terça-feira, 26 de junho de 2007

A Devida Comédia


Miguel Carvalho

Criancinhas!

A criancinha quer Playstation. A gente dá.
A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa.
A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da
ementa e acaba tudo em festim de chocolate.
A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas,
umas tantas. Coca-Colas, às litradas. A gente olha para o lado e ela
incha.
A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque a
criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser
diferente.
A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao
nosso lado no sofá e passa-lhe o comando.
A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e
o berreiro continua.
Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher.

Desperta.
É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada,
semanada, diária. E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa
da moda, jantares e bares.
A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas
não se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de
convívio em convívio e de noitada em noitada.
A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e
torna-se mais exigente com os papás. Agora, já não lhe basta que eles
estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no
popó e numas férias à maneira.

A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o
processo de independência meramente informal. A rebeldia é de trazer por
casa. Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava,
come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são
«uma seca».

Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos
pôr nos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e
umbiguismo. A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se
vítima de violência verbal e etc e tal. Em casa, faz queixinhas,
lamenta-se, chora. Os papás, arrepiados com a violência sobre as
criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um
eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado,
correm para a escola e espetam duas bofetadas bem dadas no professor
«que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho
sou eu».

A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será
criancinha, continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia
do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não
anda para aí a fazer porcarias».

Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas
em zonas problemáticas, das famílias no fio da navalha? Pois não, bem
sei.
Estou apenas a antecipar-me. Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir
parar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho
esquerdo. E então teremos muitos congressos e debates para nos
entretermos.


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sábado, 23 de junho de 2007

Os dez mandamentos dos condutores!

Decálogo dos condutores

I. Não matarás
II. A estrada seja para ti um instrumento de comunhão, não de danos mortais
III. Cortesia, correcção e prudência ajudar-te-ão
IV. Sê caridoso e ajuda o próximo em necessidade, especialmente se for vítima de um acidente
V. O automóvel não seja para ti expressão de poder, de domínio e ocasião de pecado
VI. Convence os jovens e os menos jovens a não conduzirem quando não estão em condições de o fazer
VII. Apoia as famílias das vítimas dos acidentes
VIII. Procura conciliar a vítima e o automobilista agressor, para que possam viver a experiência libertadora do perdão
IX. Na estrada, tutela a parte mais fraca
X. Sente-te responsável pelos outros

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sexta-feira, 22 de junho de 2007

“E isto é um ensinamento que te fará rir: o amor, Govinda, parece-me ser o mais importante. Compreender o mundo, explicá-lo, desprezá-lo, são coisas que poderão agradar aos grandes pensadores. Mas eu considero mais importante amar o mundo, não o desprezar, não o odiar nem me odiar, observá-lo, a mim e a todos os seres com amor e admiração e respeito.”

in Siddartha, Herman Hesse



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quinta-feira, 21 de junho de 2007

Ando a ler que nem um doido!

“Falámos das nossas vidas. Eu podia regressar ao Chile, mas continuava na Europa. Eles podiam regressar a Buenos Aires mas continuavam na Patagónia. A conversa com os amigos confirmou-me mais uma vez que uma pessoa é de onde melhor se sente.”
in Patagónia Express, Luís Sepúlveda


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quarta-feira, 20 de junho de 2007

Como será estar contente?

Como será estar contente?

Lançar os olhos em volta,

moderado e complacente,

e tratar toda a gente

sem tristeza nem revolta?

Sentir-se um homem feliz,

satisfeito com o que sente,

com o que pensa e com o que diz?

Como será estar contente?

Deve haver alguma mecânica,

qualquer retesada mola

que se solta e desenrola

no próprio instante preciso,

para que um homem de carne,

de olhos pregados no rosto,

possa olhar e rir com gosto

sem estranhar o som do riso.

Na minha tosca engrenagem,

de ferrugenta sucata,

há qualquer mola de lata

que não se distende bem,

qualquer dessorada glândula

ou nervo que não se enfeixa,

qualquer coisa que não deixa

deflagrar essa girândola

de timbres que o riso tem.

Não ter riso e não ter casa,

nem dinheiro nem saúde,

não se conta por virtude

que a miséria é ferro em brasa.

Mas ter casa, ter dinheiro,

ter saúde e não ter riso,

flagelar-se o dia inteiro

como se o sangrar primeiro

fosse um tormento preciso,

tê-lo sempre forte e vivo,

espantado a todo o momento,

isso sim, será motivo

de grande contentamento.

António Gedeão



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sexta-feira, 15 de junho de 2007

Numa noite de maiores insónias...

A verdadeira identidade do Cristão é a daquele que se deixa encontrar por Deus, através de Cristo, e que investe numa relação de Amor com Ele. Investe numa relação pessoal, porque é entre a sua pessoa e a pessoa de Cristo. Só aí se pode dar o verdadeiro encontro e não um superficial conhecimento. E ao fazer isto, por encontrar não somente o Deus mas o Homem perfeito, vai-se encontrar a si próprio. E através deste encontro de si mesmo pode de maneira mais madura encontrar os outros na sua relação com eles.

