eram sempre seguidos de lágrimas de arrependimento e de penitência.

Desde a sua infância mostrou devoção particular a Nossa Senhora das Dores, uma imagem da qual se conservava em sua família; e cabia-lhe a ele adorná-la de flores e manter acesa uma lâmpada diante da estátua. Afirma um dos seus irmãos, Eurique Possenti, que viu Francisco, no último ano que passou em casa, usar de cilício de couro com pontinhas de ferro. Outro testemunho, da família Parenzi, declara: 

“A sua conduta religiosa e moral tem sido irrepreensível; dada a grande vigilância deosmeus pais, não teria sido admitido em nossa família, se não fosse realmente virtuoso”. 
 
Para completar a imagem do jovem estudante, e assim melhor poder compreender a mudança que nele mais tarde se efectuou, há que ter em conta a descrição da solene distribuição de prêmios, da última em que Francisco tomou parte no colégio dos Jesuítas em Spoleto, em setembro de 1856. Os melhores alunos tinham sido escolhidos para abrilhantar a cerimónia com discursos e declamações poéticas. Entre eles, Francisco ocupava o primeiro lugar. Ninguém se lhe igualava em elegância exterior, no garbo de representar, na graça de declamar, na graciosidade da gesticulação, no timbre encantador da voz. Podendo representar no palco, parecia estar no seu elemento e fazia-o com toda a naturalidade e perfeição. 

A sua aparência não deixava nada a desejar: tudo obedecia às exigências da última moda: o cabelo esmeradamente penteado, o traje elegante e ricamente adornado, as luvas brancas, gravata de seda, sapatos luzidios e artisticamente acabados, a tudo isso Francisco ligava máxima importância. Em certa ocasião, recitou com tanto ardor e tamanho foi o entusiasmo que excitou no auditório, que o delegado apostólico Mons. Guadalupe, que presente se achava, disse ao pai de Francisco que ao seu lado se achava: “se vosso filho aqui presente estivesse, abraçava-o em vosso lugar”.

As raras qualidades morais que o adornavam, a figura simpática e atraente na flor da mocidade, a extrema vivacidade que nele se observava, não deixaram de emprestar-lhe um leve sombreado de vaidade, que de algum modo chegou a dominá-lo. Esta vaidade se lhe patenteava na exigência que fazia no modo de se trajar, sempre na última moda, de perfumar o cabelo e este sempre tratado com cuidado, de se aborrecer com uma nódoa por mais insignificante que fosse no fato (roupa), no amor que tinha a divertimentos alegres e aos desportos mundanos.

O inimigo das almas tirou proveito dessas fraquezas. Se não conseguiu roubar-lhe a inocência, não foi porque não lhe poupasse contínuos assaltos, bem sucedidos. A paixão pelo teatro, a verdadeira mania por bailes, o amor à leitura de romances eram tantos escolhos, tantos perigos, que é de admirar que o jovem Francisco não caísse presa das ciladas diabólicas. Tão pronunciada era a sua paixão às danças, que lhe importou a alcunha de “bailarino”. Assim um dos seus mestres, Pe. Pinceli, Jesuíta, quando soube da inesperada fuga de Possenti do mundo para o convento, disse: “O bailarino fez isto? Quem esperava uma tal coisa! Deixar tudo e fazer-se religioso no noviciado dos Padres Passionistas!”.

Francisco bem conhecia o perigo em que nadava, e não faltava quem lhe chamasse a atenção, o lembrasse da necessidade da oração, da vigilância, da mortificação, da devoção a Jesus e Maria, de não perder de vista a Eternidade etc. Numa carta que lhe escreveu o Pe. Fedeschini, S.J., há todos estes avisos; o conselho de fugir das más companhias, de dar desprezo à vaidade no vestir e falar, de largar o respeito humano, de fazer meditação diária e receber os Sacramentos.

Com todas as leviandades e as suas perigosas tendências para o mundo, Francisco não deixava de ser um bom e piedoso jovem, a quem homens sábios e virtuosos não pudessem escrever com confiança, benevolência e estima e cujas palavras não fossem aceitas com respeito e gratidão.

“Muitas vezes” – diz quem bem o conhecia – “Possenti sentiu o chamado de Deus, de deixar a vida no mundo e trocá-la com o estado religioso”.

O seu director, Pe. Norberto, Passionista, declara:  

“A vocação, se bem que descuidada e sufocada, estava nele havia muito tempo, e ele a sentiu desde os mais tenros anos. Muitas vezes o servo de Deus disse-me isto, lastimando a sua ingratidão e indiferença”.

O mesmo sacerdote relata:  

“A sua vocação manifestou-se do seguinte modo: Não sei em que ano foi, sentiu-se ele acometido de um mal que o fez pensar na morte. Teve, então, a inspiração de prometer a Deus entrar numa Ordem religiosa, caso recuperasse a saúde. A promessa foi aceite, pois melhorou prontamente e em pouco tempo se achou restabelecido. Mas a promessa ficou como se não fosse feita. O jovem tornou a dar o seu afecto ao mundo e entregou-se à dissipação como antes. 

Não tardou que Deus lhe mandasse outra enfermidade, uma inflamação interna e externa da garganta, tão grave que parecia a morte iminente já na primeira noite, tornando-se-lhe dificílima à respiração. Novamente o enfermo recorreu a Deus e invocando Santo André Bobola, aplicou ao lugar dolorido uma estampa do mesmo Santo e renovou a promessa de abraçar o estado religioso. As melhoras surgiram quase instantaneamente, e teve o enfermo uma noite tranquila e não mais voltaram as angústias da dispneia. Deste extraordinário favor, o jovem lembrou-se sempre com muita gratidão. Manteve também por algum tempo o propósito de fazer-se religioso, mas diferindo-lhe a execução, o amor ao mundo voltou, e no mundo continuou a viver". 
 
Das paixões de Francisco, uma das mais fortes foi a da caça. A esta paixão ele pagava tributos bem pesados, e seu director espiritual não hesitou em atribuir a este desporto a cruel moléstia que o ceifou na flor da idade. Certa vez, ao pular uma cerca, chegou a cair e com tanta infelicidade que quebrou-lhe um osso do nariz. O fuzil disparou e o projétil passou-lhe rentinho pela testa, pouco faltando que lhe rebentasse o crânio. Francisco reconhecendo logo a providência deste aviso, renovou a sua promessa. Ficou com as cicatrizes, mas deixou-se ficar no mundo.

A graça divina também não se deu por vencida. Rejeitada três vezes, tentou um quarto golpe, mais doloroso ainda. De todos de sua família, Francisco dedicava terníssima amizade a sua irmã Maria Luzia, nove anos mais velha que ele, e esta amizade era correspondida com todo afecto. Em 1855 irrompeu em Spoleto a cólera, e Maria Luiza foi a primeira vítima da terrível epidemia. Foi no dia de “Corpus Christi”, e a notícia alcançou Francisco quando, na procissão, levava a cruz. A morte da irmã feriu profundamente o coração do jovem e mergulhou sua alma em trevas nunca antes experimentadas. Perdeu o gosto de tudo e se entregou a uma tristeza inconsolável. Parecia que com este golpe a graça divina tivesse removido o último obstáculo de a promessa se cumprir. 

Assim ainda não foi. Todo acabrunhado, Francisco manifestou ao pai sua resolução de entrar para o convento chegando a dizer que para ele tudo se tinha acabado nesta vida. Possenti, receando perder o seu filho a quem muito amava, não recebeu bem a comunicação e pediu-lhe nunca mais tocasse neste assunto. Aconselhou-o a se distrair, a afastar os pensamentos tristes, a procurar a sociedade, frequentar o teatro; chegou a insinuar-lhe a ideia de procurar a amizade de uma donzela distinta, de família igualmente conceituada, na esperança de, nos entendimentos inocentes, ela conseguir fazê-lo esquecer-se dos seus intentos religiosos. 

