sábado, 30 de abril de 2022

Ajoelhar-se é estranho para a cultura moderna

Ajoelhar-se é um acto estranho para a cultura moderna – enquanto cultura que se afastou da Fé, e já não conhece Aquele diante do qual o estar de joelhos é a postura justa e necessária. 

Quem aprende a crer aprende também a ajoelhar-se. Uma Fé ou uma Liturgia que já não conhece o ajoelhar-se tem o seu núcleo (o seu coração) doente. Nos lugares onde se perdeu, o acto de se ajoelhar deve ser recuperado

Cardeal Ratzinger (Papa Bento XVI) in 'Introdução ao Espírito da Liturgia'


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Carta de Santa Catarina de Sena a um homem em pecado mortal

Em nome de Jesus Cristo crucificado e da amável Maria, caríssimo irmão, eu, Catarina, serva e escrava dos servos de Jesus Cristo, vos escrevo no Seu precioso sangue, desejosa de vos ver repudiando o pecado mortal.

É que, de outro modo, não podereis receber a graça divina em vossa alma. Mas nem vós, nem qualquer outra pessoa alcançará a graça sem a iluminação divina (da fé), que dê a conhecer a relevância do pecado e o valor da virtude. Ninguém ama o que desconhece.

Assim, é impossível conhecer e amar algo digno de amor ou repudiar algo digno de repúdio, sem a fé. Portanto, precisamos da luz da fé, que é a pupila da nossa inteligência, supondo que o amor-próprio não a tenha obscurecido. Havendo egoismo na alma, cumpre eliminá-lo, para que nosso olhar interior não seja impedido. Através do amor santo, é preciso afastar o perverso amor da sensualidade, que abafa a graça divina na alma e corrompe toda a actividade. Acontece como numa árvore contaminada, cujos frutos são podres. 

A pessoa cheia de amor sensual perde o sentido da gravidade do pecado mortal. Toda a sua actividade se corrompe, desaparece a sua luz interior. Nas trevas, a alma deixa de ver a verdade. Mais ainda, a sensibilidade espiritual e a tendência da alma são prejudicadas, de modo que as coisas boas lhe parecem más e as más parecem boas. Quem foge do amor a Deus e ao próximo, põe a felicidade nos prazeres e orgias deste mundo. E, quando ama alguém, não o faz por causa de Deus, mas para a própria utilidade. Ao contrário, quem eliminou todo o amor sensual ama o Criador acima de tudo e o próximo como a si mesmo. Mas, para chegar a tal amor, é preciso que a inteligência, iluminada (por Deus), reconheça antes o próprio nada, sua dependência de Deus quanto ao ser e a todo o mais que possui.

Apenas então a pessoa se conhece a si mesma, a própria imperfeição, e como Deus é bom. Também condena a própria imperfeição e a sua fonte, que é o egoísmo. Passa a amar a vida virtuosa por amor do Criador, dispõe-se a sofrer toda dificuldade para não ofender a Deus e não prejudicar a vida na virtude. Enfim, orienta todas as suas actividades espirituais e materiais a Deus. Em qualquer estado de vida se encontre, ama e teme o Criador. Assim, se possui riquezas, alta posição social, filhos, parentes e amigos, tudo considera emprestado, não como coisa sua. E tudo usa disciplinadamente, sem abusos.

Vivendo no matrimónio, comporta-se segundo as normas do sacramento e as leis da santa Igreja. Tendo de conviver com outras pessoas e servi-las, age sem interesses pessoais, sem fingimento, livre e comprometida somente com Deus. Ele regulamenta as faculdades da alma e os sentidos corporais: orienta a memória para recordar-se dos benefícios divinos; a inteligência para conhecer qual é a vontade de Deus, que apenas quer a nossa santificação; a vontade, para amar o Criador acima de toda outra coisa. Assim reguladas as faculdades da alma, põe ordem nos sentidos.

É o que vos peço fazer, caríssimo irmão. Organizai vossa vida, procurai compreender a gravidade do pecado e a imensidão da bondade divina. Se o fizerdes, sereis do agrado divino em todas as condições em que vos encontrardes. Sereis uma árvore frutífera de santas e autêntica virtudes. Já neste mundo começareis a gozar as garantias da vida eterna. 

Julgando eu que de nenhum modo poderemos alcançar a paz, a quietude e a graça (divina) sem a iluminação da fé – que nos permite conhecer a nós mesmos, a gravidade do pecado mortal, a bondade divina e o tesouro das virtudes – afirmei que desejava vos ver repudiando o pecado mortal. Espero que assim façais.

Nada mais acrescendo. Permanecei no santo e doce amor de Deus.

Jesus Doce, Jesus amor.


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quinta-feira, 28 de abril de 2022

Descanonização da Santa Gianna Beretta Molla, Mãe de Família

Todo o filho tem o direito de ser gerado pelos pais biológicos, que devem ser casados (e não por técnicos em laboratório), e de por eles, ambos e dois, ser criado e educado.  Este direito óbvio, em virtude da dignidade incomensurável de cada pessoa em qualquer idade, é nos dias que correm espezinhado por legislações torpes e aberrantes, geralmente repudiado pela mentalidade reinante, por grande parte de cristãos e, mesmo, por membros da Hierarquia, um pouco por todo o mundo.

Infelizmente, por diversas circunstâncias, isso - ser criado e educado por ambos, nem sempre é possível ou, pelo menos, torna deficiente a sua realização. Por exemplo, a morte de um dos pais, a prisão prolongada, o serviço militar em terras estrangeiras numa guerra, por tempo indeterminado, uma doença crónica incapacitante, a violência doméstica (psicológica, física ou moral), (o adultério, motivo que pode ser bastante para uma separação, a poligamia), a conjunção poli-amorosa, etc. Tudo isto, é de um modo geral compreendido e aceite pela generalidade das pessoas e em certa medida pela Igreja.

Porém, quando se trata dos filhos (de católicos validamente matrimoniados, que se divorciam pelo civil e “casam” civilmente) que são fruto dessa relação civil, objectivamente adulterina, considera-se um imperativo absoluto a permanência nesse estado, tido como único meio para não cometer uma grave injustiça para com os rebentos. Claro que, se os pais se decidem a viver como irmãos para o maior bem da prole que se quer salvaguardar, é compreensível que partilhem a mesma morada e se entreajudem no cuidar dos filhos. 

Mas naqueles casos em que um quer viver abstinente e o outro não aceita? Deve  aquele que quer, submeter-se à prepotência fornicadora do outro? Evidentemente que não. E nessa circunstância terá que separar-se, terminando definitivamente com a situação objectiva de adultério público e permanente, mas continuando consoante as suas possibilidades a contribuir para a criação dos filhos. Caso contrário deveríamos, por exe., descanonizar e condenar como gravemente injusta a Santa Gianna Beretta Molla.