Ser cristão é conhecer a Deus num diálogo pessoal, mas do mesmo modo reconhecer perfeitamente Deus em cada um dos outros que o rodeiam, empenhando-se do mesmo modo em estabelecer uma relação viva e saudável com ambos. Estabelecer o diálogo com Cristo é abrir-se à relação comunitária. Só assim faz sentido a aparente loucura do Cristianismo – o facto de o próprio Deus se ter feito Homem – e ser possível chegar a Deus através desse Homem.

A implicação dos outros no projecto de salvação de Deus para o Homem torna o Cristianismo este modelo único de sentido comunitário – já que a minha salvação está intimamente relacionada com a salvação de todos. Por isso a vida de qualquer cristão requer conversão e doação aos outros. Porque o imitar Cristo tem consequências na vida do dia a dia, pelos actos de amor aos outros; servindo, à imagem de Cristo.

É um encontro, um diálogo que se faz na intimidade de cada um, evidentemente, mas com implicações que vão muito para além da minha individualidade.

Falar de encontro é falar de mudança, porque da experiência do encontro nasce a vontade de crescer, de aprofundar essa mesma relação. Como tal, o ser humano, um dos dois sujeitos deste diálogo, terá que se dispor, na sua totalidade e com todas as suas faculdades, a entregar-se, a auto-implicar-se. É Deus quem toma a iniciativa, é Mistério - mas é gratuidade; dá-se totalmente ao Homem que O quiser receber. É transcendente mas acessível ao Homem desde que este se transcenda na relação.

Ao Homem cabe a não menos importante parte da relação – a resposta a esta vocação, no seu sentido etimológico de chamada. Este diálogo Deus/Homem não acontece sem a iniciativa divina, certo; mas não acontecerá também sem a resposta do Homem, que deixa tudo para ir ao encontro de Deus; o Homem que foi feito à imagem e semelhança de Deus e que, pela sua relação pessoal com Cristo vai deixando que a sua identidade seja cada vez mais a d’Ele.
Bjs e abrçs,
16


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segunda-feira, 11 de junho de 2007

Comentário ao Evangelho do dia


As famílias, os grupos, os Estados, a própria Comunidade internacional, necessitam de abrir-se ao perdão para restaurar os laços interrompidos, superar situações estéreis de mútua condenação, vencer a tentação de excluir os outros, negando-lhes a possibilidade de apelo. A capacidade de perdão está na base de cada projecto de uma sociedade futura mais justa e solidária. 

Pelo contrário, a falta de perdão, especialmente quando alimenta o prolongamento de conflitos, supõe custos enormes para o desenvolvimento dos povos. Os recursos são destinados para manter a corrida aos armamentos, as despesas de guerra, as consequências das represálias económicas. Acabam assim por faltar os recursos financeiros necessários para gerar desenvolvimento, paz e justiça. Quantos sofrimentos padece a humanidade por não saber reconciliar-se, e quantos atrasos por não saber perdoar! A paz é a condição do desenvolvimento, mas uma verdadeira paz torna-se possível somente com o perdão.

A proposta do perdão não é de imediata compreensão nem de fácil aceitação; é uma mensagem de certo modo paradoxal. De facto, o perdão implica sempre uma aparente perda a curto prazo, mas garante, a longo prazo, um lucro real. Com a violência é exatamente o contrário: opta-se por um lucro de vencimento imediato, mas prepara para depois uma perda real e permanente. À primeira vista, o perdão poderia parecer uma fraqueza, mas não: tanto para ser concedido quanto para ser aceite supõe uma força espiritual e uma coragem moral a toda a prova. Em vez de humilhar a pessoa, o perdão leva-a a um humanismo mais pleno e mais rico, capaz de reflectir em si um raio do esplendor do Criador.



João Paulo II 
Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2002, §9-10 

in EAQ


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domingo, 10 de junho de 2007

"Aliás, a melhor parte da vida é aquela que nós próprios imaginamos, pensou - imaginamo-nos, imaginamos os outros, criando assim deliciosas diversões, e até algo mais que isso.
Mas era estranho, e porém verdadeiro, que tudo o que não podemos partilhar com alguém acaba por desfazer-se em pó."
in Mrs Dalloway, de Virgínia Woolf


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sábado, 9 de junho de 2007

Como se passa um dia (IV)


18.00 Rezo o Magnificat a esta hora e decido que vou lá para fora, apanhar ventinho a escrever no meu diário espiritual. Quer dizer, aquilo é mais um diário em que falo de tudo, e beatices também, claro!

18.05 Sento-me no chão do claustro, encostado a uma coluna, à sombra. O calor aperta, mas já está a passar, e eu tão fresco agora!!(cuspo para o chão com trejeito de nojo ao lembrar-me da flanela demoníaca) Escrevo o que tenho passado nos últimos dias… Ora já não me lembro bem, mas consulto o livro das msgs e logo me elmbro perfeitamente do dia todo!

18.32 Vou buscar o Missal para rezar as leituras de hoje da Missa. Fico um bocado dentro da Capela. Tão fresquinho. Que irritantes, estes bichos da conta! Sempre a passear. E meus amigos, evoluam e parem de morrer apenas porque se viram ao contrário!! Que tal desenvolver uma dessas mil pernas para que cresça de lado e faça de alavanca para quando se viram ao contrário! Que figuras que fazem assim! E desconcentram-me!