Na igreja metropolitana de Spoleto, gozava de uma veneração singular uma imagem de Nossa Senhora; a esta imagem chamava simplesmente “a Ícone”. Na oitava do dia 15 de Agosto, esta imagem era levada em solene procissão por dentro da igreja, e não havia quem não se ajoelhasse à sua passagem. Em 1856, Francisco Possenti achava-se no meio dos fiéis e, todo tomado de amor por Maria Santíssima, os seus olhos fixavam-se na venerada imagem como que esperando por uma bênção especial. Pois, quando a “Ícone” vinha aproximando-se do jovem, parecia que Ela lhe atirava um olhar todo especial e lhe dizer: “Francisco, o mundo não é para ti; a vida no convento espera-te”. Esta palavra, qual uma seta de fogo, cravou-lhe no coração; assim, saiu da igreja desfeito em lágrimas. Estava resolvido a realizar desta vez o plano de alguns anos. Tratou, porém, de não dar, por enquanto, nenhuma demonstração do seu intento.

Embora certo da sua vocação, mas desconfiando da sua fraqueza, e para não ser vítima de uma ilusão, procurou o seu mestre no liceu e director espiritual Pe. Bompiani, Jesuíta, e a ele abriu-se inteiramente, fazendo do conselho deste depender a sua resolução definitiva.

O exame foi feito com toda sinceridade, e tendo tomado em consideração todos os factores influentes no passado da vida do jovem, o Pe. Bompiani não duvidou de se tratar de uma vocação verdadeira e animou o jovem a segui-la. Consultas que fez com mais dois sacerdotes da sua inteira confiança tiveram o mesmo resultado. Francisco resolveu então a pedir a sua admissão na “Congregação dos Passionistas”.

Comunicar ao pai a resolução tomada, não foi fácil. Mas desta vez o Sr. Sante, homem consciencioso, vendo a aflição e a firmeza do seu filho, não mais se opôs; tomado, porém, de espanto quando soube que a Congregação por Francisco escolhida, a dos Passionistas, era de todas a mais austera. Se bem que não se opusesse à vontade do filho, tratou de procrastinar a execução do seu plano e impor condições. 

Francisco, porém, ficou firme. Tomou, ainda e pela última vez, parte na solenidade da distribuição dos prémios no colégio dos Jesuítas, fez como sempre um papel brilhante no palco, despediu-se dos seus professores, dos seus amigos e, em companhia de seu irmão Luiz, da Ordem Dominicana, por ordem de seu pai, fez uma visita ao seu tio Cesare, cónego da Basílica de Loreto, e a um parente de seu pai, Frei João Baptista da Civitanova, guardião de um convento dos capuchinhos, levando para ambos carta de Sante Possenti em que este pedia examinassem a vocação do jovem. Tanto o cónego como o capuchinho carregaram bastante as cores da vida austera na Congregação dos Passionistas, que absolutamente não lhe conviria, a ele, moço de dezoito anos, acostumado a seguir as suas vontades, sem restrição de comodidades.  

Quando da visita à Santa Casa, em Loreto, Francisco aproveitou largamente para recomendar-se a Nossa Senhora. Não mais arredou do caminho encetado. De Loreto foi para Convento Morrovale, dos Passionistas, onde em 21 de Setembro de 1856 recebeu o hábito com o nome de Gabriele dell’Adolorata (Gabriel de Nossa Senhora das Dores). Admitido no noviciado, escreveu ao pai e aos irmãos comunicando-lhes o fato. Ao pai, pede perdão; aos irmãos recomenda amor filial e boa conduta. A carta, embora de simplicidade encantadora, é um documento admirável de sentimento filial e católico. Aos companheiros seus de estudo, dirigiu cartas também. Despede-se, pede perdão de maus exemplos que julgava ter dado; aconselha-os a fugir das más companhias, do teatro, das más leituras e das conversas inúteis.

Convencidíssimo da sua vocação religiosa, longe do mundo, da sociedade e da família, não mais teve outro ideal que subir às culminâncias da perfeição.

Inconfundível era sua personalidade no meio dos seus companheiros do noviciado. Sem perder as notas características do seu carácter, a jovialidade, a alegria de espírito, a amenidade de trato, era ele inexcedível não só na exatidão do cumprimento dos exercícios regulares, como também na prática das virtudes cristãs e monásticas. E, se perscrutarmos as causas profundas desta mudança radical na vida de Gabriel, duas conseguiremos encontrar, aliás suficientes e esclarecedoras: o ardente amor a Jesus Crucificado e à Santa Eucaristia, a sua devoção singular à Mãe de Deus (em particular a Nossa Senhora das Dores) e a sua inalterada mortificação, por meio da qual deu morte aos seus desordenados apetites, um por um.

Tendo corrido o ano de provação, Gabriel foi admitido à profissão e mandado para várias casas da Congregação, com o fim de completar os seus estudos de Teologia. Durante os anos de preparação para o sacerdócio, superiores e companheiros viram no santo jovem o modelo mais perfeito de todas as virtudes, e cumpridor exatíssimo dos seus deveres.

Quando chegou à idade de vinte e três anos, anunciaram-se os primeiros sintomas da moléstia que no prazo de um ano havia de levá-lo ao túmulo: a tuberculose pulmonar. O longo tempo da sua enfermagem, Gabriel aproveitou-o para ainda mais se aprofundar na sua devoção predileta à Sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo e a Maria Santíssima, Mãe das dores

Em Fevereiro de 1862, ainda pôde andar e receber a santa Comunhão na igreja, junto com os seus companheiros. Inesperadamente o mal se agravou; foi preciso avisá-lo para receber os últimos sacramentos. A notícia assustou-o por um momento só; mas imediatamente recuperou a habitual calma, que logo se transformou numa alegria antes nunca experimentada. O modo de receber o santo Viático comoveu e edificou a todos que assistiram. Não mais largava a imagem do Crucificado, que cobria de beijos, e ao seu alcance tinha a estátua de Nossa Senhora das Dores, que frequentemente apertava ao seu peito, proferindo afetuosas jaculatórias, como estas:

“Minha mãe, faze depressa!”
“Jesus, Maria, José, expire eu em paz em vossa companhia!”
“Maria, mãe da graça, mãe da misericórdia, do inimigo nos protegei, e na hora da morte nos recebei”.

Poucos momentos antes do desenlace, o agonizante, que parecia dormir, de repente, todo a sorrir, virou o rosto para esquerda, fixando olhar para um determinado ponto. Como que tomado de uma grande comoção diante de uma visão impressionante, deu um profundo suspiro de afecto e nesta atitude, sempre sorridente, com as mãos apertando as imagens do Crucifixo e da Mater Dolorosa, passou desta vida para a outra.

Assim morreu o santo jovem na idade de vinte e quatro anos, na manhã de 27 de Fevereiro de 1862. Foi sepultado na igreja da Congregação, em Isola Del Gran Sasso. Trinta anos depois fez-se o reconhecimento do seu corpo. Nesta ocasião, com o simples contacto de suas relíquias verificou-se a cura prodigiosa de uma jovem que a tuberculose pulmonar tinha reduzido ao último estado. Reproduziram-se aos milhares os prodígios que foram constatados à invocação do Santo.

Em 1908 o Papa Pio X inscreveu o nome de Gabriel da Virgem Dolorosa (ou de Nossa Senhora das Dores) no catálogo dos Beatos, e, em 1920, Bento XV decretou-lhe as solenes honras da Canonização. Pio XI estendeu a sua festa a toda a Igreja, em 1932.