Esta médica ginecologista era casada e tinha três filhos quando ficou grávida de uma quarta. “ ... (D)escobriu-se (então)que ela tinha um fibroma no útero e ela tinha três opções: retirar o útero doente (o que ocasionaria a morte da criança), abortar o feto ou, a mais arriscada, submeter-se a uma cirurgia perigosa para preservar a gravidez. Gianna (como médica tinha plena consciência do que lhe viria a suceder) não hesitou e disse: "Salvem a criança, pois tem o direito de viver e ser feliz!".” 

A cirurgia ocorreu a 6 de Setembro de 1961. “ ... deu entrada para o parto no hospital de Monza na Sexta-Feira Santa de 1962. No dia seguinte, 21 de abril, nasceu Gianna Emanuela. Sempre fiel, afirmava: "Entre a minha vida e a do meu filho, salvem a criança!". Gianna faleceu no dia 28 de abril de 1962 em casa.”

Perante as alternativas que lhe foram aconselhadas - não só por médicos como por familiares, pelo próprio marido, lembrando-lhe os três filhos que deixaria desamparados da sua presença materna -, a primeira era moralmente lícita, legítima. E, não obstante, pôs em primeiro lugar a filha que trazia dentro em si.

Se não foi gravemente injusto, muito pelo contrário, o abandono previsto mas não desejado a que Santa G. B. M. votou os filhos em virtude da sua entrega magnânima de amor, por que será gravemente injusto um pai o uma mãe entregar-se também com semelhante longanimidade, renunciando a um comportamento gravemente imoral, para não mais ofender a Deus, unir-se a Jesus Cristo e viver em comunhão com o Seu Corpo que é a Igreja - podendo continuar, embora com limitações, acompanhar seus filhos e contribuir para a sua criação? 

Padre Nuno Serras Pereira


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quarta-feira, 27 de abril de 2022

Como cientista posso afirmar que a homossexualidade não é inata

O Dr. Jokin de Irala, médico e investigador da Universidade de Navarra, explica que a exclusão desta conduta do manual de doenças da APA só aconteceu por simples votação. Questiona o facto de que todos aqueles que criticam o fenómeno sejam considerados homofóbico.

O médico, mestre em saúde pública e especializado em afectividade e sexualidade humana, aponta na entrevista a necessidade de passar para o plano cientifico o debate sobre a homossexualidade. Afirma que ela é um desenvolvimento inadequado da identidade sexual e assegura que é possível a mudança da conduta daqueles que se sentem atraídos por pessoas do mesmo sexo.

- Há alguma prova científica de que se nasce homossexual?

- Como cientista diria que a homossexualidade se faz, não é inata. Tem que se dizer que efectivamente não existe nenhuma evidencia cientifica que prove a teoria genética da homossexualidade ou que ela possa ser inata. Os especialistas em homossexualidade que trabalham em associações científicas como a NARTH nos EUA (associação nacional de investigação e terapia da homossexualidade) afirmam que se trata de um desenvolvimento inadequado da identidade homossexual. Assim, deveríamos pelo menos aceitar que o debate científico sobre este tema possa continuar a existir.

- Onde nasce a corrente de pensamento que afirma que é uma opção sexual normal?

- Esta ideia de que uma pessoa nasce homossexual tem a sua origem nos anos 70 quando os ativistas da homossexualidade nos EUA fizeram um grande lobby para que a APA, a Associação Americana de Psiquiatras, tirasse esse assunto do manual de classificação de doenças. Assim, houve uma votação em que votaram 25% dos membros, cujo resultado foi de 69% a favor de retirar a homossexualidade dessa lista. Que eu saiba, é o único exemplo na medicina onde se decide se algo é ou não uma doença através de uma simples votação de quem assiste a uma reunião. Imagine que se fazia uma votação na sociedade espanhola de endocrinologia para se votar a favor ou contra o facto de que a obesidade é um problema de saúde. Isto não tem precedentes. O que temos que fazer é analisar o problema com estudos científicos. 

- É uma conduta que pode ser alterada?

- Há dados científicos, estudos publicados em revistas científicas que mostram que a homossexualidade se pode mudar com uma terapia adequada, inclusive nos EUA onde há associações de ex gays. Muitos deles protestam porque dizem que estes grupos de ativistas não deixam que se saiba que a mudança é possível. Não só não deixam que se saiba como não admitem que alguém possa livremente pedir ajuda. Há, por exemplo, o caso de um juiz de Lombardía (Italia) que declarou ilegal ajudar um homossexual, mesmo que ele peça livremente. Isto é inacreditável. É um atentado contra a autonomia do paciente.

- Em que se baseiam?

- Afirmam que a terapia é quase uma tortura, traumática, com choques elétricos. No entanto, não tem nada a ver com isto, o tratamento é basicamente uma psicoterapia. Não se pode impedir que as pessoas escolham livremente pedir ajuda. Mas é preciso dizer que hoje se utiliza o termo AMS para identificar a atração por pessoas do mesmo sexo, porque uma coisa é alguém se sentir atraído por pessoas do mesmo sexo, outra é que alguém, por causa dessas atrações, acabe a ter relações sexuais de tipo homossexual. O facto de que alguém se sinta traído não significa que seja homossexual, de todo. Aliás, hoje em dia, com o ambiente pró-homossexual envolvente e com a cultura que existe, há muitos casos de jovens que simplesmente têm uma confusão e pedem ajuda.

- Quais seriam as causas desta conduta?

- Há muitas causas possíveis, mas parece que a maioria dos casos de homossexualidade está na falta de identificação com a figura de homem ou de mulher da família. É muito comum o panorama do pai autoritário, passivo, ausente da vida de um rapaz que é sensível e perfecionista; ou de uma mãe muito possessiva do ponto de vista emocional. Este é um dos maiores caminhos que leva à homossexualidade.

- Há outras?

- Outro caminho que é visto em conjunto com este é aquele em que esse rapaz, por exemplo, sensível- o que não é uma coisa má-, é rejeitado na escola pelos do seu sexo devido a essa sensibilidade. Esta rejeição pode conduzir a uma diminuição da autoestima e, por conseguinte, quando chega à puberdade, a uma orientação homossexual. Outra causa é a conhecida ambiguidade da identidade sexual nos adolescentes. É normal que um adolescente, rapaz ou rapariga, possa ter dúvidas sobre a sua identidade sexual, mas essa ambiguidade, bem agarrada, fortalecendo a identidade masculina ou femininas dos jovens, não traz problemas, leva à heterossexualidade. O problema atual é que isto está a ser mal levado e diz-se a esse jovem que o que tem de fazer é “sair do armário”.

- Há problemas de saúde ligados à homossexualidade?

- Sim, a atividade sexual de tipo homossexual acarreta problemas de saúde, alguns dos quais são específicos. Para além dos problemas associados à promiscuidade sexual e às infeções de transmissão sexual, que também há entre heterossexuais promíscuos, existem problemas associados à utilização dos órgãos sexuais sem ter em consideração que o seu “desenho” está orientado à complementaridade entre homem e mulher. 