18.56 Toca o sino, Missa tá quase! Vou ao quarto, lavo a cara, penteio-me e ponho Lavanda. Gosto de ir fresquinho e cheiroso para Nosso Senhor. Ponho o Missal no sítio e trago a minha Liturgia das Horas. É, como sempre, Vésperas/Missa. Não tão cá os três padres, só dois. Tudo corre bem, claro! Que grande momento, este!

19.55 E já acabou! É estranho como antigamente me lembro da tortura que era mais de 45 minutos na Missa de Domingo e hoje em dia ter Missa diária de uma hora é perfeitamente normal!Que bom! Vou ao quarto, vejo se estou bem e sigo para o Jantar.

20.03 Depois de estarmos à espera que o último chegasse, ainda em silêncio, rezamos. Que bom, o jantar é carneee! Tou outra vez na mesa dos Padres. Vou buscar o saleiro, indispensável para qualquer refeição. A conversa é trivial, contam-se umas piadas, fala-se de tudo, entretenho-me a brincar com o saleiro enquanto se fala animadamente de futebol. Tomo o remédio para o enjoo, que entretanto voltou.

20.40 “Glória ao Pai…” já acabou! Sou eu a lavar a loiça, que bom… Pego nos guardanapos de todos os da mesa e vou pô-los na gaveta. Gosto de levar os guardanapos e arrumá-los, nos anos correspondentes. Sigo para a copa e vou para o lava-loiças. Começo a passar a loiça pela água e a pôr nos tabuleiros da máquina. Chegam o Hugo e o Marcos, põem mãos à obra. “Vamos lá despachar isto para sairmos daqui às 9h” digo.

21.01 Nada mau, praticamente um record! Já tá tudo lavado, enquanto eles levam o lixo lá para fora lavo o chão, ponho um saco novo no caixote e apago as luzes. Done.

21.06 Vou ao quarto, lavar aos mãos com sabonete (Feno de Portugal, o verde, que cheira mesmo bem!) Odeio aquele cheiro a comida nas mãos!! Pego no livro e vou para o Bar. Na sala da televisão tão a ver o CSI…Não costumo ver a série por isso não fico. Há já imensos dias que não vejo os Simpsons!!

21.08 Gosto muito de Luís Sepúlveda. Tou a ler Patagónia Express, que comprei no outro dia, quando fui à Feira do Livro com o Pai! Comprei dois livros, um li no próprio dia e este tou a lê-lo. (Sou um infiel aos livros, leio sempre vários ao mesmo tempo e vou saltando de uns para outros, conforme a altura do dia e a disposição!) Há conversas sobre o livro do Papa, que nunca mais é publicado em português; a festa do Espírito Santo em Alenquer, a nova Igreja da Santíssima Trindade em Fátima ou uma homilia do Patriarca. Isso e mais mil estupidezes do costume!

21.30 Acaba o intervalo. Deixo-me ficar mais uns minutos no sofá com mais alguns seminas rebeldes!! Estes sofás são divinos, mesmo moles… e falam! Ainda agora este me diz “Duarteee… não és meu amigo? Eu sou teu amigo! Sou um apoio para ti…Confia em mim….descansa em mim!” E eu vou ficando, a divagar um bocado e a brincar com o candeeiro. Tá com uma lâmpada mal enroscada então passo o tempo a abaná-lo para ela fazer mau contacto. “Olha que ainda fundes essa porcaria!” Ora aí está, coisa que eu ouvi como” Duarte, continua, que até é engraçado!” Continuo mais um bocado.

21.40 Pronto tá bem, também não vale a pena ficar aqui o resto da noite. Vou lá acima à sala dos computadores, aqui de baixo ouvi o barulho das conversas do Messenger!

21.42 Sala cheia! 5 computadores, uns a ver mails, outros a trabalhar, mais um a tirar fotocópias e dois à conversa com outros… Fico um bocadinho à conversa até “vazar” um lugar.”Ò Ivo, não vais demorar pois não?” Ia já sair, olha que sorte. Vou ver os mails, costume, os blogs, duas palavrinhas no Messenger e quando olho para mim o tempo voou. “Maldito contínuo espaço/tempo que deve estar aos saltos outra vez! Tenho de ver se tiro Física ou assim para ver se percebo isto!”

22.50 Hora de ir para o quarto! Devia estudar um bocado! Mas agora já é muito tarde! Vou ligar à Mãe. “Tal e tal, tá tudo bem, a famelga também, não, não há novidades”

23.05 Já agora ligo ao Pai! E o Pai faz a típica pergunta “Olá! Então onde está?” Hmmm, por onde haveria de estar, principalmente a estas horas?… Por aquelas bandas também tudo bem. Tá certo, tudo bem.

23.13 Ponho-me às msgs com um amigo. Pois e tal, não sei o que acho, devias ganhar juízo! E estudar, não se faz? Que sorte, já de férias… eu tou quase a acabar as aulas! Mal posso esperar!

23.56 Depois de engonhar e passar várias msgs para o caderno resolvo que está na hora de ir para a cama. Todo um ritual que demora.