ORAÇÃO

Ó Deus, que ensinastes a São Gabriel a honrar com assiduidade as dores de vossa Mãe dulcíssima, e por Ela o elevaste à glória da Santidade e dos milagres, concedei-nos, pela sua intercessão e seus exemplos, a graça de partilharmos tão intimamente as dores de Vossa Mãe Santíssima e que, por sua maternal proteção, consigamos a salvação eterna.


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terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Igreja das Catacumbas




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A Penitência pedida pelo Céu, que é odiada pelo Mundo

Se há um conceito radicalmente estranho à mentalidade contemporânea, é o de penitência.
 
O termo e a noção de penitência evocam a ideia de um sofrimento que infligimos a nós mesmos para expiar culpas próprias ou de outros e para nos unirmos aos méritos da Paixão redentora de Nosso Senhor Jesus Cristo. O mundo moderno rejeita o conceito de penitência porque está imerso no hedonismo e porque professa o relativismo, que é a negação de qualquer bem pelo qual valha a pena sacrificar-se, a menos que não seja a procura do prazer.
 
Só isso pode explicar episódios como o furioso ataque mediático em curso contra os Franciscanos da Imaculada, cujos conventos são retratados como locais de sevícias, apenas porque neles se pratica uma vida austera e penitente. Usar o cilício ou imprimir sobre o próprio peito o monograma do nome de Jesus é considerado uma barbaridade, enquanto praticar o sadomasoquismo ou tatuar indelevelmente o próprio corpo é, hoje, considerado um direito inalienável da pessoa.
  
Os inimigos da Igreja repetem, com toda a força de que os media são capazes, as acusações dos anticlericais de todos os tempos. O que é novo é a atitude daquelas autoridades eclesiásticas que, em vez de tomarem a defesa das religiosas difamadas, as abandonam, com secreta satisfação, ao carrasco mediático. A complacência surge da incompatibilidade que existe entre as regras a que estas religiosas insistem em conformar-se e as novas normas impostas pelo “catolicismo adulto”.
 
O espírito de penitência pertence, desde o início, à Igreja Católica, como nos recordam as figuras de São João Baptista e Santa Maria Madalena, mas, hoje, também para muitos homens da Igreja qualquer referência a antigas práticas ascéticas é considerada intolerável. No entanto, não há doutrina mais razoável do que aquela que estabelece a necessidade da mortificação da carne. Se o corpo está em revolta contra o espírito (Gl 5, 16-25), não é razoável e prudente castigá-lo?
 
Nenhum homem está livre do pecado, nem sequer os “cristãos adultos”. Portanto, quem expia os próprios pecados com a penitência não age de acordo com um princípio que é tão lógico quanto salutar? As penitências mortificam o ego, dobram a natureza rebelde, reparam e expiam os pecados próprios e de outros. Se, depois, consideramos as almas amantes de Deus, que procuram a semelhança com o Crucifixo, então a penitência torna-se uma necessidade do amor. São célebres as páginas do De Laude flagellorum, de São Pedro Damião, o grande reformador do século XI, cujo mosteiro de Fonte Avellana era caracterizado por uma extrema austeridade nas regras. «Desejaria sofrer o martírio por Cristo – escreveu –, mas não tenho oportunidade; mas, submetendo-me aos golpes, manifesto, pelo menos, a vontade da minha alma ardente».
 
Na história da Igreja, cada reforma ocorreu com o intuito de reparar, com as austeridades e as penitências, os males da época. Nos séculos XVI e XVII, os Mínimos, de São Francisco de Paula, praticam um voto de vida quaresmal que lhes impõe a abstenção perpétua não só de carne, mas de ovos, leite e todos os seus derivados; os Recolectos consomem a própria refeição no chão, misturam cinzas na comida, estendem-se, diante da porta do Refeitório, debaixo dos pés dos Religiosos que entram; os Irmãs de São João Deus preveem, nas suas constituições, «comer no chão, beijar os pés dos irmãos, sofrer repreensões públicas e acusar-se publicamente».
 
Análogas são as Regras dos Barnabitas, dos Escolápios, do Oratório de São Filipe de Néri, dos Teatinos. Não há instituto religioso que não preveja, nas suas constituições, a prática do capítulo das culpas, a disciplina várias vezes na semana, os jejuns, a diminuição das horas de sono e de descanso.
 
Bento XIV, que era um Papa manso e equilibrado, confiou a preparação do Jubileu de 1750 a dois grandes penitentes, São Leonardo de Porto Maurício e São Paulo da Cruz. Frei Diogo de Florença deixou-nos um diário da missão realizada, na Praça Navona, de 13 a 25 de Julho de 1759, por São Leonardo de Porto Maurício, que, com uma pesada corrente ao pescoço e uma coroa de espinhos na cabeça, se flagelava diante da multidão, gritando: “Ou penitência ou inferno”. São Paulo da Cruz terminava a sua pregação infligindo-se golpes tão violentos que, muitas vezes, algum fiel não resistia mais ao espectáculo e saltava para o palco, correndo o risco de ser atingido, para lhe parar o braço.
 
A penitência foi ininterruptamente praticada, durante dois mil anos, por santos (canonizados e não) que, com a sua vida, contribuíram para escrever a história da Igreja, de Santa Joana de Chantal e Santa Verónica Giuliani, que gravaram o Cristograma, com ferro incandescente, no seu peito, a Santa Teresa do Menino Jesus, que escreveu o Credo, com o seu sangue, no fim do livrinho dos Santos Evangelhos que trazia sempre no coração. Essa generosidade não caracteriza apenas as monjas contemplativas.
 
No século XX, dois santos diplomatas iluminaram a Cúria Romana: o Cardeal Rafael Merry del Val, Secretário de Estado de São Pio X, e o Servo de Deus Mons. Giuseppe Canovai, representante da Santa Sé na Argentina e no Chile. O primeiro vestia, sob a púrpura cardinalícia, uma camisa de crina entrelaçada com pequenos ganchos de ferro. Do segundo, autor de uma oração escrita com o sangue, o Cardeal Siri escreve: «As correntes, os cilícios, os horríveis flagelos à base de lâmina da barba, as feridas, as cicatrizes perseguidas por supervenientes feridas não são o começo, mas o termo de um fogo interior; não a causa, mas a eloquente e reveladora explosão desse. Tratava-se da clareza pela qual, em si mesma e em cada coisa, via um valor para amar a Deus e pela qual via a sinceridade de qualquer outra renúncia interior assegurada no excruciante sacrifício do sangue».
 
Foi na década de 1950 que as práticas ascéticas e espirituais da Igreja começaram a declinar. O P. Giovanni Battista Janssens, Geral da Companhia de Jesus, interveio, mais de uma vez, para chamar os próprios irmãos de volta ao espírito de Santo Inácio. Em 1952, enviou-lhes uma carta sobre a «contínua mortificação», na qual se opunha às posições da nouvelle théologie, que tendiam a excluir a penitência reparadora e a impetratória, e escrevia que jejuns, flagelos, cilícios e outras asperezas devem permanecer escondidas dos homens, segundo a norma de Cristo (Mt 6, 16-8), mas devem ser ensinadas e inculcadas aos jovens jesuítas até ao terceiro ano de provação. As formas de penitência podem mudar ao longo dos séculos, mas o espírito, sempre oposto ao do mundo, não pode mudar.
 
Prevendo a apostasia espiritual do século XX, a própria Nossa Senhora, em Fátima, recordou a necessidade da penitência. A penitência nada mais é do que a rejeição das falsas palavras do mundo, o combate contra os poderes das trevas, que lutam, com os poderes angélicos, pelo domínio das almas e a mortificação contínua da sensualidade e do orgulho enraizados no mais profundo do nosso ser. Apenas aceitando este combate contra o mundo, o diabo e a carne (Ef 6, 10-12) poderemos compreender o significado da visão de que, dentro de um ano [em 2017, n.d.r.], celebraremos o centésimo aniversário.
 