- Porque é que apesar dos dados científicos se continua a negar o problema?

- Há muitas razões. A primeira é que há desinformação. Muitos profissionais não trabalham com estes dados e só têm em conta o manual da APA. Depois estão as ideologias, os interesses económicos e a realidade do medo. Há profissionais que sabem disto, mas o preço que têm de pagar por afirmá-lo é muito caro. Se em Espanha um psiquiatra pusesse numa placa que é terapeuta da homossexualidade o óbvio é que lhe queimassem a porta do seu consultório podendo acabar sem clientes.

- Onde estaria o equilíbrio?

- O equilíbrio está em reivindicar um respeito incondicional por todas as pessoas com sentimentos homossexuais. Teria que se compatibilizar a ciência com o respeito pela liberdade; deve ser possível o debate científico sobre o tema. Deveria haver a possibilidade de eu, como cientista, poder dar a minha opinião sobre a homossexualidade sem que me chamassem homofóbico só porque tenho uma postura contrária à das organizações gays. 

- Há também muito sentimentalismo neste tema…

- Efectivamente. Por isso é preciso tirar este assunto do sentimento e do afeto. Há quem lhe diga: “O meu filho homossexual é boa pessoa e eu amo-o”. Claro que sim, e está certo, mas isso não tem nada a ver com o que estamos a falar. Não é uma questão de ser boa ou má pessoa, não é uma questão de sentimento. Tu podes e deves amar muito o teu filho homossexual; agora, isso não quer dizer que não possas mostrar que a tua opinião é que tem um problema e que há uma solução possível. É como se o debate sobre os diabetes fosse sobre se os diabéticos são ou não boas pessoas, pois isto é levar o debate para o sentimentalismo.

- Todavia, há medo de discriminar.

-Claro que a discriminação é uma barbaridade, mas isso não quer dizer que tenham o direito de adoptar (Nota de edição: a adopção não é um direito universal. Os adoptados, sim, têm direito a ter pai e mãe, e os candidatos a adoptar devem cumprir certas condições. Nem sequer todos os heterossexuais têm o direito de adoptar), por exemplo. Há que não misturar, este é outro problema. O problema é que hoje se tenta etiquetar de homofóbico qualquer pessoa que simplesmente não tenha a mesma visão da linha da homossexualidade política.

in conapfam.pe


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Profissão de Fé de S. Pedro Canísio SJ contra a heresia protestante

S. Pedro Canísio foi um sacerdote jesuíta holandês, nascido no ano 1521. Foi um forte combatente contra a revolução protestante, especialmente na Alemanha, Áustria e Suiça. O seu trabalho foi especialmente importante na Alemanha, onde se diz que a Fé católica permaneceu graças a este santo. Foi declarado Doutor da Igreja em 1925, pelo Papa Pio XI. A partir de 1571 passou a incluir esta profissão de fé em todos os seus livros:

Professo diante de Vós a minha fé, Pai e Senhor do Céu e da terra, meu Criador e Redentor, minha força e minha salvação, que desde os meus mais tenros anos não cessastes de nutrir-me com o pão sagrado da vossa Palavra e de confortar o meu coração.

A fim de que eu não vagasse, errando como as ovelhas transviadas que não têm pastor, Vós me congregastes no seio de vossa Igreja; colhido, me educastes; educado, continuastes a me ensinar com a voz daqueles Pastores nos quais Vós quereis ser ouvido e obedecido como em pessoa pelos vossos fiéis.

Confesso em alta voz, para a minha salvação, tudo aquilo que os católicos sempre acreditaram de bom direito nos seus corações.; não quero ter nada em comum com eles, porque não falam nem ouvem rectamente, nem possuem a única regra da verdadeira Fé proposta pela Igreja Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana.

Uno-me, em vez disso, na comunhão, abraço a fé, sigo a religião e aprovo a doutrina daqueles que ouvem e seguem a Cristo, não apenas quando ensinada nas Escrituras, mas também quando julgada pela boca dos Concílios Ecuménicos e definida pela boca da Cátedra de Pedro, testemunhando-a com a autoridade dos Padres.

Professo-me também filho daquela Igreja Romana que os ímpios blasfemos desprezam, perseguem e abominam como se fosse anticristã; não me afasto de nenhum ponto da sua autoridade, nem me recuso a dar a vida e derramar o meu sangue em sua defesa, e creio que os méritos de Cristo podem obter a minha salvação e a de outros somente na unidade desta mesma Igreja.

Confesso essa Fé e doutrina que aprendi ainda criança, confirmei na juventude, ensinei como adulto, e que agora, com a minha débil força, defendo. Professo francamente, com São Jerónimo, ser uno com quem é uno à Cátedra de Pedro, e protesto, com Santo Ambrósio, seguir em todas as coisas a Igreja Romana que reconheço respeitosamente, com São Cipriano, como raiz e mãe da Igreja universal.

Ao fazer esta profissão, não me move outro motivo senão a glória e honra de Deus, a consciência da verdade, a autoridade das Sagradas Escrituras, o sentimento e o consenso dos Padres da Igreja, o testemunho de fé que devo dar aos meus irmãos e, finalmente, a salvação eterna que espero no Céu e a felicidade prometida aos verdadeiros fiéis.

Se acontecer de eu vir a ser desprezado, maltratado e perseguido por causa desta minha profissão, considerá-lo-ei uma graça e um favor extraordinários, porque isso significará que Vós, meu Deus, me destes a ocasião de sofrer pela justiça e não quereis que me sejam benevolentes aqueles que, como inimigos declarados da Igreja e da verdade católica, não podem ser vossos amigos.

No entanto, perdoai-os, Senhor, porque, instigados pelo diabo e cegados pelo brilho de uma falsa doutrina, não sabem o que fazem, ou não querem saber.

Concedei-me, contudo, esta graça: de que na vida e na morte eu renda sempre um testemunho autêntico da sinceridade e fidelidade que devo a Vós, à Igreja e à verdade, que não me afaste jamais do vosso santo amor, e que esteja em comunhão com aqueles que Vos temem e guardam os vossos preceitos na Santa Igreja Romana, a cujo juízo, com ânimo pronto e respeitoso, eu me submeto e toda a minha obra.

Todos os santos, triunfantes no Céu ou militantes na terra, que estais indissoluvelmente unidos no vínculo da paz na Igreja Católica, mostrai a vossa imensa bondade e rezai por mim.

Vós sois o princípio e o fim de todos os meus bens; a Vós sejam dados, em tudo e por tudo, louvor, honra e glória sempiterna. Ámen.

PF


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terça-feira, 26 de abril de 2022

Benedictio Dei Omnipotentis: Patris et Filii et Spiritus Sancti descendat super vos et maneat semper




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A primeira Missa no Brasil: 26 de Abril do ano 1500

Viu um deles umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo. (...)