00.04 Rezo Completas, oração para acabar o dia. Exame de consciência (não, não vou partilhar!) e o salmo e o resto.

00.10 Já está. Ao tirar o pólo lembro-me uma derradeira vez da camisa de flanela… e ponho-me de boxers! Tou cansado! Ando a dormir mal, já me devia ter deitado há mais tempo, amanhã ainda falto às Laudes… recebo mais umas mensagens, mando outras. Já deitado em cima da cama.

00.30 Bom, tem de ser, pôr o despertador (já só faltam 6 horas!), por também o alarme no télemovel e dormir. Apago a luz, a ouvir música, claro. Sempre ligada, a noite toda. Para me ir fazendo companhia nas insónias. O Oceano Pacífico hoje está bom. Deixo os meus pensamentos voarem como só acontece à noite. Que dia este…nada de especial, mas grande. Tenho ainda algumas preocupações na cabeça… Devia ter feito várias coisas que não fiz. Amanhã é um novo dia!

00.49 É a última vez que olho para o relógio antes de adormecer.Vejo o plástico do “Não Obrigada” colado na minha porta. Um nó na garganta…que sensação de impotência…Mas há sempre esperança.

2.40 Passa uma mota a acelerar e acordo com um susto! “Pregos no chão!!!Era o que merecia! E ir contra o muro!” Odeio acordar assim de repente! E doem-me as costas caramba! Tá a dar uma música seca na RFM e ponho um cd, que o João me deu. Aquela musica do Jurassic Park, que nostalgia, que comovente…acalmo logo e solto os meus pensamentos mais uma vez. Omo eu gostaria de voar, de poder viajar no tempo! Gostava de poder descobrir o Mundo com o Vasco da Gama, almoçar em Versailles com Luís XIV, ser aristocrata na Revolução Indutrial num bairro de Londres… Ver a lata do Napoleão a auto-coroar-se imperador…enfim… é tão boa esta fase do sono…

4.13 Acordo, porque sim. Olha, uma msg.. “Aposto que é do meu Afilhado…” Muito boa, a frase beata que escreveu. O cd já acabou, claro. Volta à RFM. Anastasia? Tá certo. Por acaso gostava de ir à Rússia. São Petersburgo. Ao Hermitage. A ver “O Filho Pródigo” de Rembrandt durante muito tempo. Esta parábola é genial… Imagino que sou o Filho Pródigo. Ou o irmão mais velho. E adormeço a pensar em Jesus.

6.25 Toca o despertador.

End of day


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quinta-feira, 7 de junho de 2007

Como se passa um dia (III)

12.20 Chegamos finalmente. Chego ao quarto. Devia limpá-lo, tá a começar a ficar um nojo. E como tenho o colchão no chão não posso deixar acumular pó. Mas antes, fazer a cama, arrumar a casa de banho. Senão só depois do almoço.

12.57 Como o tempo passa a correr… Tarda nada almoço. Tou a ouvir música em cima da cama, a levar com o vento da ventoinha. Devia fazer o trabalho de Antropologia. E a prova modelo de Latim…depois… e devia arrumar os meus papéis… (Uma torre do tombo, a minha secretária tá uma torre do tombo, com direito a pó e tudo.Mil papeis mas já todos meio organizados. Papeis para guardar no caixote das recordações. Contas para acertar. Livros para ler. Trabalhos para fazer, cds para passar para o computador. Tudo no seu canto. Mas agora não, vou-me deixar ficar a pensar na vida a ouvir música. Recebo umas msgs e vou respondendo. O mundo segue igual lá fora. Este começou namoro, o outro acabou. Vai haver uma festa amanhã “sorry, não posso ir…Tenho coisas cá no seminário!”; “Gostava muito de ir mas não me deixam” é o que uso quando estou mais revoltado! (Passa agora um carro na estrada com kizomba aos berros. Acho engraçado. E continuo a ouvir, porque o sinal está encarnado e ele tem de ficar à espera).

13:25 Bom, vou subindo para o almoço, levo comigo a flor, que entretanto pus em água para não murchar. Vou à cozinha buscar os cestos do pão para pôr nas mesas. Só ainda lá está o Rúben, a fazer sumo de manda para o almoço. Não há-de ser para mim!

13:36 Chega o Pe Nuno Isidro e traz a D. Benedita na cadeirinha.Já lá lhe pus a flor, ao lado do guardanapo. Mal chega e a vê procura-me com o olhar. Eu já tou à espera e ela ri-se “Obrigado! Estas são bonitas!”. Chego perto dela, dou-lhe um beijinho e digo-lhe (ao ouvido, muito alto) E cheire lá! É bom!” Concorda. Para o ano faz 100 anos! Olha para mim com aquele ar desconfiado e malandro como quem diz “Você de camisa de flanela num dia destes??” (Costuma chamar-me o calorífero, porque ando sempre com calor e ela sempre com a mantinha nos ombros. Como agora!) “Pois foi, enganei-me!”Mas já me vou trocar, pensei…