Os pastorinhos de Fátima viram, «ao lado esquerdo de Nossa Senhora, um pouco mais alto, um Anjo com uma espada de fogo na mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas que parecia que iam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que, da mão direita, expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo, apontando com a mão direita para a terra, com voz forte, disse: Penitência, Penitência, Penitência!».
 
Roberto de Mattei in Radici Cristiane, traduzido para português e publicado por Dies Irae 



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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Servir à Missa é uma escola de vocações




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Dia de São Matias, o Apóstolo escolhido à "sorte"

Os Actos dos Apóstolos referem que São Matias foi eleito pelos Apóstolos para substituir o traidor Judas Iscariotes, e esta eleição se fez nos dias depois da gloriosa Ascensão de Jesus Cristo e antes da vinda do Espírito Santo.

Da vida anterior do Apóstolo, do seu lugar de origem, nada sabemos. Os martirológios gregos afirmam que Matias pregou o Evangelho na Judeia, em Jerusalém, depois na Etiópia, onde fundou um bispado e terminou a vida na cruz. Outras fontes históricas confirmam a comunicação do martirológio grego e acrescentam que Matias morreu em Sebastópolis, onde foi sepultado perto do templo do sol.

Há outros historiadores que discordam radicalmente das fontes citadas, nada dizendo do martírio do Apóstolo, mas afirmam que Matias morreu em Jerusalém e lá foi sepultado. Há ainda uma outra versão, segundo a qual Matias teria sido apedrejado pelos Judeus e decapitado.

A História deixa-nos, portanto, por completo, na ignorância relativamente ao tempo e ao lugar da morte ou Martírio de São Matias.

A mãe de Constantino, o Grande, Santa Helena, trouxe as relíquias de São Matias para Roma. Uma parte destas relíquias é venerada na Igreja antiquíssima de São Matias em Tréves (Alemanha) e outra na Basílica de Santa Maria Maggiore em Roma. 

Reflexões:

É muito eficaz invocar São Matias nos momentos de sérias contendas, discussões acaloradas, ou agressões mútuas que possam culminar em séria discórdia ou tragédia. Nestes momentos, ele intercede mesmo, dissipando em segundos a ira e restabelecendo a paz.

São Clemente de Alexandria afirma que São Matias recomendava aos neófitos as práticas da mortificação: “Quem quer ser discípulo de Cristo, deve mortificar-se, castigar o corpo, levar a cruz e resistir aos apetites da carne...”.

Nos nossos dias, inventam-se inúmeras desculpas que nos tentam afastar da prática da mortificação. Há muitas pessoas que se sacrificam e mortificam-se com os fardos que o dia-a-dia impõe, mas passam a vida inteira em murmúrios e lamentações.

Saibamos, portanto, aproveitar todas as nossas dores, desde as mais subtis até as provações mais pesadas, oferecendo-as como sacrifícios pessoais em honra à Santíssima Trindade, em desagravo dos pecados cometidos pela Humanidade, pelas almas do Purgatório e por tantas outras intenções! Fazendo assim, caminhamos no Mundo honrando e glorificando a Deus, bem como aliviando e libertando muitas almas do cárcere purgativo.

Lembremo-nos, de oferecer todos os sacrifícios diários a cada manhã, certos que proporcionaremos ao Céu e ao Purgatório muitas alegrias com as nossas amarguras presentes.

in Pagina Oriente


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domingo, 25 de fevereiro de 2024

Uma lição de Alexander Soljenítsin, prisioneiro no Gulag Soviético



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Quaresma: como e porquê

Na preparação para a Páscoa, surgiu já nos primeiros tempos do Cristianismo um período voltado a preparar melhor os fiéis para o mistério central da Redenção de Cristo. Esse período era de um dia apenas. Com o tempo foi-se alongando, até chegar à duração de 6 semanas. Quaresma, do latim quadragesimae, refere-se aos 40 dias de preparação para o mistério pascal. 

A Quaresma, para os fiéis, envolve duas práticas religiosas principais: o jejum e a penitência. O jejum na antiga Igreja latina abrangia 36 dias. No século V, foram adicionados mais quatro, exemplo que foi seguido em todo o Ocidente com excepção da Igreja ambrosiana. 

Os antigos monges latinos faziam três quaresmas: a principal, antes da Páscoa; outra antes do Natal, chamada de Quaresma de São Martinho; e a terceira, a de São João Baptista, depois do Pentecostes. 

Se havia bons motivos para justificar o jejum de 36 dias, havia também excelentes razões para explicar o número 40. Observemos em primeiro lugar que este número nas Sagradas Escrituras representa sempre a dor e o sofrimento.

Durante 40 dias e 40 noites, caiu o dilúvio que inundou a terra e extinguiu a humanidade pecadora (cf. Gn. 7,12). Durante 40 anos, o povo escolhido vagou pelo deserto, em punição por sua ingratidão, antes de entrar na terra prometida (cf. Dt 8,2). Durante 40 dias, Ezequiel ficou deitado sobre o próprio lado direito, em representação do castigo de Deus iminente sobre a cidade de Jerusalém (cf. Ez 4,6). Moisés jejuou durante 40 dias no monte Sinai antes de receber a revelação de Deus (cf. Ex 24, 12-17). Elias viajou durante 40 dias pelo deserto, para escapar da vingança da rainha idólatra Jezabel e ser consolado e instruído pelo Senhor (cf. 1 Reis 19, 1-8). O próprio Jesus, após ter recebido o baptismo no Jordão, e antes de começar a vida pública, passou 40 dias e 40 noites no deserto, rezando e jejuando (cf. Mt 4,2).

No passado, o jejum começava com o primeiro Domingo da Quaresma e terminava ao alvorecer da Ressurreição de Jesus. Como o Domingo era um dia festivo, e por tal não lhe cabia o jejum quaresmal, o Dia do Senhor passou a ser excluído da obrigação. A supressão desses 4 dias no período de jejum demandava que o número sagrado de 40 dias fosse recomposto, o que trouxe o início do jejum para a Quarta-Feira anterior ao primeiro Domingo da Quaresma.

Este uso começou nos últimos anos da vida de São Gregório Magno, que foi o Sumo Pontífice de 590 a 604 d.C. A mudança do início da Quaresma para a Quarta-Feira de Cinzas pode ser datada, por isto, nos primeiros anos do século VII, entre 600 e 604. Aquela Quarta-Feira foi chamada justamente 'caput jejunii', ou seja, o início do jejum quaresmal, ou 'caput quadragesimae', início da Quaresma. 

O cristianismo primitivo dedicava o período da Quaresma a preparar os catecúmenos, que no dia da Páscoa seriam baptizados e recebidos na Igreja. A prática do jejum, desde a mais remota antiguidade, foi imposta pelas leis religiosas de várias culturas. Os livros sagrados da Índia, os papiros do antigo Egipto e os livros do Pentateuco contêm inúmeras exigências relativas ao jejum. 

Na observância da Quaresma, os orientais são mais severos do que os cristãos ocidentais. Na igreja ortodoxa-grega (cismática), o jejum é estrito durante todos os 40 dias que precedem a Páscoa. Ninguém pode ser dispensado, nem mesmo o Patriarca. Os primeiros monges do cristianismo, ou cenobitas, praticavam o jejum lembrando Jesus no deserto. Os cenobitas do Egipto comiam pedaços contados de pão por dia, metade pela manhã e metade à noite, com um copo d’água.