Quando saímos do batel, disse o Capitão que seria bom irmos direitos à Cruz, que estava encostada a uma árvore, junto com o rio, para se erguer amanhã, que é sexta-feira, e que nos puséssemos todos de joelhos e a beijássemos para eles verem o acatamento que lhe tínhamos. E assim fizemos. A esses dez ou doze que aí estavam, acenaram-lhe que fizessem assim, e foram logo todos beijá-la. Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos, porque eles, segundo parece, não têm, nem entendem em nenhuma crença. (...)

Enquanto a ficaram fazendo, ele com todos nós outros fomos pela Cruz abaixo do rio, onde ela estava. Dali a trouxemos com esses religiosos e sacerdotes diante cantando, em maneira de procissão. Eram já aí alguns deles, obra de setenta ou oitenta; e, quando nos viram assim vir, alguns se foram meter debaixo dela, para nos ajudar. Passamos o rio, ao longo da praia e fomo-la pôr onde havia de ficar, que será do rio obra de dois tiros de besta. Andando-se ali nisto, vieram bem cento e cinquenta ou mais.

Chantada a Cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primeiramente lhe pregaram, armaram altar ao pé dela. Ali disse Missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram connosco cinquenta ou sessenta deles, assentados todos de joelhos, assim como nós.

E quando veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram connosco e alçaram as mãos, ficando assim, até ser acabado; e então tornaram-se a assentar como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim todos, como nós estávamos com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados, que, certifico a Vossa Alteza, nos fez muita devoção.

Estiveram assim connosco até acabada a comunhão, depois da qual comungaram esses religiosos e sacerdotes e o Capitão com alguns de nós outros. 

Alguns deles, por o sol ser grande, quando estávamos comungando, levantaram-se, e outros estiveram e ficaram. Um deles, homem de cinquenta ou cinquenta e cinco anos, continuou ali com aqueles que ficaram. Esse, estando nós assim, ajuntava estes, que ali ficaram, e ainda chamava outros. E andando assim entre eles falando, lhes acenou com o dedo para o altar e depois apontou o dedo para o Céu, como se lhes dissesse alguma coisa de bem; e nós assim o tomamos. 

Acabada a missa, tirou o padre a vestimenta de cima e ficou em alva; e assim se subiu junto com altar, em uma cadeira. Ali nos pregou do Evangelho e dos Apóstolos, cujo dia hoje é, tratando, ao fim da pregação, deste vosso prosseguimento tão santo e virtuoso, o que nos aumentou a devoção. 

Esses, que à pregação sempre estiveram, quedaram-se como nós olhando para ele. E aquele, que digo, chamava alguns que viessem para ali. Alguns vinham e outros iam-se. E, acabada a pregação, como Nicolau Coelho trouxesse muitas cruzes de estanho com crucifixos, que lhe ficaram ainda da outra vinda, houveram por bem que se lançasse a cada um a sua ao pescoço. Pelo que o padre frei Henrique se assentou ao pé da Cruz e ali, a um por um, lançava a sua atada em um fio ao pescoço, fazendo-lha primeiro beijar e alevantar as mãos. Vinham a isso muitos; e lançaram-nas todas, que seriam obra de quarenta ou cinquenta. 

Pêro Vaz de Caminha, escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral, em carta escrita a El-Rei D.Manuel


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sábado, 23 de abril de 2022

Sabbato in Albis




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São Jorge, o grande mártir

Devem ter sido espetaculares as circunstâncias da sua morte para que os Orientais lhe tenham sempre chamado "o grande mártir", e para que a sua pessoa se tenha, bem depressa, tornado lendária. Não há culto mais antigo nem mais espalhado. 

Já no Século IV, o Imperador Constantino mandou construir uma igreja em honra a São Jorge. Na Inglaterra, principalmente, o seu culto tornou-se, ainda e é, mais popular. Em 1222 o concílio nacional de Oxónia ou Oxford estabeleceu uma festa de preceito em sua honra.

Nos primeiros anos do Século XV, o arcebispo de Cantuária ordenou que tal festa fosse celebrada com tanta solenidade como o Natal. Antes disso o rei Eduardo III tinha fundado, em 1330, a célebre Ordem dos Cavaleiros de São Jorge, conhecidos também pelo nome de Cavaleiros da Jarreteira. Vários artistas, como Rafael, Donatello e Carpaccio representaram São Jorge.

No lugar onde esteve içada a bandeira de Portugal, por ocasião da batalha de Aljubarrota, foi construída, em 1388, uma ermida dedicada a São Jorge. Em 1387, por ordem de Dom João I, rei de Portugal, a imagem deste Santo foi incorporada à procissão de Corpus Christi.


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sexta-feira, 22 de abril de 2022

Exorcismos durante o Baptismo no Rito Tradicional

No ritual tradicional, os dois exorcismos propriamente ditos são particularmente explícitos: 

«Exorcizo-te, espírito imundo, em nome do Pai † e do Filho † e do Espírito † Santo, vai-te, retira-te deste servo de Deus: é o mesmo Deus que te comanda, maldito, o mesmo cujos pés caminharam sobre o mar e cuja mão direita susteve Pedro que investia. Por isso, demónio maldito, aceita a tua sentença e dá honra ao Deus vivo e verdadeiro, dá honra a seu Filho Jesus Cristo e ao Espírito Santo, e deixa este servo de Deus...» 

O exorcismo conclui-se então com o traçar do sinal da Cruz: 

«E este sinal da Santa Cruz † que nós traçamos sobre a sua fronte, tu, demónio maldito, nunca ouses violar.» E o segundo exorcismo: 

«Exorcizo-te, espírito imundo, em nome de Deus † Pai todo-poderoso, e em nome do seu Filho Jesus † Cristo, Nosso Senhor e Juiz, e pela virtude do Espírito † Santo; vai-te desta criatura de Deus...»


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terça-feira, 19 de abril de 2022

"Temos falta de acólitos"

 
Algo que nunca foi dito onde se celebra a Missa Tradicional.



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Páscoa em Nova Iorque: 3 cruzes nos arranha-céus

Em 1956 a Páscoa foi celebrada na zona financeira de Manhattan com 3 arranha-céus iluminados, representando as 3 cruzes do Calvário. Foi apenas há 66 anos, mas hoje em dia isto seria impensável, graças à perseguição que está a ser feita no Ocidente aos símbolos cristãos.

Rezemos pelos que consideram ofensiva a imagem de Deus que morre numa cruz para salvar os homens.





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domingo, 17 de abril de 2022

Intróito da Missa de Domingo de Páscoa

O intróito - o início, as primeiras palavras da Missa - deste Domingo de Páscoa é belíssimo e vale a pena ser ouvido e rezado:

Ressuscitei e ainda estou convosco, Aleluia. Pusestes sobre mim a vossa mão, Aleluia. A vossa sabedoria mostrou-se admirável, Aleluia, Aleluia.


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quinta-feira, 14 de abril de 2022

O que é o Ofício de Trevas?