13:44 Entretanto já chegou a outra carrinha e já cá tamos todos. “Ave-Maria…” rezamos todos. Sentei-me na presidência, ao lado do Pe Ricardo. Vem a sopa e eu comento o calor que está. E o que é que o Pe Ricardo responde? Sim… “Ainda bem que vieste de sobretudo!” Riso geral, meu também! Realmente é de rir. Como sopa, é canja. Como a dobrar quando me apercebo que o almoço é polvo à lagareiro. Mas o Pe Ricardo já me topou e diz “Não te safas de um bocadinho de polvo…” Bolas. Vou lá buscar os animais que jazem nas travessas. Na cozinha almoçam a D. Clara e a Lurdes, da cozinha e da roupa. Foi automático: “Ó Empis, você tem o termóstato ao contrário? No Inverno é t-shirt e agora essa camisa?” Talvez deitar a camisa para o lixo, penso para mim. Comi uma perna do polvo, com muita aguinha a ajudar e umas batatas para tirar o sabor. No fim até comi meia maça para tirar o sabor.

14:20 Acaba o almoço, rezamos. Depois de levantar a mesa vou ao quarto buscar o livro e vou para o bar com os outros. Tou a ler Mrs Dalloway, da Virginia Wolf. Não é fácil mas tou a gostar. Leio devagar. As conversas vão surgindo, uns jogam sueca.

14.45 Acaba o intervalo, vamos trabalhar. Muuuito devagarinho vou subindo até ao claustro, passeio por ali. O Zeca tá espojado no chão com o ar mais mole de sempre. Será que ainda está vivo? Vou lá ver. Infelizmente está. Se bem que pelo cheiro é duvidoso. Ainda tento falar com ele! “Maria José, anda cá!(É macho, mas para mim Zeca é nome de tia, por isso ficou Mª José). Como não mexe mais do que a cabeça desisto e ando para o quarto. Vejo pela milésima vez o quadro com as actividades desta semana e da próxima. Por estes dias nada fora do normal, só há a festa de anos do Miguel para a semana. Tão quase a acabar as aulas, mal posso esperar…

14.58
Não gosto que o quarto esteja nas catacumbas, mas se tem uma coisa boa é que é o sítio mais fresquinho deste lado. E tenho os estores fechados, obviamente… Mal chego, decido: “Sem um duche rápido e uma mudança de roupa não consigo trabalhar!”

15.00 Hora da Misericórdia. Mando umas mensagens. Depois num ímpeto de raiva arranco a camisa e atiro-a para o chão” Ah, olha para ti agora! Já não és tão opressora agora pois não? O quê? Foi sem querer? Tiveste aqui no Inverno para mim?? Oh minha amiga, nunca precisei de ti! Safo-me muito bem com t-shirts! E fica sabendo que só te usei por acaso, para propósitos estéticos e porque me enganei. Sim, foste um engano no meu dia. E não tenciono repetir o erro. Secamente ponho-a no saco da roupa suja. Só volto a olhar para ti na Sexta quando te puser num molho de camisas. Todas usadas, gastas, sujas e inúteis. Só dás trabalho!”

15.07 Rei e Senhor do clima, finalmente livre da flanela opressora, caminho numa pseudo marcha triunfal de um guerreiro que vence uma dura batalha, em direcção ao meu arco do triunfo: o duche. Agora sim, água com pressão! E bem fria, para me tirar a moleza. Agora uso gel de banho! O Preven, verde! Cheira tão bem! Mas apenas por questões económicas – irrita-me o desperdício de sabonete porque durante todo o duche apanha água e vai-se gastando sem o usar! Psicótico, eu?

15:20 Um pólo azul. Agora sim, fresco (e sempre a condizer), pronto para trabalhar (pelo menos em intenção. E agora há um momento que me acontece todos os dias que não consigo explicar. Há uma quebra no contínuo do espaço-tempo e os minutos passam como segundos!

17.25 De repente já tá quase na hora de silêncio! Mas não fiz nada! Tive distraído ou a ler ou a tentar estudar, ou a ouvir música… Nem digo a dormir, por causa da apneia. Não sei porquê sempre que adormeço à tarde tenho ataques, por isso já desisti… Vou lá acima ver se há alguma coisa na copa que se coma.

17.28 Ainda cá estão uns seminaristas, os habitués do lanche. Procuro no armário…nada! Quer dizer, ele tá cheio, mas de nada que eu goste! Hoje vieram coisas do Continente e ainda há as do Pingo-Doce. O frigorífico está cheio de yougurtes, de papaia, será?... E estas mil garrafas de yougurt liquido de piña-colada! O que é que vão inventar a seguir… No armário há donuts, folhados, croissants, pães de leite, e mais 20 variedades de bolachinhas. Nada pra mim. Nem olho para as 45 marcas de cereais. Se ao menos houvesse chocolate para o leite…Ou uma Cerelac…

17.30 O Samuel toca o sino, começa o silêncio. Desolado lá volto para o quarto. Agora é tempo de oração ou de estudo. Fico a engonhar até as 6.
(Já só falta mais uma parte...)