Houve um tempo em que não era permitida mais que uma única refeição por dia durante a Quaresma. Esta refeição única, no século IV, realizava-se após ao pôr-do-sol. Mais tarde, foi autorizada a meio da tarde. 

No início do século XVI, a autoridade da Igreja permitiu que se adicionasse à principal refeição a chamada colatio, uma pequena refeição. Suavizando-se cada vez mais os rigores, a carne, que antes era absolutamente proibida durante toda a Quaresma, passou a ser admitida na refeição principal até três vezes por semana. As taxativas exigências do jejum quaresmal eram publicadas todos os anos em Roma no famoso Édito sobre a Observância da Quaresma. 

A prática do jejum, no passado, era realmente obrigatória, e quem a violasse assumia sérias consequências. Os rigores eram tais que o VIII Concílio de Toledo, em 653, ordenou que todos os que tinham comido carne na Quaresma sem necessidade se abstivessem durante todo o ano e não recebessem a comunhão no dia da Páscoa. 

Giovanni Preziosi in Zenit


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sábado, 24 de fevereiro de 2024

Cardeal Zen: Está à espreita uma divisão nunca antes vista na Igreja

O Cardeal Joseph Zen resumiu o Sínodo dos Bispos de 2023-2024 no seu blogue oldyosef.hkdavc.com

"Dizem-nos que a sinodalidade é um elemento constitutivo fundamental da vida da Igreja, mas ao mesmo tempo sublinham que a sinodalidade é o que o Senhor espera de nós hoje", o que significa que "é algo de novo". Zen observa que existem duas visões opostas da Igreja:

"Por um lado, a Igreja é apresentada como fundada por Jesus Cristo sobre os apóstolos e os seus sucessores, com uma hierarquia de ministros ordenados que guiam os fiéis no seu caminho para a Jerusalém celeste. Por outro lado, fala-se de uma sinodalidade indefinida, de uma 'democracia dos baptizados' (Que baptizados? Vão regularmente à igreja? Vão buscar a sua fé à Bíblia e a sua força aos sacramentos?)

Zen adverte que a segunda visão "pode mudar tudo: a doutrina da fé e a disciplina da vida moral. Há quem diga que o sínodo não tem agenda, mas isso insulta a nossa inteligência".

O Cardeal Zen não esqueceu a famosa "nota de rodapé" na Amoris Laetitia depois dos dois sínodos sobre a família, nem o facto de o caminho sinodal alemão ainda não ter sido rejeitado de forma decisiva.

Suspeita que os organizadores do Sínodo estejam particularmente interessados na 'homossexualidade' e critica o facto de, pela primeira vez, o termo de propaganda 'LGBTQ' aparecer num documento da Igreja. Vê o método do sínodo como uma manipulação para evitar uma verdadeira discussão baseada na Palavra de Deus. É "tudo uma questão de psicologia e sociologia, não de fé e teologia".

Para o Cardeal, o texto de propaganda 'homossexual' "Fiducia Supplicans" é uma surpresa "repugnante" no meio das duas sessões sinodais:

"Uma vez que o problema já tinha vindo à tona, era mais do que razoável esperar pela próxima reunião sinodal, depois de uma discussão séria, para o resolver. Impedir essa discussão é um acto de incrível arrogância e desrespeito pelos Padres Sinodais". O documento "ameaça uma grave divisão nunca antes vista na Igreja".

in gloria.tv


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Tempura, o prato penitencial que os portugueses levaram para o Japão

Hoje é Sábado das Têmporas da Quaresma. Há quatro períodos de Têmporas, ao longo do ano, e estes dias são de jejum e abstinência.

Tempura é um dos pratos mais famosos do Japão. Se parece estranha a existência de alimentos fritos na cozinha tradicional japonesa, isso deve-se ao facto de a criação estaladiça ser, na verdade, de origem Católica e penitencial.

É surpreendente descobrir que uma das mais emblemáticas comidas japonesas não é de todo japonesa - é portuguesa. Em 1543, um navio chinês com três missionários jesuítas de Portugal dirigia-se para Macau, mas as más condições climatéricas desviaram-nos da rota para a ilha japonesa de Tanegashima. Estes três missionários são considerados os primeiros europeus a pisar o Japão.

Nos anos seguintes, centenas de outros missionários jesuítas portugueses chegaram ao Japão na sua esteira. Com eles, trouxeram a sua observância do jejum quaresmal e uma receita: peixinhos da horta, um prato tradicional da cozinha portuguesa de feijão verde frito.

Os missionários comiam o prato nos dias das Têmporas e durante toda a Quaresma, que era um tempo de abstinência. Quando os japoneses adoptaram o prato, e lhe acrescentaram a variedade de marisco disponível, adoptaram também o nome do latim tempora.

O intercâmbio cultural continuou durante quase cem anos até à sua expulsão em 1643, quando a crescente perseguição religiosa levou a que os católicos fossem declarados um perigo para a sociedade japonesa. A justiça poética da tempura foi feita quando o Shogun Tokugawa Ieyasu, que iniciou a perseguição aos Católicos, morreu por comer tempura em excesso.

adaptado de ucatholic


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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Os Católicos na origem do McFish

Quase toda a gente conhece a sandwich McFish do McDonald's, oficialmente conhecida como Filet O'Fish. Mas quase ninguém sabe que a sandwich apareceu por causa dos Católicos na América do Norte.

O McFish nasceu em Cincinnati, nos Estados Unidos, em 1962. Os Católicos eram cerca de 87% da população daquela região. E, na altura, faziam abstinência de carne todas as Sextas-feiras do ano, para além das da Quaresma. Os McDonald's perdiam imensos clientes às Sextas-feiras.

Por essa razão, Lou Groen, dono do McDonald's onde nasceu o McFish, apresentou uma nova sandwich à sede principal dos Estados Unidos, que aceitou.

Diz ele que "às Sextas-Feiras tinham apenas um rendimento de $75 por dia".

Na primeira Sexta-Feira em que pôs o McFish à venda no seu McDonald's, vendeu mais de 350 sandwiches. Tornou-se um autêntico sucesso que se espalhou por toda a América e, depois, pelo mundo. Foi também a primeira vez que se acrescentou um novo "hambúrguer" ao menu do McDonald's.

Os Papas e os Santos tinham razão quando diziam que o pior mal do mundo são os Católicos mornos. É impressionante o que acontece quando a população Católica é fiel e procura seguir as sugestões que a Igreja faz para ser Santos.

A abstinência às Sextas-Feiras durante todo o ano é obrigatória, pela Lei da Igreja, e é uma prática ascética que faz bem à alma e acrescenta alguma originalidade à vida das famílias.


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Tratado para acabar com a Sodomia entre o Clero escrito por S. Pedro Damião

Quando o humilde monge e futuro santo, Pedro Damião, apresentou a sua carta 31 - o Livro de Gomorra - ao Papa Leão IX, no ano 1049, deixou claro que a sua preocupação primeira e primordial era a salvação das almas. Embora o trabalho fosse dedicado especificamente ao Santo Padre, a sua distribuição foi destinada à Igreja Universal, especialmente aos Bispos do clero secular e aos superiores das ordens religiosas.

Na introdução, o santo escritor deixa claro que a vocação divina da Sé Apostólica faz com que a sua consideração principal seja “o bem das almas”. Portanto, ele exorta o Santo Padre a tomar medidas contra “um certo vício abominável e assaz vergonhoso”, o qual identifica abertamente como “o cancro corruptor da sodomia”, que assola tanto as almas do clero e o rebanho de Cristo na sua região, antes que Deus descarregue a Sua justa ira contra o povo. 