I - O nome

O Ofício de Trevas ou as Trevas (Matutina Tenebrarum) é o Ofício das Matinas e Laudes dos três últimos dias da Semana Santa. O nome deriva:

a) Das trevas naturais de meia-noite ou ao anoitecer, horas estas destinadas à recitação do ofício.
b) Da prisão de Jesus durante a noite. O Salvador nos diz que esta hora era a do poder das trevas: hæc est hora vestra et potestas tenebrarum (Lc 22, 53).
c) Das trevas litúrgicas, pois que durante o ofício se apagam as luzes da igreja e se vão apagando todas as velas.
d) Das trevas simbólicas da paixão. Quando Jesus morreu, trevas cobriram a Terra. Este ofício, lembrando as trevas do Calvário, representa o luto comovedor da Esposa de Cristo, da Igreja. Por isso faltam o invitatório solene, os hinos, o Gloria Patri; o acompanhamento musical, o Te Deum. Todas as antífonas, os salmos, as lições tratam do divino Sofredor.

As três primeiras lições são tiradas das lamentações de Jeremias e formulam na boca da Igreja a dor íntima sobre os ultrajes feitos ao Filho de Deus e sobre a impenitência histórica de Jerusalém, figura da impenitência da alma. Historicamente o ofício divino destes três dias conservou a sua forma antiga.

II - A cerimónia e o seu significado
1. Preparativos

Do altar retiram-se as toalhas, a cruz e os castiçais. No lado da epístola, põe-se o candelabro triangular (tenebrário, galo das trevas) com “15 velas de cera amarela”, as velas do altar devem ser “exeadem cera”. No meio do coro coloca-se uma estante nua para o livro das lamentações.

2. Descritivo Geral do Rito

a) Acende-se as velas do tenebrário. Revestidos de sobrepeliz, os membros do clero entram em procissão.
b) Todas as Antífonas e os Salmos são entoados por dois chantres: todas as vezes estes devem dirigir-se ao meio do coro, fazer reverência ao altar, e entoarão a Antífona. Em seguida convidarão com uma vénia o lado do Evangelho a continuar a salmodia. Depois de fazer a reverência ao altar e saudarem-se mutuamente, retornam aos seus lugares. No fim de cada salmo, um acólito (sacristão) dirige-se ao santuário e apaga uma vela do tenebrário começando pela inferior do lado do evangelho; depois do segundo, apaga a vela inferior do lado da epístola; ao terceiro salmo apaga a segunda vela do lado do evangelho, etc.
Depois da entoação da primeira antífona e do salmo, todos se sentam. Permanece-se assim durante os três noturnos, levantando-se apenas para a recitação do Pater noster que precede as lições de cada noturno.

c) Alguns versos antes do fim do terceiro salmo, o cerimoniário do coro (coloca a estante no lugar, e) chama o chantre que cantará a primeira lamentação. Ele acompanha-o à estante, e permanece ao seu lado durante o canto da lição; em seguida ele acompanha-o ao seu lugar. O cerimoniário do coro fará assim para as nove lições (retirando a estante depois de ter acompanhado o último chantre ao seu lugar). O tom que se deve cantar as lições do segundo e terceiro noturno é o da profecia.

d) Depois do nono responsório, permanece-se sentado para o canto das Laudes. Ao começar o Benedictus, todos se levantam e se benzem, porque são palavras do Santo Evangelho. Ao verso “Ut sine timore” apagam-se todas as luzes da igreja; assim, só a vela que está no vértice do tenebrário permanece acesa. O clero senta-se enquanto se repete a Antífona do Benedictus, depois ajoelham-se para o canto do Christus factus est, que é entoado pelo mais digno do coro. Enquanto se repete a Antífona, o acólito pega a vela que permanece acesa, e coloca-se no lado da Epístola, tendo a vela apoiada na borda do altar. À entoação do Christus, esconde a vela atrás do altar, sem a apagar. A conclusão da oração que segue o Christus faz-se em voz baixa. O cerimoniário do coro bate a mão sobre o banco ou sobre o seu livro, e o coro faz barulho da mesma maneira, até o momento em que o acólito que tem a vela escondida a faz aparecer. Então o barulho cessa. O acólito recoloca a vela no tenebrário, e apaga-a. Em seguida o clero se levanta, e se retira em procissão.

3. Explicação mística

Essa cerimónia tão simples é muito rica em significado. Estamos nos dias em que a glória do Filho de Deus se eclipsou sob as ignomínias da Paixão. Ele, que era a luz do mundo, torna-se um verme e não um homem, causa de escândalo para os seus discípulos. Todos fogem d’Ele; o próprio Pedro o nega. Este abandono, esta defecção quase geral, é figurada pela sucessiva extinção das velas do candelabro triangular, e mesmo das do altar.

No entanto, esta luz desprezada de Cristo, não está extinta, embora as sombras a tenham coberto. O acólito coloca a vela misteriosa sobre o altar, o que simboliza Cristo que sofre e morre sobre o Calvário; de seguida, esconde a vela atrás do altar, simbolizando assim a sepultura de Nosso Senhor, cuja vida foi apagada pela morte durante três dias. Neste momento então, faz-se escutar um confuso barulho no santuário, que é deixado na escuridão pela ausência da última vela. Este barulho, unido às trevas, simboliza a perturbação dos inimigos e as convulsões da natureza: no momento em que o Salvador expirou sobre a cruz, a Terra tremeu, as rochas se fenderam e os sepulcros foram abertos. Porém, de repente, a vela reaparece, sem ter perdido nada da sua luz; o barulho cessa, e todos rendem homenagem ao Vencedor da morte.

A razão histórica do rito de apagar pouco a pouco as velas do tenebrário provavelmente é a imitação do modo antigo de contar. Apaga-se uma vela depois de cada salmo, para constar quantos foram recitados.

4. As leituras

a) Primeiro Nocturno: Estas são tiradas, em cada um dos três dias, do livro das Lamentações de Jeremias. Aí vemos o desolante espectáculo da Cidade Santa destruída por causa do castigo da sua idolatria. No entanto, este desastre, nada mais é do que a figura de um outro muito pior. Jerusalém, tomada pelos Assírios, ainda conserva o seu nome, e o profeta diz que o cativeiro durará setenta anos.

b) Mas, na sua segunda ruína, a cidade infiel perderá até mesmo seu nome. Reconstruída mais tarde pelos romanos, ela foi chamada de Ælia Capitolina. Foi só depois da paz da Igreja que ela voltou a ser chamada Jerusalém. Além disso, nem a piedade de Santa Helena e de Constantino, nem os esforços dos Cruzados, conseguiram manter a liberdade de Jerusalém, de modo que a sua sorte é ser escrava, e escrava dos infiéis, até o fim dos tempos.

c) Foi nestes dias que Jerusalém atraiu a si tão terrível maldição. E é para fazer-nos conhecer a grandeza de seu crime, que a Igreja nos faz ouvir os prantos do profeta. Esta elegia é cantada num tom cheio de melancolia, que talvez remonta à antiguidade judaica.