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quarta-feira, 6 de junho de 2007

Como se passa um dia (II)

8:50 Chego e sento-me bem lá atrás, onde posso estar mais à vontade e tenho uma janela aberta. Nestas salas miseráveis só há praí três tomadas….como ligar vários computadores? Lá atrás só há uma! Mas o Rúben trouxe a ficha tripla. Sim, já chegámos a isto, uma ficha tripla. Ah, é amarela fluorescente. Feitas as ligações, entra-se na net e faz-se a visita matinal pelos mil e um blogs (Sempre primeiro o dos Senzas…) Depois vê-se de que séries é que eu gostaria de ter uns episódios e tal… Vejo os mails.

8:53 “Bom dia meus senhores…” Entra o Professor e acaba-se a distracção (a realidade pode estar ligeiramente modificada para não causar escândalo a nenhum leitor.) Entretanto também está cá o Filipe Avillez! É sempre bom tê-lo nestas aulas, apesar de ele ser um nerd e estar sempre na segunda fila, muito atento.

9:04 O calor. Já vejo o Prof por entre os efeitos do calor, qual miragem. Os estores da sala, avariados e todos tortos, claro, deixam passar o sol de chapa. O sono a querer dominar. O tom monocórdico… Mas o calor. Mas já tanto calor? E de repente, atinge-me! “Flanela??? ESTOU COM UMA CAMISA DE FLANELA??” O caricato acontece. Na minha correria da manhã com a preocupação da toilette nem me apercebi do suicídio que cometia. Uma camisa de flanela bem quentinha, a única que tenho e que quase nunca uso. Logo hoje, dos dias mais quentes até agora! “Oh meu Deus, que mal fiz eu???” Que loucura! E agora já não consigo pensar noutra coisa! O deserto. Incêndios nas florestas. Um forno de lenha gigante. O tubo de escape de um camião mesmo a apontar para a minha cara. Uma praia sem mar! Nããããão! Gotas de suor salpicam-me o buço! Não! Bendita Água Brava que me faz resistir à porcaria.

9:11 “Ó Duarte, como é que estás com uma camisa de flanela num dia destes?” Pergunta o David…Pronto! Já começam a notar a minha idiotice! “Pois - digo, irritado - sei lá, não pensei bem nisso! (um frango a grelhar numa grelha gigante)”

9:34 Abano-me loucamente com as benditas folhas de matéria da sebenta (afinal servem para as aulas!!) Pareço as velhas a ter afrontamentos na Missa. (pelo menos essas têm leves “blusas” de seda!) ah, o que eu não dava agora por um ar condicionado….ou uma ventoinha! Um leque?? Alguém a soprar? Pronto, tá bem! Servem muito bem as folhas! Pelo menos estou bem vestido! Nem que morra de calor, pelo menos morro dignamente! (Neste momento agradeço a Deus por não suar quase nada, senão já ostentaria dois belos medalhões nos sovacos!)

10:00 Começam aqueles relógios da Casio a apitar – há dois ou três colegas nossos, Espiritanos, parece-me, que fazem questão de pôr naquela função de tocar hora a hora. Muito irritante. Mas mais ainda é a impassividade do Professor perante os mil alarmes (se calhar é como eu e o despertador às seis e meia!)

10:07 Ora finalmente acaba a aula! E a próxima quem é? O próprio! Ah pois é, de Teologia Filosófica passamos para Antropologia Filosófica! Isto é uma delícia! Mas antes 15 minutos de intervalo. Em rigor já só são 8, mas eu tenho uma costela de função pública e conto a partir do momento em que saio da sala. O calor.

10:13
“Bom dia Duarte!!”, diz-me uma amiga que está em Direito. “Não tens calor num dia destes com essa camisa??” Exibo o melhor sorriso que tenho embora a conversa já me comece a irritar.

10:14 Chega a minha vez no bar e logo vem o meu croissant misto com manteiga e o leite com chocolate sem ser preciso pedir. E já está no vidro riscado do balcão 1,97€ que dou certinhos.
Apesar de ainda estar enjoado vou comer, pode ser que passe. Falo com os seminas sobre coisas normais, vem o Pe João que conta sempre histórias cómicas. Pergunto como estão as coisas em Santa Isabel. Tudo bem.

10:24 Bom, já passaram os 15 minutos..Há três minutos… Talvez voltar à aula! Lá vamos nós, “como cordeiro ao matadouro” O calor. “Então no Inverno vens de t-shirt e no verão de flanela?” - pergunta o Dehoniano. Sorriso amarelo. “Ah, sorry, já tou atrasado pra aula, tenho de correr!” Fui.

10:26 “Desculpe o atraso, digo inaudivelmente enquanto vou para o lugar. Já tá o quadro todo escrito com a bibliografia para esse dia, e o professor alegremente a falar sobre ela. É impressionante a quantidade de livros e autores dos quais ele fala. E ligo logo o modo (que sequência de palavras irritante) de alerta máximo porque as distracções à aula são muitas! Pelo menos não vou conseguir adormecer, o calor não deixa.

11:03 Algo desperta a minha atenção – sim, o professor acabou de falar da bibliografia para o tema que vamos dar na aula. Sim, foram cerca de 40 minutos. Agora estamos prontos para dar a matéria! (…) Agora estou a ouvir. E tal, o Ser, Deus, “o homem como unidade diferenciada de corpo, alma e espírito”; “Sentido – o carácter mais espiritual do sentido da visão é o “vemos que não”.A audição não é à distância – implica temporalidade, sucessão. É o órgão da compreensão, o órgão do sentido.” Umas palavras que apanho e escrupulosamente escrevo no meu computador, todo contente por estar a ser um estudante aplicado!