Reconhecendo o quão nauseante a própria menção da palavra sodomia deve ser ao Papa, ele no entanto pergunta com franqueza brusca: “...se um médico ficar horrorizado com o contágio da praga, quem é que vai manejar o cautério? Se ele fica enjoado quando está prestes a aplicar o remédio, quem vai restaurar a saúde aos corações feridos?”

Evitando qualquer dubiedade, Damião distingue entre as várias formas de sodomia e as fases de corrupção sodomita, começando pela masturbação solitária e mútua e terminando na estimulação interfemoral (entre as coxas) e coito anal. Destaca que há uma tendência entre os prelados de tratar os primeiros três graus do vício com uma “leniência imprópria”, preferindo reservar a expulsão do estado clerical somente àqueles homens que comprovadamente se envolveram com penetração anal. 

O resultado, diz Damião, é que um homem, culpado do vício em graus “menores”, aceita as suas penitências mais suaves, mas permanece livre para poluir outros sem o menor receio de perder a sua posição. O resultado previsível da leniência do superior, diz Damião, é que o vício se espalha. O culpado fica mais ousado em seus actos ilícitos pois sabe que não irá sofrer qualquer perda do seu estado clerical, perde todo o temor a Deus e o seu último estado é pior do que o primeiro.

Damião condena a audácia de homens que estão “habituados à porcaria desta doença purulenta”, e ainda assim ousam apresentar-se para o sacerdócio ou, se já ordenados, permanecer em seus cargos. Não foi em razão de tais crimes que Deus Todo-Poderoso destruiu Sodoma e Gomorra, e matou Onan por deliberadamente derramar a sua semente no chão?, pergunta. Citando a epístola de São Paulo aos Efésios (Ef 5, 5), ele continua, “...se um homem impuro não tem absolutamente nenhuma herança no Céu, como pode ser ele tão arrogante de assumir uma posição de honra na Igreja, que é certamente o reino de Deus?”

O santo monge assemelha os sodomitas que buscam o sacerdócio aos cidadãos de Sodoma que ameaçaram “usar de violência contra o justo Lot” e estavam já quase arrombando a porta quando foram feridos com cegueira por dois anjos e não conseguiram mais encontrá-la. Tais homens, ele diz, foram feridos com uma cegueira semelhante, e “pela justa decisão de Deus caíram em treva interior.” Se fossem humildes seriam capazes de achar a porta que é Cristo, mas estão cegos por sua “arrogância e vaidade”, e “perdem Cristo por causa do seu apego ao pecado”, nunca encontrando, lamenta Damião, “o portão que leva à habitação celeste dos santos”.

Não poupando os eclesiásticos que conscientemente permitem que sodomitas ingressem no sacerdócio ou permaneçam em posições clericais maculando o seu cargo, o santo monge ataca os “superiores de clérigos e padres que nada fazem”, lembrando-os de que eles deveriam tremer por eles mesmos se terem tornado “parceiros na culpa de outros”, ao permitirem que “a praga destruidora” da sodomia continuasse nas suas fileiras.”

Randy Engel in 'St. Peter Damian's Book of Gomorrah: A Moral Blueprint for Our Times'


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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Nós vos adoramos e bendizemos, Senhor Jesus Cristo




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Festa da Cátedra de São Pedro em Antioquia

"Em Antioquía, a Cadeira [Cátedra] de São Pedro Apóstolo, onde os Discípulos se começaram a chamar Christãos." (Martirológio Romano)

Festejar a Cadeira de São Pedro é festejar a Primazia do Príncipe dos Apóstolos como cabeça da Igreja Universal. Existem duas festas da Cadeira de São Pedro: a de hoje, que é anterior, ocorre muitas vezes durante a Quaresma, pelo que se começou, muito cedo, a celebrar também no dia 18 de Janeiro. A de 22 de Fevereiro comemora a Cátedra de São Pedro em Antioquia e a de dia 18 de Janeiro a Cátedra de Roma.

A festa da Cátedra de São Pedro é uma celebração bastante antiga na História da Igreja, datando, pelo menos, de 354 d.C., quando esse festejo foi elencado na Chronographia Romana, um calendário antigo de observâncias civis e religiosas. Enquanto inicialmente a festa celebrava o início do Episcopado de São Pedro, com foco no Primado do Papa, ao longo dos séculos a festa passou a focar o serviço do Papa como chefe da Igreja unificada.

Sabemos pela Tradição da Igreja que o Apóstolo Pedro residiu durante algum tempo em Antioquia, a cidade onde os Discípulos começaram a chamar-se Cristãos. Nela, pregou o Evangelho e, de seguida, voltou a Jerusalém, onde algum tempo depois se desencadeou uma sangrenta perseguição: o rei Herodes mandou degolar São Tiago e, vendo que isso agradava aos Judeus, mandou também prender São Pedro.

Libertado por intervenção de um Anjo, Pedro abandonou a Palestina, indo para outro lugar. Os Actos dos Apóstolos não nos dizem para onde foi, mas sabemos pela Tradição que se dirigiu para a Roma, a Cidade Eterna.

São Jerónimo afirma que Pedro chegou a Roma no segundo ano do reinado de Cláudio – que corresponde ao ano 43 d.C. – e que ali permaneceu durante vinte e cinco anos, até a morte. Alguns falam de duas viagens a Roma: a primeira, depois de partir de Jerusalém; a segunda, por volta do ano 49, data em que participou do Concílio de Jerusalém para logo depois retornar a Roma e empreender algumas viagens missionárias.

São Pedro chegou a Roma, centro do mundo naquele tempo, "para que a luz da verdade, revelada para a salvação de todas as nações, se derramasse mais eficazmente da cabeça para todo o corpo do mundo", afirma São Leão Magno. "Pois, de que raça não havia então homens naquela cidade? Ou que povos podiam ignorar o que Roma ensinasse? Era o lugar apropriado para refutar as teorias da falsa filosofia, para desfazer as loucuras da sabedoria terrena, para destruir a impiedade dos sacrifícios; ali, com suma diligência, tinha-se ido reunindo tudo o que os diferentes erros tinham inventado".

O pescador da Galileia converteu-se, assim, em alicerce e rocha da Igreja e estabeleceu a sua sede na Cidade Eterna. Dali, anunciou o seu Mestre, como tinha feito na Judeia e na Samaria, na Galileia e em Antioquia. Da Cátedra de Roma governou toda a Igreja, instruiu todos os Cristãos e, para confirmar a sua pregação, derramou o seu sangue a exemplo do Mestre.

O túmulo do Príncipe dos Apóstolos situa-se debaixo do altar da Confissão, na Basílica Vaticana – conforme afirma unanimemente a Tradição, ratificada pelas descobertas arqueológicas, dando assim a entender, também de um modo material e visível, que Simão Pedro é, por expressa vontade divina, a rocha firme, segura e inamovível, que sustém o edifício da Igreja através dos séculos. No seu magistério e no dos seus Sucessores, ressoa de modo infalível a voz de Cristo.

Como símbolo de que Pedro tinha estabelecido a sua sede em Roma, o povo romano tinha grande apreço por uma verdadeira cadeira de madeira, portátil, onde, conforme uma Tradição imemorial, o Príncipe dos Apóstolos se tinha sentado.

São Dâmaso, no Séc. IV, mandou colocá-la no baptistério do Vaticano, construído por ele. Durante muitos séculos esteve bem visível e foi venerada pelos peregrinos de toda a Cristandade que iam a Roma. Quando se construiu a actual Basílica de São Pedro, foi guardada como relíquia. 