d) Segundo Noturno: Durante estes três dias, a Igreja lerá alguns trechos das Enarrationes super Psalmos de S. Agostinho, sobre salmos proféticos da Paixão de Jesus.

e) Terceiro Noturno: Nos três dias a Igreja nos fará ler trechos das epístolas de S. Paulo:

- Na Quinta-Feira Santa é a epístola aos Coríntios: depois de ter chamado a atenção dos fiéis de Corinto em razão dos abusos que se haviam introduzido nas suas assembleias, S. Paulo conta a instituição da Eucaristia, que teve lugar no dia de hoje. E, depois de mostrar quais as disposições que deve ter a alma para aproximar-se da mesa sagrada, mostra o crime que comete quem comunga indignamente.
- Na Sexta-Feira Santa lê-se a epístola aos Hebreus: S. Paulo nos mostra que o Filho de Deus tornou-se Pontífice e intercessor pelos homens diante do Seu Pai, por meio da efusão do Seu Sangue, pelo qual Ele lava nossos pecados e nos abre as portas do Céu.
- No Sábado Santo, a Igreja continua a ler, na epístola aos Hebreus, a doutrina de S. Paulo sobre a virtude do Sangue divino. O Apóstolo explica que o testamento de Cristo em nosso favor, só pôde consumar-se por meio da Sua morte.

in formaextraordinaria.blogspot.pt


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O Sacerdote na celebração do Tríduo Pascal

A Carta aos Hebreus é o único texto do Novo Testamento que atribui a Nosso Senhor Jesus Cristo os títulos de “Sacerdote”, “Sumo Sacerdote” e “Mediador da Nova Aliança”, graças à oferenda do sacrifício do Seu corpo, antecipado na Ceia mística da Quinta-Feira Santa, consumado sobre a cruz e apresentado ao Pai com a ressurreição e a ascensão ao Céu (cf. Hb 9,11-15). Este texto é meditado na Liturgia das Horas da quinta semana da Quaresma – ou da Paixão, como no calendário litúrgico da forma extraordinária do Rito Romano – e na Semana Santa.

Nós, sacerdotes católicos, devemos contemplar sempre Cristo e ter os mesmos sentimentos d’Ele; esta ascese acontece com a conversão permanente. Como se realiza a conversão em nós, sacerdotes? No rito da ordenação é-nos pedido o ensino da fé católica, não das nossas ideias; “celebrar com devoção os mistérios de Cristo – isto é, a liturgia e os sacramentos – segundo a tradição da Igreja”, e não segundo o nosso gosto; sobretudo, “estar cada vez mais unidos a Cristo Sumo Sacerdote, que, como vítima pura, Se ofereceu ao Pai por nós”, isto é, conformar a nossa vida segundo o mistério da Cruz.

A Santa Igreja honra o sacerdote e o sacerdote deve honrar a Igreja com a santidade da sua vida – este foi o propósito de Santo Afonso Maria de Ligório no dia da sua ordenação –, com o zelo, com o trabalho e com o decoro. Ele oferece Jesus Cristo ao Pai Eterno e por isso deve estar revestido das virtudes de Jesus Cristo, para preparar-se para o encontro com o Santo dos Santos. Que importante é a preparação interior e exterior para a sagrada liturgia, para a Santa Missa! Trata-se de glorificar o Sumo e Eterno Sacerdote, Jesus Cristo. Pois bem, tudo isso se realiza em grau máximo na Semana Santa, a Grande e Santa Semana, como dizem os orientais. Vejamos alguns dos seus principais actos, com base no cerimonial dos bispos.

1. Com a Missa in Cena Domini, da Quinta-Feira Santa, o sacerdote entra nos principais mistérios – a instituição da Santíssima Eucaristia e do sacerdócio ministerial –, assim como no mandamento do amor fraterno, representado pelo lava-pés, gesto que a liturgia copta realiza ordinariamente cada Domingo. Nada melhor para expressá-lo do que o canto Ubi caritas. Após a comunhão, o sacerdote, usando o véu umeral, sobre ao altar, faz a genuflexão e, ajudado pelo diácono, segura a píxide com as mãos cobertas pelo véu umeral. É o símbolo da necessidade de mãos e corações puros para aproximar-se dos mistérios divinos e tocar o Senhor!

2. Na Sexta-Feira Santa in Passione Domini, o sacerdote é convidado a subir ao Calvário. Às três da tarde, às vezes um pouco mais tarde, acontece a celebração da Paixão do Senhor, em três momentos: a Palavra, a Cruz e a Comunhão. Dirige-se em procissão e em silêncio ao altar. Depois de ter reverenciado o altar, que representa Cristo na austera nudez do Calvário, ele prostra-se por terra: é a proskýnesis, como no dia da ordenação. Assim, expressa a convicção do seu nada diante da Majestade divina, e o arrependimento por se ter atrevido a medir-se, por meio do pecado, com o Omnipotente. Como o Filho que se anulou, o sacerdote reconhece o seu nada e assim tem início a sua mediação sacerdotal entre Deus e o povo, que culmina na oração universal solene.

Depois faz-se a ostensão e a adoração da Santa Cruz: o sacerdote dirige-se ao altar com os diáconos e lá, em pé, recebe-a e descobre-a em três momentos sucessivos – ou mostra-a já descoberta – e convida os fiéis à adoração, em cada momento, com as palavras: Eis o madeiro da cruz, no qual esteve suspenso o Salvador do mundo

O sacerdote, após ter depositado a casula, se possível descalço, aproxima-se da Cruz, ajoelha-se diante dela e beija-a. A teologia católica não teme em dar aqui à palavra “adoração” o seu verdadeiro significado. A verdadeira Cruz, banhada com o sangue do Redentor, torna-se, por assim dizer, uma só coisa com Cristo e recebe a adoração. Por isso, prostrando-nos diante do lenho sagrado, dirigimo-nos ao Senhor: “Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos, porque pela vossa Santa Cruz redimistes o mundo”.

3. A Páscoa do Reino de Deus realizou-se em Jesus: oferecida e consumida a Ceia, “na noite em que ia ser entregue”; imolada sobre o Calvário na Sexta-Feira Santa, quando “houve escuridão sobre toda a Terra”, mais uma vez a noite recebe a consagração da aprovação divina, na ressurreição de Cristo Senhor: por João, sabemos que Maria Madalena se aproximou do sepulcro “bem de madrugada”; portanto, aconteceu nas últimas horas da noite após o Sábado pascal.

No Novus Ordo, o sacerdote, desde o início da Vigília, está vestido de branco, como para a Missa. Ele abençoa o fogo e acende o círio pascal com o novo fogo, após ter aplicado, como na liturgia antiga, uma cruz. Depois grava sobre o lado vertical da cruz a letra grega alfa e, abaixo, a letra omega; entre os braços da cruz, faz a incisão de quatro algarismos para indicar o ano em curso, dizendo: Cristo ontem e hoje. Depois, feita a incisão da cruz e dos demais sinais, pode aplicar no círio cinco grãos de incenso, dizendo: Pelas suas santas chagas. Depois, cantando o Lumen Christi, guia a procissão rumo à igreja. O sacerdote está à cabeça do povo dos fiéis aqui na Terra, para poder guiá-lo ao céu.