11.34 Finalmente acabou a aula! E o calor que está não é real! Ainda bem que já não temos mais aulas hoje!! A correr para a carrinha, procuro no parque uma flor para hoje à hora de almoço dar à D. Benedita. Enquanto os mais atrasados ficaram à conversa. Hmm, estas azuis já levei…estas amarelas e as brancas também… Esta da última vez que levei ao terceiro km da auto-estrada já tinha murchado, então com este calor nem vale a pena. Que seca, não levo nenhuma hoje. Também não é nenhum drama.

11:40 Vamos embora. Tá a dar a”Grace Kelly” do Mika, ponho aos berros e abro a janela, só para libertar energias. Tá calor e a carrinha não tem ar condicionado, como seria de esperar.

11.58 “Rápido, o que dizer na mensagem do Angelus de hoje? Hoje de manhã nas Laudes rezei qualquer coisa bonita, mas para variar já não me lembro! Cá vai mais uma frase estúpida…Se ao menos me pedissem intenções era mais fácil pra eu partilhar…”

12.00 103.4 na telefonia da carrinha e rezamos todos juntos o Angelus na RR! Muito bom. “18 mensagens enviadas” diz-me o tlm. Tá feito! Espero que pelo menos um deles reze!

12.04
Paramos na bomba da gasolina. O pneu continua a perder ar. Enquanto o João Paulo o enche eu vou a correr arrancar umas flores amarelas muita bonitas que vi lá ao fundo. “A D. Benedita vai gostar destas. E cheiram mesmo bem, vê lá Duarte, não achas?” Também acha. E seguimos.


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terça-feira, 5 de junho de 2007

Como se passa um dia

6:25 Tocou o despertador… “Já???” Dormi mal, tive apneia. Ontem doíam-me as costas quando me deitei, mesmo quando estava parado, todo direitinho sobre a cama (Há já uns dias que tenho o colchão no chão, para variar um bocado as coisas. E continuo com aqueles enjoos inexplicáveis (não, não estou à espera de bebé.) que me tiram a vontade de comer! Vou dormir mais 10 minutos.

6:35 Toca o despertador. Pronto, isto deve ter sido comprado no chinês. Ainda agora tocou e já toca outra vez? Deves…

6:45 Toca o despertador. Já me soube bem dormir mais estes minutos mas já chega. Tenho de me despachar senão vou chegar atrasado às Laudes!

6.55 Toca o despertador. Caramba, que chato! Já disse que me ia levantar, ó idiota! (e começo a ficar agressivo…)

7:02 Acordo de um salto! O único despertador eficaz – a pressão! “Cacete! Já tou atrasado!” Em meio minuto visto-me, lavo a cara e os dentes, penteio-me, tiro as ramelas e ponho um bocadinho de Lavanda pra me alegrar e corro para as Laudes.

7:04 Chego a meio do Hino, nada mal… Tou com uma pedrada e enjoado mas sabe-me bem rezar os Salmos. (Claro que me engano numa ou noutra palavra, quando estou entre o sono e a vigília! ehehe)

7:25 Não vou tomar o pequeno-almoço. Para além de estar enjoadíssimo ainda não tomei duche.

7:28 Um fio de água, que irritante. Volta a agressividade! Eheh! Mas não desisto e lá tomo o meu banho, devagarinho (ma non tropo, porque tarda nada a carrinha vai-se embora) Sabe mesmo bem tomar banho. E depois fazer a barba... devagarinho para não me cortar muito…


7:34 “Uau, só três cortes!” E agora a parte melhor – after-shave Água Brava, que bom!! Adoro ficar com a minha cara macia, e cada vez mais rechonchuda…

7:36 A correr fazer toda uma toilette. Ora tenho umas calças “béjes”? Rápido, esta camisa que é azul. Estes ténis que têm este tom azulado, as meias e…qual relógio?…. Boa, o do Coronel Tapioca, azulinho. Ah, boxers….cor de laranja, claro. Tem de haver sempre um elemento cor de laranja.

7:38 Ora pôr na pasta o computador portátil, o cabo, o caderno das msgs, a caneta de tinta permanente, as folhas de Teologia Filosófica. Tá tudo? Pendurar a toalha molhada na cadeira, pôr mais um bocadinho de Lavanda e a correr e sair! Porta aberta para arejar…

7:39 (já no corredor) Bolas, esqueci-me do MP3!! Volto para trás. “Ora aqui está! E mais uma pilha, nunca se sabe!”

7:40 Chego à carrinha, só ainda lá está o João Paulo! Boa, não estou atrasado! “Bom dia, João!” Ponho-me no lugar da frente, vejo o que a RFM tá a dar. Não há paciência para os programas da manhã e aqueles comentários ridículos! Ligo o MP3. O João buzina, tá na hora de sairmos e ainda só lá estamos 3. Faltam mais 5 na nossa carrinha.