Hoje, pode ser vista no fundo da abside, como imagem principal, a chamada "glória de Bernini", um grande relicário onde se conserva a cadeira do Apóstolo coberta de bronze e ouro; sobre ela, irradia o Espírito Santo irradia a sua assistência. Como muitos relicários medievais, a escultura de Bernini toma a forma da coisa que ele encerra. 

in Pale Ideas


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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Bispo de Baker proíbe os seus Sacerdote de abençoarem parelhas do mesmo sexo

Mons. Liam Cary, Bispo de Baker (EUA), fez uma declaração muito clara sobre o documento Fiducia Supplicans:

Em Março de 2021, à questão de saber se a Igreja poderia abençoar uniões de pessoas do mesmo sexo, o Vaticano respondeu "Não". Na sua resposta, que tinha a assinatura do Papa Francisco, o Cardeal Luis Ladaria afirmou que "não é lícito dar uma bênção às relações que envolvem atividade sexual fora do casamento", porque uma bênção que reconhece a legitimidade das uniões do mesmo sexo iria efectivamente "aprovar e encorajar uma escolha e um modo de vida que não pode ser ordenado aos planos revelados de Deus". O Cardeal deixou claro, no entanto, que "as pessoas com inclinações homossexuais" podem ser abençoadas como indivíduos se "manifestarem a vontade de viver em fidelidade aos planos revelados de Deus, tal como propostos pelo ensino da Igreja".

A assinatura do Papa também aparece na Declaração Fiducia Supplicans (FS) de 18 de Dezembro de 2023, do sucessor do Cardeal Ladaria, o Cardeal Victor Fernandez. Nos anos que se seguiram à emissão da Resposta de 2021, afirma o Cardeal Fernandez, o "horizonte" do ensino da Igreja sofreu "um verdadeiro desenvolvimento". O novo "contexto" permite "a possibilidade de abençoar 'casais' do mesmo sexo sem validar oficialmente o seu estatuto ou alterar de qualquer forma o ensinamento perene da Igreja sobre o casamento"...

Nas semanas seguintes ao lançamento de FS, surgiram reacções dramaticamente opostas em cinquenta países. Os bispos da Flandres e da Alemanha saudaram a Declaração como uma "ajuda para avançar" no seu caminho previamente escolhido para a bênção formal de 'casais' do mesmo sexo. Fotografias e vídeos de cerimónias pré-planeadas entre pessoas do mesmo sexo encheram os ecrãs dos computadores de todo o mundo com imagens de padres a darem bênçãos proibidas pela FS. Os meios de comunicação social espalharam rapidamente a notícia por todo o mundo: a Igreja Católica mudou de ideias; agora aprova as uniões entre pessoas do mesmo sexo.

Do Congo ressoou uma voz diferente.  O Cardeal Fridolin Ambongo declarou que, em África, FS provocou "uma onda de choque". Em todo o continente, o que parecia ser uma autorização papal para abençoar os 'casais' do mesmo sexo surpreendeu os cristãos evangélicos e pentecostais, que sempre contaram com um testemunho católico inabalável da verdade bíblica do matrimónio. Os muçulmanos de África também tomaram nota crítica do documento. O mesmo fizeram os bispos africanos.

O Cardeal Ambongo levou prontamente as suas preocupações a Roma para discussões pormenorizadas com o Papa Francisco e o Cardeal Fernandez. Com a aprovação do Papa, os dois cardeais elaboraram e assinaram cuidadosamente uma declaração "Em nome de toda a Igreja Católica em África". Nela se afirmava a convicção dos bispos de que "as bênçãos extra-litúrgicas propostas na Fiducia Supplicans não podem ser realizadas em África sem provocar a escândalo".

Também não acredito que possam ser realizadas sem escândalo na Diocese de Baker. Aqui como em África, se um casal que coabita ou um 'casal' do mesmo sexo pedisse a um Padre para os abençoar, estariam a procurar um sinal oficial de aprovação de um comportamento que a Igreja ensina ser pecaminoso aos olhos de Deus. Se o Padre atender ao seu pedido, as subtis distinções da FS não impedirão que os quem esteja a ver conclua que a Igreja, representada ali pelo sacerdote, já não acredita como sempre acreditou antes, mas que agora apoia as uniões de casais não casados...

Peço aos Padres de Baker que não abençoem casais que vivam juntos, do mesmo sexo ou de ambos os sexos...

Desde "o princípio", asseguram-nos os Evangelhos, o nosso Criador quis que o florescimento humano decorresse do abraço conjugal de uma só carne de um homem e de uma mulher abertos à transmissão da vida. Tendo em vista a felicidade humana, reservou esse mútuo envolvimento corporal para o leito conjugal e abençoou-o solenemente no dia do casamento. 

Se os sacerdotes de Jesus Cristo abençoam comportamentos que contradizem os Seus mandamentos, desvalorizam a santidade dos votos nupciais e distorcem o desígnio divino da felicidade humana. "O que Deus uniu, o homem não deve separar." O Deus da Aliança Prometido é o Redentor do Matrimónio, não o seu destruidor. Qualquer forma de bênção que apoie uniões extraconjugais não pode fluir das mãos dos Seus sacerdotes.


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Uma app para seguir a Missa Tradicional e estudar a Doutrina Católica

Está disponível uma nova versão do Tesouro dos Fiéis: O projecto que já conta com 6 anos de existência, precisava de uma reestruturação, para se tornar mais fácil navegar, também para desenvolver e criar novo conteúdo.

A nova versão mantém tudo o que já tinha (Missa do Dia, Pequeno Ofício da Nossa Senhora, Saltério, Rosário, Ordem da Missa, etc), mas mudou-se a estrutura. Adicionaram-se muitas orações, Via Sacra, Orações Diversas e também cânticos sacros e populares. O Missal Romano está finalmente completo. E ao todo o projecto conta já com mais de 900 páginas.

A navegação faz-se agora através da barra lateral, ou no fim de cada página encontram-se links para as páginas anteriores/seguintes. Em cada página existe também um índice.

Outra adição é a possibilidade de navegação através da lupa/pesquisa. Basta escrever o que se pretende (respeita acentos) e são listados todos os resultados correspondentes. A pesquisa é global, ou seja, não são procurados apenas títulos, são pesquisadas todas as palavras existentes.

Na primeira página foi adicionado também um cartão interactivo, que conforme o dia, aparece a Missa do Dia e conforme a hora, são listados: a Oração da Noite ou Oração da Manhã, o Angelus, e o Ofício do Pequeno Ofício de Nossa Senhora. na respectiva hora. Ofício esse que também foi actualizado, com tabs, para que a oração se torne mais fluída.


Em Portugal se conservará sempre o dogma da fé - Nossa Senhora de Fátima


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terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Depois da Primeira Comunhão (Chicago, 1920)



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A Irmã Lúcia descreveu a enorme Fé da pequenina Jacinta

Pouco tempo antes de ir para o hospital, [a Jacinta] dizia-me:
 
- Já me falta pouco tempo para ir para o Céu. Tu ficas cá para dizeres que Deus quer estabelecer no Mundo a devoção do Imaculado Coração de Maria. Quando for para dizeres isso, não te escondas.

Diz a toda a gente que Deus nos concede as graças por meio do Coração Imaculado de Maria; Que lhas peçam a ela; que o Coração de Jesus quer que, a Seu lado, se venere o Coração Imaculado de Maria; que peçam a paz ao Imaculado Coração de Maria, que Deus lha entregou a ela.

Se eu pudesse meter no coração de toda a gente o lume que tenho cá dentro no peito a queimar-me e a fazer-me gostar tanto do Coração de Jesus e do Coração de Maria...

in Memórias da Irmã Lúcia III, nº9, p.112


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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Quem te ama diz-te a verdade




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Nunca se viu um homem jejuar com discernimento e ser assaltado por maus desejos

Tal como os olhos sãos desejam a luz, assim o jejum efectuado com discernimento suscita o desejo da oração. Quando um homem começa a jejuar, deseja comunicar com Deus nos pensamentos do seu espírito. 