É o sacerdote que entoa solenemente "Eis a luz de Cristo!". Ele canta-o três vezes, elevando gradualmente o tom da voz: o povo, depois de cada vez, repete-o no mesmo tom. Na liturgia baptismal, o sacerdote, estando de pé diante da fonte, abençoa a água, cantando a oração: Ó Deus, por meio dos sinais sacramentais; enquanto invoca: Desça, Pai, sobre esta água, pode introduzir nela o círio pascal, uma ou três vezes.

O significado é profundo: o sacerdote é o órgão fecundador do seio eclesial, simbolizado pela fonte baptismal. Verdadeiramente, na pessoa de Cristo Cabeça, ele gera filhos e, como pai, fortifica-os com o crisma e nutre-os com a Eucaristia. Também em razão destas funções maritais em relação à Igreja esposa, o sacerdote não pode senão ser um homem. Todo o sentido místico da Páscoa manifesta-se na identidade sacerdotal, chegando à plenitude, o plếroma, como diz o Oriente. Com ele, a iniciação sacramental chega ao cume e a vida cristã se torna o centro.

Portanto, o sacerdote, que subiu com Jesus à cruz na Sexta-Feira Santa e desceu ao sepulcro no Sábado Santo, no Domingo de Páscoa pode afirmar realmente: “Sabemos que Cristo verdadeiramente ressuscitou dentre os mortos”.

Mons. Nicola Bux, Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice


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terça-feira, 12 de abril de 2022

Nós Vos adoramos e Vos bendizemos, Senhor Jesus

Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo


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75 anos da primeira aparição de Nossa Senhora delle Tre Fontane

No dia 12 de Abril de 1947, há 75 anos, houve uma aparição em Tre Fontane (nos arredores de Roma): onde São Paulo sofreu o martírio (tendo a cabeça dele, depois de decapitado, batido no chão 3 vezes onde imediatamente brotaram 3 fontes).

Nossa Senhora apareceu a Bruno Cornacchiola e fez-lhe a primeira de (cerca de) revelações, que continuaram ao longo da sua vida. O próprio vidente escreveu-as no seu diário. Sendo apenas revelações particulares, Cornacchiola submeteu-as ao julgamento da autoridade eclesiástica.

No dia 22 de Julho de 1947 do mesmo ano, o vidente encontrou-se com o Papa Pio XII. A 5 de Outubro do mesmo ano, o Papa benzeu uma imagem de Nossa Senhora delle Tre Fontane. 9 anos mais tarde, em 1956, Pio XII permitiu o culto público a essa aparição, entregando a custódia do local aos franciscanos menores conventuais.

No dia 21 de Setembro de 1988, Bruno Cornacchiola escreve no seu diário:

«O que sonhei não pode acontecer, é demasiado doloroso e espero que o Senhor não permita que o Papa negue todas as verdades da Fé e se ponha no lugar de Deus. Quanto sofrimentos tive durante esta noite, fiquei com as pernas paralisadas e não me podia mexer, pela dor de ver a Igreja reduzida a um monte de ruinas.»


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segunda-feira, 11 de abril de 2022

A Semana Santa explicada pelo Catecismo de São Pio X

47) Por que a última semana da Quaresma se chama Santa?
 
A última semana da Quaresma chama-se Santa porque nela se celebra a memória dos maiores mistérios que Jesus Cristo realizou para a nossa salvação. 

48) Que mistério se comemora no Domingo de Ramos? 
No Domingo de Ramos comemora-se a entrada triunfante de Jesus Cristo em Jerusalém seis dias antes da sua Paixão. 

49) Por que Jesus Cristo quis entrar triunfante em Jerusalém, antes de sua Paixão? 
Jesus Cristo, antes da sua Paixão, quis entrar triunfante em Jerusalém, como estava profetizado: 1º para encorajar os seus discípulos, dando-lhes com isso uma prova manifesta de que padeceria espontaneamente; 2º para ensinar-nos que com a sua morte triunfaria sobre o demónio, o mundo e a carne, e abrir-nos-ia a entrada do Céu. 

50) Que mistérios são celebrados na Quinta-feira Santa? 
Na Quinta-feira Santa celebram-se a instituição do Santíssimo Sacramento da Eucaristia e do Sacerdócio, recorda-se o lava-pés e o preceito do amor cristão. 

51) Que mistério se recorda na Sexta-feira Santa? 
Na Sexta-feira Santa recorda-se a paixão e morte do Salvador. 

52) Que mistérios se honram no Sábado Santo? 
No Sábado Santo honram-se a sepultura de Jesus Cristo e sua descida ao limbo. 

53) Que devemos fazer para passar a Semana Santa em conformidade com as intenções da Igreja? Para passar a Semana Santa em conformidade com as intenções da Igreja devemos fazer três coisas: 1º juntar ao jejum e abstinência maior recolhimento interior e maior fervor na oração; 2º meditar assiduamente e com espírito de compunção os padecimentos de Jesus Cristo; 3º assistir, se possível, aos divinos ofícios com este mesmo espírito. § 2 °- Sobre alguns ritos da Semana Santa 

54) Por que o domingo da Semana Santa se chama Domingo de Ramos? O domingo da Semana Santa chama-se Domingo de Ramos pela procissão que neste dia se celebra, ocasião em que os fiéis levam na mão um ramo de oliveira ou de palma. 55) Por que no Domingo de Ramos se faz a procissão levando ramos de oliveira ou de palma? Faz-se a procissão no Domingo de Ramos levando ramos de oliveira ou de palma para recordar a entrada triunfante de Jesus Cristo em Jerusalém, quando as turbas lhe saíram ao encontro com ramos de palmas nas mãos. 

56) Quando Jesus Cristo entrou triunfante em Jerusalém, quem foi ao seu encontro? Quando Jesus Cristo entrou triunfante em Jerusalém foram ao seu encontro o povo simples e as crianças, e não as pessoas importantes da cidade; dispondo assim Deus para dar-nos a entender que a soberba os fez indignos de tomar parte no triunfo de Nosso Senhor, que gosta da simplicidade do coração, da humildade e a inocência. 

57) Por que não se tocam os sinos desde a Quinta-feira Santa até a vigília pascal? Desde a Quinta-feira Santa até a vigília pascal não se tocam os sinos em sinal de grande tristeza pela paixão e morte de nosso Salvador. 58) Por que na Quinta-feira Santa guarda-se um cálice com hóstias consagradas? Na Quinta-feira Santa se guarda um cálice com hóstias consagradas: 1º para que se tributem adorações especiais ao Santíssimo Sacramento no dia em que foi instituído; 2º para que se possa comungar na Sexta-feira Santa em que o sacerdote não consagra. 