7:45 A caminho da faculdade…aquele sentimento que é preciso ganhar forças para um novo dia. Estas aulas podem ser um bocado secantes…Já tou a ouvir música. Eu e mais 5, cada um com o seu MP3…. Olha que modernos!E o Rúben tá com o computador portátil! Quem falou na Igreja ser retrógrada?

8:00 O trânsito, desde as portagens de Carcavelos… “Olha, é aquele homem do futebol com risca ao meio!” digo eu. No carro ao lado tá quem me dizem ser o Paulo Bento. Um minuto de êxtase. E mais à frente quem vai? Carlos Cruz…mais uns sorrisos.. Vou aproveitar o tempo e rezo o terço. Ponho uma música beata como pano de fundo porque senão não me consigo concentrar, com a Carla não sei quantas a rir histericamente na RFM.

8:20 Monsanto. Passamos no “sítio do esquilo”. Eu explico. Nesse mato já vi lá duas vezes esquilos, quando passávamos! Um a trepar a uma árvore e outro a passar a rua. A partir daí começou toda uma tradição. O Rúben e eu sempre que passamos desatamos a chamar por eles. Tem piada “Esquiliiiiiinho???Ó esquiliiiinhoooooooo!!!! Squicky Squicky?” Sim, é este o barulho que os esquilos fazem, para vossa informação. OOh! Nada! Nem vislumbre do bicho…

8:35 Chegamos à faculdade. O nosso parque está vazio! Parqueamos a bela carrinha branca, praticamente a estrear - é uma bomba. (Qualquer diz rebenta.) Continuo a ouvir música e vou para o bar. “Talvez comer qualquer coisa. Hmm, ainda não, continuo enjoado” Vamos só dar a volta dos tristes pelo bar. Mais triste (Maastricht)ainda é ir prá aula antes do tempo, ora essa!

8:45 Como o tempo voa. Ora então vamos lá para a aula do Sr Prof. Padre Joaquim de Sousa Teixeira, Teologia Filosófica! Lindo! É isto mesmo que me está a apetecer. E um clister.

(continua…)


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domingo, 3 de junho de 2007

Ambiguidade

Primeiro falam de aborto, agora isto... Vá-se lá perceber!...

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sábado, 2 de junho de 2007

A um amigo!

Uma amizade é sempre um risco, não é? Eu não gosto de correr riscos. Tento o mais que posso controlar a minha vidinha, gerir bem as minhas relações, os meus trabalhos, as actividades, para nada correr fora do normal. Como os hobbits do Senhor dos Anéis, que gostam de estar nas suas casinhas dentro da terra, a fumar o seu cachimbo e a comer, tudo com muita calma e serenidade, no bom, velho Shire.
E por isso cada nova amizade começa por ser um desafio (e nunca deixa de o ser). Porque para mim uma amizade é relação de Amor. E só quem não ama é que não se arrisca.


Por isso para mim começar uma amizade é sempre uma mistura de aventura, de alegria, de descoberta mas também de medo e de ponderação.


Se calhar porque sou um complicado, dei por mim a pensar, no princípio de uma amizade que me apercebi que estava a começar, se queria arriscar. Se queria arriscar ter aquele amigo, com todas as confusões e chatices, embirrações e mal-entendidos que poderia haver; por todo o sofrimento que daí poderia vir. E arrisquei! Porque era uma coisa boa! Era uma coisa de Jesus, que me fazia feliz, e que me levaria a um crescimento pessoal muito importante. E nesse dia comprometi-me naquela nova amizade. Não foi nada de formal, nenhum juramento solene ou promessa de sangue, nem sequer falei disso; mas no meu coração quis aceitar esse amigo que Jesus me oferecia.


Mas Ele avisou-me que às vezes se poderia tornar uma cruz. Quando eu quisesse um amigo apenas para me confortar e para me entreter, quando não lhe desse espaço para ele ser livre, quando não nos entendêssemos e discutíssemos. Quando passasse a novidade e viessem as desilusões. Quando nos tivéssemos de separar. E que difícil isso é para mim! Parece que não faz sentido! Deus dá-me um amigo mas depois separa-nos? Para que serviu isso? Se for só para me causar sofrimento se calhar é melhor não arriscar! Assim se eu não conhecer mais ninguém são menos separações que vão acontecer. Isto é a minha lógicazinha medíocre.


Mas Deus deu-me a Sabedoria para aceitar o amigo. E eu aceitei levar essa cruz, com a condição que Ele me repetisse uma frase que um dia disse aos Apóstolos. E Ele disse-a.

“Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso da vossa carga e vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas, pois o meu jugo é suave e a minha carga é leve.”
(Mt 11, 28-30)

Às vezes ter um amigo de quem gosto muito faz-me sofrer cá dentro. Tenho ainda muito que crescer. Mas não me vou esquecer que lhe prometi (nem ele sabe!) a minha amizade. E já adivinhava que momentos difíceis iam aparecer mais cedo ou mais tarde. Mas todos os maus momentos com um amigo não se comparam de todo com os mil momentos bem passados e que nunca irei esquecer na companhia dele.
Por isso em alturas mais difíceis é pegar na Bíblia e ler o que Jesus me disse naquele dia!


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