Com efeito, o corpo que jejua não suporta dormir toda a noite no seu leito. Quando o jejum sela a boca do homem, este medita em estado de contrição, o seu coração reza, o seu rosto está sério, os maus pensamentos deixam-no; é inimigo das cobiças e das conversas vãs. Nunca se viu um homem jejuar com discernimento e ser assaltado por maus desejos. O jejum feito com discernimento é uma grande casa que protege muito bem… 

Porque o jejum é a ordem que foi dada desde o início à nossa natureza, para não comer o fruto da árvore (Gn 2,17), e é daí que vem aquilo que nos engana… Foi também por aí que o Salvador começou, quando se revelou ao mundo no Jordão. Com efeito, depois do baptismo, o Espírito levou-o ao deserto, onde jejuou quarenta dias e quarenta noites. 

Todos os que partem para o seguir fazem doravante o mesmo: é sobre este fundamento que põem o início do seu combate, porque tal arma foi forjada por Deus… E quando agora o diabo vê essa arma na mão de um homem, este adversário e tirano tem medo. Ele pensa imediatamente na derrota que o Salvador lhe infligiu no deserto, recorda-se e a sua força é quebrada. Consome-se assim que vê a arma que nos deu aquele que nos conduz ao combate. Que arma pode ser mais poderosa e reanimar tanto o coração na sua luta contra os espíritos do mal?

Isaac o Sírio (século VII), monge perto de Mossul in 'Discursos ascéticos', 1.ª série, n.º 85 


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domingo, 18 de fevereiro de 2024

Todos Todos Todos! Bispo "cruel" proíbe Missa Tradicional

O Bispo de Austin (Texas), Mons. Joe Steve Vásquez, proibiu a Missa Tradicional Romana na Catedral de Austin a partir de 19 de Março. A Missa era celebrada em Austin desde o Advento de 1988 e na Catedral desde 2007.

Na declaração, Mons. Vásquez escreve que questionou o Cardeal Arthur Roche sobre o assunto e que lhe foi dito para impor a proibição. Como prémio de consolação, vai introduzir, aos Domingos, duas Missas Novus Ordo em latim, que provavelmente terão pouca procura.

O Bispo acrescentou um discurso Orwelliano negando a dura realidade sobre o Novus Ordo: "Acredito que iremos experimentar uma unidade mais profunda com toda a Igreja e uma maior consciência da riqueza litúrgica [sic] da forma ordinária da liturgia romana."

Os Católicos de Austin responderam numa declaração que a sua comunidade de Missa na Catedral tem sido capaz de se integrar na paróquia maior da catedral, tornando a proibição ainda mais "dolorosa".

"Estamos a perder não só a liturgia que amamos, mas também a nossa família paroquial". Citação chave: "A crueldade não foi a intenção, mas a crueldade é o efeito".

in gloria.tv


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As tentações de Jesus no deserto

A) O texto do evangelho deste primeiro Domingo relata-nos que depois do baptismo de Jesus no rio Jordão o Espírito Santo desceu sobre a Sua humanidade preenchendo-a totalmente, e logo O conduziu ao deserto, onde permaneceu durante 40 dias para, mergulhando na intimidade com o Pai, combater o diabo.
 
Ao fim de 40 dias de jejum, naturalmente sentiu fome. Aproveitando-se da Sua fraqueza e da necessidade humana o diabo insinua-se dizendo-lhe que se é quem é, o Messias, o Filho de Deus, transforme as pedras em pão. Ao que Jesus responde citando a Sagrada Escritura: “Está escrito: Nem só de pão vive o homem”. Convirá notar que nesta tentativa de sedução do diabo se topam claramente duas tentações.
 
1 - A primeira, se assim podemos falar, consiste na concupiscência da carne, precisamente aquela a que Eva e Adão não resistiram comendo do fruto proibido; trata-se do prazer sensual, daquilo que satisfaz, desordenadamente, os nossos apetites. Curiosamente a queda nesta tentação, num certo sentido, ocorre também no Êxodo do povo israelita quando na sua jornada submetido a um jejum de pão se revolta contra Deus, representado por Moisés. Desconfiaram de Deus, não acreditando que lhes pudesse dar o pão do céu - o maná.
 
2 - A segunda está subtilmente implícita na primeira. Podemos dizer que ela só se descobre pela resposta pronta de Jesus: Nem só de pão vive o homem. Jesus Cristo desmascara o diabo revelando a essência da sua proposta, a saber que o pão, a fartura, os bens materiais seriam suficientes para salvar o mundo - o homem seria reduzido ao seu estômago, quem garantisse somente a alimentação material salvaria o mundo. Pelo contrário Jesus afirma que a Palavra de Deus, que é Ele próprio, é fundamental, é essencial. De facto, é esta Palavra feita carne e feita Eucaristia, que se multiplica continuamente e Ela só é capaz de quebrar os grilhões do nosso egoísmo, que salvará o mundo.
 
B) A segunda tentação está assim descrita: Levando-o a um lugar alto, o diabo mostrou-lhe, num instante, todos os reinos do universo e disse-lhe: «Dar-te-ei todo este poderio e a sua glória, porque me foi entregue e dou-o a quem me aprouver. *Se te prostrares diante de mim, tudo será teu.» Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.»
 
O diabo mostra a Jesus, numa visão, todos os reinos, que lhe foram entregues por Adão, rei de toda a Terra - sendo Eva a rainha -, ao cair na sua diabólica tentação.
 
Enquanto na primeira tentação a gula e os prazeres sensuais são sublinhados, nesta segunda acentua-se o ter e o poder, o “sereis como Deus” se comerdes do fruto proibido, tudo vos estará sujeito, dominareis todo o universo, não precisais de Deus para nada, Ele é vosso inimigo, tem-vos inveja. A cruz é uma tolice, uma ignomínia incompatível com o ter e o poder.
 
A isto Jesus replica que não Se deixa vender, afirmando a Verdade absoluta: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto. Podia-se porventura acrescentar, para nosso proveito: “Que importa ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma?”.
 
C) Em seguida, conduziu-o a Jerusalém, colocou-o sobre o pináculo do templo e disse-lhe: «Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo, pois está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, a fim de que eles te guardem; 11e também: Hão-de levar-te nas suas mãos, com receio de que firas o teu pé em alguma pedra.» 
Disse-lhe Jesus: «Não tentarás ao Senhor, teu Deus.»
 
Nesta tentação é de notar que tanto o diabo como Jesus citam passagens da Sagrada Escritura. O sentido mais profundo desta contraposição significa que o Antigo Testamento lido sem Cristo torna-se um instrumento do Maligno, enquanto que lido em Cristo e com Cristo é, de facto, Palavra de Deus.
 
O diabo aqui tenta persuadir Jesus que alcançará o Seu propósito, o Seu destino através do sucesso, da honra, da vaidade, como que obrigando Deus (Pai) a fazer um Milagre extraordinário para provar que Jesus É quem É. Mas o Senhor conhece melhor do que ninguém os caminhos do Pai. E a Sua relação de Amor infinito com Ele sabe muito bem que não se põe Deus à prova com um espectáculo imbecil.
 
Importará notar que cada uma destas tentações tem como objectivo o desviar Jesus da Cruz. O Evangelho termina dizendo que o diabo depois de esgotar toda a espécie de tentação retirou-se de Jesus durante um certo tempo. Quando voltou então o diabo? O Maligno regressou, principalmente, quando Jesus estava crucificado e movia os outros a dizer desce da Cruz e então acreditaremos em ti...

Padre Nuno Serras Pereira


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