59) Por que os altares são desnudados depois da Missa na Quinta-feira Santa? Na Quinta-feira Santa, depois da Missa, os altares são desnudados a fim de representar-nos Jesus Cristo despojado de suas vestes para ser açoitado e posto na Cruz e ensinar-nos que para celebrar dignamente a Paixão devemos nos despojar do homem velho, que são todos os afetos mundanos. 

60) Por que se faz o lava-pés na Quinta-feira Santa? Na Quinta-feira Santa faz-se o lava-pés: 1º para renovar a memória daquela humilhação com que Jesus Cristo se rebaixou para lavar os pés de seus Apóstolos; 2º porque Ele mesmo exortou aos Apóstolos, e neles os fiéis, a imitar seu exemplo; 3º para ensinar-nos que devemos limpar nosso coração de toda mancha e exercitar uns com os outros os serviços da caridade e humildade cristã. 

61) Por que na Quinta e na Sexta-feira Santas os fiéis vão visitar o Santíssimo Sacramento em muitas igrejas, em procissão ou em particular? Na Quinta e na Sexta-feira Santa os fiéis vão visitar o Santíssimo Sacramento em muitas igrejas em memória das dores que sofreu Jesus Cristo em muitos lugares, como no Horto, nas casas de Caifás, Pilatos e Herodes e, sobretudo, no Calvário. 

62) Com que espírito devemos fazer as visitas ao Santíssimo Sacramento? As visitas ao Santíssimo Sacramento deverão ser feitas não por curiosidade, costume ou passatempo, mas com certa contrição de nossos pecados, que são a verdadeira causa da paixão e morte de nosso Salvador; e com verdadeiro espírito de compaixão por suas penas, mediante os diversos padecimentos que sofreu; por exemplo: na primeira visita, o que padeceu no Horto; na segunda, o que sofreu no pretório de Pilatos, e assim nas demais. 

63) Por que na Sexta-feira Santa, de um modo particular, a Igreja roga ao Senhor por toda sorte de pessoas, mesmo pelos pagãos e judeus? A Igreja, na Sexta-feira Santa, roga de um modo particular ao Senhor por toda sorte de pessoas para demonstrar que Jesus Cristo morreu por todos os homens, e para implorar em benefício de todos o fruto de sua Paixão. 

64) Por que na Sexta-feira Santa se adora solenemente a Cruz? Na Sexta-feira Santa adora-se solenemente a Cruz porque, tendo Jesus Cristo sido crucificado e morto neste dia, santificou- -a com seu sangue. 

65) Se a adoração se deve só a Deus, como se adora também a Cruz? A adoração deve-se só a Deus, e por isto, quando se adora a Cruz, nossa adoração se refere a Jesus Cristo, que nela morreu. 

66) Que considerar de um modo especial nos ritos do Sábado Santo à noite? Nos ritos do Sábado Santo à noite, chamados a vigília pascal, devemos considerar de um modo especial a bênção do círio pascal e da pia batismal. 

67) Que significa o círio pascal? O círio pascal representa o resplendor que Jesus Cristo trouxe ao mundo. 

68) Por que se benze a pia batismal na vigília pascal? Na vigília pascal se benze a pia batismal porque antigamente neste dia, como também na véspera de Pentecostes, administra-se solenemente o Batismo. 

69) Que devemos fazer enquanto se benze a pia baptismal? Enquanto se benze a pia batismal devemos dar graças ao Senhor por havermos admitido o Batismo, e renovar as promessas que então fizemos.


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sábado, 9 de abril de 2022

Cristo das trincheiras

Em 1918, durante muitos dias, um insólito cruzeiro com a imagem de Cristo, existente próximo de Neuve-Chapelle, na Flandres Francesa, fez companhia às tropas portuguesas ali estacionadas. Foi alvo de devoção, serviu de cenário a fotografias, “ouviu” preces e, de certa forma, velou pelos homens que aguardavam mais um confronto. A batalha de La Lys* deu-se a 9 de Abril e foi fatal.

Toda a zona foi bombardeada, remexida, destruída pelo fogo inimigo. No fim, pouco mais restavam que cadáveres, homens agonizantes, escombros e…entre tanta devastação, o Cristo, também ele mutilado, como muitos dos que combateram. O fogo alemão perfurou-lhe o peito, levou-lhe as pernas e parte do braço direito, mas deixou-o ali, ainda erguido, como um sinal de sobrevivência.
Esta batalha da I Grande Guerra, constituiu talvez a mais negra página da história bélica de Portugal, depois de Alcácer Quibir. Os militares do Corpo Expedicionário Português foram arrasados pelas tropas alemãs, milhares morreram, ficaram feridos ou foram aprisionados.

O “Cristo das trincheiras”, terá sido depois recolocado no espaço que lhe pertencia e onde permaneceu mais duas décadas.

Em 1958, por iniciativa do Governo português, rumou a terras lusas e, igualmente a 9 de Abril - há exatamente 64 anos - em cerimónia muito ao estilo do Estado Novo, foi instalado no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, à cabeceira do túmulo do Soldado Desconhecido, que representa todos os que pereceram a lutar pela pátria e cujo nome se desconhece.
Ironicamente, aqueles símbolos de derrota e perda estão no interior de um monumento que celebra uma grande vitória nacional e sob uma abóbada que, reza a lenda, também se manteve de pé devido à fé.

A homenagem ao soldado desconhecido, composta por túmulo de dois militares – um morto na I Grande Guerra e outro na Guerra Colonial – o grandioso lampadário denominado “chama da pátria” e o “Cristo das trincheiras”, tem guarda de honra permanente e situa-se na Casa do Capítulo do “Mosteiro da Batalha”, edificado para celebrar o triunfo em Aljubarrota (1385).

Sobre o memorial, ergue-se a colossal abóboda que desafia as leis da física e, conta o historiador Alexandre Herculano*, foi desenhada pelo mestre Afonso Domingues. Quase cego, às portas da morte, mas com uma crença inabalável no seu projecto, permaneceu sozinho por debaixo da abóboda, quando mais ninguém acreditava que esta se manteria intacta após retirarem as escoras. Ainda lá está. O Cristo também.

*A batalha deve o nome rio junto ao qual tiveram lugar os acontecimento.
**Embora a moderna historiografia não o confirme, atribuindo a obra ao mestre irlandês David Huguet.

in osaldahistoria.blogs.sapo.pt

Fontes:
http://www.momentosdehistoria.com/MH_06_05_Patriotismo.htm
http://www.mosteirobatalha.gov.pt/pt/index.php?s=white&pid=176
http://capeiaarraiana.pt/2015/04/04/efemerides-2015-4-de-abril/
http://portugalglorioso.blogspot.com/2014/03/o-cristo-das-trincheiras.html
https://www.erepublik.com/mk/article/cristo-das-trincheiras-2436880/1/20


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